"Ninguém tem medo do escuro, eles têm medo do que está nele".
Apenas aquela luz fraca refletida pela janela a sua frente, dando vista para a rua e as casas da vizinhança, iluminava o local e a mesa coberta com pilhas de papéis escritos e rabiscados e livros e mais livros de espessuras diferentes empilhados uns em cima dos outros.
Jong In havia perdido a noção do tempo depois de abrir o quinto livro de psicanálise ainda mais grosso do que o último que lera. Não sabia a hora naquele momento. Quando se está fazendo um trabalho como aquele, você não se importa se já passou da hora de comer, nem se você vai consegui dormir tanto quanto dormiu na noite anterior. Não fazia muito sentido alguém estar estudando psiquiatria quando o objetivo de longos trabalhos é deixar você louco. Jong In quase se sentia um louco sentado naquela mesa, resmungando para si mesmo e para as páginas abertas a sua frente.
Lá fora, o sol já quase se punha. Agora o auxilio da luz já não ajudava muito Jong In, e sair de onde estava para ligar o interruptor parecia tomar um tempo que ele não precisava gastar naquele instante. Além de que, Jong In se sentia exausto demais para pensar em sair da cadeira. A casa estava em completo silêncio, mesmo assim, Jong In pensava ouvir um sussurro lhe dizendo o quão perto estava de sua cama confortável apenas esperando que ele se deitasse para nunca mais acordar.
Jong In não podia dormir atirado sobre a mesa. Dormiria de qualquer jeito, então que pelo menos se levantasse e fosse até o quarto. Jong In pensou em esquecer o trabalho por um momento, mas ele também sabia o que aconteceria se não estivesse com aquilo pronto em mãos para o seu professor amanhã de manhã. Caia do chão com seu cansaço, mas termine o trabalho.
Seguindo esse conselho, Jong In desferiu um tapa contra o próprio rosto, tentando dispensar qualquer vestígio de que o sono poderia tomar conta da sua pequena e insignificante vontade que ainda restava para terminar aquele trabalho.
Havia um relógio quebrado numa parede à esquerda, que não serviria de nada para Jong In. Mas também havia o celular do seu lado direito, encima de alguns papéis com anotações ilegíveis. Ele já tinha certeza de um fim de semana destruído, mas Jong In ainda tinha esperanças por algumas preciosas horas de sono.
Ao ligar o celular, o luz forte surpreendeu seus olhos que se fecharam, incomodados. Quando voltou a abri-los, Jong In pareceu sentir o corpo voltando a ter noção de tempo e espaço ao ver a hora na tela do celular. Assustou-se.
17:58
Não achou que estivesse tão tarde, nem que acabaria dormindo bem depois do que esperava. Quase desejou que o relógio estivesse uma, ou talvez duas horas adiantado. Foi enquanto resmungava isso que Jong In percebeu alguns barulhos, talvez vindos do outro lado da rua, ele imaginava. Ouvir aquilo de repente o surpreendeu, lhe despertando um pouco mais a consciência. Os barulhos continuaram, mas Jong In não sabia dizer o que os causava. Estreitando os olhos, Jong In notou uma movimentação dentro da casa em frente à sua. Parecia até mesmo agitado e um pouco desesperado.
Estavam fechando a casa. Jong In viu janelas sendo trancadas e ouviu portas sendo batidas, mas nenhum sinal de quem estaria fazendo aquilo. Quando o silêncio voltou, Jong In pensou ter acabado, mas logo a luz do que ele pensou ser da sala de estar, foi apagada. Jong In sabia que havia alguém ali dentro, mas a aparência era a de uma casa vazia, estava tudo muito escuro e quieto, com exceção de uma única luz refletida na janela, que mesmo com uma cortina, ainda erra bem visível a claridade no lado de fora.
O céu estava escuro e Jong In se encontrava em um breu total dentro daquele cômodo, mas não se apressou em querer ligar alguma luz, apenas continuou observando a casa em frente a sua. A última janela ainda era a única onde se via luz.
O rapaz pegou seu celular de volta, olhando as horas mais uma vez.
18:07
Jong In se levantou, apenas para que ligasse o interruptor, logo voltando para onde estava sentado. Agora ele esperava algum movimento de dentro da casa vizinha, por mínimo que fosse. O que presenciara momentos atrás lhe causou dúvida e curiosidade. O que estava acontecendo com a pessoa que morava ali dentro, afinal?
De repente uma melodia quase imperceptível vinda da casa invadiu os ouvidos de Jong In. Parecia-se com música clássica, apenas uma melodia doce e suave.
O garoto não era alguém comunicativo na vizinhança; não era por ignorância. A vida de Jong In se resumia em ir para a faculdade, voltar para casa, fazer seus trabalhos e dormir até o dia seguinte, praticamente nunca saia com seus amigos, principalmente porque estava no penúltimo semestre, mas mesmo que este ainda não estivesse nem na metade, ele já estava ansioso para não ter que se preocupar com nenhum trabalho longo demais exigido por um professor. Jong In não conhecia as pessoas que moravam na vizinhança, ele não conhecia seus vizinhos e o mesmo também não podia ter certeza se os vizinhos o conheciam.
Ele não sabia nada sobre a casa da frente. A única coisa que tinha conhecimento era que seu vizinho, ou vizinha, se deixava ser mais isolado que si. Tudo sempre muito quieto e misterioso do outro lado da rua.
Jong In nunca percebera esse comportamento vindo do seu vizinho da casa da frente, mas o garoto também não tinha muito tempo para reparar em nada fora de sua vida rotineira de estudante de faculdade de psiquiatria.
° ° °
KyungSoo tentava ser rápido em trancar todas as portas e janelas de sua casa enquanto o relógio contava seu tempo. Estava atrasado. Ele corria tentando não esbarrar nos móveis ou derrubar algo no chão; não teria tempo de limpar nada no momento. As luzes da cozinha estavam desligadas, KyungSoo tentava não olhar muito para aquela direção, pensava apenas em chegar ao seu quarto.
O garoto correu um pouco mais para alcançar a porta do seu quarto. Seria o mesmo medo depois que se lê um livro ou assisti um filme de terror; não queira saber se tem alguma coisa atrás de você, apenas corra e se esconda em sua cama, talvez o monstro já embora.
Alguma coisa que ninguém consegue ver.
KyungSoo abriu a porta de seu quarto quando desligou a luz atrás de si.
Agora podemos ver o monstro... ele ainda está correndo, estendendo o mão para você...
Ligou as luzes de seu quarto e fechou a porta atrás de si com um estrondo. A chave girou duas vezes na fechadura antes de KyungSoo prender as costas na porta enquanto ofegava com o coração acelerado. Suas costas foram deslizando pela madeira branca e lisa até que estivesse sentado no chão.
Ele olhou as horas em seu relógio de pulso.
18:06
Perdeu a hora e quase levara a cabeça junto. KyungSoo se culpava por ter se distraído daquela maneira, estava tão preso e ansioso em terminar de escrever seu próximo livro, que , simplesmente, perdera a noção do tempo.
KyungSoo se levantou sentindo as pernas meio tremulas e caminhou devagar até a escrivaninha onde seu notebook se encontrava. O capítulo que estava escrevendo ainda estava aberto do mesmo jeito que deixou antes de ter saído do quarto para comer alguma coisa e quase perder a hora de voltar. Entro de uma das gavetas da escrivaninha estava um pequeno controle que KyungSoo logo apanhou, ligando o aparelho de som que, no mesmo instante, começou a tocar a música clássica que KyungSoo tanto gostava.
Sentado em frente ao notebook, KyungSoo encarava o monitor, como se esperasse que algo saltasse dali. Seu livro estava há cinco capítulos de ser finalizado, mas seu tempo de entrega já estava mais do que extrapolado. Não era costume de KyungSoo ter "bloqueios" no meio da criação de uma história. Coisas assim lhe davam grande dor de cabeça, tanto por não conseguir trabalhar como gostaria, quanto pela cobrança da editora.
Ele pretendia ficar ali até que conseguisse alguma coisa por mais algumas horas, mas ao invés de continuar com o capítulo, KyungSoo salvou o arquivo e fechou o notebook. Em outra gaveta da escrivaninha havia um pequeno caderno onde KyungSoo costumava escrever quando se sentia frustrado. Não era como um diário, KyungSoo preferia chamar de Campo de Desabafo. KyungSoo se surpreendia ao perceber que agora usava o pequeno caderno bem mais do que antes. Não era uma coisa boa.
Seus dedos tremiam um pouco ao escrever as palavras. Apenas ele sabia o que queria dizer com as frases que escrevia. Depois de fechar seu Campo de Desabafo, KyungSoo ficou encarando a parede branca a sua frente. Não era apenas a parede, mas quase tudo em seu quarto era branco. Se alguém chegasse a entrar naquele quarto, talvez sentisse seus olhos doerem por causa da luz forte, mas para KyungSoo aquela iluminação era algo muito amigável.
Estava cedo para dormir, mas KyungSoo já se sentia exausto. Livros e relógios.
Ficara o dia inteiro trabalhando em seu livro para não ter o desempenho que gostaria. KyungSoo saiu de onde estava e foi se deitar na cama. Não desligou as luzes; ele nunca as desligava. Se preocupou apenas em diminuir o volume da música antes de se ajeitar melhor no travesseiro. Já era de se imaginar que sua conta de energia não era uma das mais baixas, mas KyungSoo não se importava.
O garoto olhava para a janela coberta pelas cortinas brancas de seu quarto, querendo imaginar a vizinhança do lado de fora. Não se lembrava exatamente de como era; nem quem eram as pessoas que moravam por perto. Não costumava sair de casa, apenas quando era necessário. Trabalhava em casa criando suas histórias, fazendo o que gostava, então estava tudo bem.
Lá fora, KyungSoo tinha fama, seus livros vendiam bem e havia muitas pessoas que apreciavam seus trabalhos, mas ele não era o tipo de escritor que aparecia na televisão e dava entrevistas. Quase se esqueciam de seu rosto. Alguns de seus leitores o chamavam de Homem Frio, mas KyungSoo nunca se importou, lhes dava toda a razão. Ele se sentia um homem frio, sempre se escondendo.
° ° °
Jong In acordou resmungando com seu despertador às seis horas dá manhã. Era hora de levantar e ir para a faculdade.
Ele queria, mais que tudo, poder dormir mais algumas horas, talvez o resto do dia. Sentia que ainda não recuperara a energia perdida durante o tempo que ficou fazendo o trabalho na noite anterior.
Jong In demorara mais do que o necessário para terminar seu trabalho. Sua cabeça insistia em se lembrar do que viu, então enquanto era provável que toda a vizinhança já estivesse dormindo, Jong In ainda tentava terminar o que estava fazendo.
O despertador continuava a tocar, lembrando o garoto de que ele precisava se levantar e se preparar para sair de casa. Jong In não interrompeu os resmungos mesmo depois de entrar no banheiro.
Assim que saiu de casa, Jong In trancou a porta atrás de si.
Ele tinha a opção de pegar o carro e ir para a faculdade, mas Jong In não via necessidade em gastar gasolina já que morava perto de onde estudava, e porque, bem na maioria das vezes, o garoto não estava atrasado para a aula.
Mas Jong In não conseguiu evitar olhar a casa do outro lado da rua. Nada parecia diferente desde a noite anterior. O garoto começava a duvidar se havia mesmo alguém morando naquela casa. Não era de acreditar em fantasmas, mas a ideia nunca lhe pareceu menos absurda. Suas pernas se moveram atravessando a rua. Jong In não pensava se queria estar fazendo aquilo.
Existem fantasmas aí, estão me chamando para ver mais de perto.
Agora a casa já estava bem próxima. Jong In encarava a porta de cor clara como se esperasse que ela se abrisse sozinha e o puxasse para dentro. Ele permaneceu parado por alguns segundos, se perguntando o motivo de estar onde estava. Curiosidade. Quem morava ali?
Sua mão se moveu para cima; Jong In quase pensou que não fosse ele que estivesse fazendo aquilo, e quando tocou a campainha, Jong In quis sair correndo como uma criança faria. Quase bateu na própria cabeça por ainda estar ali. O que ele queria, afinal? Falar com seu vizinho fantasma? Por quê? Falar sobre ontem e perguntar se estava tudo bem? Por que isso lhe importaria?
Ainda sim, Jong In esperou por um tempo, tempo suficiente para achar que ninguém atenderia a porta. Era sua deixa para ir embora e esquecer o que fizera ali. Jong In saiu de lá desejando que quem quer que fosse o morador ali – isso se morava alguém ali – que não abrisse a porta e o visse indo embora.
Quando achou estar a uma distância considerada "segura" daquela casa, Jong In continuou seu caminhou, antes interrompido. Resolveu colocar na cabeça que não lhe interessava mais quem habitava ou deixava de habitar aquele lugar. Estaria tudo bem se ninguém abrisse a porta.
° ° °
KyungSoo tomava um banho quente, deixando sua cabeça abaixada e os olhos fechados, com a água escorrendo por sua nuca quando escutou a campainha tocando. Aquilo o surpreendeu, pois afinal, quem poderia ser tão cedo? O garoto ficou a encarar o box embaçado do banheiro, talvez ouvisse de novo, mas não houve nada.
KyungSoo não recebia visitas, principalmente antes das sete da manhã. De qualquer forma, ele pretendia atender quem quer que fosse, ou pelo menos dar uma olhada.
O garoto saiu do banheiro vestido em um roupão e atravessou a sala de estar, indo em direção a porta. KyungSoo pousou a mão na maçaneta, mas sem girá-la.
– Eu não deveria estar vestindo um roupão – sussurrou.
Não adiantou pensar se seria melhor ter colocado outra coisa ao invés daquele roupão; do outro lado, KyungSoo conseguiu ouvir os passos de alguém se distanciando. Sua mão apertou ainda mais a maçaneta, talvez devesse abrir a porta, mas KyungSoo permaneceu onde estava. Depois de alguns segundos esperando, KyungSoo abriu a porta e colocou apenas a cabeça para o lado de fora. Poucos metros dali, ele viu um rapaz alto se distanciando a passos rápidos pela rua. Era ele que tocara a campainha?
KyungSoo fechou a porta enquanto tentava se lembrar se já vira aquele rapaz antes, mesmo não tendo visto seu rosto, KyungSoo achou que poderia ter lhe achado familiar, mas ninguém veio em sua mente naquele momento. Nunca vira aquele garoto antes, disso ele tinha certeza. Então por que estaria tocando a campainha de sua casa? KyungSoo pensou que poderia ser alguém novo na vizinhança. Recém chegados batiam nas portas para conhecer seus vizinhos? KyungSoo achava que não.
Ele já foi embora; não vai tocar a campainha.
KyungSoo saiu de perto da porta. Havia outras coisas para se preocupar, seu livro ainda não tinha seu final escrito.
° ° °
Jong In estava com sua visão embaçada enquanto seus olhos se esforçavam em ficar abertos e atentos na explicação do professor. Seu sono não fora compensador para sair de casa e passar horas na faculdade.
Seu sono estava quase o convencendo de que se dormisse ali não se ferraria tanto depois, foi quando sentiu alguém cutucando sua costela, o chamando para a realidade. Era SeHun, sentado ao seu lado.
– O que foi, SeHun? – Jong In perguntou em um resmungo. Estava com os olhos fechados enquanto apoiava o queixo em uma das mãos.
– Eu é quem pergunto “o que foi” – disse ele sussurrando meio irritado – Você vai acabar metendo a cara na mesa. Sua aparência está pior que a de um bêbado. Não dormiu direito, não foi?
– Exatamente – disse Jong In apontando para ele com os olhos entreabertos – Não dormi.
– Você continua sendo teimoso como sempre – disse SeHun com um sorriso de lado – Eu não disse para fazer aquele trabalho antes?
– Eu teria terminado se não fosse...! – de repente, Jong In se calou.
O que ele poderia dizer? Talvez: “Demorei para fazer o trabalho porque descobri que moro em frente a uma casa assombrada que toca música sozinha quando o sol se põe”. Seria tão ridículo que Jong In resolveu nem tentar.
– Se não fosse o que? – perguntou SeHun; insistindo para que seu amigo terminasse o que iria dizer.
Mas Jong In apenas sacudiu a cabeça querendo desviar do assunto.
– Não é nada, esqueça.
SeHun não teve tempo de questionar mais antes de...
– Kim Jong In e Oh SeHun – chamou o professor fazendo ambos voltarem a atenção a ele – Tenho certeza de que estão prestando atenção, não estão?
– S-sim – disse Jong In tentando abrir mais os olhos espantando o sono, o que só os fez arder mais ainda.
O professor apenas olhou para eles como se dissesse: “Fiquem quietos ou pedirei um trabalho maior ainda para os dois”.
– Tenho uma notícia má para quem não quer estudar e uma boa para quem quer se formar – disse o professor brincando com a caneta na mão – Amanhã faremos um teste e... Se eu fosse vocês ficaria por aqui mesmo estudando na biblioteca, pois eu garanto... não está tão fácil assim.
Ouve muitos resmungos de todos os lados da sala, mas o professor apenas sorriu e continuou sua explicação depois que todos fizeram silêncio.
° ° °
– Jong In! – SeHun alcançou o amigo depois do fim da aula enquanto estavam no corredor – Está indo para casa?
– Nem pensar – disse ele quase rindo, mas estava com sono demais para isso – Preciso recuperar minha nota nesse teste. Tenho certeza que aquele trabalho vai arrancar meu coro. Estava indo para a biblioteca, você vai ficar para estudar também?
– Sim, não tenho muito o que fazer – disse ele dando de ombros enquanto sorria.
° ° °
KyungSoo andava pela casa com as mãos batendo na própria cabeça; estava frustrado. Quase desesperado.
– Não posso ter esquecido – ele resmungava enquanto andava de um lado para o outro.
O garoto se amaldiçoava por não ter anotado nada no computador ou em um pedaço de papel. Parecia que bater em sua própria cabeça o ajudaria a lembrar do detalhe importante que pensou para os próximos capítulos de seu livro. Àquela altura ele já deveria ter percebido que esse seu método não estava resolvendo, apenas dando dor de cabeça. Mas aquilo era absurdo; como ele poderia esquecer das coisas assim tão fácil? Isso nunca foi mania de KyungSoo, então é claro que estava assustado.
De repente, KyungSoo se assustou com seu celular tocando encima da mesa. O garoto andou devagar até lá e pegou o aparelho.
– Alô?
– Sr. Do, preciso que venha aqui – ele reconheceu a voz da chefe da editora. KyungSoo só esperava que não fosse nada ruim.
– Por qual motivo?
– Temos que conversar sobre o seu... prazo de entrega do livro.
– Eu sei que estou atrasado, mas não vou demorar muito mais tempo – KyungSoo disse apressado; ele nunca duvidou tanto das próprias palavras.
– Pode vir aqui, Sr. Do? – ela insistiu impedindo que KyungSoo dissesse mais alguma coisa para não ir.
– Sim, estou indo – disse ele um pouco suspirante.
KyungSoo olhou para o relógio preso em sua parede, ele estava mancando 16 horas e 20 minutos.
Seus olhos se fecharam; ele apenas desejava que conseguisse voltar a tempo.
° ° °
Assim que KyungSoo chegou, a chefe mal deu tempo para que ele se sentasse antes de começar a falar. O rapaz apenas ouvia. Ela tentava parecer calma enquanto falava, mas KyungSoo conseguia perceber seu nervosismo e até mesmo um pouco de raiva em sua voz enquanto dizia que ele havia assinado um contrato com a editora com uma data para a entrega do livro – o que seria na semana que vem –para que assim ele fosse editado e lançado em todas as livrarias. A mulher tentava argumentar que se eles adiassem a entrega do livro, isso poderia deixar alguns de seus fãs irritados.
KyungSoo havia permanecido calmo e se comportado como um bom ouvinte o tempo todo, pois ele sabia que a culpa de tanto atraso era dele e não da editora, assim como sabia também que a editora não seria capaz de romper o contrato com KyungSoo, já que o garoto era um escritor muito reconhecido e nem ele com a editora, pois sempre trabalharam muito bem juntos, aquele era apenas um imprevisto de trabalho.
Mas a calma de KyungSoo não durou muito assim que ele olhou para um relógio encima da mesa.
17:30
Aquilo fez KyungSoo ficar inquieto e desconfortável na cadeira onde estava sentado, se vendo ser obrigado a interromper o que a mulher a sua frente estava falando até aquele momento quase sem nenhuma pausa.
– D-desculpe... – disse KyungSoo assustando-a – Mas... eu preciso ir agora.
– Ainda não terminamos de conversar...
– Sobre isso... Tenha certeza que mandarei o arquivo do livro na data certa sem atrasos, afinal, eu nunca me enrolei com essas coisas, não é? Então não se preocupe com isso, mas eu não posso mais ficar aqui.
KyungSoo se levantou e saiu daquela sala mais rápido do que deveria. Quase corria para poder pegar o primeiro ônibus e ir para casa, porque, afinal, KyungSoo estava atrasado.
° ° °
Jong In arrastava os pés pelo chão enquanto caminhava até sua casa. Ele era obrigado a ajeitar a mochila sempre que ela escorregava pelo seu ombro.
Já se passavam das seis da noite quando Jong In finalmente saiu da faculdade depois de ter ficado a tarde toda estudando para o teste do dia seguinte. Estava mais exausto do que no dia anterior; agora tudo o que precisava era dormir. Sua casa parecia estar muito mais distante do que o normal, Jong In tinha a impressão de que nunca chegaria a tempo para poder descansar, e a ausência de pessoas andando na rua e o silêncio perturbador só ajudava para que o garoto se sentisse cada vez mais sonolento.
De repente, Jong In ouviu o primeiro barulho vindo de trás de si. Ele não esperava por aquilo e o susto foi eminente e quando se virou afim de saber o que estava provocando aquilo, ele viu.
Um garoto baixo, que não parecia ser tão mais velho que ele, estava embaixo de um poste de luz da rua. Parecia assustado. Ele olhava para todos os lados tentando se encolher no grande casaco que usava e por causa dessa peça de roupa, Jong In quase não percebera que o pequeno garoto tremia sem parar, mas não parecia ser de frio, na verdade, Jong In não sabia do que era.
O garoto deu mais uma olhada em volta, parecia hesitar muito enquanto olhava para o chão iluminado a sua frente pelo próximo poste de luz . E em praticamente um pulo, o garoto foi para a luz do outro poste. Jong In teria achado aquilo engraçado e talvez até teria rido se não fosse pela expressão de terror que o menor tinha no rosto. Ele não parava de olhar ao redor, como se alguma coisa fosse surgir do escuro a qualquer momento.
Antes que Jong In percebesse, ele já estava andando em direção ao pequeno garoto que parecia tremer mais ainda a cada segundo ou a cada pequeno sopro de vento.
– Ei – disse ele fazendo o menor se virar em um pulo, encarando o rosto de Jong In com certo pavor o que assustara o rapaz assim que percebeu o quão pálido e suado estava o rosto do garoto – Tudo bem?
Jong In tentava manter-se calmo e simpático, temendo que o menor pudesse ter uma parada cardíaca ali no meio na rua.
– O-o que é você? – perguntou o garoto com dificuldade enquanto respirava ofegante, como se o oxigênio que respirava não fosse o suficiente. Sua voz parecia até mesmo um pouco desafiadora, o que fez Jong In se afastar um passo.
– Sou Jong In – disse ele, tentando mostrar um sorriso. Ele revolveu entender que o menor estava nervoso demais para dizer uma frase certa pelo fato do mesmo ter perguntado a Jong In “o que” ele era e não “quem” era – Você está perdido? Precisa de ajuda?
– N-não estou perdido – disse ele negando com a cabeça desesperadamente, enquanto olhava em volta mais uma vez com os olhos ainda mais arregalados e o rosto muito pálido.
Jong In pode perceber que o menor já estava com os olhos fixos no próximo poste de luz. Ele só não intendia o motivo daquele ato que parecia mais como uma brincadeira.
– Onde você mora? – Jong In perguntou se sentindo um pouco intrometido por ter perguntado aquilo – Está sendo perseguido ou algo assim?
– Eu sempre estou... – sussurrou o outro sem olhar para o maior.
Jong In olhou ao redor tentando identificar o que o menor parecia temer tanto, mas não conseguiu ver nada além de sombras e uma rua vazia.
– Não há ninguém na rua além de nós dois – disse ele em uma leve risada – Por que parece tão assustado?
De repente, um barulho estranho veio de algum ponto atrás dos dois. O menor correu assustado e com os olhos arregalados enquanto Jong In corria atrás dele. Depois de alguns metros, o maior conseguiu segurar o braço do garoto, impedindo que continuasse correndo.
– O que você quer?! – o menor gritou.
Jong In sentia que mesmo que aquelas palavras estivessem sendo direcionadas para si, o menor não parecia estar gritando com ele e nem com nada que Jong In pudesse ver.
– O que está acontecendo com você? – Jong In perguntou em um sussurro. Ele não perguntava para o menor, perguntava para si mesmo. O que estava acontecendo que aquele garoto?
– Por favor, me deixe ir! Não me faça mal outra vez! – o menor gritou, e mais uma vez Jong In achou que aquelas palavras não eram para ele. Sua voz estava chorosa e seu rosto estava molhado com por lágrimas.
– Do que está falando?! – Jong In foi surpreendido com a mão do menor empurrando-o, deixando o garoto livre para voltar a correr para longe.
Jong In começaria a correr atrás dele mais uma vez, mas parou assim que viu o menor parado em frente àquela casa.
Uma casa assombrada.
Jong In estava estático, ele não sabia o que pensar enquanto via aquele garoto tentando abrir a porta com total desespero. A chave em sua mãe tremia sem parar, sem conseguir acertar a fechadura da porta.
Quando Jong In conseguiu sair do transe, ele caminhou até onde o garoto estava e tomou as chaves de sua mão pequena. O menor o encarou apavorado. Jong In abriu a porta antes que o garoto pudesse começar a gritar mais uma vez e devolveu as chaves, deixando que o garoto entrasse. Ele não olhou para o lado ou sequer agradeceu, apenas entrou na casa e fechou a porta, quase acertando o rosto de Jong In, que permanecia parado com os olhos indecifráveis em frente a casa. Quando as luzes foram ligadas, Jong In viu tudo passando mais um vez por sua cabeça. Seus olhos se abaixaram, havia uma sombra debaixo da porta; o garoto ainda estava ali, encostado contra a madeira lisa.
Alguém morava ali. Jong In só não imaginava que pudesse ser uma pessoa... ele não sabia dizer. Transtornada, assustada com coisas que apenas ela conseguia ver. Para Jong In não era nenhuma surpresa conhecer pessoas assim. Ele apenas imaginava se um fantasma não o deixaria menor confuso e frustrado.
– Quem é você? – Jong In sussurrou.
Mesmo que quisesse, Jong In não achou que seria fácil saber o que estava acontecendo. Talvez o garoto nunca mais quisesse chegar perto de si. Jong In queria saber sobre a maneira como ele agia, o que ele estava vendo, mas o maior não conseguia.
Quando voltou a olhar para baixo mais uma vez, Jong In não viu mais as sombras.
“O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não.”
(Mahatma Gandhi)
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.