Jong In amarrava os sapatos enquanto forçava a cabeça para cima, tentando assistir aos noticiários que passavam na TV. Já estava quase na hora de ir para a faculdade. Jong In não tinha tempo de assistir essas coisas, mas sempre que conseguia nunca se surpreendia, nada parecia muito diferente.
Com tudo pronto, Jong In se levantou para desligar o aparelho, mas resolveu dar dois minutos para assistir a previsão do tempo que já começara. Aquela sim era uma notícia diferente, o tempo não ficaria nada bom durante a noite. Jong In suspirou; ele não sabia prever por quanto tempo ficaria fora. Seria obrigado a sair com seu carro por causa da chuva que estava vindo.
Jong In saiu de casa com as chaves do carro em mãos, mas antes que pudesse entrar no veículo, algo o fez parar. Ou melhor... Alguém.
Jong In observava a figura pequena que estava parada enquanto fechava a porta da casa da frente. E mesmo depois do menor ter se virado, Jong In continuava o observando, ele parecia... perfeitamente normal, como se o que acontecera ontem a noite nunca tivesse existido.
Depois de guardar as chaves no bolso do casaco, o menor levantou os olhos encontrando os de Jong In que o encarava de maneira estranha. Aquilo deixava o menor tenso e envergonhado; por que alguém estaria olhando para ele? Logo ele já descia os poucos degraus e seguia seu caminho.
A ideia de Jong In de sair de carro para a faculdade se esvaziou de sua cabeça assim que viu que seu vizinho seguia na mesma direção que ele pretendia. Logo, ele já caminhava a poucos metros atrás do garoto.
– Ei, vizinho! – chamou Jong In enquanto dava passos mais rápidos em direção ao menor até que estivesse ao seu lado – Você está bem?
O garoto se encolheu com a sua aproximação. Parecia um pouco assustado, isso fez com que Jong In se afastasse um pouco.
– C-como? – gaguejou o menor com os olhos um pouco arregalados.
– Desculpe. Talvez não se lembre de mim; ontem estava muito escuro.
Essa última parte fez o menor se arrepiar desviando o rosto para o outro lado.
– Então era você? – perguntou o menor em um sussurro; se lembrando do que havia acontecido noite passada – Jong In.
O maior acabou sorrindo ao ouvir seu nome, percebendo que o garoto não parecia mais tão assustado, apenas envergonhado.
– Eu te vi saindo... só queria saber se estava bem, porque...
– Eu estou bem, não precisa se preocupar – o menor disse rápido sem mostrar nenhum pequeno sorriso, o que acabou desfazendo o que Jong In tinha no rosto.
– Isso é bom – disse Jong In também desviando seus olhos do rosto do menor – Desculpe. Estou indo agora.
Jong In sentiu o rosto enrubescendo. Ele acelerou o passo, ficando a alguns metros a frente, e assim prosseguiu com a sua caminhada em silêncio. Durante, pelo menos, sete minutos, Jong In ouviu os mesmos passos atrás de si; ele sabia que era seu vizinho, mas não pensou que eles continuariam no mesmo caminho depois de cinco minutos.
– Por que está andando atrás de mim? – perguntou ele em alto e bom som com um tom de piada entes de se virar e perceber um leve tremor vindo do menor.
– Eu estou indo por aqui também – disse ele com a voz mais firme que antes.
– Certo, é claro que está.
Jong In começou a diminuir o ritmo de seus passos até que estivesse lado a lado com seu vizinho mais uma vez; Jong In imaginou que ele estivesse levemente incomodado com isso.
– Posso te perguntar uma coisa? – perguntou Jong In enquanto olhava para frente, sem pressa de caminhar.
O menor hesitou um pouco. Já tinha um bom palpite sobre o que ele diria, é claro não tinha outra coisa. O menor percebia uma estranha permissão por estar conversando com Jong In, uma permissão que ele nunca daria em seus piores dias ou até nos mais saudáveis. Mas lá estava ele, conversando como se aquele não fosse um problema seu, como se fosse uma coisa que todas as pessoas pudessem entender. Sua consciência estava lhe dando permissão para falar.
Tudo bem, pode dizer.
– Sim.
– Do que estava fugindo ontem? – Jong In perguntou sem pensar duas vezes. Sua voz mudara para algo mais sério enquanto olhava para o menor. Parecia até mesmo preocupado.
O menor abaixou a cabeça evitando o olhar de Jong In, mas estava tudo bem, ele podia falar.
– Não sei – respondeu, mas Jong In não sabia se ele estaria sendo sincero ou não – Eu só queria fugir. Eu precisava.
– Por quê?
O menor deu de ombros.
Tudo bem, pode dizer.
– Não queria ficar lá para poder ver o que era – o garoto fixou seus olhos em Jong In – Eu sei que não acredita em mim.
– Eu não disse isso, é que tudo parece... – o menor pensara em muitas maneiras que Jong In poderia usar para terminar aquela frase, maluco, fora do normal, problemático, incoerente, estúpido, doentio, eram umas das palavras com que ele achara que o maior terminaria a frase, mas nada é como o planejado –... Interessante.
O menor olhou para Jong In que mostrava uma expressão pensativa no rosto, como se quisesse solucionar algum problema.
– Interessante?
– Sim – Jong In disse abrindo um sorriso, talvez para que seu vizinho não ficasse tão surpreso com aquilo – Você... tem medo do escuro?
O menor sentiu o corpo congelar ao mesmo tempo em que sentia o rosto queimando, apenas imaginando o quão vergonhoso seria admitir para alguém que ele, com a idade que tinha, sentia medo do escuro, não como as crianças, mas como algo fora do comum. Dessa vez, o menor não ouviu a permissão.
Jong In já esperava que o menor não fosse responder, então apenas sorriu desviando o assunto.
– É aqui que eu vou ficar – Jong In disse apontando para frente – Minha faculdade.
– Ah... sim. Então... até mais, Jong In – em seu estado normal, ele não diria "até mais", nem pensaria em se despedir, mas nada estava sendo normal naquela manhã. O menor não acenou, apenas começou a se afastar; foi quando sentiu uma mão quente envolvendo seu pulso; a mão de Jong In.
– Qual o seu nome? – perguntou ele.
O menor se virou percebendo como as bochechas queimavam. Jong In estava bem próximo de si.
– KyungSoo – disse ele engolindo em seco – Do KyungSoo.
Jong In sorriu.
– Prazer... KyungSoo.
° ° °
KyungSoo saiu aquela manhã apenas para comprar algumas coisas – mantimentos – no mercado. Já ficara tanto tempo dentro de casa trabalhando em seu livro que acabou se esquecendo que sua geladeira já estava quase vazia. Mas a última coisa que esperava assim que saísse de casa, era encontrar Jong In, o rapaz da noite passada. No escuro, seu rosto se parecia nada mais do que um borrão, por isso era fácil inventar qualquer criatura para Jong In se passar, mas agora, longe do escuro, KyungSoo conseguia enxerga seus olhos escuros, os cabelos negros e o rosto moreno e bonito. KyungSoo poderia se sentir envergonhado em dizer que tinha medo do escuro, mas não de admitir se achava alguém bonito.
Depois de fazer suas compras e voltar para casa, KyungSoo continuou a trabalhar em seu livro, estava tudo fluindo do jeito que queria, e ele tinha certeza de que terminaria antes do que podia prever; isso se nenhum imprevisto acontecesse.
O sol havia sumido e as nuvens escuras já engoliam o céu. As janelas da casa de KyungSoo balançavam com os ventos frios que batiam nelas, mas aquilo não era o suficiente para tirar a concentração do menor que continuava a escrever e apreciar a melodia que saía do seu aparelho de som.
Porém, quando KyungSoo ouviu o som alto do trovão soar em seus ouvidos, o menor teve que se segurar para que não caísse pra trás. Seu coração batia forte contra as costelas, assustado. Mais alguns trovões ecoaram pelas paredes do seu quarto, despertando a mente de KyungSoo que se levantou em um pulo e correu para fechar as janelas que agora balançavam e batiam quando o vento aumentou. O aparelho de som fazia um zunido quase ensurdecedor, que chegavam aos ouvidos de KyungSoo irritando sua cabeça. O vento forte jogava algumas folhas para dentro do quarto de KyungSoo que via vários papéis e anotações importantes voarem pelo chão do quarto.
O céu estava ficando escuro e tempestuoso em uma velocidade assustadora. KyungSoo temia pela tempestade que estava vindo. As árvores na rua balançavam seus galhos com o vento; KyungSoo até pensou que elas pudessem cair , mas, pensando melhor, sabia que estava exagerando. Porém, pensar nisso não deixava a tempestade melhor.
Com certa dificuldade ele conseguiu fechar as janelas antes que as primeiras gotas grosas de chuva começassem a cair. A escuridão começara a tomar conta de sua casa, KyungSoo apenas desejava que as luzes de emergência dessem conta do serviço caso a energia acabasse, o que já era esperado em um tempo daqueles.
O menor correu até a sala para terminar de fechar a casa. Quando chegou a sala, percebeu que parte do chão estava molhado pela chuva que começava a cair. O vento aumentara tornando tudo mais assustador. KyungSoo se apresou e trancou as outras janelas; seu corpo já se encontrava trêmulo e um pouco úmido.
KyungSoo se sentou no sofá juntando as mãos e rezando para que aquela tempestade não viesse a piorar ao mesmo tempo em que se amaldiçoava por quase nunca ver a previsão do tempo na TV.
De repente um clarão iluminou toda a rua, e no segundo seguinte toda sua casa estava um breu. KyungSoo, não esperava que as luzes de emergência não funcionassem, ele não sabia o que havia de errado; estava no escuro. Nem mesmo o som zunia mais com sua música destorcida.
KyungSoo estava no sofá de sua sala com o corpo tão imóvel que parecia ter congelado. As luzes de emergência piscavam de vez em quando como se estivessem brincando com o menor. KyungSoo jurou em sua cabela que se saísse vivo daquilo quebraria cada uma delas. Seu corpo começou a tremer mais do que antes, ele se recusava a abrir os olhos; não se importava mais com o frio. KyungSoo forçou o corpo a se levantar e abriu os olhos, mas não adiantou, ainda não conseguia ver nada; seus pés começaram a andar pela casa sem direção, sem saber o que fazer, o garoto estava tomado pelo terror.
Mais relâmpagos surgiram jogando uma luz fantasmagórica nas paredes, fazendo KyungSoo perder a noção da realidade misturando o imaginável ao real junto aos trovões que não paravam, fazendo sons ensurdecedores, sons que KyungSoo bagunçava em sua mente confundindo com vozes do passado e risadas de crianças.
– Saiam daqui! – ele gritava enquanto chorava, começando a soluçar.
Suas mãos tampavam seus ouvidos tentando abafar os sons das risadas.
KyungSoo chorava em desespero; sentia o coração doer pela força com que batia dentro de seu peito. Sua visão ainda não era nada além de sombras, as luzes dos relâmpagos faziam sua cabeça doer e a cada passo que dava suas pernas esbarravam nos móveis até escutar o som de vidro quebrando. Ele não sabia o que havia quebrado, não sabia dizer nem em que ponto da sala ele estava.
Seus olhos ardiam devido ao choro e sua visão ficava ainda pior.
Um grito de dor escapou de sua garganta quando sentiu seu pé descalço afundar em algo pontiagudo, provavelmente no objeto de vidro que havia quebrado. Sua perna enfraqueceu e KyungSoo caiu no chão se apoiando em sua mão, logo recebendo um corte na palma da mesma maneira que seu pé. O pequeno se encolheu no chão e tentou rolar para longe do vidro quebrado enquanto apertava forte sua mão ferida contra o corpo trêmulo. Ele pôde sentir o sangue escorrer de seu pé e de sua mão, manchando seu chão com o líquido avermelhado.
KyungSoo tentou se levantar, queria alcançar a porta; ele sabia que estava destrancada. Quando mais um relâmpago desenhou o céu, o menor conseguiu ver onde estava, sabia onde a porta estava, mas ele não sabia o que poderia fazer quando chegasse até ela. O lado de fora estava pior o que o lado de dentro, ele sabia, mas KyungSoo não pensava bem em meio ao desespero, e aquelas risadas... estavam em toda parte.
Seus soluços se tornaram sufocantes em sua garganta. Ao tentar levantar, sentiu sua perna vacilar com o dor constante em seu pé, fazendo KyungSoo cair no chão mais uma vez e apertar a mão machucada. Ele tinha a impressão de que algo o prendia no chão.
Você não pode ir até a porta, KyungSoo. Precisa ficar aqui.
Mais relâmpagos e sombras ainda piores apareceram apavorando KyungSoo, deixando-o com raiva.
– Vão embora! – gritou agarrando qualquer objeto com sua mão livre e jogando-o em qualquer lugar. Talvez próxima à porta.
KyungSoo deitou o rosto no chão gélido e ouviu um último grito agudo saindo de sua garganta antes que seus olhos se fechassem. Os únicos sons depois disso pareciam alucinações; ele ouviu o que parecia ser a porta sendo aberta, mas ele sabia que estava fechada, sombras não podiam abrir portas. Passos rápidos ecoaram pelo chão, chegando cada vez mais altos em seus ouvidos, mas ele sabia que sombras não faziam barulho quando andavam.
° ° °
O tempo estava começando a fechar quando Jong In chegou em casa. Havia sido pego de surpresa por seu professor que os levara a um hospital psiquiátrico onde aconteceria sua "aula" do dia; o que acabou deixando o teste para o dia seguinte; Jong In quase ficou decepcionado com isso. Não era a primeira vez naquele ano que a turma visitava esses tipos de hospitais. Isso era uma coisa que Jong In gostava em seu professor, que fazia questão de mostrar aos seus alunos o que enfrentariam assim que saísse da faculdade, não apenas por ser uma atividade obrigatória.
Como costumavam ir quase sempre aos mesmos hospitais, Jong In já conhecia boa parte dos pacientes que ficavam por lá. Alguns profissionais do hospital diziam que a vinda dos alunos ajudava nos resultados dos pacientes, sendo eles graves ou não. E Jong In adorava, exclusivamente, aquele hospital e a primeira coisa que fez depois de toda a explicação do professor, foi se dirigir até o terceiro andar, parando em frente ao quarto 317.
Jong In abriu a porta vendo o pequeno garotinho sentado na cama enquanto brincava com um macaco de pelúcia. Assim que viu o Jong In, o garotinho abriu um grande sorriso e acenou com o boneco freneticamente tentando chamar a atenção de Jong In para que ele entrasse no quarto de uma vez.
O maior sorria enquanto andava até lá e se sentava na cama em frente ao garotinho.
– Dong Sun – disse Jong In passando a mão no cabelo liso do garoto – Como está? Acha que demorei pra voltar?
O garotinho assentiu com a cabeça formando um bico chatiado nos pequenos lábios.
– O Sr. Moggu não tem falado muito – ele disse balançando o macaco que segurava e encarrando a janela em seguida, como se estivesse vendo algo sentado ali.
Jong In sorria feliz com o que o pequeno garoto dissera.
– Prometo que virei te ver mais vezes, mas estive ocupado nesses últimos dias. Desculpe – disse ele de forma carinhosa.
Dong Sun tinha esquizofrenia e já estava naquele hospital psiquiátrico há vários meses. Para um garotinho como ele, ser esquizofrênico era meio preocupante.
O Sr. Moggu, na verdade, era uma alucinação de sua cabeça e tinha o mesmo nome que seu brinquedo, brinquedo esse que o próprio Jong In havia lhe dado. O garoto dizia conversar com o macaco imaginário desde muito tempo, mas Dong Sun não sabia dizer se sua companhia dava medo ou diversão a ele, mas aquele macaco era o que menos preocupava os médicos; o garoto também dizia conseguir ver coisas que nem ele mesmo conseguia identificar; apenas dizia que suas formas o assustavam. Dong Sun tinha várias pequenas cicatrizes provocadas por suas crises de alucinações que pareciam serem mais frequentes durante a noite.
Assim que Jong In conhecera o pequeno garoto, ele quis ajudá-lo em seu problema e depois de se tornarem amigos, Dong Sun tem melhorado muito suas crises de esquizofrenia. A única coisa que via agora era o Sr. Moggu e com muito menos frequência do que antes, ficando apenas na companhia do brinquedo, de seus pais, médicos e de Jong In.
– Já te disseram quando poderá sair daqui? – perguntou Jong In.
– Me disseram que semana que vem estarei em casa – disse Dong Sun abraçando o macaco que substituía seu animal/amigo imaginário – Sr. Moggu diz que vai embora logo, fiquei feliz por ele.
– Que bom, Dong Sun. É bom te ver assim – disse Jong In passando a mão nos cabelos do pequeno mais um a vez – Não está com medo?
O pequeno negou com a cabeça enquanto sorria contente.
– Jong In é como um super herói! – para uma criança de sete anos, Dong Sun sabia como animar Jong In.
O maior acabou ficando ali sentado por mais um tempo brincando e conversando com Dong Sun, mas quando teve que dizer que precisava ir embora, Jong In viu a expressão do garotinho se entristecer, porém, logo mais um sorriso surgiu quando Jong In lhe prometeu que voltaria antes que ele saísse do hospital, e assim, entrelaçaram seus dedinhos nessa promessa.
° ° °
Quando Jong In chegara em casa, fechou a porta com força devido ao vento forte que havia começado a soprar. Mesmo pegando um pouco do início da garoa, o dia havia sido bom e reconfortante, contanto que a tempestade que estava vindo não fosse pior do que ele estava imaginando. Como estava enganado...
Quando estava na cozinha para pegar um copo de água, Jong In ouviu o forte trovão que quase fez com que derrubasse tudo no chão. Jong In correu até uma das janelas da sala e ficou observando a tempestade lá fora. O vento frio causou um arrepio que correu por sua espinha antes de ter os olhos incomodados com um forte relâmpago que deixou toda a vizinhança em um mar de escuridão repentino.
O coração de Jong In batia forte conta o peito, seus olhos estavam fixos na casa da frente; ele se perguntava se KyungSoo estaria lá. Os vários sons que a tempestade causava perturbavam sua cabeça, mas em meio àquilo tudo, ele ouvir o que achou ser um grito vindo daquela direção. De entro daquela casa.
Era KyungSoo que estava gritando? Jong In se afastou da janela vendo sua mente entrar em desespero quando correu até a porta e a abriu observando a chuva que caía lá fora. Era possível ver a chuva se movimentando com o vento quando um relâmpago aparecia no céu.
Jong In correu com o coração apertado até o outro lado sem se importar com a chuva lhe molhando o corpo. Quando parou em frente a porta, seu cabelo pingava no chão; não teve tempo de recuperar o fôlego antes de ouvir mais um grito e o som de algo sendo atirado contra a parede. Quando forçou a maçaneta, Jong In percebeu que a porta estava aberta; aquilo já era uma sorte imensa, porém antes que a porta batesse contra a parede, mais um grito invadiu seus ouvidos, um relâmpago brilhou no céu e Jong In viu o corpo de KyungSoo deitado e encolhido no chão ao lado de cacos de vidro. Jong In não demorou mais nem um segundo ali antes de correr até o menor e tirar seu corpo de perto dos cacos espalhados no chão.
Ele sentia KyungSoo tremer em seus braços. Tremia de frio e ao mesmo tempo de medo.
Jong In estava ajoelhado com KyungSoo próximo ao seu peito; ele respirava, mas não dava sinais de que estaria consciente. O maior imaginou que ele tivesse desmaiado no momento em que a porta foi aberta, e mesmo que agora estivesse tudo bem, Jong In sabia o que acontecera ali.
° ° °
A chuva havia parado, mas a luz ainda não dava sinais de que iria voltar; algumas poucas lâmpadas de emergência voltaram a funcionar e outras continuavam a piscar de vez em quando.
Depois de deixar KyungSoo no quarto, Jong In voltara a sua casa, trocou a roupa molhada e buscou alguns materiais de primeiros socorros para que pudesse cuidar dos ferimentos do menor. Apenas uma luz de emergência estava funcionando naquele quarto, mas já era o suficiente. Enquanto o observava na cama, Jong In se perguntava quando KyungSoo acordaria.
Enquanto enfaixava a mão de KyungSoo, Jong In prestava atenção em seu rosto; alguma coisa o incomodava enquanto o observava, de repente o menor lhe parecia familiar, o tamanho pequeno, o rosto pálido, o jeito que encarava as coisas desconhecidas com certo medo, seus grandes olhos... Mas mesmo que isso lhe parecesse familiar, Jong In não conseguia lembrar, e seu nome... não se lembrava de ter conhecido alguém chamado Do KyungSoo.
O menor começou a se remexer na cama, mudando de posição. Jong In havia trocado a camisa úmida e manchada de sangue de KyungSoo, mas não se atrevera a trocar mais nada. Para quem acabara de se conhecer, ser chamado de pervertido não era um bom obrigado.
Jong In pensava no motivo que teria levado KyungSoo a ter daquele jeito amedrontado. Aquilo não era nada diferente do mundo que já conhecia, mas Jong In gostaria me saber os motivos de KyungSoo, o que ele via e apenas ele via.
° ° °
KyungSoo sentiu os olhos arderem enquanto os abria lentamente, tendo a visão embaçada por um momento. Alguma coisa macia cobria sua mão e pé machucados, que agora já não doíam mais como antes.
Quando seus olhos voltaram ao foco normal, KyungSoo percebeu que eles não se irritaram com a luz, pois não havia luz nenhuma ali, na verdade o que tinha era apenas o suficiente para iluminar a superfície dos objetos. Pensou que estivesse em um pesadelo, no entanto, seu corpo o forçou a se sentar na cama e olhar assustado para o lugar ao redor.
Jong In que estava ao seu lado se surpreendeu com a ação repentina.
– Ei, calma – disse o maior segurando os ombros de KyungSoo que respirava ofegante enquanto olhava para os lados procurando as sombras das crianças.
– Onde eu estou? – perguntou ele.
Jong In percebeu o medo em sua voz.
– Este é o seu quarto...
– Não consigo ver direito...
– Eu sei, a luz ainda não voltou – Jong In tentava acalmar o menor.
KyungSoo encarava o rapaz a sua frente, e mesmo sem conseguir ver direito, ele reconheceu Jong In.
– O que está fazendo aqui? – KyungSoo perguntou tentando não ser grosso demais, mas o medo não o ajudava.
– Você não sabe como se machucou?
KyungSoo olhou para os curativos e tudo pareceu vir ao mesmo tempo em sua cabeça, a chuva, os trovões, as sombras, as risadas, o medo e... a porta se abrindo. Já havia entendido.
– Você abriu a porta – disse ele olhando para os lados tentando enxergar alguma coisa, mas a luz fraca não era o suficiente e os arrepios continuavam a subir por sua espinha; ele tinha medo de que acabasse gritando mais uma vez – Por favor, acenda a luz...
Jong In percebeu que o garoto fechara os olhos, percebeu sua voz triste e o jeito que o menor se esforçava para não chorar na frente dele.
– Eu não posso – disse Jong In do modo mais calmo que conseguia – Eu já disse, a luz não voltou...
– Acenda a luz! – o menor gritou abrindo os olhos marejados em puro terror enquanto balançava freneticamente os ombros de Jong In.
Jong In não se intimidou com a insistência do menor. As mãos pequenas ainda estava em seus ombros quando Jong In as segurou e tentou se aproximar de KyungSoo.
– KyungSoo...
O menor virou o rosto soltando as mãos de Jong In e se escondeu debaixo dos lençóis e do travesseiro.
– Eles vão aparecer de novo... – sua voz era abafada pelo colchão, mas Jong In conseguiu ouvir o que ele dissera.
Antes de qualquer coisa, Jong In puxou KyungSoo pra fora dos lençóis, fazendo-o se sentar, e então segurou seus ombros mais uma vez.
– Ninguém vai vir – disse ele com a voz calma – Tudo bem?
KyungSoo encarava o rosto de Jong In enquanto sentia as lágrimas diminuírem em seus olhos. A fraca luz presente no quarto refletiam nos olhos do maior formando dois pontos de luz que KyungSoo parecia querer tanto encontrar.
Ele sentia o medo desaparecendo aos poucos.
”Uma certa escuridão é necessária para se ver as estrelas.”
(OSHO)
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