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História 18 Horas - Encoraje-me


Escrita por: Tany_Yashi

Notas do Autor


Atrasei umas 5 horas, mas está aqui.
Sorry~

Capítulo 3 - Encoraje-me


Fanfic / Fanfiction 18 Horas - Encoraje-me

Mesmo depois que a luz voltou a iluminar a casa, KyungSoo continuava a fitar os olhos de Jong In, que pareciam brilhar ainda mais na presença das luzes fluorescentes. A música também havia voltado a tocar, e KyungSoo já se sentia mais calmo enquanto ouvia a melodia.

– Tudo bem? – disse Jong In, soltando os ombros do garoto.

KyungSoo abaixou a cabeça e levou as mãos até o rosto, esfregando os olhos grandes e inchados, parecendo uma criança ao parar com o choro. De repente, a cama em que estava sentado pareceu mais confortável. 

– Esqueça o que aconteceu aqui – KyungSoo disse se ajeitando na cama coberta de lençóis brancos.

Jong In o olhou sem entender.

– O que?

– Eu já sofri o suficiente por causa desse meu medo idiota – KyungSoo reconhecia que era algo idiota o que sentia, mas não era a coisa mais fácil do mundo deixá-lo de lado – A última coisa que eu quero é escutar comentários da vizinhança.

KyungSoo o olhava sério, parecendo querer desafiá-lo a dizer alguma coisa sobre o ocorrido, mas Jong In ainda o encarava como um aluno encarra uma prova de matemática em que não se sabia nada sobre o assunto.

– Você... acha que eu vou contar para as pessoas o que aconteceu aqui?

– Por quê? Você vai...?!

– Mas é claro que não – KyungSoo chegava a se surpreender com a calma na voz de Jong In – Eu já acho uma sorte enorme os vizinhos não terem saído ou chamado a polícia pra ver o que estava acontecendo aqui.

KyungSoo imaginou se não fosse Jong In sentado ali olhando para ele, se fosse qualquer outra pessoa ela poderia estar rindo da sua cara e KyungSoo continuaria debaixo dos lençóis. Mas não havia riso, e Jong In o encarava como se estivesse debatendo um assunto sério, como se se conhecessem há muito tempo.

A vida inteira KyungSoo costumava ter problemas para se socializar com as pessoas. Ele tinha a impressão de que todos o olhavam de um jeito estranho, as vezes pelo tamanho excessivo de seus olhos escuros, ou pela sua altura relativamente baixa comparada as outras pessoas da mesma idade; por isso não seria surpresa alguma esperar uma reação desagradável de Jong In, sendo que ele sabia de coisas que KyungSoo nunca havia dito a ninguém, pelo menos não depois de tantos anos, e mesmo assim, o olhar de Jong In permanecia sério, e isso confundia KyungSoo.

– Por que você não ri disso?

– Não é engraçado, KyungSoo, nem uma piada – disse Jong In com a mesma calma na voz.

KyungSoo encolheu os ombros, ouvindo o que o maior dizia.

– Quando olho pra você não vejo apenas uma pessoa com medo, vejo uma pessoa apavorada com coisas que ninguém mais entende – a cabeça de Jong In trabalhava a mil enquanto falava – Eu queria poder entender isso, KyungSoo. Sei que existe um motivo, talvez seja... algum trauma...?

– Eu não estou doente! – o menor o interrompeu elevando a voz; não queria que Jong In continuasse.

– Eu não falei que está – disse Jong com a voz relaxada de novo – Mas eu notei seu desespero hoje, eu o ouvi gritar...

– Você viu alguma coisa? – KyungSoo perguntou já sabendo a resposta.

Jong In não respondeu no mesmo instante. Ele não sabia o que o menor via ou parecia ver, ele não podia sentir o que KyungSoo sentia no escuro.

– Não.

– Então você não pode entender aquilo, Jong In, mas eu não estou doente.

KyungSoo se levantou sentindo uma fisgada dolorosa na sola do pé enfaixado ao pisar no chão, mas ignorou, assim como ignorou também seu rosto se contorcer em uma expressão dolorida; ele apenas seguiu mancando até o banheiro, enquanto Jong In também se levantava e ia atrás dele. KyungSoo precisava ficar sentado.

O menor apoiou as mãos no lavatório, usando mais força na mão esquerda no que na direita, por essa está ferida também, tanto para diminuir o peso em seu pé, quanto para encarar melhor o próprio reflexo no espelho.

– Eu não posso estar... não de novo... – sua voz era um sussurro doloroso, parecendo não querer aceitar o que já era provável pra ele.

– Ter medo não quer dizer estar doente nem louco – disse Jong In entrando no banheiro e encostando a porta atrás de si.

– Mas você disse que...

– Eu não disse... não sei o que você tem, mas acho que posso ajudar.

– Você é médico? – Sua voz era carregada de ironia, ele sabia que Jong In não era nenhum médico, formado pelo menos.

– Quase um – disse ele em uma risada sem graça.

KyungSoo abaixou e balançou a cabeça enquanto olhava para o fundo do lavatório.

– Eu não deveria estar dando ouvidos a você, por que ainda está aqui?

– Já pensou no que poderia ter acontecido com você se eu não tivesse chegado?

– O que importa? E agora que está aqui vai querer me levar para um hospital? Um hospício talvez. Eu não estou doente! – o menor repetia aquilo muitas vezes, parecendo tentar convencer a si próprio sobre aquilo ao invés de tentar fazer Jong In entender – Por favor, saia.

– KyungSoo...

– Me deixe sozinho!

Foi apenas um segundo para que KyungSoo visse tudo escurecer; Jong In havia apagado a luz do banheiro. O menor sentiu o desespero aumentar em seu corpo naquele lugar pequeno e trancado. KyungSoo queria chegar até a porta e abri-la, mas Jong In estava na sua frente, porém, isso não o impediu de empurrar o maior contra a porta e escutar o ar saindo de seus pulmões. Queria sair dali de qualquer jeito.

Jong In tentava segurar KyungSoo que ouviu começar a chorar baixinho enquanto tampava os ouvidos com as mãos pequenas. Mesmo que tudo estivesse quieto para o maior, KyungSoo não agia da mesma forma. Quando a luz voltou a se acender, KyungSoo abriu os olhos encarando o maior com raiva.

– Por que fez isso? – o menor perguntou com a voz ainda um pouco chorosa.

Jong In apenas encarou o rosto de KyungSoo por um instante, talvez tentando identificar suas expressões, talvez querendo enxergar algo além dos olhos dele.

– Por que tem medo do escuro? – Jong In perguntou em um quase sussurro, ignorando a pergunta que o outro havia feito.

KyungSoo abaixou a cabeça e relaxou o corpo; Jong In suspirou, achou que já era o suficiente para o menor aguentar, então abriu a porta, deixando que saísse do banheiro. KyungSoo se sentou na cama e esticou a perna com o pé machucado enquanto tentava aliviar as pontadas de dor que sentia sob o curativo.

Jong In sabia que KyungSoo pediria para que ele fosse embora mais uma vez; o menor não parecia entender as verdadeiras intenções de Jong In em querer ajudá-lo, ou talvez não quisesse aceitar a ideia de que precisava de ajuda.

Jong In observava KyungSoo tentando achar uma posição confortável para apoiar sua perna, imaginou que o ferimento estaria latejando agora que ele havia se levantado. Era possível ver o curativo levemente manchado de sangue. Jong In se lembrou de Dong Sun, e tentou comparar o pequeno garoto com KyungSoo, mas sabia que os dois viviam em mundos muito diferentes. Jong In não sabia há quanto tempo KyungSoo vivia com aquele medo, se era recente ou desde a sua infância, e mesmo assim não achava que ele seria como o garotinho Dong Sun.

Jong In caminhou até a cama e se sentou de frente para KyungSoo, que fingiu não notar a presença do maior ali e continuou a tentar amenizar a dor em seu pé com sua mão livre. Jong In suspirou pegando o pé ferido de KyungSoo com gentileza e o colocando sobre sua coxa enquanto o analisava com cuidado entre suas mãos.

– Antes que você diga mais uma vez para que eu vá embora... – disse Jong In impedindo que o menor puxasse seu pé de volta – me deixe trocar este curativo primeiro.

KyungSoo resolveu não protestar e deixou que Jong In cuidasse de seus ferimentos. O menor não deixou de reparar como Jong In era habilidoso no que estava fazendo, mas achava estranho o quão confortável estava se sentindo. Depois de pensar nisso, KyungSoo quase se arrependeu pelo modo que estava sendo grosso com ele.

– Sabe, eu também tenho um medo desde criança que não conto a ninguém – disse Jong In pegando a mão direita de KyungSoo para que trocasse o curativo que estava ali.

– Tem, mesmo?

– Sim, eu acho palhaços horríveis – Jong In encarou o olhos negros de KyungSoo que, para a sua surpresa, já o encarava de volta – Tenho muito medo deles. É ridículo, não é?

KyungSoo sorriu.

– Não é ridículo.

Jong In ficou em silêncio por alguns segundos, ele queria que KyungSoo entendesse.

– Você está certo – disse por fim – Não é ridículo, KyungSoo, e o que você sente também não é.

O menor abaixo o olhar e ficou observando o curativo feito em sua mão como se fosse algo muito interessante.

– Adultos não deveriam ter medo do escuro; isso já me torna ridículo porque não é apenas medo, Jong In – KyungSoo disse aquilo como se tivesse feito algo de errado.

– O que quer dizer?

– Não tem como você entender.

Mais silêncio. Jong In queria que KyungSoo olhasse para ele de novo.

– Acho que eu posso entender um pouco disso – disse Jong In – Entendo que você se desespera quando não consegue ver nada e que as sombras podem parecer figuras assustadoras que não existem...

KyungSoo levantou o olhar encarando Jong In mais uma vez.

– Elas existem, mas não estão atrás de você – disse o menor.

– Quem? – a curiosidade de Jong In chegada a transbordar pelos olhos, ele queria saber do que KyungSoo estava falando.

– Quatro crianças... – sussurrou KyungSoo enquanto voltava a olhar para sua mão enfaixada.

– Quem são essas crianças?

KyungSoo não respondeu, seu rosto parecia triste e aquilo foi o suficiente para fazer Jong In se calar.

– Está pronto – disse soltando a mão de KyungSoo.

Jong In se levantou arrumando as coisas que trouxera de casa sem olhar para KyungSoo; invés disso tentou prestar atenção em outras coisas, como o quão branco era aquele quarto; Jong In notara que até as roupas de KyungSoo não eram muito escuras, o que contrastava com seu cabelo castanho, levando Jong In a pensar se ele também não o havia pintado para que ficasse daquele tom.

KyungSoo dava a impressão de ser alguém frágil, e talvez até incapaz de aguentar todo aquele medo. Todas aquelas luzes de sua casa eram a prova de que o menor já não conseguia mais suportar aquilo, o que aumentava ainda mais a vontade que Jong In sentia de ajudar o garoto.

O maior bocejou, seus olhos estavam pesando muito. Olhar para o chão forrado com carpete branco parecia convidativo para se tirar um cochilo. Jong In balançou a cabeça e olhou em seu relógio de pulso.

5:25

Estava com tanto sono que acabou nem suspirando por causa daquilo.

– Droga... – resmungou ele, segurando suas coisas com uma das mãos enquanto a outra esfregava os olhos cansados.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou KyungSoo, fazendo Jong In se virar para poder encará-lo.

– Não, nada – disse ele forçando um pequeno sorriso.

O rosto de KyungSoo parecia meio retorcido na visão de Jong In; ele sentia seus olhos querendo se fechar sozinhos, mas, pelo menos, conseguia se manter de pé.

– Que horas são? – KyungSoo perguntou e Jong In percebeu que ele estava prestando atenção em si.

O maior limpou a garganta.

– Ainda está cedo, você pode aproveitar para dormir um pouco mais – dizer aquilo o deixado com um ar de inveja.

KyungSoo olhou para janela, o que fez seus lábios se abrirem em uma expressão surpresa, notando os raios de sol surgindo ao longe. Jong In ficara acordado a noite inteira enquanto KyungSoo estava dormindo.

– Suas olheiras estão enormes – disse o menor, voltando a encarar Jong In – Você não dormiu?

– Eu cochilei um pouco enquanto você dormia – Jong In mentiu; aquilo fez com que o menor se sentisse culpado – Não se preocupe com isso, você precisa se cuidar e daqui a pouco vou ter que ir para a faculdade.

KyungSoo sentiu um nó se formar em sua garganta. Como Jong In poderia ter ficado a noite toda só para que cuidasse dele?

– Você não deveria ter feito isso – disse KyungSoo tirando os olhos do rosto do maior – Não deveria ter ficado aqui a noite toda.

– O que está dizendo? Você não ia querer que seus ferimentos infeccionassem, não é? – perguntou Jong In rir fraco – Agora eu preciso ir.

 Jong In já estava saindo do quarto quando sentiu KyungSoo segurar seu pulso; ele tinha saído da cama rápido e o maior nem havia percebido.

– Não faça mais isso – disse o menor sem olhá-lo nos olhos – Vou me certificar de que isso não aconteça de novo.

– KyungSoo, volte para a cama. Não é bom ficar andan–

– Não perca noites por minha causa. Você está preocupado demais com uma pessoa que mal conhece.

Havia preocupação em sua voz, Jong In notou, mas era uma preocupação que KyungSoo não esperava demonstrar. Fazer ou sentir coisas involuntárias desde que conhecera Jong In se tornaram normais pelo visto. Mas KyungSoo sabia que sua suposta preocupação não chegava em comparação ao que Jong In demonstrava com ele.

KyungSoo não sabia, mas aquela não era a primeira noite que o Jong In perdia por causa dele.

– No futuro eu vou me preocupar com pessoas que não conheço – disse Jong In sorrindo – Acho que já consegui te conhecer o suficiente para poder me preocupar com você também, não acha?

KyungSoo abaixou a cabeça encarando os lençóis enquanto um meio sorriso irônico aparecia em seus lábios.

– Você não me conhece... Nem um pouco – disse ele voltando a olhar para Jong In – E é melhor assim.

KyungSoo só tornava as coisas mais difíceis para Jong In; era como se quisesse afastar o maior de si a qualquer custo. Aquilo não fazia parte da sua personalidade, KyungSoo não gostava de parecer ruim para com as pessoas. Jong In sabia que ele fazia isso para se proteger, mas ainda era uma incógnita seus motivos. Jong In não queria desistir; precisava entender.

Jong In se soltou da mão de KyungSoo e o observou por alguns segundos; o menor estava tremendo.

– Mesmo que esteja me dizendo isso, eu não consigo acreditar em você – o que Jong In disse fez KyungSoo fitá-lo no mesmo instante, surpreso – Não posso acreditar que queira continuar se escondendo assim, KyungSoo.

O menor continuava a encará-lo sem conseguir dizer nada. Jong In viu os olhos de KyungSoo tremerem como se uma guerra estivesse acontecendo dentro de sua cabeça, enquanto uma parte de seu cérebro queria chutá-lo para fora daquela casa, a outra parte gritava de mãos atadas, pedindo ajuda enquanto chorava desesperadamente.

Percebeu que não faria bem para KyungSoo se o maior continuasse ali. Jong In olhou para seu relógio de pulso, seu tempo havia diminuído; aquilo era muito deprimente, e mesmo que Jong In tivesse permanecido a noite em claro cuidando de seu vizinho recém-conhecido, ele não se arrependia disso.

– Eu preciso ir – ele disse voltando a encarar o menor que agora parecia mais aliviado – Mas... KyungSoo, eu realmente quero que você pense sobre isso, então prometa que irá pensar direito, tudo bem? Você já deveria ter percebido, eu não quero desistir de você.

Antes que se levantasse, Jong In levou sua mão até os cabelos de KyungSoo, os bagunçando um pouco. O menor continuou com sua visão para o lugar onde Jong In estava sentado mesmo depois desse já estar de pé próximo a porta.

O maior viu o corpo de KyungSoo relaxar na cama antes que finalmente fechasse a porta do quarto, para que então, saísse daquela casa. Desde o momento em que Jong In disse para que KyungSoo pensasse em tudo com cuidado, ele decidiu que não insistiria mais do que aquilo, esperaria uma resposta de KyungSoo. Achou que talvez tivesse confiança demais em suas palavras; ele desejou que, pelo menos desta vez, estivesse certo sobre isso.

 

° ° °

 

Cinco dias depois.

 

Havia chegado o dia em que Dong Sun finalmente voltaria para casa. Depois de meses, o pequeno poderia ver algo diferente sem que fosse aquele quarto branco no hospital psiquiátrico, onde ficara todo aquele tempo. Mantendo sua promessa, Jong In estava em seu carro a caminho do hospital para se encontrar com o garoto.

Depois de ter saído da casa de KyungSoo naquele dia, Jong In mal conseguia acreditar que conseguira tirar uma nota boa no teste que fizera com o sono que estava, mas para a sua surpresa, aquilo não se tornara seu maior problema, mas sim as inúmeras vezes que KyungSoo insistia em aparecer em sua mente. Isso se repetiu várias vezes durante aqueles cinco dias.

Todo esse tempo, Jong In não tivera nenhuma resposta de KyungSoo. Todos os dias o maior ouvia os mesmos barulhos; quando a hora chegava, ele sabia que KyungSoo estava correndo para se esconder em seu quarto. Nada mudara, a rotina era a mesma; era como se KyungSoo tivesse esquecido Jong In completamente, e apesar disso, o maior não mudara sua decisão mesmo que algo dentro de seu peito gritasse para que ele corresse e batesse na porta.

Ficar parado e não fazer nada era mais difícil do que ele imaginava. Mesmo que estivesse decidido que não insistiria mais, nos últimos dois dias, Jong In acabou ficando parado por alguns minutos em frente à casa de KyungSoo depois que o sol já sumira do céu. No quinto dia, Jong In ouviu um som diferente; se pudesse ter evitado, ele nunca teria ficado ali para ouvir. Se arrependeu no instante em que sentiu seu coração doer quando aquele som baixo chegou aos seus ouvidos sem poder fazer nada para impedir; era sua decisão não se aproximar  e Jong In se sentiu um completo idiota por estar obedecendo àquilo.

Se pudesse desejar alguma coisa naquele momento, pediria que mais uma tempestade viesse a cair; desse jeito ele sabia que poderia estar com KyungSoo mais uma vez, e Jong In não precisaria mais ouvir o menor chorando em seu quarto. Sabia que se continuasse ali não conseguiria suportar ouvir aquilo por muito mais tempo, alguns segundos eram o suficiente para que os soluços de KyungSoo fossem insuportáveis; tudo se tornava ainda pior quando Jong In pensava no quanto KyungSoo não estaria chorando para que ele fosse capaz de ouvir do lado de fora da casa.

Quando voltou para casa, Jong In tentou de todas as maneiras esquecer que ouvira aquele choro um dia. Ele sabia que deveria ter socado a porta até que KyungSoo a tivesse aberto, mas não; ele foi obediente o suficiente para se achar um imbecil, então continuaria com a sua decisão, continuaria esperando KyungSoo. Aquela era a pior ideia que o maior poderia ter pensado em ter, mas precisava tentar.

Jong In já se aproximava do hospital quando pôde ver os pais de Dong Sun chegando também. A mãe do garotinho se animou em ver Jong In; depois de se cumprimentarem, os três entraram juntos no hospital e foram em direção ao quarto.

Dong Sun já os esperava ao lado dos médicos que depois de terem conversado com os pais do garoto, vieram falar com Jong In. Um sorriso enorme apareceu em seu rosto ao saber que Dong Sun estava tão bem quanto qualquer criança normal; depois da notícia, os médicos ainda  agradeceram Jong In por ter tornado a recuperação de Dong Sun mais rápida; ele agora era um garoto novo e muito mais feliz. Mas ainda sim, Jong In sabia que poderia haver exceções; talvez Dong Sun precisasse tomar algum remédio ou até voltasse a ter alucinações, no entanto, também acreditava que o garoto ficaria bem.

Jong In carregava o pequeno nos braços até o carro de seus pais, que estavam um pouco mais atrás, apenas observando a cena dos dois enquanto conversavam animadamente. Antes que Jong In pudesse colocar Dong Sun no banco de trás do carro, ele olhou para o menor com o mesmo sorriso largo de sempre, dizendo:

– Se cuide, Dong Sun.

– Jong In, depois de mim, de quem você vai ser super-herói? – perguntou ele com os bracinhos envoltos do pescoço do maior.

– De quem você acha que poderia ser? De seu macaco? – ele perguntou brincando enquanto pegava o pequeno macaco de pelúcia que Dong Sun tinha em uma das mãos.

– De alguém que tenha medo – disse o garotinho fazendo com que Jong In o encarasse surpreso – Tem alguém assim?

E rapidamente, a imagem de KyungSoo lhe veio a cabeça.

– Sim, existe uma pessoa...

– Você promete que vai cuidar dela, não é?

– Prometo – Jong In disse e voltou a sorrir.

– Ele vai ter o melhor super-herói! E vai ficar bem. 

– Você acredita nisso? – disse Jong In colocando o pequeno no banco de trás e devolvendo seu pequeno macaco enquanto bagunçava seus cabelos.

– Com toda a minha inteligência!

Jong In não soube o que dizer, então apenas sorriu mais uma vez e murmurou um "até logo, Dong Sun" antes que fechasse a porta do carro.

Quando se afastou alguns passos, o pai de Dong Sun se aproximou de Jong In enquanto sua esposa entrava no carro e conversava animada com o filho no banco de trás.

– Obrigado, Jong In – disse ele com a mão no ombro do mais novo – Você sabe que foi muito importante para que o meu filho conseguisse sair desse lugar; tenho certeza de que ele sabe disso também, e agora ele está tão bem como nunca esteve. Você já é um grande médico. Eu espero que você venha nos visitar algum dia.

– Obrigado, senhor – disse Jong In tão feliz quando antes – Nos veremos de novo, não se preocupe.

Depois disso, quando o carro começou a ir embora, Dong Sun apareceu na janela de trás e acenou para Jong In que acenava de volta enquanto o garotinho ficava cada vez mais distante e desaparecia por uma rua. Dong Sun estava bem agora, Jong In estava feliz, mas ainda poderia sentir a frustração em seus ombros, afinal, ainda havia KyungSoo.

 

° ° °

 

KyungSoo estava sentado no chão de seu quarto, com as costas encostada na cama enquanto girava seu pendrive nos dedos. O som estava ligado como sempre, mas a música fazia KyungSoo se sentir triste; ele tinha vontade chorar, o que não demorou muito para acontecer, e mesmo que silenciosamente, o garoto estava chorando.

KyungSoo sentia alguma coisa o esmagando por dentro e expulsando as lágrimas para fora. Para toda a direção que olhava, nada mais parecia certo em sua cabeça, estar sentado ali sozinho enquanto se mantinha isolado parecia não fazer sentido. Era loucura continuar repetindo para si mesmo todos os dias que estava tudo bem em ficar trancado em um lugar agora, meramente, estranho.

Ele sabia que o que fazia tudo aquilo consigo era a sua falta de coragem, que lhe foi arrancada há muito tempo. Na verdade, KyungSoo não conseguia se  lembrar se já foi corajoso alguma vez... ou da última vez que conversou alegremente com algum amigo, afinal, ele nunca teve muitos, e agora, depois de tantos anos em Seoul não era sempre que mantinham contato com os pais.

KyungSoo não conseguia mais suportar aquilo, e mesmo que tivesse tentado, durante esses cinco dias, convencer sua cabeça de que acreditar em Jong In não era a melhor solução, ele sabia que não era verdade, assim como também sabia que aquele medo poderia acabar o matando. Aguentara tempo demais, e por um momento, KyungSoo se perguntou se querer mudar tudo o tornaria corajoso.

 

° ° °

 

Jong In estava sentado em seu sofá enquanto balançava as pernas e olhava para o teto; uma vez ou outra ele observava a casa de KyungSoo pela janela, imaginando que em algum momento o menor sairia dali e viria até sua casa, bateria na porta e então Jong In, finalmente, ficaria feliz por KyungSoo ter cedido à sua proposta de ajudá-lo. 

Jong In não escondia sua agitação pelo tempo que passara sem nenhuma resposta. Ele já andava pela sala de um lado para o outro quando ouviu a campainha. Jong In sentiu o coração dar um salto dentro do peito; ele mal se recuperara da surpresa quando foi rapidamente atender a porta, esperando que, quando a abrisse, encontrasse seu vizinho, porém não era KyungSoo ali, mas sim seu amigo, SeHun, que o encarava com uma expressão de surpresa no rosto.

– O que é isso? Está feliz em me ver? – ele perguntou rindo.

Jong In suspirou sentindo o coração de acalmando mais uma vez.

– Não.

SeHun apenas ignorou o comentário.

– Ei, vamos sair essa noite. Você precisa se socializar um pouco mais com as pessoas.

– E onde você pretende me levar? – perguntou Jong In aparentemente desinteressado.

– Não sei, podemos dar uma olhada por aí se quiser.

Sair para curtir a noite não era muito o estilo de Jong In, mas aquela pareceu ser a melhor opção para que o mais velho tentasse acalmar os nervos em relação a KyungSoo.

– Tudo bem, vamos.

SeHun levara Jong In para uma boate qualquer da cidade de Seoul, e enquanto o mais novo de divertia, Jong In permanecia sentado em uma das mesas do lugar; se sentia entediado e nem se esforçava em dar atenção para qualquer pessoa estranha que viesse conversar consigo. Parecia que a ideia de SeHun não havia diminuído em nada sua ansiedade e agitação. KyungSoo poderia estar o procurando naquele exato momento, mas como já se passavam das oito da noite, Jong In logo descartou essa ideia.

– Do que adiantou eu ter te trazido aqui se você não se diverte? – perguntou SeHun se sentando com o mais velho que acabara de dispensar mais uma garota que tentara dar em cima dele.

– Você sabe que eu não gosto de lugares assim – disse Jong In – Poderíamos ter ido a um bar ou só andar pela rua mesmo. 

– Podemos fazer isso agora...

– Não. Mesmo que não esteja tão tarde, prefiro ir para casa e descansar.

– Mas amanhã é fim de semana.

– Isso significa: mais tempo para dormir – Jong In disse se levantando da mesa – Estou indo agora, aproveite a noite.

– Pode deixar – disse SeHun como se aquela ação do mais velho fosse algo com que ele já estivesse acostumado, e realmente estava – Da próxima vez, você escolhe o lugar, tudo bem? Até logo, Jong In.

– Boa noite, SeHun.

 

° ° °

 

Depois de seu passeio não-prazeroso, Jong In não conseguia se sentir nem um pouco melhor em relação a KyungSoo.

Suas mãos estavam escondidas nos bolsos da calça enquanto caminhava com o olhar baixo de volta para casa. Ele já estava bem próximo quando um som abafado, talvez fosse um choramingo, invadiu seus ouvidos. Jong In levantou os olhos e encontrou uma figura pequena agachada em frente a porta de sua casa escondendo o rosto entre as pernas. Mesmo sem olhar para a face da pessoa, Jong In reconheceu sem era.

– KyungSoo!

Jong In correu até lá, e antes que KyungSoo pudesse se levantar, o maior o puxou para cima e percebeu seus olhos inchados de tanto chorar. Jong In não podia acreditar no que estava vendo ali, afinal, por que KyungSoo estava chorando em frente a sua casa?

– O que aconteceu? – Jong In perguntou preocupado.

– Por que demorou tanto?! – KyungSoo gritou enquanto batia no peito do maior. Ele não usava tanta força, mas aquilo não importava para Jong In, tanto que não impediu que o garoto o batesse. Ele só queria entender – Eu bati na porta para que você abrisse, toquei a campainha, mas você não atendeu, e ainda fiquei aqui esperando até que você voltasse!

– KyungSoo... O que...?

– Você disse que me ajudaria – disse ele – Mas agora que vim aqui só acabei ficando com ainda mais medo. Cheguei a pensar que você tivesse desistido...!

Jong In não esperou que ele continuasse a falar e logo puxou KyungSoo para um abraço e quase o mesmo instante, o menor pareceu ter ficado mais calmo.

– Eu não desisti de você – disse Jong In – Por favor, me diga... O que quer que eu faça por você, KyungSoo?

– Me ensine a ter coragem de novo.

 

 

 

Coragem é a resistência do medo, domínio do medo e não a ausência do medo”.

(Mark Twain)


Notas Finais


O SeHun tem expressão facial, sim!
E Jong In só aumenta sua fofura :3


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