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História 18 Horas - Esconde-Esconde


Escrita por: Tany_Yashi

Notas do Autor


A escola me matou essa semana e acordei às três da tarde hoje...
Talvez isso explique meu atraso... Ou não.
Porém... está aí para vcs lerem!

Capítulo 4 - Esconde-Esconde


Fanfic / Fanfiction 18 Horas - Esconde-Esconde

Enquanto Jong In abria a porta de sua casa, KyungSoo se agarrava ao seu braço, ficando com os olhos atentos em todas as direções e cantos escuros que conseguia notar. O braço de Jong In tremia junto as mãos de KyungSoo que apertavam cada vez mais a pele morena sobre o casaco. Quando conseguiu abrir a porta, Jong In ligou as luzes da sala ao encontrar o interruptor ao lado da porta. Agora que KyungSoo estava dentro de sua casa, ele pôde guiá-lo para que se sentasse em um dos sofás.

– Parece um pouco escuro, não é? – Jong In disse se abaixando na frente de KyungSoo que afirmou com a cabeça enquanto remexia as mãos de maneira inquieta e observava a casa incomum.

Era muito diferente da sua que tinha o tom exageradamente claro em quase tudo, principalmente em seu quarto, bem decorado e arrumado com várias estantes de livros de todos os tipos. Mas a casa de Jong In era realmente muito simples por dentro, com cores um pouco mais escuras nas paredes, quase não havia móveis na sala a não ser a TV, o sofá e uma mesa cheia de livros, era tudo muito simples e diferente do que KyungSoo estava acostumado a ver em sua casa.

– Um pouco escuro, mas está tudo bem – disse o menor em tom baixo. Ele não sabia dizer se estava mentindo ao dizer aquilo.

KyungSoo continuava a observar o espaço desconhecido enquanto Jong In remexia as mãos levemente, como se estivesse formulando uma frase certa em sua cabeça.

– Eu poderia... te pedir uma coisa? – assim que disse, KyungSoo o encarou  com seus grandes olhos escuros, curioso.

– O que?

Jong In ainda hesitou alguns segundos antes de dizer.

– Poderia ficar aqui essa noite? – ele disse desejando que a pergunta não tivesse soado muito estranha.

– Por quê? – KyungSoo perguntou surpreso e com os olhos meio arregalados.

Jong In se levantou se sentando no sofá ao lado de KyungSoo que o encarava ainda mais confuso.

– Será como um primeiro desafio – Jong In explicou – Não é bom que você fique em sua casa o tempo inteiro tentando evitar seus medos, por isso quero que fique aqui por esta noite. Pode confiar em mim?

KyungSoo desviou o olhar; estava inseguro. Ele queria ajuda, precisava de ajuda, mas esse grande passo de Jong In parecia ser desnecessário naquele momento. KyungSoo nunca havia pensado no caso de considerar Jong In um amigo ou não, mas mesmo que ainda não tivesse decidido isso em sua cabeça, não podia negar que o maior já havia o salvado demais para que deixasse de dar-lhe confiança, nem que fosse o mínimo. Mas para que aceitasse isso, KyungSoo entraria com um pequeno acordo.

– Tudo bem – disse por fim – Mas... quero pedir que faça uma coisa para mim também.

– O que? – Jong In disse animado.

KyungSoo levou uma das mãos até o bolso da calça, tirando de lá um pequeno pendrive  e entregando-lhe para Jong In em seguida.

– O que tem aqui? – perguntou ele analisando o pequeno objeto.

– Meu último livro – KyungSoo disse com as mãos juntas sobre as cochas – Poderia levar o arquivo para a editora? Esse é o último dia. Estou com problemas no meu computador.

– Mas não está fechada a essa hora da noite?

– Não, ainda não. Mesma há essa hora, algumas pessoas são permitidas de entrar.

– Tudo bem, vamos – Jong In disse se levantando e puxando a mão de KyungSoo para que fosse junto com ele, mas o mesmo recuou.

– Não – KyungSoo se apresou em dizer – Não me peça para ir com você, eu consigo suportar ficar na sua casa, mas o carro é...

Jong In sabia o que menor queria dizer e também sabia que ele estava certo com isso; pedir para que ele ficasse em sua casa já era o suficiente para aquele dia; KyungSoo não precisava mais sentir nenhum tipo de emoção ou nervosismo, fosse pelo escuro ou pela simples presença do maior.

KyungSoo logo escreveu o endereço em um pedaço de papel e o entregou para Jong In, fazendo um pedido silencioso em sua própria mente: “Não demore”.

– Fique aqui e espere por mim.

 

° ° °

 

 Quando Jong In chegou à editora, ele logo encontrou a chefe de edição do lugar que KyungSoo dissera se chamar Seo Hyejin; era quem ficaria responsável pelo lançamento do seu livro. Ela, primeiramente, estranhou a entrada de Jong In na editora, pois não se lembrava de ninguém como o jovem ter assinado um contrato com eles, mas logo Jong In se explicou e a expressão da chefe se suavizou, mas era possível notar certa preocupação. Rapidamente, Jong In tirou do bolso o pendrive e o entregou para Hyejin. 

Três segundos antes de ir embora, Jong In ficara atrás da cadeira onde a chefe estava e pode ler o título do livro de KyungSoo:

“Por Onde Caminham os Corajosos”.

Se Jong In conhecesse KyungSoo e não soubesse de seu problema, com certeza estaria rindo daquele título, pois soava irônico demais naquele momento. KyungSoo desconhecia a coragem, não conseguia senti-la, então como poderia escrever livros com esses tipos de sentimentos?

Coragem...

KyungSoo retratava sua visão disso, de como poderia ser, talvez até se imaginando com essa coragem e isso doía no coração de Jong In; o fato de KyungSoo fazer suas próprias ideias de algo que gostaria de ter, transcritas em uma tela de computador e passadas para as páginas de seus livros, isso entristecia Jong In profundamente.

Eu irei recuperar sua coragem, KyungSoo. Jong In pensou e fez uma promessa silenciosa.

Mas para que isso acontecesse, era preciso saber quando KyungSoo havia perdido esse sentimento e o motivo acima de tudo. Quatro crianças era a única pista provável que Jong In tinha.

Ele ficara tempo demais na editora e nem se deu conta. Por fim, HyeJin lhe assegurou de que estava tudo bem e que todo o processo de edição e lançamento do livro ocorreria como o esperado, mesmo que sua voz denunciasse que estava, de certa forma, insatisfeita pelo pequeno atraso.

Antes que Jong In pudesse sair pela porta, a mulher lhe chamou:

– Sem querer me intrometer, mas o que senhor é do Sr. Do?

Jong In apenas sorriu e disse:

– Um amigo.

 

° ° °

 

KyungSoo batia a ponta dos dedos no chão da sala a fim que criar algum tipo de melodia com aquilo acompanhado com seu canto baixo. O garoto estava com os olhos fechados tentando deslocar à mente para outro lugar para que conseguisse se manter mais calmo até que Jong In finalmente voltasse.

“Está demorando demais”, dizia ele para si mesmo. O tempo se arrastava lentamente e por isso o nervosismo de KyungSoo só aumentava com a espera. Várias vezes o rapaz olhou para a porta, se perguntando se deveria sair por ali e correr até sua casa e se esconder em seu quarto como de costume, ou ficaria ali sentado no chão da casa de Jong In, esperando para que ele finalmente voltasse, mas depois de tanto tempo de espera, seu corpo não quis escolher a segunda opção e guiou KyungSoo até a porta. O garoto segurava com força a maçaneta, impedindo a si mesmo de girá-la e fugir. Afinal, ele queria ajuda, não é? Como poderia conseguir isso se fugisse da única pessoa que lhe ofereceu isso em tantos anos?

KyungSoo se afastou da porta, depressa e se sentou no sofá praticamente se jogando enquanto segurava a cabeça com as duas mãos e balançava o corpo para trás e para frente, tentando encontrar mais uma música para cantarolar, como estava fazendo antes.

De repente a porta se abriu e KyungSoo pode voltar sua atenção para outra coisa sem ser sua própria mente. O menor observava aliviado enquanto Jong In entrava em casa.

– KyungSoo, você está bem? – Jong In disse se aproximando.

O menor afirmou com a cabeça, mesmo que não estivesse completamente bem.

– Desculpe ter demorado, não deveria deixar você por muito tempo sozinho em um lugar que não está acostumado – disse o maior se sentando no sofá ao lado de KyungSoo – Não teve medo?

KyungSoo voltou a atenção para suas mãos enquanto brincava com seus dedos.

– Claro que tive, mas você me disse para esperar.

Na verdade, o primeiro pensamento de Jong In quando entrou em sua casa era de que KyungSoo tivesse saído de lá e se escondido em seu próprio quarto, em sua própria casa, mas ficou feliz em ver que o menor havia permanecido sentado no sofá.

– Sua chefe disse que tudo será como o planejado.

– Ela deve estar furiosa – disse o menor com um sorriso torto – Mas obrigado, Jong In.

O maior percebia o desconforto de KyungSoo por estar ali, pois ele não parava de remexer as mãos e não o olhava nos olhos diretamente. Talvez tivesse exagerado.

– Você pode voltar para casa se quiser, e se estiver com medo posso acompanha-lo...

– Não – disse KyungSoo rápido encarando Jong In – De verdade, eu prefiro ficar aqui um pouco mais.

O maior sorriu. Já que KyungSoo ficaria ali, Jong In poderia tentar saber mais sobre a vida passada do garoto. Talvez tentar descobrir o motivo dele ser daquele jeito tão desesperado e inseguro. 

– Você realmente quer ajuda, não é? – disse Jong In.

KyungSoo afirmou com a cabeça.

– Eu não vou te levar a nenhum hospital e nem para visitar algum médico, não vou fazer você beber remédios. Não quero nada disso para você.

– Então o que...

– Sejamos amigos – disse ele com um sorriso – Existem outras formas de se curar um medo.

Hospitais, remédios, médicos, tudo isso estava excluído, Jong In não via necessidade daquelas coisas para poder ajudar KyungSoo, principalmente porque se o garoto quisesse, poderia ter ido buscar ajuda por um desses meios, mas tudo o que KyungSoo teria disponível para ele seria Jong In.

Jong In seria seu remédio.

Agora seriam amigos.

– Poderia me contar sobre você? – disse Jong In se encostando melhor no sofá – Como amigos temos que nos conhecer.

– O que quer saber?

– Eu não sei. Como você era na escola?

Por um segundo, Jong In teve a impressão de ver o corpo de KyungSoo paralisar e os olhos se arregalarem, mas logo um sorriso incerto surgiu em seu rosto.

– Era tudo normal, mas acho que as pessoas não gostavam muito dos meus olhos...

– Seus olhos são lindos – Jong In acabou pensando alto demais, e então fingiu limpar alguma coisa da garganta ao perceber que havia falado aquilo sem querer.

KyungSoo parecia um pouco perdido olhando para vários pontos aleatórios enquanto sentia o rosto esquentando.

– A-acho que sim – disse ele concordando com o maior enquanto pensava em qualquer coisa para desviar daquele assunto – Mas... e você mora aqui sozinho?

– Sim – disse Jong In, feliz pelo menor ter contornado a situação meio constrangedora – Meus pais me mandam dinheiro para que eu possa me sustentar melhor enquanto faço faculdade

A conversa se desenvolveu em um nível extremamente amigável e reconfortante. Agora KyungSoo podia conhecer melhor a pessoa que lhe ajudava enquanto Jong In juntava em sua cabeça todas a informações que conseguia sobre o menor.

KyungSoo havia dito que escolheu viver por conta própria por motivos de segurança, mas Jong In não entendeu o que o menor quis dizer com isso, e quando Jong In quis saber mais sobre a vida de estudante de KyungSoo na escola mais uma vez, o mesmo parecia tentar controlar o nervosismo enquanto dizia pouca coisa sobre o assunto.

– Eu não era ninguém popular, mas não passava despercebido pelos alunos, principalmente os mais jovens – disse ele.

– E... aquelas quatro crianças? – perguntou Jong In concluindo que elas poderiam ter algo haver.

KyungSoo hesitou em responder, mas quando disse, respondeu em um sussurro:

– Elas estavam no meio desses "jovens".

O menor não queria falar mais sobre aquilo e Jong In percebeu isso. Os dois conversaram por mais alguns minutos antes que KyungSoo caísse no sono sobre o sofá. 

Aquelas quatro crianças realmente não eram uma alucinação, e não só faziam parte do passado de KyungSoo, mas também de boa parte da sua vida escolar. Seu medo poderia estar relacionado a isso, e Jong In descobriria isso mais à frente.

O maior observava KyungSoo enquanto o mesmo dormia de maneira quase vulnerável. Jong In se perguntava com o que o menor estaria sonhando quando ele começou a murmurar, e nesse tempo de observação, uma pequena frase saiu de sua boca:

"Não se machuque, Jong In".

 

° ° °

 

Duas semanas depois.

 

 

– Vamos tentar mais uma vez? – Jong In perguntou com confiança.

KyungSoo assentiu. Sentado ali no chão do seu quarto, debaixo da janela, o menor parecia um pouco nervoso quando fechou os olhos e ouviu Jong In andar apressado até o interruptor para desligar as luzes do quarto, mas logo voltando até onde KyungSoo estava e se sentando a sua frente. Quando percebeu que o maior veio se sentar perto de si, KyungSoo procurou, desesperadamente, pelas mãos de Jong In, conseguindo encontrar apenas uma delas, enquanto que com a outra, Jong In usava para ligar o aparelho de som, deixando-o no volume mínimo para que, dessa maneira, o menor ficasse menos incomodado. Porém a música não duraria para sempre, aos poucos Jong In ia diminuindo o volume, enquanto isso, o aperto em sua mão só aumentava, quase prendendo sua circulação.

A melodia cessou, foi quando Jong In tentou se soltar das mãos de KyungSoo que apenas apertava ainda mais a sua. Quando conseguiu convencer o menor que o soltasse, dizendo que continuaria perto, e mesmo que Jong In não tivesse saído do lugar, ainda era uma das piores sensações que KyungSoo poderia ter. Ele não enxergava ou se quer ouvia.

– Abra os olhos, KyungSoo – Jong In pediu suavemente, mas KyungSoo se recusou negando com a cabeça.

O coração do menor batia forte tentando suportar aquilo, e logo um canto tristonho invadiu o quarto. KyungSoo cantava baixo tentando se acalmar.

Jong In olhava para KyungSoo enquanto uma lágrima escorria pelo rosto do menor, o que tornava seu leve canto mais triste do que antes; canto esse que soava bonito demais aos ouvidos do maior, mesmo que fossem reproduzidos com tanta tristeza. As cortinas da janela estavam abertas e a luz vinda de fora batia contra o corpo de KyungSoo, quase dando a impressão de que o mesmo estaria refletindo uma luz própria; ele queria poder abrir os olhos, mas os mesmos pareciam estar colados com uma cola invisível e resistente.

Enquanto o observava, Jong In se lembrava das várias histórias sobre anjos que já leu; naquele momento ele achou que KyungSoo se parecia com um anjo perdido, puro, mas longe nos céus, que talvez nunca tivesse sido tocado por um humano antes; pensando nisso, Jong In levantou sua mão, sentindo-a tocar o rosto de KyungSoo que parou de cantar no mesmo instante, sentindo a mão quente do maior em sua pele.

KyungSoo era tão adorável... Jong In se perguntava como o medo poderia atormentar uma pessoa tão frágil e inocente como ele; vê-lo assustado assim entristecia o maior profundamente.

Jong In continuava com a mão no rosto de KyungSoo que, mesmo em silêncio e com os olhos fechados, parecia um pouco mais calmo; mas apenas parecia. Observando a face pálida, Jong In queria poder entender a atração que estava sentindo, queria entender o que estava fazendo-o se aproximar de KyungSoo; aquilo era involuntário ou por vontade própria? Jong In bombardeava sua mente de perguntas sem obter qualquer resposta enquanto a distância entre os dois ficava perigosamente curta.

Com um suspiro, KyungSoo arriscou tentar cantar mais uma vez, no entanto os lábios de Jong In o impediram quando uniram-se aos seus em um selar profundo antes que o menor pudesse formar uma nota completa. E pela primeira vez, desde muito tempo, KyungSoo abriu os olhos no escuro vendo o desenho de Jong In com a luz precária que vinha pela janela, mas logo seus olhos voltaram a se fechar quando Jong In começou a movimentar levemente os lábios com os seus. KyungSoo não sentia que estava com medo, mas também não sabia dizer se o que estava sentindo seria coragem, na verdade, KyungSoo não conseguia descrever o que estava acontecendo consigo, mas sabia que estava longe de ser um sentimento ruim.

Os dois permaneceram desse jeito pelo que pareceu ser uma eternidade absurdamente agradável, até que KyungSoo sentisse Jong In tocando a língua em seus lábios que logo se abriram um pouco mais, concedendo a passagem. Ambas as línguas agora disputavam por espaço ao mesmo tempo em que se acariciavam ternamente.

KyungSoo era perfeito, e Jong In não se lembrava de já ter provado de lábios tão doces e macios como aqueles. Enquanto uma de suas mãos brincava com os cabelos levemente tingidos de KyungSoo, a outra se encontrava unida com a mão do menor. Jong In sentia sua nuca ser levemente pressionada, mesmo que de forma acanhada, por KyungSoo, dono de uma timidez quase demais para a capacidade de raciocínio de Jong In.

Quando se separou de KyungSoo, o maior logo o puxou para um abraço orgulhoso e cheio de felicidade, mostrando um sorriso aberto no rosto.

– Você conseguiu, KyungSoo – ele disse contra o pescoço do menor que sorria também.

seu KyungSoo conseguira.

Não seria mais como entes; KyungSoo acreditava que seu medo do escuro passaria a ser apenas um mero detalhe, afinal, Jong In se tornou sua coragem.

Livrar uma pessoa do próprio medo foi o que levou Jong In a se aproximar de KyungSoo, porém ele nunca chegou a realmente pensar que isso poderia se transformar em algo maior; algo além da vontade de ajudar, proteger ou cuidar. Jong In talvez não tivesse pensado que poderia estar, na verdade, amando KyungSoo, o rapaz corajoso apaixonado por seu salvador.

 

° ° °

 

– Você tem certeza de que é aqui? – BaekHyun perguntou parado em frente a casa.

– Claro que tenho – ChanYeol disse observando o imóvel com mais cuidado – Esse foi o endereço que o SeHun passou, não foi?

– Sim, mas será que ele está em casa? – Xiumin perguntou vendo que a casa estava escura e com tudo trancado provavelmente.

– Não, deve estar na faculdade agora – disse ChanYeol.

– Devemos ir até lá?

– Não. Podemos esperar, ele não deve demorar tanto assim.

– Deveríamos perguntar para alguém – disse BaekHyun dando sua ideia – Os vizinhos devem saber a que horas ele chega.

– Para quem? Não tem ninguém aqui. O ar daqui é tão fúnebre que até parece que as pessoas nunca saem de casa...

Atrás de onde estavam, deles puderam ouvir o som de uma porta se abrindo e quando se viraram, encontraram um rapaz tentando colocar um saco pesado de lixo para fora. Parecia ser a única alma viva daquele lugar, por isso imaginaram que se quisessem saber alguma coisa sobre Jong In, talvez aquele ser pequeno soubesse de algo, afinal não eram vizinhos?

– Ei! Você! – ChanYeol chamou e se aproximou rapidamente – Conhece a pessoa que mora na casa da frente?

O pequeno pareceu assustado com a repentina aproximação, mas tentou responder mesmo assim.

– S-sim, eu conheço o... Jong In.

– Ah, é um alívio. Então sabe que horas ele volta? – perguntou ChanYeol começando a se animar.

– N-não. Às vezes ele fica ocupado o dia inteiro – se ChanYeol não estivesse tão animado, talvez percebesse a tristeza na voz do menor.

– Entendo, mas...

– Espere um pouco! – BaekHyun disse alto aparecendo atrás de ChanYeol, junto com Xiumin, que olhava para o pequeno garoto de maneira estranha e surpresa – D.O?

Os olhos do menor se arregalaram e a saco de lixo caiu de suas mãos; a partir daí ele pareceu ter se esquecido de como se respirava.

– Quem? – ChanYeol perguntou com uma cara meio confusa.

– Não se lembra dele? Os olhos de coruja! Qual é mesmo o seu nome?

– KyungSoo! – Xiumin adivinhou depois de um tempo.

ChanYeol encarava os dois amigos com uma careta.

– Está de brincadeira, não é? – disse ele.

– D.O, não se lembra da gente? – BaekHyun perguntou apontando para si mesmo e ignorando ChanYeol.

KyungSoo estava paralisado. Ele sentia que alguma coisa se revirava em seu estômago e fazia seu corpo tremer querendo acordá-lo de uma vez para que fugisse dali.

– Desculpe, eu tenho que... – KyungSoo começou a dizer com a voz falha.

Quando conseguiu de mexer, o menor deixou a saco de lixo onde estava e se virou entrando em sua casa e fechando a porta com um estrondo.

Não poderiam ser eles.

Quantos anos se passaram? KyungSoo nem se lembrava direito. Eles realmente haviam mudado a aparência e o menor não conseguiu reconhecê-los, e mesmo depois de tanto tempo, eles ainda lembravam daquele apelido estúpido.

D.O.

KyungSoo pegou seu celular, discando um número conhecido, mas mesmo que chamasse diversas vezes, sempre caía na caixa de mensagem, o que o fez entrar em desespero; o choro foi inevitável. Ele tentou por mais centenas de vezes, mas não havia resposta.

Ele precisava de Jong In, mas o mesmo não o respondia.

 

° ° °

 

– Por que tanta demora? – reclamou ChanYeol.

Eles já haviam andado pela vizinhança várias vezes, ido a um restaurante e a uma loja de roupas, afim de encontrar algo interessante, mas mesmo depois disso tudo, Jong In ainda não haviam voltado para casa.

– Eu não aguento mais! – disse BaekHyun cansado de andar de um lado para o outro na calçada em frente a casa de Jong In – Vamos voltar amanhã, por favor!

– Não, só mais cinco minutos – disse ChanYeol nervoso pela demora.

– BaekHyun tem razão – disse Xiumin sentado no meu fio em frente a casa – Vamos voltar depois.

ChanYeol suspirou encarando a casa por alguns segundos antes de se virar a começar a andar, mas logo parou novamente.

– Toda essa espera me deu fome – disse Xiumin andando ao lado de BaekHyun – Vamos tomar um Bubble Tea...

– ChanYeol! – chamou BaekHyun, percebendo que o maior não estava os acompanhando – Por que está parado aí?

O maior demorou alguns segundos para responder enquanto encarava a casa de KyungSoo com um sorriso torto e brincalhão.

– Eu estava lembrando de algumas coisas da nossa época de escola e pensei... – disse ele – Que tal reviver os bons momentos?

Os dois logo intenderam o que o maior havia dito e se aproximaram com um sorriso igualmente brincalhão.

– Quer mesmo fazer isso? – perguntou Xiumin.

– Pelos bons tempos! – BaekHyun incentivou.

– Sim, mas vamos precisar de algumas coisas – disse o maior – Ainda temos dinheiro?

...

– Sua cara está horrível, BaekHyun – ChanYeol disse rindo.

– A sua está pior, ChanYeol. Não fale de mim.

– Prontos? – Xiumin perguntou segurando sua lanterna na mão.

Os dois assentiram.

Não demorou muito até que achassem uma janela destrancada e logo, todos entraram na casa.

 

° ° °

 

KyungSoo estava na cozinha preparando uma sopa com alguns legumes e pedaços de carne que havia achado em sua geladeira. Ele já havia aprendido a se acomodar em outros pontos de sua casa sem ser seu próprio quarto, mesmo que as luzes não fossem tão fortes, mas era o suficiente para que KyungSoo não ficasse com medo, mesmo assim outra coisa o incomodava.

Ele cortava os legumes com lentidão, parecia não estar com ânimo para cozinhar, sua cabeça estava em outro lugar. KyungSoo largou a faca e se apoiou na bancada da cozinha tentando respirar corretamente. Ele sentia medo, mas não como sentia do escuro; ele tinha medo do passado e das pessoas que fizeram parte dele.

KyungSoo apertava a bancada de mármore com força. Aqueles garotos reapareceram depois de anos e infelizmente reconheceram KyungSoo ou D.O...

– Não vai acontecer de novo – dizia para si mesmo – Eles não são mais como antes.

KyungSoo repetia isso para si várias vezes. Seu medo parecia querer voltar e aquelas “crianças” não eram mais apenas figuras de sua cabeça desenhadas em escuridão; elas conseguiram achá-lo... Realmente conseguiram.  

De repente as luzes se apagaram e KyungSoo desejou silenciosamente para que, na verdade, a energia tivesse acabado, mas tudo parecia normal na vizinhança do lado de fora em uma janela próxima. Deixando os olhos bem abertos, o garoto apertava ainda mais o mármore, começando a sentir dor nas pontas dos dedos. Ele deslizou a mão até o bolso da calça onde seu celular se encontrava e rapidamente o pegou praticamente sem ver o número que estava discando, porém logo a ligação caiu na caixa de mensagem mais uma vez, mas dessa vez KyungSoo esperou até que pudesse gravar seu recado.

– Jong In... – disse ele em um sussurro – As crianças... Estão aqui...

Ele tinha certeza daquilo e mesmo depois de ter gravado seu recado, KyungSoo não desligou, permaneceu com o celular em mãos e caminhou sem fazer barulho até o corredor de sua casa, afim de correr até seu quarto e se trancar ali dentro. Logo suas pernas já se movimentavam o mais rápido que conseguiam e assim que alcançou a porta, abriu a mesma em puro desespero, fechando-a com um estrondo.

KyungSoo se afastou da porta depois de tê-la trancado.

– Onde você está... Por que está demorando? – sussurrou ele enquanto a mensagem ainda era gravada.

“Isso não está acontecendo novamente, não pode estar”, KyungSoo dizia para si mesmo. Já havia se passado tempo demais, anos demais, e KyungSoo não queria acreditar que eles em nada haviam mudado, a cabeça de uma criança é absolutamente diferente de um adulto e se eles realmente estavam ali é porque ainda mantinham aquele espírito maldoso e infantil.

Seu corpo se chocou com algo atrás de si, mas antes que o menor pudesse gritar, uma mão tampou sua boca e a outra segurou seu corpo com força.

– Vamos brincar de esconde-esconde? – disse uma voz grossa e abafada em seu ouvido.

KyungSoo não conseguia gritar e muito menos se soltar daquele aperto em seu corpo, seus soluços também eram abafados por aquela grande mão e suas lágrimas eram a única coisa que o denunciava enquanto as mesmas rolavam por todo seu rosto expressando puro terror.

Ele foi praticamente arrastado para fora do quarto e levado até o que seria provavelmente sua sala. Logo duas sombras humanas surgiram. Eles estavam ali, tudo iria acontecer como antes.

– D.O, se lembra de quanto brincávamos de esconde-esconde? – perguntou uma voz, que parecia ser a de BaekHyun, para KyungSoo; ele se aproximou colocando o que o menor achou ser uma fita isolante em sua boca para que ficasse quieto – Era tão divertido quanto escondíamos você.

KyungSoo tentou gritar em vão ao mesmo tempo em que tentava se soltar do forte aperto que seu corpo recebia, agora com as duas mãos. Àquele ponto, KyungSoo pode perceber que estava sendo segurado por ChanYeol que apertava ainda mais o corpo do menor ao seu impedindo que ele tentasse escapar.  

– Vamos começar? – disse Xiumin batendo as mãos umas nas outras enquanto acendia uma pequena lanterna mirando aquele pequeno feixe de luz no próprio rosto.

KyungSoo abafou um grito amedrontado ao ver a máscara horrível que Xiumin usava, típico de Halloween; o garoto não pode descrever exatamente o que via, pois desviou os olhos rapidamente daquela figura horrenda. Todos estavam usando máscaras, mas KyungSoo não estava curioso em ver como as outras eram. Seu coração batia forte de forma até mesmo dolorosa dentro de seu peito.

Enquanto BaekHyun tateava os móveis, devido a dificuldade de vê-los com pouco luz, Xiumin mirava a luz de sua pequena lanterna no rosto de KyungSoo, balançando o objeto em várias direções, incomodando os olhos do menor e fazendo com que sua visão piorasse e sua cabeça doesse. KyungSoo nunca havia odiado a luz como naquele momento.

– Que tal aqui? – disse BaekHyun abrindo um armário grande o suficiente para caber uma pessoa dentro, ele só precisou retirar duas caixas grandes que estavam lá dentro, deixando-as em qualquer lugar antes que dissesse para ChanYeol que trouxesse a pequena “vítima” até lá.

KyungSoo foi empurrado para dentro do armário que foi fechado logo em seguida. Ele tirou a fita isolante da boca sem se importar com a ardência, e então, vários socos começaram a ser desferidos contra a madeira sólida do móvel.

– Me tirem daqui! – KyungSoo gritava várias vezes sem resultado enquanto as lágrimas aumentavam e ardiam em seus olhos.

– Relaxe, D.O. É divertido, não é?! – gritou ChanYeol forçando o corpo contra a porta impedindo que KyungSoo a abrisse.

– Como nos velhos tempos! – disse BaekHyun.

KyungSoo continuava dando socos contínuos contra a madeira até sentir seu pulso estalar e uma dor lancinante tomar conta de sua mão. Não conseguia pensar se havia quebrado ou trincado, apenas na dor. Como das outras vezes que ele havia sido “escondido”, acabou se machucando, como das outras vezes, ele sempre se machucava.

Foram minutos insuportáveis até que o armário foi aberto e KyungSoo puxado para fora, sendo obrigado a se sentar no sofá. O menor tentou sair dali, mas uma mão o segurou pela gola da camisa o sufocando de leve, fazendo com que tossisse um pouco.

– A brincadeira ainda não acabou – disse ChanYeol – Há mais lugares para te esconder.

KyungSoo foi puxado pelo pulso machucado, mas o menor se impediu de gritar mordendo o próprio lábio com força e segurando o braço de ChanYeol com desespero para que o maior diminuísse a pressão, mas não adiantou.

Eles levaram KyungSoo até o quarto, onde foi deixado próximo à cama. Rapidamente, BaekHyun pegou o lençol que estava estendido sobre o colchão e o balançou.

– Ainda tem medo de fantasmas, KyungSoo? – disse ele jogando o lençol branco sobre a cabeça de KyungSoo.

Os outros riam enquanto KyungSoo tirava o lençol de si e corria até a porta da frente enquanto pegava vários objetos e os jogava na direção dos três que corriam atrás dele, achando tudo muito divertido. KyungSoo abriu a porta e saiu noite adentro; estava chovendo mesmo que de leve. Ele andava pela rua em passos descoordenados enquanto os outros chamavam por ele. Não estavam mais correndo atrás de KyungSoo, talvez estivessem evitando a chuva.

A brincadeira havia acabado ali. 

KyungSoo não conseguia ver direito, estava tudo desfocado. Ele se perguntava, enquanto chorava, o porquê deles fazerem isso com alguém como ele; nunca foi alguém que incomodava as pessoas, afinal de contas, ele não tinha motivo para isso; não sentia ódio de ninguém, mas aqueles garotos poderiam ser uma exceção, e mesmo assim nunca havia feito nada para prejudicá-los.

A chuva se tornara mais forte, e agora o menor sentia frio. Mesmo que não notasse, ele estava próximo de sua casa, pois dar passos retos estava se tornando impossível. KyungSoo já não respirava mais pelo nariz, o que o fazia tossir se engasgando com a água que caía sobre ele. Seu corpo estava fraco. E de repente, uma luz forte atingiu seus olhos, mas KyungSoo não pôde distinguir o que era; seguido disso, uma freada brusca soou em seus ouvidos enquanto o garoto mergulhava na inconsciência.

 

 

 

“Não devemos ter medo dos confrontos. Até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas.

(Charles Chaplin)


Notas Finais


Desculpe o grande atraso.
Comentem o que acharam o/
bye~


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