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História 25 Dias De Escrita - Magia


Escrita por: Sweetrange

Notas do Autor


"Dia 3 - Você acordou e, ao olhar no espelho, percebe que está invisível"

Capítulo 3 - Magia


Fanfic / Fanfiction 25 Dias De Escrita - Magia

Em nossa vizinhança, moravam várias pessoas diferentes, praticamente de todos os tipos. Comerciantes, idosos, mães com suas crianças alegres, entre outros. Inclusive eu, uma estudante. Como em minha cidade não havia uma faculdade muito boa, meus pais haviam me mandado para morar sozinha nessa outra cidade. A vizinhança era calma, e a maioria das pessoas se dava bem. Era um bom lugar, afinal.

No entanto, nessa vizinhança também morava uma senhora. Ninguém falava com ela diretamente, a menos que tivesse algo muito específico a dizer. Ela morava em uma casa que deveria ser bonita, mas as paredes descascadas e o jardim quase morto não deixavam isso acontecer. As crianças não brincavam perto de lá, algumas até inventavam que a senhora era uma bruxa. Os pais não desmentiam, alguns pareciam até mesmo concordar com seus filhos, embora não dissessem uma coisa dessas em voz alta, temendo que alguém o julgasse como loucos. Como eu nunca havia realmente falado com a senhora, não tinha nenhuma opinião sobre ela, mas achava toda a situação um pouco triste. Afinal, ela morava completamente sozinha, ninguém nunca a visitava e, além disso, algumas pessoas chegavam a ignorar ela na rua. Ela não parecia se incomodar, mas eu sim. Ninguém devia ser tratado dessa forma.

Um dia estava andando na rua. Eu estava de férias, já que era meio do ano, e por isso eu estava conseguindo respirar um pouco. As pessoas também pareciam felizes, com os comerciantes vendendo um pouco mais, e as crianças correndo por aí. Mas enquanto eu andava, vi algo que não era muito comum: a senhora, a dita bruxa, estava na rua também. Ela carregava uma grande cesta, embora de longe eu não conseguisse ver o que ela carregava na mesma. Pela primeira vez desde que me mudara para cá pude ver ela tentando falar com as pessoas, mas todos que passavam por ela a ignorava, passando reto e até mesmo virando o rosto, fingindo não a ver. Indignada com a situação, resolvi me aproximar para que ela não se sentisse tão sozinha.

- Boa tarde – eu disse, sorrindo.

- Aceita? – Seu tom de voz era ríspido, como se eu a incomodasse, e não havia sequer um esboço de sorriso em seu rosto. Ela ergueu um pouco a cesta, e pela primeira vez pude perceber que ela carregava doces. Mais especificamente balas, com embalagens decoradas, de todas as cores. Algumas embalagens eram laranjas, outras cor de rosa, e ate mesmo lilás com bolinhas amarelas. Mas a que mais me chamou atenção foi uma embalagem verde com detalhes em roxo. Ela era realmente bonita, arriscaria dizer ate hipnotizante. Embora algo me dissesse que eu não devesse aceitar, fui contra meu instinto, colocando a mão na cesta de doces.

Meus pais sempre haviam me alertado para não aceitar doces de estranhos. Bem, ela não era uma estranha. Esquisita, talvez, mas não estranha, já que ela morava aqui há muito tempo. Todos a conheciam. Escolhi uma bala com a embalagem bonita e na mesma hora a desembalei, para demonstrar que eu realmente ia comer. Enquanto isso, a senhora apenas me encarava.

A bala parecia ser feita de gelo, uma bolinha transparente, linda. Parecia até mesmo um cristal. Depois de admirar sua beleza por alguns segundos enfim a coloquei na boca. O gosto inicial era de menta, mas parecia estar misturado com mais alguma coisa. Conforme a bala derretia, comecei a me esforçar para não fazer nenhuma careta. Eu nunca havia provado peixe cru com chocolate, mas se eu tivesse que apostar, diria que o gosto é exatamente esse. No mesmo instante me arrependi de ter me aproximado e pego uma, mas já estava feito. Fiz o possível para engolir a bala sem vomitar, depois forçando um sorriso.

- O que achou? – Ela perguntou, com uma voz rouca e seca.

- É com certeza um gosto que eu nunca havia sentido – sorri, esperando que isso bastasse. Pelo jeito ela ficou relativamente satisfeita, porque então acenou com a cabeça e foi na direção de sua casa, mesmo sem sorrir em nenhum momento.

Fui até minha casa, decidida a escovar os dentes até que o gosto saísse por completo. Se ela planejava vender aquilo, eu tinha um leve pressentimento que não iria se sair tão bem assim nos negócios.

Depois de escovar os dentes tão bem que dentistas me aplaudiriam de pé, o gosto ainda parecia permanecer em minha garganta, mas com certeza o excesso havia saído. Resolvi então assistir televisão até ficar com sono. Como eu não teria aula, eu podia ficar acordada até quando bem entendesse. Costumava ficar no computador e assistindo filmes até tarde, já que mesmo que eu amasse assistir filmes, sempre tinha uma lista enorme me esperando. Estava quase no final de um filme quando comecei a bocejar como doida, e me senti extremamente cansada. Conferi no relógio, que marcava onze horas. Era estranho, pois eu raramente dormia antes das duas da manhã. Me forcei a assistir mais um pouco do filme, mas simplesmente não adiantava. Eu não estava conseguindo prestar atenção em mais nada, então as onze e meia fui deitar.

Sinto que adormecei assim que me deitei, mas depois de um tempo comecei a sentir um calor infernal. Não fazia sentido, já que estávamos na época do inverno, mesmo assim eu suava e me remexia na cama. Olhei de relance no relógio, que marcava meia-noite. Depois de alguns minutos, a sensação de calor passou e eu me senti bem novamente. Na verdade, me senti ate melhor do que antes. Me sentia leve, como se estivesse dormindo em uma nuvem. Embora eu geralmente não dormisse mal, podia garantir que aquela era a melhor noite de sono que eu já havia tido em muito tempo.

Acordei um pouco mais cedo no dia seguinte, já que havia dormido mais cedo também. Me espreguicei a fim de me despertar e bocejei. Infelizmente o gosto daquela bala parecia ter impregnado em meu corpo, então a primeira coisa que fiz foi levantar para ir ao banheiro e escovar meu dentes ate que a menta disfarçasse, pelo menos, o gosto horrível do doce. Coloquei a pasta na escova e analisei os dentes no espelho antes, para ver por onde começar, já que sempre fazia isso.

A única diferença era que eu não conseguia ver meus dentes.

Ou meu rosto.

Ou eu.

Gritei assustada, embora isso não adiantasse nada. Como eu poderia não ver meu próprio reflexo? Cocei os olhos e pisquei diversas vezes, mas nada. Eu conseguia ver com clareza o vidro e as bordas do espelho, ate mesmo o quarto atrás de mim, mas eu simplesmente não aparecia na cena, como se não existisse. Chegava a ser ridículo. Como alguém poderia sumir de repente? Eu me belisquei para ter certeza de que não estava sonhando, e eu com certeza estava mais do que acordada.

O primeiro pensamento que tive foi que eu havia morrido. Eu nunca acreditara em fantasmas, mas dessa vez eu estava aceitando qualquer explicação para o que estava acontecendo. E se eu tivesse morrido durante o sono, e agora não conseguia me ver no espelho, porque apenas minha alma esta vagando por ai? A ideia toda era um pouco absurda, mas a situação também era.

O segundo pensamento que tive foi que eu havia me tornado uma vampira. Isso também envolveria minha morte, acho, então era tão apavorante quanto a ideia de ter me tornado um fantasma. Além disso, só de pensar em me alimentar de sangue me enjoava. Até mesmo minha carne tinha que ser extremamente bem passada para que eu conseguisse pensar em comê-la. Minhas ideias estavam indo de mal a pior.

Descartei essas duas ideias logo. Era algo impossível, não era? Além do mais, eu não estava doente. A única coisa que estava sentindo de diferente era aquele terrível sabor da bala que a senhora me oferecera, mas o sabor não era tão ruim a ponto de me matar, não é?

De repente senti um arrepio nas costas. A bala.

Aquela bala era a única coisa que eu havia comido de diferente, e em seguida isso acontece? Se eu pudesse ver meu rosto, ele com certeza estaria pálido agora mesmo. Corri para meu quarto a procura do casaco que estava usando ontem. Eu odiava jogar lixo na rua, então tinha a terrível mania de guardar papéis de bala, chiclete e embalagens aleatórias em meus bolsos, para jogar fora depois. Às vezes eu esquecia de joga-los fora e só lembrava quando usava novamente o casaco, mas isso era detalhe. Um detalhe que, francamente, talvez fosse útil pela primeira vez.

Encontrei o casaco pendurado na cadeira e tateei os bolsos do mesmo até encontrar a embalagem decorada. Por dentro era cinza, mas de repente reparei em uma coisa que não havia reparado antes, quando estava maravilhada pela cor da bala. Havia algo escrito ali. No entanto, estava minúsculo, o que me obrigou a pegar uma lupa esquecida há muito tempo na gaveta para examinar o que estava escrito.

“Parabéns! Você agora está invisível, tolo”.

Ótimo. Tudo o que eu precisava no momento era de uma embalagem tirando sarro da minha cara. Bufei e larguei a embalagem em cima da mesa, sentando na cama e enterrando o rosto em minhas mãos. Eu havia sido idiota a ponto de conseguir parar nessa situação. Meus pais sempre diziam que eu era um pouco gentil demais, e que eu devia parar com isso ou iria acabar me prejudicando. Pelo jeito eu iria aprender pelo jeito mais difícil.

Depois de alguns minutos me lamentando, ergui o rosto e decidi que iria resolver isso. Se aquela senhora realmente havia feito algo como me deixar invisível, apenas ela poderia desfazer isso. As crianças da vizinhança estavam certas, afinal. Ela, provavelmente, era realmente uma bruxa.

Fui para a rua sem me trocar nem nada do tipo. Afinal, a roupa do meu corpo estava invisível também, mas tudo o que eu tocara não. Então a última coisa que eu queria era um casaco flutuante andando por aí e deixando todo mundo confuso, querendo toca-lo. Eu gostava de interagir com as pessoas, mas isso já seria um pouco demais.

Dirigi-me diretamente para a casa da senhora, cujo nome eu nem sequer sabia. Tudo o que eu sabia era que ela provavelmente podia arrumar isso. Para minha sorte, todos sabiam onde ela morava, então mesmo que eu nunca tivesse a visitado não era uma tarefa difícil encontrar a casa, que parecia até abandonada. Bati três vezes na porta, para que não restassem dúvidas de que alguém estava ali, querendo entrar, ou pelo menos falar com ela. Para minha sorte a casa era antiga, então mesmo que ela abrisse e fechasse sozinha, ninguém perceberia, simplesmente acharia que a casa está fazendo barulhos estranhos sozinha, por ser antiga. Ou por ser amaldiçoada. De qualquer forma, a culpa não cairia em mim. Por isso, pela demora dela para abrir a porta, estava cogitando abrir e entrar de fininho, mas então alguém finalmente abriu a porta. Assim que a senhora apareceu, abriu a porta com uma cara de poucos amigos e olhou para os lados, procurando por alguém. Por um instante fiquei confusa até me lembrar que ela não conseguia me ver.

- Eu estou aqui – disse, mas minha voz falhou. Então, tornei a repetir, dessa vez mais alto – Eu estou aqui, me desculpe, mas...

Mesmo assim, ela parecia não me ouvir. Será que além de invisível eu estava muda para as outras pessoas também? Eu estava totalmente afastada do mundo real? Ela era a primeira pessoa com quem eu tentara conversar desde que descobri que estava invisível, então talvez isso pudesse acontecer. Na mesma hora eu senti como se tivesse sumido do mundo de verdade. Ninguém poderia me ver, ninguém poderia me ouvir, ninguém iria me notar. Antes que eu pudesse tentar controlar, lágrimas começaram a rolar por minhas bochechas e eu comecei a fungar.

- Tudo bem – a velha bufou, parecendo irritada agora – Entre.

- V-você consegue me ouvir? – Perguntei, confusa.

- Consigo saber que você está aí até mesmo sem você dizer nada. Entre logo, ou vai ficar choramingando ai o dia todo?

Entrei na casa, com o piso de madeira rangendo sob meu pé, enquanto eu observava as paredes da casa. Todas preenchidas com um papel de parede florido, daqueles antigos que você pensa só ver em filmes. Ela me guiou até a sala, onde permaneci de pé, mas ela então sentou e disse:

- Sente logo, é irritante ver você parada aí como um poste.

- Como sabe se estou em pé ou não? Você consegue me ver?

- Não – ela disse, suspirando – Mas não é difícil de adivinhar. Além disso, eu sei onde você está. E você não está perto do sofá. Sinceramente você pode ficar em pé e dançando em cima do sofá e eu não saberia.

Ao invés de testar sua idéia, apenas aceitei sentar. Fiquei olhando para ela, que sentou em uma poltrona à minha frente. Ficamos alguns minutos em silêncio, algo que me incomodava, mas simplesmente não sabia exatamente por onde começar. Eu acusaria ela de fazer isso comigo? Fingiria que não havia sido ela, mas que havia pensado nela por algum motivo? Simplesmente caçaria algum antídoto pela casa? Antes que eu resolvesse qual abordagem usar, ela resmungou:

- Você veio aqui para olhar pra minha cara?

- Bem, obviamente não foi para você olhar para a minha – retruquei imediatamente, antes que pudesse pensar no que estava falando. Eu geralmente não era mal educada, mas aquela senhora estava começando a me dar nos nervos. Ela então deu um sorriso amarelado e falso.

- Engoliu também o feitiço da língua solta?

- Feitiço? – Repeti, assustada. De fato ela era uma bruxa, afinal. Ela tinha acabado de confirmar isso.

- Acho que a essa altura você já deve ter descoberto que isso – ela apontou para mim – É resultado de consumo inadequado de magia, não é?

- Você me deu aquela bala para comer!

- Eu a ofereci, apenas isso. O resultado é responsabilidade sua. Seus pais não te ensinaram a não aceitar doces de estranhos?

Antes que pudesse responder, arregalei os olhos, embora ela não pudesse ver. Bem, ela tinha razão. A culpa era quase toda minha.

- Mesmo assim, porque você iria oferecer algo assim para as pessoas na rua? – indaguei, ainda indignada com a história toda.

- Eu precisava testar em alguém – ela deu de ombros – É uma receita nova que achei em um antigo livro de magia.

- É uma receita nova de um livro antigo? – repeti, confusa.

- É, garota. Não me contrarie.

- Ahm... ok? Mas, porque queria fazer essa receita, afinal?

- Gosto de pregar peças no halloween – ela sorriu de forma maldosa – Aqueles pirralhos vem todo ano na minha porta e jogam ovos, papel higiênico e até mesmo algumas coisas piores às vezes – ela fechou os olhos e fez um som de desaprovação – Por isso, de uns anos para cá, comecei a dar as balas para as crianças. Digamos que elas vão ter uma pequena aventura com algumas delas.

- Halloween? O halloween é só daqui a quatro meses.

- Demora para ficar pronto – ela deu de ombros, pegando uma xícara de chá que estava em cima da mesa. Bom, pelo menos eu achava que era chá. A essa altura eu não me surpreenderia com mais nada - Além disso, eu tenho que estar preparada até lá, não acha?

- E, espera. Não é só aquele tipo de bala que você fez? Tem outros poderes também?

- Invisibilidade, mudança de cor, transformações inocentes – ela contou nos dedos conforme falava – Digamos que tem algumas coisinhas para a diversão das crianças... E para a minha também – ela piscou.

- Isso é horrível! Como espera que os pais saibam lidar com crianças invisíveis?

- Não ficaria muito chateada se essas crianças sumissem – ela parecia satisfeita com a ideia – Mas o efeito passa depois de um tempo, não se preocupe.

- Quanto tempo? – perguntei. Estava um pouco aliviada em saber que ia voltar ao normal, mas eu queria que isso acontecesse o quanto antes possível.

- A próxima lua cheia, apenas.

- A próxima lua cheia – repeti, absorvendo a informação. Eu não era exatamente boa em astronomia, então resolvi perguntar – Quando é?

- Daqui a uma semana – ela bebericou o conteúdo de sua xícara.

- Uma semana? Não tem como você me fazer voltar ao normal antes?

- A lua é um fator determinante para feitiços, garota. O mar é controlado pelo luar, e até mesmo dizem por ai que os cabelos crescem mais rápido se cortado na fase da lua correta. Ou você acha que é especial o bastante para mudar as regras da magia?

- Bom, queria ser, com certeza – rangi os dentes – O que eu vou fazer, até lá?

- Me ajudar – ela repousou a xícara na mesa em sua frente – Se você quer voltar ao normal, é bom reunir ingredientes logo.

- Você vai fazer a poção para que eu possa voltar ao normal? – indaguei, um tanto descrente.

- Se eu não fizer, você não vai me deixar em paz, não é?

- Ainda bem que sabe disso – suspirei, me levantando – Do que você vai precisar?

- Leve o livro inteiro se quiser – ela levantou e foi até uma estante próxima do sofá, trazendo de volta um livro pequeno, com uma capa vermelha, de um tom escuro, e com aquela típica aparência de livro antigo de magia – Página 394.

Indo até a página indicada, tinha uma imagem ilustrativa de uma mulher se olhando no espelho e vendo o próprio reflexo. “Feitiço para ser vista”, dizia no alto da página.

- E onde exatamente eu arranjo cinzas de aranhas irlandesas? – perguntei, lendo o resto dos ingredientes, que tinham ingredientes mais esquisitos ainda, ou pelo menos tão esquisitos quanto este.

- Acredite, é mais fácil do que você imagina – ela sorriu de forma maliciosa.

Sai da casa sem mais explicações. Qualquer pergunta que eu fazia, a bruxa simplesmente fingia não ouvir, ou dava uma resposta que não tinha nada a ver com minha pergunta. Suspirei e comecei a andar, colocando o livro dentro de minha blusa. Eu não sabia se funcionava, então olhei quando passei em frente à uma loja de espelhos. De alguma forma, cobrir o livro com minha roupa, também transparente, era o suficiente para deixar o mesmo invisível.

Fui até minha casa, onde entrei no computador para começar a agilizar algumas coisas. Entrei no site de um pet shop da cidade, e mandei um e-mail para a equipe deles, que foi super rápida para responder. Infelizmente, não era a resposta que eu queria.

 

“Boa tarde.

Gostaria de saber se vocês trabalham com aranhas vindas da Irlanda?

Caso a resposta seja positiva, gostaria de saber o que vocês fazem com elas quando estas morrem em sua loja. Alguma chance de vocês incinerarem elas, e guardar as cinzas?

Agradeço desde já.”

 

Era um e-mail patético, para qualquer um que o lesse. Talvez por isso, o e-mail que recebi de volta foi simplesmente assim:

 

“Boa tarde, cliente.

Gostaríamos que não usassem esse e-mail para enviar mensagens falsas, o que atrapalha nossas vendas.

Tenha um ótimo dia.”

 

A loja basicamente achava que era um trote, então fui obrigada a ir na loja física do pet shop, onde achei algumas aranhas. As placas indicavam o lugar de onde elas vinham, então achei uma aranha pequena mas ágil, vinda da Irlanda. Apesar de precisar das cinzas dela, não tinha nenhum sinal de que havia isso por lá, então entrei de fininho na porta de funcionários e peguei a aranha, colocando ela em um pote e saindo o mais rápido possível da loja. Eu nunca havia roubado nada em minha vida, e era ridículo que a primeira coisa fosse uma aranha.

O resto das coisas da lista foi mais fácil de conseguir. Folhas de alfazema, pétalas de confrei, penas de pássaros e pedras da beira de um rio. Quando reuni todos esses, e mais alguns ingredientes, voltei à casa da bruxa.

- Está aqui. Fará a poção?

- A hora que eu tiver algum tempo – ela disse, enquanto estava sentada no sofá.

- O que está fazendo agora?

- Analisando minha estante de longe. Faço isso todos os dias, a maior parte do dia, já que ela está muito bagunçada.

- Ou seja, você não está fazendo nada?

- Estou analisando minha estante. Ficou surda também?

- Não. Fiquei irritada – disse, entrando em sua frente – Faça a poção logo, por favor.

- Está bem, está bem – ela se levantou – Mas só fará efeito daqui a sete dias, de qualquer forma.

- Não importa. Pelo menos estará em minhas mãos.

Ela então foi fazer a poção, pegando os ingredientes em uma mochila que eu havia arranjado. Antes de ir até o quintal de trás de sua casa, ela disse:

- Sabe, você poderia me fazer outro favor enquanto espera. Sou uma senhora sozinha nessa casa... Você pode ajudar uma velha que precisa de um favor?

- Como se você fosse indefesa – ri soprado.

- Eu posso alterar facilmente a poção, sabia? Se eu acrescentar um ingrediente ou dois...

- Certo – bufei – O que é agora?

- Assuste algumas crianças. Aproveite. Não é sempre que se fica invisível.

Ela me mandou para fora da casa dela, enquanto ela preparava a poção. Suspirei. O que eu poderia fazer, se estava invisível?

Perambulei pela cidade, procurando algo para fazer. Vi então algumas crianças brincando. Ou melhor, brigando. Assim que me aproximei, pude perceber que um menino e seus amigos caçoavam de outro, que claramente estava chateado com tudo aquilo.

- Deixem eu ir pra casa – ele choramingou.

- Aah, o bebê quer ir para casa – o valentão caçoou, e os outros desataram a rir – Quer entregar as flores para a mamãezinha? – Quando prestei atenção no menor, vi que este carregava algumas flores em sua mão. Era um gesto extremamente fofo da parte dele, o que me partiu o coração. Não sabia a idade deles, mas sabia que eram pequenos. Já nessa idade algumas pessoas conseguiam ser malvadas. O garoto que segurava as flores agora tinha lágrimas escorrendo por suas bochechas, o que me arrasou.

- Ding, dong – eu disse, na voz mais fina e fantasmagórica que eu consegui – Ding, dong.

Na mesma hora todas as crianças olharam para a direção onde eu deveria estar, mas continuaram a procurar algo, com a confusão estampada em seus olhinhos.

- Ding, dong – eu continuava a repetir. Não sabia dizer o porque, mas era o que havia passado pela minha cabeça, e talvez fosse assustador. Mesmo que não fosse, pelo menos não me denunciaria depois.

Aproximei-me então do valentão, passando as mãos frias por seu rosto, ao que ele deu um pulo. Peguei uma folha do chão e passei pela orelha de outro, o fazendo estremecer. Eram cerca de cinco crianças que estavam caçoando do garoto com as flores, e dei um jeito diferente de assustar cada uma delas. Quando eles estavam realmente assustados, soltei um último “ding, dong” como um sussurro perto da orelha do valentão, e então ele correu e todos os outros os seguiram, deixando o menor para trás, aterrorizado. Peguei então algumas flores amarelas que estavam brotando da calçada, mas mesmo assim era bonitinhas, e entreguei à ele. Apesar do medo, ele aceitou minha oferta, e então sorriu.

Aquele pequeno sorriso simplesmente havia feito o meu dia. Ele riu e foi correndo para a casa dele, enquanto eu o seguia. Ao chegar em sua casa, ele entrou animado e logo deu as flores para sua mãe, que estava deitada em seu quarto.

- Olhe, mãe! Eu peguei para você!

- Que lindas, filho – ela sorriu – Você pegou elas sozinho?

- Uma amiga me ajudou! Ela é um fantasma!

- Um fantasma? Isso parece perigoso – ela fingia pavor.

- Não, mamãe. Ela é realmente boa! – ele então sorriu para ela – Isso vai fazer a mamãe melhorar?

- Sim, filho. Isso vai ajudar a mamãe a melhorar – ela sorriu e passou a mão pelos cabelos do filho, enquanto ele o abraçava.

Voltei para casa, morrendo de sono. Dormi um pouco antes de ir para a casa da bruxa, já que ela havia avisado que poções as vezes levavam dias para ficar prontas. Quando acordei, passei na frente da casa do garoto das flores. A mãe dele havia ficado de cama, na verdade, por um resfriado simples, mas ele sempre fazia coisas para ela melhorar logo. Feliz com isso, deixei mais algumas flores amarelas na porta da casa deles, desejando também as melhoras dela.

Fui até a casa da bruxa, onde ela me recebeu rápido dessa vez.

- Está pronta – ela disse, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

- Bom dia para você, também – ironizei – Mas, que ótimo!

Ela então me entregou um frasco, que continha um líquido que oscilava entre roxo e azul toda hora. Depois que voltei para minha casa, bebi ele, e passei os outros dias esperando o efeito surtir.

Quando finalmente surtiu o efeito, me senti livre. Sai na rua novamente, feliz, pronta para cumprimentar as pessoas como sempre fazia. Nem me aproximei mais da casa da bruxa, passando pelo outro lado da rua sempre que precisava passar por ali. Eu estava feliz. Podia me ver novamente no espelho, comprar as coisas sem ter que roubar nada, estava tudo maravilhoso.

Exceto que, apesar de estar de volta, eu sentia falta de alguma coisa. Eu não sabia o que, mas estava sentindo falta. Havia sido uma aventura inesquecível, pelo menos. Um dia passei novamente pelo garoto das flores, que estava rodeado novamente pelos meninos que caçoavam dele outro dia, mas dessa vez ele não demonstrava medo. Quando o valentão disse algo para ele, tudo o que ele fez foi sorrir e sussurrar “ding, dong”, o que fez ele e os amigos dele saírem correndo. Parecia que eu havia feito bem à alguém, pelo jeito.

E foi exatamente disso que eu senti falta.

Fui até a casa da bruxa, que demorou para abrir a porta como da primeira vez em que fui lá.

- O que é agora?

- Deixe-me ser sua ajudante – eu disse, sorrindo, o que fez ela semicerrar os olhos.

- Por que?

- A magia é incrível. Eu percebi isso quando fui vítima dela. Eu quero te ajudar nisso. Mas – comecei a advertir a bruxa – Não para o mal. Não sei qual o tipo de magia que você faz, mas eu quero poder usar ela para o bem – eu pensei no menino das flores, e como ele havia ficado feliz com algo tão simples. Era esse tipo de coisa que eu queria fazer. Essa era a verdadeira magia.

- Se você conseguir mais ingredientes para mim... – ela começou, e abriu espaço para que eu entrasse em sua casa.

- Combinado – disse, sorrindo.

Depois disso, eu ajudei a bruxa em várias coisas. Ajudava ela até mesmo a organizar a bagunça infinita que era sua estante, enquanto ela me ensinava uma coisa ou outra sobre magia de vez em quando. Foi assim que virei ajudante de uma bruxa, e de como minha vida mudou por completo depois de uma experiência que foi, digamos, mágica.


Notas Finais


Ficou um pouco maior do que eu esperava que ficasse, shaushauhs.
Mas, espero que gostem ~
Até o próximo desafio :3


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