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História 25 Dias De Escrita - Esperança


Escrita por: Sweetrange

Notas do Autor


"Dia 4 - Você passeia em um parque e encontra a rosa mais bonita que já viu"

Capítulo 4 - Esperança


Fanfic / Fanfiction 25 Dias De Escrita - Esperança

O chão do hospital era estupidamente limpo. Tanto que eu achava que seria possível ver meu próprio reflexo no piso. Além disso, o corredor era praticamente vazio, salvo por umas cadeiras de rodas que estavam paradas nas pontas. Bem, tinha que ser assim, afinal. Em alguns momentos as pessoas andavam calmamente por aqui, enquanto em outros todos saiam correndo para ajudar alguém, sendo literalmente um caso de vida ou morte. A vida hospitalar era assim. Em um momento ninguém parecia precisar de nada em particular, felizes, ou no mínimo estáveis, e em outros parecia que todos pareciam estar passando por algum tipo de problema.

Mas, apesar de me lembrar com clareza daquele corredor, fazia tempo que não podia ir até ele. Graças à algum problema que havia dado em meu cérebro, eu estava destinada a ficar deitada, olhando para o teto ou para a pequena televisão no canto do quarto, pensando na vida, ou no que ela poderia ter sido diferente se eu não tivesse parada aqui, agora.

Eu não tinha do que reclamar do hospital, exceto do fato de eu ter que estar nele. Afinal, as enfermeiras se mostravam simpáticas e prestativas, apesar de algumas serem um pouco mais rudes, mas todas se mostravam extremamente competentes. Era até engraçado como algumas lidavam com você, faltando apenas te abraçar e dizer que “tudo ficará bem” a cada cinco minutos. Outras pareciam querer ir embora o mais rápido possível, mas eu não as culpava. Eu, deitada aqui sem ter que trabalhar, já desejava isso mais do que tudo no mundo.

Eu sempre havia sido uma pessoa positiva. Minha família e meus amigos sempre diziam isso, e eu mesma me sentia assim. Algo quebrou? Vamos consertar. Algo deu errado? Podemos dar um jeito. E com esse tipo de pensamento eu sempre conseguia dar um jeitinho no que precisava, até mesmo surpreendendo as pessoas ao meu redor às vezes. Muitas vezes aconteciam problemas no meu trabalho, mas eu o amava. Trabalhava em uma floricultura, junto com minha tia, rodeada de flores, uma mais bonita e cheirosa que a outra. Vi várias ocasiões felizes, como casamentos, primeiros encontros e aniversários de namoros, mas também pude ver situações tristes onde flores eram necessárias, como a visita à um túmulo, ou o próprio velório. E, em algum momento, comecei a pensar que a única forma de eu estar rodeada novamente de flores seria com essa última opção.

Eu não podia nem mesmo me comunicar direito. Não lembrava os nomes que os médicos haviam dito, mas pelo jeito era algo grave. Estava presa à essa cama, e na verdade ao meu próprio corpo também. Não conseguia me mover direito, nem mesmo falar sem sair balbucios incompreensíveis, mesmo que alguns soassem bem claros para mim. Ninguém parecia me entender. Minha mãe até mesmo chorou quando tentei falar com ela, e desde então não tentei mais. Eu me movia apenas quando extremamente necessário, caso contrário as enfermeiras davam conta do recado. A minha vida simplesmente não era mais a mesma. Eu tinha saudades de sair e tomar algum sol no rosto, ver o movimento na rua, poder andar. De fato, eram coisas que eu nem percebia que gostava tanto, mas é verdade o que dizem por ai. Você só aprender a dar valor às coisas quando perde.

Na primeira semana, tudo era novo, e interessante. Lidar, ou pelo menos observar, as enfermeiras e todos os outros funcionários do hospital. Assistir centenas de programas e filmes à vontade, sem ter que me preocupar com horários. O único lado que eu sempre achei ruim foi a comida. Sim, também era verdade o que diziam sobre a comida do hospital, aparentemente. O problema era que eu nem sequer chegava a comer. Dependia de sonda para isso, também. Um dos maiores prazeres da vida também havia sido tirado de mim.

Tentava ao máximo me manter positiva mesmo nessa situação, mas era difícil. Sem me movimentar, sem trabalhar, sem conversar com ninguém. O que eu faria? Nada. A resposta era essa. Eu só podia esperar o dia passar, um após o outro.

Meu desânimo era notável por qualquer um que me olhasse. Alguns médicos até chegaram a falar com meus familiares, em um canto do quarto, quando acharam que eu estava dormindo. Eles chamaram isso de depressão. Mas eu não chamava assim. Eu chamava de cansaço. Estava cansada de ficar deitada, vendo os dias passarem, vendo pessoas chorando por minha condição, sem poder me compreender. Eu estava farta de tudo isso. Pela primeira vez na vida, eu estava cansada de viver.

Depois de um mês nesse ritmo, eu já não ligava para mais nada do que acontecia. Eu tinha visitas, é claro, mas algumas achavam que eu estava aérea por conta dos remédios, outros duvidavam de minha sanidade mental, enquanto apenas alguns sabiam que em minha mente provavelmente passavam milhares de coisas, e era exatamente isso o que acontecia. No entanto, sempre recebia visitas da fonoaudióloga e da fisioterapeuta do hospital. A fonoaudióloga fazia de tudo, insistindo para que eu tentasse falar ou comer, o que era bom. Eu realmente queria voltar a fazer essas coisas. Além disso, a fisioterapeuta fazia exercícios comigo, alguns bobos, outros difíceis e doloridos, mas ela sempre me acalmava dizendo que era para o meu bem, que faria com que eu melhorasse.

Apesar de tudo isso, eu mesma ainda não via nenhum resultado. Estava sem esperanças. Que tipo de futuro eu poderia ter, desse jeito? Eu suspirava e reclamava em minha mente, já que não conseguia fazer isso em voz alta. Mas, um dia, quis até mesmo comemorar, mesmo que um pouco. A fisioterapeuta decidiu que eu tinha condições de ficar em uma cadeira de rodas por algum tempo, para tomar algum sol. Fiz questão de elogiá-la em minha mente, mesmo sabendo que ela não poderia saber o que eu estava pensando. Finalmente iria sair um pouco, tomar um pouco de sol e vento em meu rosto.

O próprio hospital era bem grande. Tinha um jardim perto, um pequeno parque, e por isso uma enfermeira, das gentis, ajudou a me ajeitar na cadeira de rodas e me empurrou até a parte externa, onde me senti outra pessoa. Eu podia observar o céu e os pássaros, algumas pessoas ao redor, e tudo o mais. Mas, confesso, a parte que mais me encantou foi o jardim.

Eu realmente sempre fui cercada por flores, por trabalhar na floricultura, mas era diferente agora. Mesmo sendo acostumada, eu senti uma paz dentro de mim ao ver que elas cresciam, bonitas, saudáveis. Ao contrário de mim.

Uma coisa que eu conseguia fazer era emitir um grunhido ou dois. E foi exatamente isso que fiz quando queria parar. Eu não conseguia tirar meus olhos de uma flor em específica. Uma rosa vermelha, absolutamente magnífica, enorme, charmosa. Rosas vermelhas sempre foram minhas favoritas, mas aquela tinha algo de especial, embora nem eu mesma soubesse dizer o que. A enfermeira, embora talvez tivesse ficado confusa por um instante, entendeu meu desejo e parou a cadeira de rodas, enquanto eu admirava aquela linda flor.

Nos outros dias, sempre que podíamos sair assim o fazíamos, e eu sempre conseguia passar na frente daquela rosa. Quando passávamos, as enfermeiras já até sabiam. Embora fosse uma enfermeira diferente a cada dia, praticamente, todas elas paravam na frente da minha rosa vermelha. Eu secretamente havia a adotado, e gostava de ver como ela continuava firme e forte ali.

Desde então, a fonoaudióloga e a fisioterapeuta começaram a me elogiar mais quando realizavam os exercícios comigo. Os médicos diziam que eu estava bem, e pela primeira vez eu concordava. Eu me sentia bem melhor do que antes. E isso porque eu percebi uma coisa. Eu amava viver. Eu sempre amei. Mas, para continuar, eu tinha que ajudar. Eu tinha que tentar. A vida, afinal, era exatamente como uma flor. Mas era necessário cuidar dela, algo tão frágil. Ela era bela como uma flor. Bastava que a víssemos desse jeito. E era exatamente isso que eu planejava fazer.


Notas Finais


Espero que gostem :3


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