A senhora com roupas de classe e olhar mortal analisava cada um ali, seu olhar tão intenso que parecia saber os pecados de cada um naquela sala.
Haviam chamado todas os funcionários do hospital para a recepção, o que resultou em muitas consultas desmarcadas e muitas reclamações tanto da parte dos médicos quanto da parte dos pacientes.
Eu era uma das médicas chamadas ali, e estava sentada em uma cadeira que por um milagre divino estava vazia quando cheguei. Ninguém sabia do que se tratava isso e principalmente o porquê disso, mas então, a senhora finalmente disse:
- documentos foram roubados - ela disse, parando de andar. Alguns murmúrios começaram, mas ela logo os cortou - silêncio. Os documentos não foram achados hoje de manhã, e por não termos câmeras no local onde os guardamos, não sabemos quem foi. Os documentos eram sobre o paciente Jeon Jungkook.
Os murmúrios voltaram, cada vez mais altos. Alguns de dúvida, e confusão, outros de indignação. Eu permanecia ali, sentindo meu corpo cada vez mais gelado e rígido, mas precisava manter a pose de inocente, eu tentava ao menos. Os olhares vagavam por todos ali, todos os médicos tentando achar uma brecha para acusar alguém. Aquilo parecia um covil... de ratos!
- mas como sabe que foram roubados e não pegos para a leitura? - falei depois de levantar a mão direita.
- simples - uma enfermeira respondeu pela gerente - só se pode pegar um documento se tiver a autorização assinada pela gerente E um motivo válido para tal.
Assenti devagar, e desviei o olhar ao perceber que a mesma enfermeira me olhava estranho.
Fomos liberados daquela sala -que com aquela quantidade de gente mais parecia um cubículo- com o aviso de que se descobrissem quem roubou, ele seria demitido, a menos que se entregasse, mas mesmo assim teria uma multa alta. Meu coração parecia estar saindo pela boca, e as paredes estavam se fechando pra mim. Eu iria morrer esmagada!
Olhei o relógio em meu pulso, e então percebi que por obra do destino minha sessão com Jungkook começaria em menos de 5 minutos. Arrumei meu jaleco, e peguei minha bolsa. Gelei ao ver que, acabei deixando a ficha roubada de Jungkook na mesma, e me culpei internamente por não ter guardado ontem ao chegar em casa. Nem quero pensar o que aconteceria se vissem minha bolsa aberta.
Entrei em sua sala, e vi Jungkook, que assim que ouviu a porta abrir, estampou aquele sorriso debochado e aquele olhar indecifrável no rosto.
- olá, querida - ele disse, alargando o sorriso - parece perturbada.
Suspirei, me sentando na cadeira. Olhei em volta, e percebi que não haviam guardas hoje. E como sempre, Jungkook respondeu minha confusão antes mesmo de eu perguntar:
- foram treinar. Estão tendo problemas com um tal Kim Namjoon - franzi a testa e ele revirou os olhos tedioso - o melhor atirador da tropa de 2000, mas que se revoltou e agora é o maior atirador perseguido daqui - ele disse acompanhado de uma risada rouca.
Assenti, e então percebi uma coisa: ele estava sem algemas.
Na mesma hora, minha primeira reação foi dúvida e surpresa, depois medo, e por fim, o olhei:
- eles não foram treinar.
- claro que não - ele disse simples - para eles agora você está em uma viagem em Paris, e desistiu do caso.
- mas... - me senti confusa - como assim? Os funcionários me viram lá e... - antes que eu terminasse, Jungkook me cortou:
- exato, os funcionários. Não os guardas - ele piscou pra mim e desviei o olhar - denada.
- vamos começar nossa consulta - eu disse colocando o gravador no meio da mesa, mas então parei, e meu olhar foi para ele.
Ele percebeu meu modo hesitante, e parecia se deliciar com minha dúvida. Lambeu o lábio inferior, e então bufei, guardando de volta o gravador:
- preciso da sua ajuda - soltei e ele riu baixo, me olhando ladino.
- e no quê você precisa da minha ajuda, querida? - ele perguntou, algo em seu tom de voz mostrava que ele já esperava isso de mim.
- eu... - respirei fundo - roubei sua ficha do departamento confidencial daqui.
Ele sorriu ladino, e recebi duas palmas dele. Repentinamente interessado, ele apoiou os cotovelos na mesa, aproximando o corpo:
- e... quer minha ajuda para por de volta? - ele riu - sinto muito, não trabalho com coisas pacíficas, é preciso pensar demais nelas, se é que me entende.
Suspirei, e olhei em volta. Não haviam mais marcas na parede, ou palavras, sejam lá o que for. O olhei:
- se eu for demitida, vão te matar.
- como pode ter certeza, hm? - ele disse, escondendo o sorriso.
- por que me disseram isso - respondi em um tom sério - então... me ajude.
- naaah, já disse que não trabalho com coisas pacíficas - ele se fez de difícil.
Não acredito que estou pedindo ajuda para um louco, mas aqui estou eu. Eu precisava mesmo da ajuda dele? Precisava. Ele é o único que não me olha feio quando faço algo errado. Se bem que ele não é um bom exemplo...
- o que você quer em troca disso? -murmurei, fitando minhas mãos.
Houve um silêncio, e levantei meu olhar, o vendo de pé. Ele encarava um ponto fixo, minhas mãos. As levantei, as mexendo, e então ele sorriu, voltando a me olhar:
- uma noite livre.
Ri sem humor:
- quis dizer, o que você quer que seja possível?
- já disse. - ele cruzou os braços, com um olhar tedioso - o que vai tornar possível ou não é seu desespero em não ser demitida.
Pensei, por um bom tempo. Um sorriso involuntário surgiu, e então ouvi minha voz pronunciar duas míseras palavras, mas que mudariam tudo:
- trato feito.
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