História A 20ª carta - Capítulo Único.

Querido Mark,

Lembro-me todos os dias de como foi horrível ver aquele caminhão bater em você; todos os dias eu choro e penso que poderia ter sido diferente caso eu tivesse aceitado nos assumir, poderia tudo ter sido diferente se eu não fosse um completo idiota naquela época. 

É horrível acordar de manhã e não ter seu cheiro impregnado nas minhas cobertas, também é horrível não comer seu café da manhã todos os dias ou não ter você pra afagar meus cabelos antes de dormir.

Eu me lembro do dia do seu enterro, eu tive que olhar de longe pois não tinha coragem de encarar sua família – mesmo ela não sabendo da minha culpa –, lá de longe eu vi pela última vez o seu rosto; a pele branca, o rosto fino, as mãos delicadas, os cabelos loiros e o seu corpo magro. Me doeu te ver daquele jeito, eu nunca tinha sentido tanta dor em meu peito. 

Nossos amigos se afastaram de mim e alguns até começaram a fingir que eu não existia, e outros, por mais que tentassem não enxergar, sabiam que a verdade era que eu havia lhe matado, eu te matei quando disse que nunca nos assumiria publicamente por conta do preconceito, eu te matei quando te chamei na frente da escola toda de “viadinho”, te matei quando disse que o mundo não tinha espaço para um casal como nós e te matei quando nós brigamos no dia do seu acidente e você saiu correndo me chamando de todos os nomes possíveis, parou no meio da rua  e logo em seguida foi atingido por aquele  maldito caminhão. Eu queria não ter te matado todas essas vezes, eu queria ter sido uma pessoa diferente, uma pessoa melhor. Quem sabe você ainda não seria o meu Mark? 

Eu lembro de quando você veio todo animado me contar que o Jaebum havia escrito uma carta se declarando para o Youngjae e perguntou se um dia eu escreveria uma pra você; tudo que eu fiz foi dizer que cartas eram coisas de velhos, que Jaebum e Youngjae eram um casal clichê. Hoje, eu queria ter dito naquela época que te escreveria quantas cartas você pedisse. 

Essa já é a 20ª carta que eu te escrevo desde o dia de sua morte. Eu largo todas elas de mês em mês no seu túmulo, sempre no nosso aniversário de namoro. Sua família já deve ter estranhado as cartas sem remetente, então, hoje, dia 25 de julho de 2016, data que nós teríamos comemorado dois anos de namoro, te entrego essa carta, só que dessa vez com remetente. Já passou da hora de assumir o que eu sinto por você, meu amor. 

Descanse em paz, eu te amo muito.

Jackson Wang.