Dormir fora de casa? Bem, uma opção. Sensata? Bem, não. Eu sou sensata? A vida várias vezes me provou que não.
Mas eu queria mesmo sair de casa? Não, apenas sair de perto da minha mãe e do meu pai. O pai fugiu, acovardado, minha mãe teria plantão, ficaria sozinha. Isso me aliviou. No dia seguinte iria para a escola, conversaria com Maria Luísa e ela me ajudaria a tomar uma decisão quanto aos meus pais. Também telefonaria para Giovanna, ela precisava saber que Elisa sumiu do radar e me consolar.
O dia seguinte prometia e muito. Só não imaginava que seria por motivos jamais cogitados por mim.
♀♀
Sala de orientação: meu destino. Por quê? Essencialmente curiosidade, precisava comparar esse tal de Rodrigo com a Elisa, mesmo sendo um absurdo porque Elisa é insuperável como orientadora, amiga e mulher.
Mas a surpresa do dia me aguardava.
Encarei a porta da sala que antes me dava segurança e confiança e dei leves batidas. Nada. Parecia que estava mais uma vez em frente à casa da Elisa e não sendo atendida.
Escutei um choro desesperado e gritos abafados. Fiquei um pouco assustada. O que seria isso? Receosa, bati novamente na porta.
Os gritos ficaram mais abafados e escutei a voz masculina do orientador. Parecia meio bravo.
Caramba, mas que merda estava acontecendo naquela sala?
Escutei ruídos de um molho de chaves na fechadura. A porta estava sendo aberta ou fechada? Não quis esperar para descobrir, girei a maçaneta e meus olhos saltaram.
— O quê? — Rodrigo se espantou, bravo.
No canto de sua sala estava Maria Luísa com terror nos olhos, muito assustada e amordaçada. E... Sem roupa.
Sem roupa?
Observando melhor, o orientador também estava sem roupa e seu quase invisível órgão genital estava animadinho.
Ah, não. Estupro virou moda na minha cidade? Mas que...
Uma nova Raquel tomou conta de mim. Não mais a assustada, a depressiva, a suicida, vítima e sofrida. Uma Raquel raivosa se manifestou.
Tinha conservado raros amigos ao longo da minha vida e não gostava que os maltratassem. Eu aceitava todo desprezo e sofrimento, mas não direcione isso para meus amigos. Nunca.
— Corra agora ou morra — praticamente sussurrei com uma voz que até mesmo me assustou.
Rodrigo estava incrédulo comigo em sua frente. Não pensou duas vezes e saiu correndo sem suas roupas. Se não fosse uma situação tensa, riria da situação.
— Maria! — corri até ela. — Ele fez algo com você? — Retirei o pano de sua boca que a impedia de falar.
— Raquel... — Luísa estava tremendo. — Ele ia.. Ele ia... — Começou a chorar, foi a primeira vez que a vi chorando.
Sem pensar muito a abracei. E somente depois relembrei que ela estava despida. Ruborizei na hora. Mais uma vez, se não fosse uma situação tensa, teria tido uma excitação espontânea.
— Ah... — Fiquei sem graça. — Vista-se.
Maria Luísa se tocou que estava nua e tratou de se vestir.
— Vamos fazer algo urgentemente — falei.
— Sim, mas depois você vai ter que me ajudar a superar esse trauma.
— Por que estava na sala dele? — perguntei.
Maria Luísa deu início a sua fala, mas se interrompeu como se não pudesse falar para mim.
— O dia que eu tiver coragem, eu te conto — desconversou. — Agora vamos atrás dele.
— Acho que não foi muito longe já que estava pelado.
Saímos da sala, realmente o orientador não estava muito longe. No primeiro corredor a direita ele se encontrava todo envergonhado escondendo sua vergonha com as mãos. E, o mais incrível, a diretora estava lhe dando uma dura bronca. Mais dura a bronca seria se soubesse o que aquele maldito tentou fazer.
Tentei escutar a briga dos dois, mas tudo paralisou ao redor quando a diretora proferiu as seguintes palavras:
— Jamais imaginei que um absurdo desses poderia acontecer na minha escola! Isso é muitíssimo pior que o incidente com a Elisa, pelo menos ela me deu explicações! Já você, considere-se demitido. Vou restituir quem nunca deveria ter saído dessa instituição.
Uma lufada de animação preencheu meu coração. Elisa voltaria. Sim, ela voltaria.
Era a melhor notícia do ano!
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