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História A Cordial Criatura Entre Os Galhos - I. Um velho ditado, uma antiga mentira.


Escrita por: xwk3

Notas do Autor


Por favor, leia isso:
Essa pode ser uma história de mistério, horror e de indícios sobrenaturais, mas! Isso não quer dizer que é preciso iniciar tudo tão rápido, certo?

Uma boa história desse gênero, na minha opinião, precisa de um bom aprofundamento antes, acompanhado de personagens e um enredo interessante.
Por isso, as personagens serão aprofundadas psicológicamente, ou seja, irei descrever várias ideias e pontos de vista, sendo que não necessariamente eu concorde com estes, e não necessariamente discorde. Enfim, por favor entenda que quem está falando é a personagem. Odeie ela/ele, não a minha pessoa ;-;

Capítulo 1 - I. Um velho ditado, uma antiga mentira.


Fanfic / Fanfiction A Cordial Criatura Entre Os Galhos - I. Um velho ditado, uma antiga mentira.

— Eh...Asami...?

— O quê? — Replicara ela em tom extremamente seco.

— V-você... — Continuei.

— Eu...? — Dissera mais uma vez com o rosto fechado.

E ali estava eu há seis anos atrás, naquele dia, que se bem me lembro, estava extremamente frio, despiste que estávamos em julho e mais especificamente no verão. Em Hakone sempre é frio, essa é uma lei natural tanto quanto a velocidade da luz ser inultrapassável.

Depois de algum tempo reunindo coragem, finalmente a indaguei com um tímido (e carinhoso) — Quer...dançar?

Pergunta esta que ela respondeu com um instantâneo e áspero — Sem chance.

Mas ainda era cedo para a minha versão otimista de meros dez anos desistir.

— P-por quê...?

Agora vem a parte interessante.

— Porque você é feio, chato e patético.

                                                                            - ---------- -

Aquelas doces palavras de Asami me surpreenderam. Não por que eram novas para mim, mas pela pessoa que as usou, o motivo desta e ainda mais, pela situação. Pois depois de tudo...eu não tinha o mínimo verdadeiro desejo ou prazer de convidar Asami aquela noite.

Era vinte e cinco de julho, e todos do primário se encontravam naquele tradicional acampamento na floresta. E assim como nossos pais, que imitaram nossos avós, que apenas obedeciam nossos bisavós e consequentemente realizavam algo que há cerca de trezentos anos atrás, um grupo de pessoas considerou “interessante” e “bom”, numa dada sociedade totalmente diferente da atual, nós igualmente realizamos a “tradição da fogueira”, isso é, acender uma e dançar em volta dela.

Um ritual cheio de cultura, certo?

Por favor, não o confunda com apenas “dançar em volta da fogueira”. Nós dançamos em volta da fogueira que nossos ancestrais dançaram. Isso mudava tudo, de acordo com a professora.

Mas esqueça a parte cultural, o meu problema era outro naquele dia...as danças...eram em pares. Um ser positivo poderia talvez comemorar que a sala tinha um número par de pessoas e igual de meninas e meninos. E se enganaria. Ser brando e depois ser estrito é apenas parte da peculiar personalidade  do Sr.Destino, entediado com o tempo.

Sinceramente nunca fui um gênio, muito menos um tapado se tratando de números, talvez a melhor classificação seja “acima da média”, porém ainda sim, honestamente perdi a conta de quantas rejeições sofri aquele dia. Aparentemente ninguém gostaria da minha apagada presença por perto.

Minhas esperanças chegavam ao fim quando me lembrei novamente que pela natureza da quantidade de alunos, eu não poderia de jeito nenhum acabar sozinho. Foi a primeira vez que agradeci a matemática.

Sentei em um banco e esperei. Essa ação era a única necessária para o rejeitado, esperar que um outro rejeitado apareça e assim, somando os restos formar um inteiro. Em contra partida, eu esqueci um ponto crucial nesse dilema, que o rejeitado tinha um motivo de ser rejeitado, não era uma questão definida pelo acaso, e sim pelo julgamento subjetivo da maioria. Apelidado carinhosamente de “discriminação”, é um fenômeno um tanto natural em qualquer âmbito social, pois se é preciso escolher entre dois, um será privilegiado, e o outro; discriminado, tudo isso baseado nas características de cada um.

Típica vida em sociedade, acho.

Após cerca de trinta minutos estava feito, os julgamentos "do que é melhor" e "do que eu posso adquirir” tinham acabado e cada um tinha seu par, a não ser é claro, por eu e mais outra pessoa. Levantei-me para tentar mudar isto. A adição era necessária.

Não tive que procurar muito pelas redondezas para achar a companheira da mesma infelicidade que a minha. Asami, uma garotinha gorda, rude, de mal odor e de rosto amedrontador sentava em um dos cantos da roda de verdes tendas.

No primeiro instante que a vi, hesitei. Realmente, eu teria que formar par com “aquilo”? Digo...não era nada pessoal, só que eu preferiria...outra...garota? Mas não havia nada a se fazer...me sentido prestes a realizar um ato de bondade, havia resolvido convida-la e remover do seu rechonchudo rosto as pequenas lágrimas que escorriam silenciosamente.

No entanto...

  “— Porque você é feio, chato e patético”.

Re..jei..tado...? Impossível!

Abordando Asami com pena, despiste qualquer intenção bondosa, eu me sentia um tanto superior. Sentia que na minha posição podia ajuda-la, que ela estava em um degrau a menos do que eu, isso, depois de tudo, é um sentimento natural quando você ajuda alguém.

E ela...me...rejeitara?

Fiquei por certo tempo petrificado ali, e gradualmente percebi que as lágrimas dela não eram de tristeza, eram de ódio, eram de raiva. A minha querida companheira de discriminação olhava diretamente para Ayako, o privilegiado nos julgamentos, o garoto que invertia as posições; não era rejeitado, mas sim, rejeitava.

Não importava para Asami se ela tivesse também acabado de me dispensar, ser dispensada por Ayako fora uma injustiça, e ela era uma vítima. Não importava as injustiças que ela mesmo cometia, a atenção era voltada para as injustiças que ela sofria. Dizem que é inocente aquele que desconhece o pecado que cometeu, assim, a inocência em termos de desconhecimento, como se idealiza nas crianças, é característica que afirmam isentar de culpa. Ou seja, mesmo que façam algo de errado, é possível falar o batido “ela não sabia” e tudo ficará bem. As crianças são inocentes na situação, e indivíduos inocentes também.

Mas eu vejo isso de outro ângulo, é justamente por ser uma pessoa inocente que alguém é culpado. Porque cometera os atos sem ao menos pensar ou considerar o outro lado. A inocência é parente da ignorância.

Além disso, a partir daquele momento conclui meu próprio ideal; que o exterior importava mais que o interior.

Asami não me conhecia, nem sabia nada sobre minha vida em particular, e ainda sim, adicionou “patético e chato” a sua frase. Ela na realidade não sabia nada sobre estes dois aspectos, mas julgando pelo único que conhecia; minha aparência, ela concluiu os outros. No entanto enquanto à Ayako, pela sua aparência, os dois outros aspectos de imediato subiram. O quanto julgar um livro pela capa é preciso enquanto ao conteúdo é um assunto diferente da questão que um livro, pela capa, pelo título, pela imagem e a breve sinopse contida, é que vão definir se a maioria o achará atrativo, se o autor irá ter sucesso.

Minha teoria é sustentada até por fábulas.

Vide o clássico do “Patinho Feio”. Um pequeno patinho sofria discriminação pelos demais por...ser simplesmente feio. Nenhum outro, mesmo que possuíssem defeitos, eram tão humilhados quanto aquele em que o defeito consistia da aparência, sendo a parte mais interessante, o final. O pensamento que o feio é inferior não muda. O patinho feio contorna a situação se tornando ainda mais bonito do que os outros patos, ou seja, ele se torna superior pela beleza! O patinho se vinga dos outros se tornando mais belo que estes, e se alegra com o resultado. O próprio patinho feio implicitamente concorda que a aparência importa mais que o resto!

É o conto mais hipócrita da face da Terra.

É o conto mais verdadeiro da face da Terra.

Por tanto, ainda que a personalidade entre no meu julgamento, sempre irei privilegiar as aparências. Não é que as outras características não são importantes, não, elas são. Mas de primeiro instante, irei dar sempre a vantagem a aquele que me agradar de imediato, inteiramente pelo exterior. Igual à quando se compra um bolo.

A primeira impressão é tudo. Por ela, você pode saber se o bolo vale ou não a pena.

Porém, distraio-me de minha interna discussão ao ver peculiar movimentação das pessoas no intervalo. Se agrupando em um robusto circulo, todos contemplavam uma linda garota a chorar.

Outra criança desaparecida, outra família a sofrer.

Pela idade, de imediato eu poderia julgar que era a irmã mais velha da vítima, mas tanto esforço mental não era necessário. Era alguém familiar...com um rosto extremamente diferente...mas ainda de alguma maneira...familiar.

Por que mesmo que ela tenha mudado tanto no exterior, e era agora a garota mais bela do colégio, ainda sim, era a mesma interiormente.

Asami Hikari, alguns podem dizer que nesses seis anos você não mudou nada, mas de todo coração recuso acreditar nisso. É claro que mudara.

Porque agora, por exemplo, até mesmo eu desejaria dançar com você.

Pelo meu julgar, se tornara uma menina incrível.

E estou certo, não estou?

É claro que sim.

Eu sempre estou certo.

 


Notas Finais


¹ O título "um velho ditado, uma antiga mentira" é em relação a opinião do garoto, que ao contrário do que sempre falam, acredita que o exterior importa mais que o interior.

By the way...
Caso você tenha odiado demais essa personagem, fique tranquilo(a), a perspectiva da história muda a cada capítulo, ou seja, a cada capítulo é alguém que conta a história...da maneira que lhe é mais conveniente.


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