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História A Escolha - A Honestidade


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oi gente,
Espero que vocês gostem do capítulo!
Deem uma olhada nas notas finais, tem recadinhos lá :)

Agora vamos ao que interessa...

Capítulo 11 - A Honestidade


— Toma seu filho da puta hipócrita! – eu berrei, comemorando a linda defesa do meu irmão contra o ex-namorado sem graça da minha amiga.

— Ginny! – Hermione ralhou comigo, embora estivesse rindo com Luna.

— Tem que aproveitar que agora ele não tá ouvindo direito, Mione – eu me justifiquei, dissimulada. Se dependesse de mim eu gritava isso no ouvido do Krum.

O primeiro tempo do jogo começou e terminou acalorado. O dia encontrava-se ensolarado e bastante fresco, como se pedisse por uma partida de futebol. Ron e Harry jogavam pelo mesmo time. A competição estava bem acirrada. Eu expliquei as meninas, que achavam-se um pouco perdidas, que a equipe adversária era muito boa no ataque, embora os meninos estivessem se virando bem na zaga.

— Você e a Angel ainda estão jogando nos fim de semana? – Luna indagou, se sentando de um lado de Hermione.

— Desde quando a gente entrou na SeMz ficou complicado manter os jogos semanais – eu me expliquei, sentando na arquibancada, do outro lado – Acho que tem uns seis meses que a gente não se reúne.

— Eu sei que eu não entendo nada de futebol – Mione passou um braço pelo meu ombro e me apertou levemente – Mas pra mim você deveria ter virado jogadora profissional. Embora também seja uma ótima aspirante a engenheira química também.

— Engraçado, Ron já me disse a mesma coisa – eu comentei, relembrando os momentos que o meu irmão havia me incentivado.

— É, às vezes o seu irmão sabe o que dizer... – Mione voltou à posição inicial e sorriu de canto, olhando para cima, perdida em pensamentos.

Observei a expressão da minha amiga por alguns segundos, sem entender. A partida teve inicio mais uma vez. Os meninos levaram um gol logo de cara, por vacilo de um dos jogadores. Eu estava nervosa assistindo o jogo. Eu sempre ficava agitada com essas coisas. Para a minha felicidade, alguns minutos depois Harry fez um gol, empatando o jogo. Luna, Hermione e eu comemorávamos feito três desesperadas. A partida foi chegando ao final e, para o azar dos rapazes, Cedrico, um grande amigo nosso que estava jogando no outro time, sofreu uma falta dentro da pequena área, o que resultou em um pênalti. Viktor bateu e Ron defendeu, porém Cedrico pegou o rebote e marcou o gol que encerrou a partida. Eles haviam ganhado.

Assim que a parte interna do ginásio esvaziou, Luna seguiu para encontrar um amigo do estágio. Eu e Hermione descemos para a porta do vestiário masculino. Harry conversava alguma coisa com Krum. Devido à insistência de Harry eu acabei deixando a minha amiga sozinha com o ex-namorado e segui para longe da porta do banheiro.

— Gin, a gente não pode ficar interferindo na vida da Mione – ele falou, segurando a minha mão enquanto nós subíamos a escada.

— Por que não? – debati, encarando-o.

— Porque ela já é grande o bastante pra decidir o que vai fazer – Harry respondeu, óbvio.

Eu rolei os olhos, entediada. Conhecia bem aquele discurso. Ele me ajudou a passar pela mureta dos fundos do ginásio.

— Não sabia que você agora era defensor do Viktor... – o provoquei.

— Não sou – ele replicou, dando de ombros. Nós sentamos em um banquinho de concreto – Mas é Hermione que tem que entender o que ela quer, não a gente.

     Entender o que ela quer...?

— O que você sabe que eu não sei, Harry? – eu cruzei os braços e o fitei, decidida.

— Muitas coisas... – ele respondeu sorrindo, mexendo no celular – Mas eu já te falei pra perguntar a ela, porque eu não vou te dizer nada.

— Argh, te odeio... – fiz cara feia e ele me abraçou pelos ombros, largando o celular no meu colo.

— Odeia nada... – ele mordeu o meu pescoço, devagar.

— Odeio sim – insisti, fazendo manha – Sai daqui...

— Não saio – Harry continuou a beijar a minha pele, insistentemente.

Acabei cedendo aos toquei dele e me perdi naqueles lábios. Nós permanecemos nos provocando por algum tempo, distraídos, até que eu senti o celular vibrar no meu colo. Harry estava recendo uma ligação. Ele pegou rapidamente o aparelho e se afastou um pouco, apreensivo.

Ainda sentada, eu o observei gesticular freneticamente ao telefone. A cada minuto que passava, Harry se agitava mais, andando de um lado para o outro, como se discutisse com alguém. Eu comecei a ficar preocupada, nunca o tinha visto descontrolado naquele estado. Nessa brincadeira foram mais de quinze minutos até que a ligação terminasse. Ele desligou o celular e quase jogou o aparelho no chão. Pensei em me levantar e ir até lá, mas tinha medo da reação dele. Harry passou a mão pelos cabelos negros e tirou os óculos, esfregando dos olhos, tentando se acalmar. Quando Harry retornou ao meu lado, ele estava com o semblante mais contido, mas no fundo eu percebi que o nervosismo ainda estava presente ali.

— Quem era? – indaguei, curiosa.

— Ninguém importante... – ele respondeu, sorrindo amarelo.

— E você tá com essa cara?

— O que tem de errado com a minha cara?

— Nada – levantei uma das sobrancelhas, sarcástica – Só parece que você comeu alguma coisa muito ruim ou ouviu algo que não gostou.

— E daí? Talvez eu não tenha escutado... – Harry retrucou, desviando o olhar – Tem algum problema nisso?

Ele se curvou, apoiando o corpo nos cotovelos e encarando o chão.

— Harry, quem era? – voltei a perguntar, dessa vez mais consistente.

— Já disse... Ninguém importante – ele respondeu, encolerizado.

— E porque você não quer contar?!

— Porra, Ginny! – Harry praticamente gritou comigo – Porque isso é assunto meu!

— E é exatamente por ser assunto seu é que eu quero saber! – rebati, no mesmo tom.

— Só que isso não te diz respeito! – ele cuspiu as palavras, raivoso. Estava distante de ser o Harry que eu conhecia – Qual a sua dificuldade de entender isso? A sua insistência me sufoca!

Ele se levantou do banco mais uma vez e eu fiz o mesmo. Nós dois assumimos uma postura defensiva.

— Eu devo ser muito estúpida mesmo, por me preocupar com você! – eu senti uma lágrima cair do meu olho esquerdo – Harry Potter, o senhor da indiferença! Aquele que está acima de todos os sentimentos! Eu sou mesmo uma idiota por achar que você se importa com qualquer coisa que não seja o seu umbigo!

O nosso bate-boca continuou e com o tempo eu percebi que ao nosso redor, um grupo de curiosos começou a se formar, interessado na nossa discussão. Em outras ocasiões eu teria dado meia volta e saído daquele lugar, mas o meu sangue estava fervendo.

— Você quer que agora eu faça o quê, hein? Anda, me diz! Você me conheceu assim, Ginny! – Harry estava vermelho. Uma veia pulsava latente em seu pescoço – Não diga que isso é novidade para você, por que não-é!!

— Eu queria que você deixasse de ser esse filho da puta egoísta! – bradei em resposta – Era isso que eu queria! Mas pelo visto você não tem essa capacidade!

Harry encheu o peito para me dar uma resposta, no entanto Ron o pegou pelo braço. Ao mesmo tempo, Mione e Luna apareceram, me arrastando para longe dos dois.

— Me solta! Ele vai ter que me ouvir, me solta! – me debati, mas Hermione foi mais rápida, me puxando de volta.

— Amiga, por favor, se acalme! – ouvi Luna pedir, ao meu lado.

— Como, Luna?! Como eu vou me acalmar! É sempre o Harry, sempre!

Eu me deixei jogar nos ombros de Lu, já sem resistir.

— Ginny, vamos embora. Na sua casa a gente conversa melhor... – Mione tomou a chave do meu carro. Para ela querer dirigir é porque a minha situação deveria estar bem feia, visto que a minha amiga odiava tocar em qualquer volante.

As meninas permaneceram comigo durante toda à tarde, me ouvindo e me dando conselhos. No início da noite, eu acabei tomando um remédio para dor de cabeça e peguei no sono deitada no sofá. Acordei bem depois da hora do jantar. Luna conversava à soleira da porta com Ron, que finalmente havia voltado para casa.

— Ela tá bem? – ouvi o meu irmão perguntar.

— Tá um pouco melhor. Tem algumas horas que ela tá dormindo– Luna respondeu, suspirando – Ronald, você sabe o que aconteceu?

— Sei... Quer dizer, não sei... – Ron parecia preocupado – Pelo que eu entendi é alguma coisa complicada sobre o Harry.

— Eles nunca brigaram dessa forma. Pelo menos não que eu soubesse antes.

— Esses dois vão ter muito que resolver...

— Imagino... – ela concordou – Bom, eu tenho que ir agora. Só tava esperando você chegar.

— Cadê a Hermione? – o meu irmão indagou, interessado.

— Já foi pra casa – Lu explicou – Ela me falou alguma coisa sobre dar uma olhada no trabalho de vocês, sobre o rio.

Eu resolvi me levantar do sofá. Esfreguei um pouco o meu rosto e andei na direção dos dois.

— Ei, Polegarzinha... – Ron me puxou pelos ombros e deu um beijo na minha testa. Era reconfortante ter o meu irmão ali comigo.

— Como você tá? – Luna afagou o meu rosto amavelmente – A dor de cabeça passou?

— Passou sim, amiga... – eu a tranquilizei, tentando sorrir – Muito obrigada por ter ficado aqui comigo.

— Não há de quê. Sempre que você precisar de mim, eu estarei aqui.

Abracei Luna, comovida. Ela me apertou de volta, carinhosa. Nós nos despedimos por mais um tempo e a minha amiga seguiu para casa. Ron fechou a porta e me guiou de volta para o sofá. Ele sentou do meu lado e ofereceu o colo para que eu me deitasse. Aceitei sem nem pestanejar. Eu estava precisando de mimos e não iria esconder isso do meu irmão.

— Você já jantou? – ele perguntou, afagando os meus cabelos.

— Não... – respondi, fechando os olhos – Mas eu não tô com fome. Não precisa se preocupar.

— Claro que eu vou me preocupar, Ginny. Olha o seu estado...

— Eu vou ficar bem.

— Eu sei que vai – encarei o meu irmão e ele me analisava sorrindo de canto – Você sempre fica. Lembra quando você tinha, sei lá, dez anos e Fred e Jorge ficaram com inveja e destruíram aquela sua bicicleta lilás inteira?

Eu sorri.

— Lembro. Foi horrível... – continuei sorrindo, perdida nas lembranças – Papai não tinha dinheiro, e aí eu tinha sido a única a ganhar presente de natal naquele ano. Eu amava tanto a minha bicicletinha...

— Pois é, admito que até eu fiquei ressentido com a exclusão... – ele continuou, fazendo cara feia – Mas o que você fez logo em seguida?

— Peguei todo o dinheiro da caixinha que os gêmeos escondiam no quintal e comprei uma bicicleta nova pra mim – respondi, orgulhosa – Eles quase me mataram.

Ron soltou uma gargalhada.

— Eles quase me mataram, isso sim – ele falou, balançando a cabeça, divertido – Era uma merda ficar entre vocês três porque sempre sobrava pra mim.

Eu caí na risada, acompanhando-o. Aos poucos fui me sentindo mais leve.

— Então... qual a moral da história? – questionei, me levantando um pouco para encara-lo.

— Não tem moral.

— Como assim?

Eu não estava acreditando que ele tinha relembrado tudo isso para nada.

— Eu só queria te distrair um pouco – Ron prendeu o riso. Eu belisquei a barriga dele de leve, inconformada – Ai, para porra! Você tava com uma cara triste e eu não sabia o que te dizer!

— Que tal um conselho de irmão?! – me levantei do colo de e joguei uma almofada na sua direção, também rindo – Tipo “você é forte, Ginny” ou “eu sei que vocês vão se resolver?”.

— Nah, todo mundo já diz isso... – ele se defendeu. Ron jogou a almofada em mim de volta e acertou o meu rosto em cheio. Ele levantou do sofá rapidamente – Pra que eu vou repetir?

— Isso doeu! – me armei com outra almofada maior – Volte aqui!

Ron correra em direção ao quarto dele e eu fui atrás. Continuamos a nossa brincadeira como se fossemos crianças novamente. Quinze minutos depois nos jogamos no chão do corredor, completamente cansados.

— Tô ficando velho... – Ron reclamou ofegante, com a mão no peito.

— Tá mesmo – concordei também exaurida.

Ele me deu um tapa na perna e eu descontei a ação. Antes que aquilo virasse um loop infinito de tabefes, o meu irmão me puxou para um abraço apertado. Eu retribuí na mesma intensidade.

— Eu vou mesmo ficar bem? – indaguei, levantando a cabeça para olha-lo.

— Vai... – os olhos azuis de Ron me miraram de volta, bondosos – Você vai sim.

Permanecemos ali juntos, cúmplices.

A semana começou agitada. A fórmula que Justino entregara na segunda-feira era muito extensa e complicada. Mais uma vez, eu e a minha equipe nos vimos perdidos em uma tonelada de processos químicos para resolver. Por sorte, no fim da manhã da quinta-feira, Sam sinalizou o erro nas questões, e, Angel e eu demos um jeito de adiantar o nosso trabalho e recuperar o tempo perdido.

— Eu não aguentava mais – Angel comentou, finalizando o requerimento – Achei que a gente não ia conseguir dar conta.

— Eu também... – concordei vagamente, enquanto arrumava minhas coisas.

— Ai Gin... – Angel girou a cadeira na minha direção – Eu odeio te ver assim, sabia? Não sei mais o que fazer pra te animar.

— Ninguém pode fazer nada, amiga. Nem eu mesma – lamentei depois de um longo suspiro.

— O Harry não veio falar com você ainda?

— Não. Nem eu sei se quero que ele venha.

— Vocês vão se acertar, Ginny.

— Pra quê? – me recostei na cadeira, largando um pouco a bolsa de lado – Pra brigar de novo depois? Prefiro deixar como tá. Vai ver é assim que tinha que ser.

Angel rolou os olhos e balançou a cabeça em negação. Ela esticou a mão para pegar o papel que saia da impressora.

— Sabe o que vocês são? Dois malucos. Isso sim – Angelina pôs o papel na pasta – Tá vendo que não tem cabimento essas brigas sem motivos. Por esse e outros motivos que eu não namoro.

— O pior que nem meu namorado ele teve coragem de ser... – proferi, um pouco ressentida – Todo um estresse por nada.

De fato, eu realmente sentia que havia me estressado por nada. Por uma ilusão, na verdade. Há mais de um ano eu justificava a minha paciência pela intensidade do que eu sentia pelo Harry. Só que a minha serenidade tinha ido por água abaixo. Eu nunca fui de aceitar mentiras ou omissões e ele havia passado dos limites. Ginevra Weasley nunca teve predisposição para sofrer e aquilo já passara do limite há muito tempo. Para mim só havia duas opções: ou Harry se entregava por inteiro comigo ou ele iria ficar sozinho de verdade, porque para mim não iria ter volta. Eu já estava cansada de metades.

— Gin, já tá quase na hora do almoço. Você vem? – Angel me perguntou, me despertando das minhas reflexões.

— Vou sim – fechei a bolsa e me levantei da cadeira, apressada.

— Certo, então a gente passa logo na coordenação de pesquisa e depois seguimos direto pra faculdade – ela comunicou assim que nós trancamos o laboratório.

— Coordenação de pesquisa? – franzi o cenho, sem entender o que iriamos fazer lá – Pra quê?

— Você tá mesmo avoadinha essa semana, né? – Angel sorriu. Nós entramos no elevador – Justino disse que se nós entregássemos o requerimento até hoje, não precisava aparecer aqui amanhã de manhã.

— Jura? Eu realmente não prestei atenção nisso... – eu comentei, surpresa. Acabei me ligando em um detalhe – Ué, mas cadê o requerimento?

Angel olhou para as mãos e fechou os olhos, se controlando.

— Que-caralho! – ela exclamou, pondo a mão na testa – Vou voltar pra buscar.

Eu ri.

— Depois eu que tô estabanada. Vou com você...

— Não, vá pra sala do Justino e peça pra ele me esperar. Aí a gente não dá viagem à toa.

Eu balancei a cabeça, concordando. O elevador abriu e eu desci, seguindo direto para a sala do meu chefe. Assim que eu dobrei o corredor e entrei no departamento, percebi que a recepção estava vazia. A secretária deveria ter saído para o almoço. Aquele não era um horário de muito movimento. Atravessei a entrada e segui para o lugar onde Justino costumava ficar. A porta estava meio aberta. Eu quase entrei sem avisar. Recuei apressadamente quando escutei outra voz conhecida.

— Aqui está, Fletchley. A quantia que nós combinamos.

Olhei pela fresta da porta. Lúcio Malfoy entregava um envelope branco e volumoso ao meu chefe.

— Obrigado, senhor – Justino agradeceu, sorrindo amarelo.

— Nunca se esqueça, meu caro, bons trabalhos sempre serão recompensados – Malfoy deu alguns tapinhas no ombro do meu chefe – Principalmente quando são feitos pra mim.

— Pode deixar. Não me esquecerei – Justino balançou a cabeça, em concordância.

Os homens trocaram um aperto de mão e Lúcio andou em direção a saída. Eu corri até a recepção e me sentei em uma das cadeiras disponíveis, como se esperasse para ser atendida. Lúcio me cumprimentou assim que me viu.

— Srta. Weasley! – ele saudou, se aproximou de mim – É sempre um prazer encontra-la pela empresa.

— Igualmente, senhor... – eu respondi, com um sorriso dissimulado.

— Procurando o Sr. Fletchley? – eu confirmei com a cabeça – Ele está na sala dele.

— Ah, posso ir até lá? – indaguei, totalmente fingida.

     Como sempre ridícula, Ginevra.

Prendi o riso.

— Claro, fique à vontade – ele autorizou, abrindo espaço para que eu passasse – Até mais ver.

— Até... – retribuí o aceno e andei até onde estava o meu chefe.

Dessa vez entrei de vez na sala. Justino sobressaltou-se. Ele jogou o envelope que estava em cima da mesa dentro da gaveta e trancou rapidamente.

— Ginny?! O que faz aqui? – Justino perguntou, cruzando as mãos em frente ao corpo – Eu estava de saída pra o almoço...

— Vim trazer o requerimento – respondi.

— Ah, claro... A autorização – ele pegou a caneta, pronto para assinar – Onde está?

— A Angelina foi buscar – expliquei, me encostando a parede – Ela me pediu para vir na frente.

— Vamos esperar então.

Mexi no cabelo, fingindo distração.

— Encontrei com o Lúcio na entrada – toquei no assunto, como quem não queria nada – Aconteceu alguma coisa?

Justino engoliu seco, se ajeitando na cadeira.

— Não, tá tudo na maior paz – ele sorriu para mim, mas eu sabia que não era verdadeiro – Ele só veio comentar algumas questões administrativas.

— Aaah... – eu sorri de volta – Não sabia que ele se envolvia pessoalmente nessas coisas...

— Depende da importância do assunto – Justino olhou de relance para a gaveta. Eu fingi que não percebi.

Ouvimos algumas batidinhas na porta. Angel pediu permissão para entrar.

— Desculpe a demora – ela se justificou, sentando na cadeira de frente a mesa do nosso chefe. Angel entregou a pasta com o requerimento – Eu tive que esperar o elevador ir lá em cima e voltar.

— Só perdoo porque é você... – Justino piscou para a minha amiga e ela rolou os olhos.

Ele leu superficialmente, como em todas as outras vezes, prendendo a atenção apenas nas partes mais importantes. Justino assinou o papel rapidamente e fez menção de joga-lo dentro da sua pasta de couro. Eu me adiantei, me oferecendo para entregar o papel na administração. Tanto ele, quanto Angel, franziu a testa, sem entender.

— Eu não tenho nada pra fazer agora... – argumentei. Apontei para o meu chefe – Você disse que tava indo almoçar, não seria bom você chegar ao restaurante muito tarde. Os lugares costumam encher bem rápido a essa hora.

— Verdade... – ele meneou a cabeça, ponderando – Mas não precisa se preocupar tanto assim com a entrega, Ginny. Amanhã eu posso passar para a Marie.

— Imagina, não me custa nada.

— Tem certeza? – Angelina questionou, desconfiada.

— Tenho sim, amiga. Pode ir também, pra você não se atrasar – eu insisti – Minha aula só é no segundo horário. Eu tenho esse tempinho livre.

Ambos enfim concordaram com o meu pedido. Justino me passou o requerimento e seguiu com Angel para o elevador. Eu me despedi dos dois, depois de acompanhá-los até uma das cabines. Entrei no elevador ao lado, quando o ascensorista avisou que estava subindo.  Assim que me identifiquei na recepção da ala administrativa, a secretária liberou a minha entrada. Pus a credencial de identificação no pescoço e segui até o escritório já conhecido. Bati na porta, mas não houve resposta. Girei a maçaneta e percebi que estava aberta. Acabei entrando na sala mesmo assim. O lugar continuava pomposo como sempre. As paredes mantinham a mesma cor, brancas, e a superfície lustrosa dos móveis de mogno reluzia com a claridade que entrava pela abertura da persiana. Uma cadeira preta, extremamente acolchoada e ainda maior do que a que eu tinha reparado da última vez que estivera ali, dava destaque ao ambiente. Uma quantidade considerável de prêmios na estante dos fundos dava um toque final à decoração.

— Exagerado como sempre... – comentei para mim mesma, sorrindo de canto e olhando ao redor.

— Discordo, Weasley. Não há exageros quando falamos de sofisticação.

Rolei os olhos e dei meia volta. Draco me observava parado, encostado na porta.

— Se você diz... – rebati, sarcástica. Ele sorriu.

— A que devo a honra da visita? – Draco perguntou, me encarando – Confesso que já estava perdendo as esperanças de ter alguma resposta sua...

— Não me diga que o grande Draco Malfoy também sente medo – o provoquei, encostando-me à mesa. Abaixei o tom de voz antes de continuar – Achei que esses sentimentos fossem apenas para os meros mortais, sabe?

— Pra você ver como nem tudo é o que parece, Weasley... – ele respondeu, se aproximando lentamente – Você sabe que surpresas é o meu nome do meio.

Por um instante os meus olhos bateram em um porta-retratos da estante dos prêmios. Acabei sorrindo involuntariamente.

— Pelo que eu me lembre, aquela fotografia não ficava ali... – apontei na direção da imagem.

— Certa caloura não aprovava quando ele ficava em cima da mesa – Draco esclareceu, sorrindo também. Deixei ele chegar um pouco mais perto.

— Caloura esperta.

— Bastante...

Quando o loiro estava a menos de três passos de mim, eu levantei o requerimento, impedindo que ele andasse mais.

— Eu vi trazer isso aqui pra você – estendi a mão com o papel e ele pegou, aceitando.

— Trabalhos e mais trabalhos... – Draco reclamou enquanto lia superficialmente o documento, visivelmente entediado – Pensou sobre a minha proposta?

— Pensei... – confirmei enquanto ele desviava o caminho até o outro lado da mesa.

Draco sentou-se em sua cadeira e me encarou.

— E então? – ele questionou, levantando as sobrancelhas.

— Eu aceito – respondi, firme.

— Bom, Weasley...  – o loiro deu algumas batidinhas animadas na mesa, com a ponta dos dedos – Muito bom...

Malfoy sorriu abertamente com o meu retorno positivo. Ele indicou a cadeira a minha frente e eu sentei. Draco guardou o requerimento dentro de uma pasta, antes de voltar sua atenção para mim novamente.

— Posso perguntar o que te levou a tomar essa decisão?

— Você me disse que precisava da minha honestidade. Eu percebi que tem muita gente mentindo nessa cidade.

— E você tem noção dos riscos? – ele semicerrou os olhos na minha direção.

— Completamente... – confirmei, fitando-o de volta.

— De todos?

— Cada um.

— Posso mesmo contar com você, Ginny? – Draco parecia estar buscando total segurança na minha afirmação.

Eu estendi a mão direita para ele. O loiro imitou o meu gesto, apertando a minha mão com firmeza. Um sorriso satisfeito brotou nos lábios de Draco.

— Dê boas vindas a sua mais nova aliada, Malfoy – eu disse, determinada – Será um prazer destruir um império com você.


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários de vocês.

Pra quem quiser acompanhar o outro lado da história, esse capítulo faz ligação com outro lá d'A Troca. Então:
==> Se vocês desejam saber como foi a conversa da Ginny com a Mione e com a Luna, é só dar uma olhada no capítulo 12 - "A Briga".

Beijos, até domingo!


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