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História A Escolha - O Café


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oie gente,
Desculpem pelo atraso, eu tive algumas complicações durante o fim de semana.

O que importa é que agora estou aqui com mais um capítulo. Espero que vocês gostem.

Agora vamos ao que interessa!

Capítulo 12 - O Café


– Chega, acabou o show! Se quiserem mais vão ter que pagar agora! – Ron enxotou o grupinho de curiosos que estavam ao redor da briga.

Ele me empurrou pelos ombros em direção ao vestiário outra vez. Ao longe, eu pude escutar Ginny gritar alguma coisa, raivosa. Me deixei ser arrastado maior parte do caminho, entorpecido pela intensidade da discussão que acabara de acontecer ali. A minha ficha voltou a cair assim que eu dei de cara com a extensa arquibancada. A fúria se apossou de mim mais uma vez e eu chutei o cesto de lixo ao meu lado, nervoso. Graças a alguma força divina ela apenas oscilou, mas não derramou todo o seu conteúdo no chão, evitando um grande trabalho para alguém limpar depois.

– Merda!

Eu sentei na arquibancada, cansado. Tirei os meus óculos e esfreguei os meus olhos. Minha vontade era ligar o foda-se e sumir para alguma terra desconhecida. Ron se colocou diante de mim, de braços cruzados e apoiado na grade da quadra de esportes.

– Agora você pode me explicar, por favor, o que está acontecendo? – o ruivo ordenou, direto.

– A sua irmã! Isso que está acontecendo! Ela não consegue ser nem um pouquinho menos egoísta e entender o meu lado! – tudo o que Ginny me dissera estava ecoando na minha cabeça.

O meu tom não estava sendo muito contido e, obviamente, Ron rebateu com a mesma pujança, visivelmente irritado e querendo entender o que havia se passado.

– Porra Harry, eu não quero meia história, eu quero saber o que está acontecendo de verdade!

     E agora?

Pensei em dar uma explicação qualquer e ir embora dali, como eu sempre fazia quando era esse o assunto, mas algo em mim pedia que eu contasse a verdade. Eu precisava conversar com alguém sobre aquilo e tudo indicava que Ron era a pessoa correta para ouvir.

Fechei os olhos e soltei um longo suspiro.

– É melhor você sentar...

Pus os óculos de volta no rosto e me ajeitei no assento. Ron confirmou com a cabeça e se colocou ao meu lado. Ele não forçou um contato visual direto, o que foi bom, pois eu não sei se conseguiria levar o assunto a diante se alguém estivesse me encarando em linha reta.

– Nós estávamos brigando porque a sua irmã queria saber com quem eu estava falando ao telefone... – eu comecei a explicar e percebi que Ron franziu a testa levemente, sem entender – E eu acabei me recusando a falar.

– Por quê? – ele indagou, ainda admirando o espaço a sua frente.

– Porque eu não quero que ela saiba o que eu estou fazendo – fui o mais sincero que eu pude – Na verdade eu não queria que ninguém soubesse.

– E o que você anda fazendo? – Ron virou o rosto na minha direção.

– Investigação... – respondi, o encarando de volta por alguns segundos – Sobre os meus pais.

O ruivo arqueou as sobrancelhas e meneou a cabeça por alguns segundos. Não consegui definir as suas expressões. Um silêncio constrangedor pairou entre nós. Quase vinte minutos depois Ron voltou a se manifestar.

– Quando quiser falar fique a vontade, Potter... – ele comunicou, apoiando os cotovelos nos degraus de cima – Sou todo a ouvidos.

Acabei sorrindo com o que ele dissera.

– Pode demorar – avisei, imitando a ação dele.

– Temos a tarde toda – Ron retribuiu o sorriso, dissimulado.

Somente no final da tarde eu juntei a coragem necessária para começar a narrar toda a trajetória da minha vida para ele. Embora fizesse algumas caras e bocas durante a conversa, Ron escutou toda a minha história em silêncio, deixando que eu me expressasse da forma que eu bem entendesse. Ao longo do meu monólogo eu acabei soltando mais coisas do que eu imaginei que falaria e no fim, parecia que um peso enorme havia saído das minhas costas.

– Você gosta mesmo da Ginny, Harry? – ele me perguntou alguns minutos depois que eu parei de falar.

– Muito... – me apressei em responder – Mais do que você possa imaginar.

– Então por que não contou isso a ela ainda?

– Não sei... – engoli a seco – Eu nunca quis envolvê-la nesse assunto...

– E por que tem alguma coisa me dizendo que isso não é verdade? – ele perguntou, irônico.

– É o máximo de franqueza que eu posso te dar.

– Sabe o que eu acho, Harry? Que você tem medo – Ron falou, decidido – Você tem medo de gostar das pessoas. Você tem medo porque acha que vai acontecer a mesma coisa de 17 anos atrás.

– E eu tô errado em achar? – questionei, na defensiva.

– Está, porque a minha irmã te ama – ele rebateu, se virando na minha direção – E pode acreditar, Harry, se ela não te amasse não suportaria esse silêncio seu por muito tempo. Eu já vi a Ginny largar outros caras por muito menos que isso.

Ouvir aquilo de forma tão direta acabou me deixando um pouco desestabilizado. Nosso diálogo sobre o assunto não se estendeu muito mais depois disso. Como estávamos mortos de fome, Ron e eu seguimos juntos até um restaurante próximo da universidade. Após o jantar eu me ofereci para leva-lo até em casa. Assim que chegamos a frente ao prédio dele, Ron se despediu e saiu do carro. Antes que ele batesse a porta do veículo eu o chamei de volta.

– Ei, cara... – falei e ele se abaixou até o vidro da janela – Valeu por ter me escutado...

– É minha obrigação de amigo, sabe? – Ron sorriu de canto, sarcástico – Isso de escutar o que o outro diz...

Rolei os olhos, mas retribuí o sorriso, sincero.

– É, eu sei... – concordei – Isso me lembra de que a Mione ficou pra esperar você no fim do jogo, lá na frente do vestiário.

– E...?

– Tô totalmente disposto a ouvir o que aconteceu depois...

– Vá pra casa, Potter... – ele tentou não sorrir novamente enquanto se afastava – Você ainda não tá muito bem da cabeça...

Soltei uma gargalhada enquanto dava partida no carro mais uma vez.

– Harry... – Ron reapareceu na janela por alguns segundos – Se precisar de ajuda com o outro assunto, pode contar comigo...

Acenei em concordância e arrastei o automóvel.

Na quarta-feira, a aula de química se mostrou um pouco mais difícil que as semanas anteriores. Quase no fim do tempo, de contragosto, Hermione resolveu chamar Snape na nossa bancada para tirar uma dúvida. Ele se arrastou por todas as bancadas possíveis até não ter mais desculpa nenhuma para vir até nós.

– Pois não, Granger? – Snape perguntou, com o mesmo tom de desprezo de sempre.

– Estamos com uma pequena dificuldade nesse processo aqui... – Mione mostrou um dos passos para ele.

– O que necessariamente vocês estão tentando fazer? – Snape deu uma breve olhada, interessado.

– Estamos tentando isolar alguma substância, pra poder derivar as outras – ela explicou rapidamente – Só que não tá reagindo. Tem alguma ligação que está impedindo a dissociação.

Estranhamente, Snape sorriu de canto.

– Qual método vocês usaram?

– Cromatografia. Os meninos tentaram em coluna – ela apontou para os tubos compridos de vidro no qual eu e Ron estávamos trabalhando alguns minutos antes – Eu tentei forçar uma derivatização simples, mas não deu muito certo...

– Nem dará, Srta. Granger – as esperanças no rosto de Hermione se esvaíram – Esse é um processo complexo para ser realizado nesse tipo de laboratório. Talvez com uma espectrometria de massas ou uma cromatografia liquida vocês consigam achar o resultado.

Ron e eu nos olhamos sem entender muita coisa.

– Mas universidade não possui esses recursos, senhor... – Mione argumentou devagar, assustada.

– Que pena, mas isso não é da minha conta... – Snape se preparou para voltar a sua mesa – Só se lembrem de que em novembro eu quero esse trabalho pronto.

– Não vamos conseguir terminar a análise dessa forma! – Hermione insistiu, aflita.

– Você não faz questão de ser uma irritante sabe-tudo? Observe ao seu redor e resolva essa questão.

Antes que Hermione replicasse alguma coisa, Snape nos deu as costas e saiu de perto de nós. Ron tirou uma das luvas e segurou o braço dela levemente, impedindo-a de ir atrás do professor.

– Não vale a pena, Mione... – o ruivo falou, a consolando – A gente vai dar um jeito.

– Como Ron? Não tem as máquinas aqui! – ela bufou, contrariada – Vai começar a acumular coisas no trabalho e aí a gente nã...

– Ei, relaxe... – ele a interrompeu, puxando-a para perto. Ron passou o braço pelos ombros dela – Ainda faltam três meses. Eu sei que você vai conseguir.

Hermione sorriu genuinamente com o elogio, praticamente derretida. Pelo visto eu estava correto em achar que estava rolando algo entre os dois. Assim que eles voltaram a perceber a minha presença ali, se afastaram um do outro, sem graça. A aula chegou ao fim e eu arrumei as minhas coisas, mais lento do que o habitual. Ron e Mione me esperavam, já prontos. Snape nos apressou, impaciente.

– Adiantem o lado. Eu estou com pressa e preciso trancar logo o laboratório – ele reclamou, sentado em sua cadeira.

Fiz sinal para os dois, indicando que eles seguissem sem mim. Ambos se olharam preocupados antes de concordar. Eles saíram da sala me deixando sozinho com Snape.

– Agora a gente vai resolver alguns assuntos... – eu disse, o encarando.

Snape levantou uma sobrancelha, contudo não pareceu se abalar muito. Peguei o livro que pertencera a minha mãe da mochila e andei até ele, jogando o objeto em cima da mesa.

– Onde isso estava todos esses anos? – indaguei. Me apoiei na superfície de madeira, decidido.

– Por que eu deveria saber? – ele rebateu, moderado.

– Por quê?! – objetei, enraivecido – Porque isto apareceu no meu quarto do nada, com o número de telefone de uma empresa de investigação particular dentro. Isso é o bastante pra você?

– Deveria ser? – Snape cruzou os braços, antipático – Não faço a mínima ideia do que você está falando.

– Como sempre você não sabe de nada, não faz nada, não vê nada! – bradei, colérico – Desista Snape. Eu já passei dessa fase de acreditar que você é a marionete desse jogo.

– Primeiro, abaixe esse tom de voz pra falar comigo, Potter. Eu não sou a sua namoradinha – pelo visto até ele já soubera o que acontecera no ginásio, no domingo – Segundo, eu não sou a marionete desse jogo, você que é. Sempre foi e sempre será. Principalmente enquanto insistir nessa ideia estúpida de descobrir a verdade.

– Você podia facilitar as coisas e me contar o que esconde.

– Eu já te disse que eu não estou escondendo nada. E quer saber? Ainda que eu tivesse conhecimento de algo, não te diria.

– Então como isso veio parar nas minhas coisas? – apontei para o livro, enfático – Por que eu nunca soube da existência desse presente?

– Você nunca soube da existência de muita coisa na vida dos seus pais, Potter... – Snape levantou da cadeira e pegou a maleta rapidamente – Agora se me permite, eu tenho mais o que fazer. Boa tarde.

Ele se afastou de mim rapidamente e andou em direção à porta. Antes de ir embora, Snape pôs o molho de chave em cima da última bancada.

– Seja útil pelo menos uma vez na vida e entregue a chave na coordenação – ele saiu, batendo a porta.

Juntei o resto dos meus materiais e me retirei logo em seguida.

Na quinta-feira, Angelina chegou à aula com uma cara estranha. Ela se mostrou distraída durante toda a explicação de McGonagall, o que não era tão comum. Ainda que Angel brincasse maior parte do tempo, ela era uma aluna bastante aplicada. Para facilitar a execução da atividade que havia sido passada, nos dividimos em duas duplas. Neville começou a trabalhar com as características gerais da molécula em questão, e, Angel e eu ficamos responsáveis pela parte da descrição dos processos metabólicos. Ela já iniciou a atividade errando a primeira pergunta do roteiro.

– É catabolismo, Angel – eu apontei o erro – Você colocou anabolismo.

– Ih, verdade... – ela passou a mão na testa, cansada – Eu vejo isso todo dia e ainda erro a resposta.

– Tá tranquilo... – eu disse, sereno – Aconteceu alguma coisa? Você não tá com uma cara muito boa não...

– Nada de excepcional. Eu só estou pensando sobre uma parada aí que aconteceu hoje de manhã.

Franzi a testa, sem entender. Arrisquei um palpite.

– Algo lá do laboratório...? – algo sobre a Ginny?

Perguntei como quem não queria nada. Angelina virou o rosto na minha direção e levantou uma sobrancelha.

– Sim – ela respondeu, me encarando – E não.

– Hmm... – que estranho...

– Porque você não cria logo coragem e pergunta sobre a Gin? – ela pôs um olho na lente do microscópio.

Eu sorri.

– Estou tentando manter o meu orgulho e dignidade – repliquei enquanto fazia algumas anotações.

– Ah... – ela se afastou do aparelho e arrastou o banco, cedendo espaço para que eu observasse no lugar dela – Se eu fosse você não faria isso, Harry.

– Por quê? – questionei interessado, ao mesmo tempo em que analisava a molécula.

– Porque quando eu saí da SeMz hoje, a Ginny estava indo direto pra sala do Malfoy. Por livre e espontânea vontade.

Me afastei do microscópio assim que ela terminou de falar. Angel pôs a mão na boca, contendo uma risada alta.

– Você tá de sacanagem comigo, né? – isso não podia ser verdade.

– Antes fosse... – Angelina rabiscou o topo da folha de papel a sua frente – Eu também fiquei sem entender nada na hora.

– O que ela foi fazer lá?

– Teoricamente entregar um requerimento.

     Teoricamente...

Angel queria me enlouquecer, apenas isso, porque não havia outra explicação além dessa para ela estar me dizendo aquelas informações. Ron e Neville prenderam o riso do meu lado. Os dois caras de pau estavam escutando a conversa sem nenhuma cerimônia.

– A Ginny não veio pra cá com você? – perguntei, já sem fazer a mínima questão de esconder a minha indignação.

– Não, não... – Angelina continuou narrando a história, despretensiosa – Inclusive ela mandou que eu saísse na frente, que ela viria pra faculdade depois.

– Ela fez o quê?! – subitamente o meu couro cabeludo começou a coçar.

– Isso aí que eu te disse. Segundo ela, estava sem pressa e não tinha nada pra fazer.

Bati na mesa com os nós dos dedos, nervoso. A dupla de palhaços do meu lado soltou uma gargalhada. McGonagall olhou para nós, de cara feia, e pediu silêncio com a mão.

– Acho que ela não voltou ainda, por sinal – Angel sussurrou, olhando no relógio – Mas você sabe que aqueles dois têm é assunto pra resolver, então nem comento...

Um bolo indigesto desceu pela minha garganta. Neville pôs uma mão no meu ombro.

– Você tá vermelho, cara... – ele disse, zombeteiro – Quer uma água?

– Com açúcar, de preferência? – Ron completou, no mesmo tom.

– Vão se foder vocês dois – repliquei, irritado.

– Fica calmo, Pottinho – como eu odeio esses três – Não precisa entrar em pânico.

Para a minha sorte, antes que eu explodisse a professora finalizou a aula. Eu me despedi do pessoal e parti de volta para casa. Antes de virar a esquina do meu condomínio, resolvi estender a viagem e segui direto para Melisse. Tomar um café iria me ajudar a pensar e a abstrair determinadas teorias que estavam se criando na minha mente. Assim que entrei no estabelecimento, fui recepcionado por uma mulher de cabelos curtos e sorriso bondoso, que me guiou até os fundos do café. Logo depois ela se afastou com o meu pedido.

     O que você vai fazer agora, Harry...?

Boa pergunta.

No fundo Ron estava certo, eu não podia continuar com toda aquela situação indefinida. Eu estava com Ginny há mais de um ano, somente com ela e não pretendia mudar essa circunstância. Mesmo com as nossas brigas, todas pelo mesmo motivo, ela nunca saíra do meu lado. Ginny nunca mudara de atitude ou sua forma de tratamento. Ela nunca deixara de ser carinhosa, atenciosa, de se preocupar comigo. Eu tinha tanto medo de que um dia ela sumisse da minha vida que acabei não percebendo que eu mesmo estava providenciando isso sozinho. Só de pensar na possibilidade dela voltar a se relacionar com Draco, meu estômago já dava um nó involuntário.

– Mocchiatto, mesa oito?

Levantei a cabeça, reconhecendo a voz. Uma mulher conhecida, de longos cabelos negros e ondulados, apareceu na minha frente segurando uma bandeja.

– Mylie? – eu sorri para ela, que retribuiu animada – Não sabia que você estava trabalhando por aqui...

– Eu comecei por agora. Não tem nem um mês – Mylie olhou para os lados, antes de sentar no sofazinho a minha frente – Meu pai me contou que você estava morando no prédio que ele trabalha, só que eu nem imaginei que você frequentasse esse café.

– Porque não?

– Sei lá, você não tem cara de que gosta de lugares assim.

– Eu acho bem agradável, pra falar a verdade. Eu vim aqui uma vez, com a Cho – expliquei, bebericando o meu mocchiatto.

– Ah sim – ela sorriu mais uma vez, graciosa – A Cho aparece por aqui quase todos os dias. Às vezes ela para pra conversar comigo, mas geralmente ela só pede uma mocha ou um expresso e sai.

Balancei a cabeça, concordando.

– Mas e aí? Tá gostando de trabalhar aqui? – perguntei, iniciando um diálogo educado.

– Bom, como eu pego o turno a tarde, então é mais vazio. Não passo por muitos perrengues – Mylie falou, brincando com o porta-guardanapos – Dá até pra estudar tranquilamente lá nos fundos, a dona Batilda nem implica muito.

– Que bom, né? – eu comentei – Por isso que eu nunca mais te vi lá na faculdade. Estamos em turnos opostos.

– Saudade de pegar aula com os veteranos... – ela brincou, fazendo uma carinha boba. Acabei rindo com as suas expressões.

– Você já não é mais caloura desde o semestre passado.

– Eu gosto de ser mimada como tal – Mylie piscou um dos olhos pra mim, divertida.

– Sorte a sua – eu disse, misturando a minha bebida displicentemente com a colher disposta.

Olhei pela janela lateral sem muita empolgação, analisando o movimento dos carros.

– Deve ser... – a ouvi concordar um tempo depois. Mylie se apoiou na mesa e me encarou antes de continuar – O que houve, Harry?

– Tá tão na cara assim é?

– Olha, você sempre foi uma pessoa reservada, então não é tão fácil ler o que se passa na sua mente... – ela admitiu, ainda me fitando – Mas hoje o seu semblante tá atipicamente confuso.

– Atipicamente confuso...? – indaguei, rindo.

– Atipicamente confuso – ela manteve a sua descrição.

Mylie sempre fora espirituosa.

– Eu tô com uns problemas com algumas escolhas... – eu disse, olhando para o teto.

– É com drogas? – a mulher perguntou rapidamente – Ou com algum outro tipo de substâncias ilegais?

– Não! – me apressei a responder, assustado com a sua imaginação.

– Ah, então é doença?!

– Também não! De onde você tirou isso?!

– Do meu conceito de “problemas” – Mylie recolheu a minha xícara vazia – Se o assunto não é capaz de me matar ou me ferir gravemente, como as opções que eu te dei, não é um problema. É um conflito.

– E isso muda em quê? – levantei as sobrancelhas, descrente.

– Muda que conflito a gente pode resolver de três jeitos – ela se preparou para levantar do assento – Com uma conversa séria, com uma dose de álcool, ou, com uma foda bem dada.

Soltei uma gargalhada automaticamente. Alguns clientes olharam na nossa direção, curiosos.

– E se eu quiser juntar as três maneiras? – questionei, ainda rindo.

– Essa é a melhor opção, eu acho...

Batilda havia saído da cozinha e supervisionava o movimento. Mylie começou a se afastar de mim rapidamente. Ela acenou, encantadoramente, se despedindo e correu para atender um casal que acabara de chegar. Sorri mais uma vez, pensando no que a mulher me dissera.

     E não é que ela tá certa...

Balancei a cabeça, divertido, antes de levantar e passar no caixa. Paguei o mocchiatto e segui de volta para o carro. Atravessei a porta do café e andei até o meu carro, que estava estacionado do outro lado da rua. Assim que entrei no veículo, o celular que estava no meu bolso começou a vibrar. Dei uma olhada na tela e percebi que era uma ligação de número desconhecido. Pensei em não atender, mas algo em mim me guiou a fazer o contrário. Deslizei o dedo pelo símbolo que pulsava verde e pus o aparelho no ouvido.

– Alô? – indaguei, como manda o protocolo.

– Harry Potter... – a voz de quem eu tanto procurei nos últimos dias se identificou do outro lado da linha.

– Mad... – comentei, absorvendo toda a questão.

– Serei breve, Potter. Você ainda tá interessado no serviço?

– Lógico que estou! – falei afobado.

Ouvi ele sorrir anasalado.

– Pois me escute bem. Eu irei fazê-lo, mas você seguirá todas as minhas instruções – Mad decretou, decidido – A primeira é não me procurar. Eu sei como fazer o meu trabalho. Assim que eu tiver as informações em mãos, eu irei atrás de você. Salve esse número, vou me comunicar com você por aqui.

– Certo – concordei, sem nenhuma objeção.

– A segunda é que eu não tenho prazo de entrega. O que você me pediu é uma informação complicada de se encontrar.

– Me disseram que você era o melhor da agência...

– E sou – ele respondeu, convencido – Por isso mesmo acredito que pressa é inimiga da informação verdadeira.

– Vou esperar... – aceitei mais uma vez.

– Ótimo... – Mad pigarreou antes e continuar – A terceira e não menos importante recomendação é que você obedeça toda e qualquer instrução que eu te der. Se eu souber que você foi de encontro as minhas ordens, eu sumo e te deixo sem nenhuma pista.

– Obedecerei, fique tranquilo – eu garanti. Não era do meu interesse que ele sumisse de uma hora para outra.

– Então estamos acertados, Potter – ele concluiu, satisfeito – Te vejo em breve.

O homem estava pronto para desligar o telefone, até que eu o chamei de súbito.

– Mad?

– Diga logo, Potter. Meu tempo custa muito caro.

– O que te fez mudar de ideia?

A linha ficou muda por alguns instante. Por um momento eu achei que ele havia me deixado sozinho.

– A verdade... – Mad enfim respondeu – Todo mundo merece saber a verdade.

E a ligação foi encerrada logo depois. Liguei o carro e percorri os poucos metros até o meu condomínio. Assim que a guarita abriu, eu estacionei nas primeiras vagas. Estiquei o meu braço para pegar a minha mochila no banco dos fundos e acabei reparando em algo que eu havia jogado displicentemente por ali, na tarde anterior. Peguei o livro que pertencera a minha mãe com delicadeza e o trouxe até o meu colo. Permaneci olhando para o exemplar e pensando em tudo o que o Snape me dissera.

     “Você nunca soube da existência de muita coisa na vida dos seus pais, Potter”.

Sim, eu nunca soube.

Porém agora tudo indicava que, em breve, essa realidade não seria mais a mesma.

 


Notas Finais


Então, meus amores. O que vocês acharam do capítulo?
Deixem aqui embaixo os lindos comentários de vocês.

Beijos, até sábado!


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