Point of view Eadlyn
Acordei na minha cama enrolada na minha coberta velha. Me virei para o lado para ver Kile e a cama deu um estralo.
- Desculpa, mas eu acho que nós quebramos ela ontem de noite - Ele disse enquanto subia a cueca.
Respirei fundo.
- Mais uma...
- Quais são seus planos pra hoje, baby? - perguntou voltando pra cama e me olhando mais de perto. Empurrei ele e virei de barriga pra cima, cobrindo os seios com o cobertor.
- Com certeza não envolvem você.
Ele riu.
- Você disse que ia colocar a aliança, ontem.
- Olha, Kile...Presta atenção: você não pode me levar ao orgasmo, me fazer prometer coisas e me cobrar no outro dia. Ainda estou magoada com você por não ter feito nada naquele dia então nao, não vou fazer isso.
Ele fechou a cara e se levantou, logo foi atrás das roupas dele no chão.
- Já vi que não vai dá pra conversar com você hoje.
- Nem hoje nem nunca. Enquanto você não acreditar em mim, eu não vou colocar aliança. Eu nem devia ter entrado naquele carro com você e nem ter trazido você pra cá!
- Eadlyn você não pode exigir isso de mim.
- Do mesmo jeito que eu não posso ficar com quem não confia em mim.
O celular dele tocou e ele bufou, olhou pra mim e atendeu.
- Oi?... Que? Ah. Bom, eu não sei...
Ele saiu do quarto e foi conversando pela casa. Me levantei, vesti uma camisola qualquer e fui atrás dele.
- Não podemos. Já disse que... Nao, não. Xau.
Destranquei a porta e mesmo louca para saber com quem ele estava falando, eu fiquei esperando ele sair.
- Você está me expulsando?
- Tenho compromisso hoje.
- Quê?
- Isso mesmo que você ouviu. A noite foi boa, mas acabou. Se você não confia em mim, também não confio em você e não gosto que pessoas que não são da minha confiança fiquem na minha casa. Já pode ir embora.
Ele ficou me olhando boquiaberto.
- Fecha a porta quando sair.
Avisei indo no quarto, pegando a toalha e indo para o banheiro. Ele não tem o direito de me usar assim. E eu não devia ter sido tão boba.
É tão desmotivador ter um mês de namoro e já ter tantas brigas. Kile podia ser um cara comum, desses que moram em um apartamento normal, tem um emprego normal e uma família normal. Eu deveria ser normal também.
Mas a gente é tão diferente.
Sai do banho, vesti um pijama e fui fazer uma comida pra mim. Fiquei a tarde toda curtindo preguiça no sofá e aquela foi a primeira vez em dias que eu tive paz.
Mas eu não queria ter paz.
Eu queria ficar com ele, queria passear, ir pra faculdade, encontrar Celeste e Eikko com seu bom humor, queria tirar fotos, queria... queria tanta coisa.
Ouvio barulho de um celular tocando e olhei para a bancada da cozinha. Não era o meu. O celular dele estava tremendo lá em cima. Me levantei e fui pegar.
No visor estava escrito: Nathalie.
A foto era de uma garota loira dos olhos azuis saltitantes. Ela era realmente linda, e meu corpo todo tremeu de ciúmes.
Sem pensar duas vezes eu atendi.
- Oi, Kile. Eu queria dizer que... me desculpa por anteontem. Eu não devia ter te forçado a fazer aquilo comigo. Eu só não consigo parar de pensar em você, tudo o que a gente teve foi tão lindo! Eu sei que ai dentro você ainda sente alguma coisa, nós dois sabemos disso. E eu pensei bem, nós devemos nos dar outra chance... Kile? Você está aí?
Desliguei o celular na cara dela e respirei fundo perdendo o controle.
Toda a história que a Kriss contou me veio a cabeça e eu senti vontade de chorar de raiva pensando no pior.
Anteontem.
Então ele estava com outra quando sumiu? Quando me deixou desolada e sozinha. Ele estava com ela?
Ele estava me traindo?
Me desesperei pensando na possibilidade.
Coloquei minha saia jeans, uma regata branca e calcei um tênis marsala. Não sei o que seria de mim sem as roupas que a Kriss arranjou com a garota rica. Passei um rímel, deixei meu cabelo molhado e peguei minhas coisas.
O metrô estava vazio, uma melancolia combinada com a música que eu estava ouvindo: won't give up.
Passei o resto do final de semana deitada tentando esquecer toda a história e a conversa daquela menina. Mas eu estava ficando paranóica, não conseguia pensar em nada além daquilo. Eu desliguei o celular dele para não correr o risco de receber ligações indesejadas.
Fui pra sala, tínhamos trabalho prático para fazer: Desenhar, moldar, costurar e apresentar para a turma depois um modelo criado por nós mesmos.
Hale e outras pessoas que estavam no meu grupo ficaram me paparicando falando sobre o evento de sábado e querendo saber de todos os detalhes enquanto eu desenhava o vestido azul que América estava usando com alguns detalhes diferentes para ser nosso modelo.
Contei pra eles o máximo que eu me lembrava daquela noite inesquecível.
Quando perguntaram sobre meu namoro, acho que eu fiz uma cara horrível de choro porque Hale me levou para o canto na mesma hora.
- Ihhh, docinho, vem cá. Para tudo. Vocês ainda estão... brigados? Ou vocês... ah meu Deus - Ele me abraçou e eu me segurei para não cair no choro.
- É a primeira vez que me relaciono com alguém de verdade, não só como namoro mas também como amizade... E tá tudo dando muito errado! Eu não tenho experiência com nada disso, ele é meu primeiro tudo e ultimamente... Não sei, só estou com medo. Parece besteira pra você, porque você tem experiência talvez, você tem conhecimento sobre essas coisas... eu não. Sou inseugura demais e as circunstâncias não colaboram.
- Ei, não parece besteira pra mim. Parece normal, qualquer um fica nervoso com suas primeiras vezes. Se ele for o cara certo pra você, com certeza vocês vão se ajeitar. Se não for, você vai ganhar experiência. É assim que a vida funciona. E para de chorar se não eu vou chorar tambem.
- Obrigada, Hal - apertei ele nos meus braços.
Fui comprar alguma coisa pra comer na hora do intervalo. O caminho todo, as pessoas estavam me encarando, ignorei.
Eu sabia que tinham fotos minhas em revistas, sites e redes sociais, que quase todos ali provavelmente haviam me visto como alguém que eu não sou. E no momento eu só queria sumir, ser invisível como eu sempre fui. Voltar no tempo.
- Eadlyn? - olhei pra cima e vi Eikko - Está tudo bem?
- Você pode fazer um favor pra mim? - pedi desesperada e ele concordou - Se você ver o Kile por aí, entrega isso aqui pra ele - tirei o celular do bolso e entreguei pra ele - Ah... E... e isso também - peguei a aliança no outro bolso, a qual eu usei um mês e entreguei pra ele.
Eikko ficou parado encarando o anel. Ele estava insexpressivo.
- Eadlyn, não posso fazer isso.
- Por favor! Eikko eu estou te implorando. Só entrega isso pra ele. Tá?
- Mas Eadlyn...
- Eikko por favor!
- Tudo bem... Mas, eu não tenho nada a ver com vocês dois, só pra deixar bem claro. So estou te fazendo um favor.
- Obrigada, Eikko.
- Eu sei que eu não tenho nada a ver com isso, mas você tem certeza?
Concordei com a cabeça.
- So entrega pra ele, se ele disser alguma coisa, apenas finja que não é com você. Desculpa estar te envolvendo nisso, é só que eu não tenho coragem suficiente pra ir eu mesma.
- Tudo bem - ele apertou apertou minha mão e eu olhei nos olhos verdes dele que me passavam paz e confiança - A gente se vê hoje de noite? Ou você prefere cancelar?
- Não, não. Eu posso. Eu vou. Eu vou ficar bem, eu só... preciso ir terminar meu trabalho e...até de noite.
Dei as costas e saí andando sem rumo pelo campus.
Não sei o que me passou pela cabeça quando entreguei minha aliança para Eikko e pedi que ele entregasse para Kile, mas eu já fiz, já esta feito, não tem volta. Estou magoada, dilacerada, triste, decepcionada, desiludida e arrasada.
Não consigo acreditar que aquele garoto perfeito que conseguiu ver em mim alguma coisa, simplesmente não existe. Não acredito que me apaixonei e que já estou me desiludindo.
Alguma coisa está errada, e se não é com ele, é comigo e com todo o resto. Não consigo acreditar que está acontecendo.
- Ele já te trocou, foi? - abri os olhos e vi Josie fingir uma péssima cara de sofrimento.
- Você conseguiu o que você queria, Josie. Toda a sua família me odeia. E ele é todo seu. Agora me deixa em paz.
- Você aprendeu a lição, queridinha da Celeste? Como você conseguiu um papel tão importante? Hmmm, já sei! Começa com E e termina com IKKO!
Fiquei olhando pra cara dela que estava se divertindo sozinha.
- Você pode se fazer de coitada pra quem quiser, mas eu sei muito bem, Eadlyn, que você não presta! E eu vou fazer o que eu puder pra acabar com os seus planos!
Nem dei bola pra ela.
- Ja acabou?
Ela fechou a cara, insatisfeita por eu não entrar no jogo dela e então saiu bufando.
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