História A Hunter - Capítulo 4

- Eu não posso sair agora, Percy! - Richard estava com suas roupas de trabalho – Seu querido meio-irmão precisa dos cavalos limpos à primeira luz do dia.

- Dane-se Tritão, ele só quer impressionar a Senhorita Chase! - com roupa de caça, Perseu só precisava convencer o amigo para irem logo.

- Espere um pouco aí. Daqui a pouco eu termino.

- Qual é, você havia combinado comigo que iriamos ainda escuro. - impaciente, começou a ajudar o amigo – E outra, Tritão vai aparecer aqui lá pela metade da manhã, ele nunca acorda cedo.

- O que deu em você? Você não gosta de caçar, Perseu.

- EU? Eu amo caçar. Principalmente antes de clarear o dia. - jogou a água do balde em cima do cavalo. - Veja, está bem limpo, vamos?

- Definitivamente algo está errado. - pegou a escova e passou no corcel com cuidado – O que você fez?

- Na verdade, é mais o que eu não fiz.

Tirando o peitoral e a cota de malha para não sujá-los, Perseu pôs-se ajudar realmente o amigo. Os dois cavalos separados eram ambos marrons, de crina e patas pretas, uns dos mais bem cuidados do pai. O amigo o encarou, esperando uma explicação melhor.

- Digamos que Tritão tenha estabelecido que eu não deveria estar aqui durante seus dias sagrados, e bem, eu não estou cumprindo isso de acordo.

Os primeiros rajados de alaranjado começavam a rasgar o céu enquanto eles começavam o trabalho. Alguns empregados começava a levantar para os afazeres na fortaleza e a vila despertava junto.

- Desde quando você obedece Tritão? - perguntou Richard sem tirar os olhos do animal, evitando demorar muito mais do que estava levando.

- Desde que ele me ameaçou. Tritão pode não ser tão forte, mas ele tem uns bons capachos.

Perseu passou a escova mais forte nos cascos dos animais, já finalizando e jogando água. Encarou Richard com uma cara de “fazer o que?”. Alguns passos se aproximaram, pisando delicadamente no local. Perseu resetou o corpo, se fosse Tritão, estaria em apuros.

- Rapazes, vocês viram o seu senhor? Tritão Ollimpus? - uma voz feminina invadiu toda a atmosfera.

Ok, é pior do que Tritão. Perseu olhou para Richard, que estava mais próximo, em uma clara cara de “me ajuda nisso, por favor”. Richard entendeu a mensagem, e se levantou.

-Srta. Chase – ele fez uma reverência longa – O senhor Tritão ainda não desceu para lhe aguardar.

Ela se mexeu no lugar, ajeitando a roupa e sorrindo para Richard. Estava trajada com roupas de montaria, mas isso em nenhum momento retirava a beleza natural da moça. Perseu permaneceu onde estava, rezando que Tritão não chegasse.

- Não se importem com minha presença. - ela deu poucos passos para o lado, para não sujar os sapatos com a água. -Por favor, continuem seu trabalho.

Aproveitando que a moça havia se afastado, Percy se levantou, colocando o balde nos arames de ferramentas. Seus pertences estavam perto dela, mas Annabeth Chase não o conhecia, poderia passar despercebido, se tivesse sorte.

- Richard, tenho que pegar as reservas para a caça. Pode terminar? - chamou o amigo que já havia voltado ao trabalho.

- Não Percy, pode ficar tranquilo, eu mesmo termino, já estou no fim! - Richard respondeu sem levantar os olhos do que estava fazendo.

Foi buscar rapidamente suas coisas ao lado, fazendo uma reverência em sua frente. Pôde ver como Tritão era sortudo, a moça era muito bonita. Tinha cabelos loiros, características marcantes do povo ao leste, e os olhos, como o céu, prestes a desabar em chuva. Perseu permitiu-se olhá-la rapidamente, pois não era para seu tipo de nascimento. Ela devolveu com um leve sorriso, e o rapaz sentiu que poderia encará-lo durante todo o dia. Esqueceu-se até mesmo das ameaças de Tritão.

- Chama-se Percy? - ela puxou assunto e o Jackson se amaldiçoou por não ter saído já.

- Me chamo Perseu, srta. Chase – respondeu, enquanto mexia desconfortavelmente com os cintos da roupa. - Mas os mais próximos me chamam por Percy.

- Já ouvi seu nome! – ela falou mais consigo, tentando lembrar algo – É irmão de Tritão, não é? O filho primogênito de Lorde Poseidon.

Perseu sorriu, disfarçando o nervosismo. Assentiu rapidamente enquanto pegava os itens ao chão.

- Sim, só não deixe que Tritão ouça isso. Ele já não gosta de ser lembrado como meu irmão, imagina se “descobre” que sou também filho primogênito.

A garota disfarçou o sorriso, enquanto olhava em volta, a procura de algum sinal do pretendente, mas ele se mostrava mais irresponsável a cada segundo. Sobre Perseu, havia sentido certa empatia com garoto, e nem precisou ouvir o nome para suspeitar seu parentesco com Lorde Ollimpus. Tudo nele indicava qual sangue corria nas veias. Antes que ela pudesse puxar assunto com ele, ele fez uma nova reverência.

- Me desculpe, senhorita, mas não posso adiar mais meu compromisso. - Annabeth assentiu, vendo-o se afastar.

~

A porta foi escancarada, batendo em um escudo que estava encostado na soleira da janela. O barulho foi suficiente para indicar que Perseu estava chegando. Depois de alguns segundos, – provavelmente ele arrumando sua bagunça – apareceu com o rosto na cortina que separava a entrada do local de trabalho dos Klints.

- Kirah!

- Diga, Percy! - ela respondeu sem levantar o rosto da mesa de trabalho.

A sala estava em uma desordem que Perseu já estava acostumado. O cheiro de metal batido e brasas sendo queimadas eram sempre presente, e aquilo trazia uma paz muito grande ao menino. Tudo o lembrava toda sua infância correndo ao redor de John com os amigos, ouvindo ordens de cuidado. Sorriu involuntariamente com a memória.

- Me diga que já tem as coisas separadas. - ele olhou ao redor procurando pelo mais velhos dos Klints. - Onde está John?

Ela indicou com a mão livre o arco do irmão, um saco de suprimentos e Valente, sua espada de estimação. John entrou pela porta dos fundos, carregando algumas armaduras para polir, respondendo sua pergunta. Ele carregava mais do que deveria para sua idade, mesmo sendo forte como um touro.

- Me ajude aqui, Percy! - ele chamou quando notou que a filha não estava sozinha.

O moreno correu até a porta, pegando metade do que ele carregava. Depositaram tudo em cima da bancada, analisando todo o trabalho que John teria pela frente. Dando dois tapinhas em Percy, ele agradeceu.

- Estou mais velho do que pensava! – Ele ajeitou a coluna – E você, senhorita Kirah, sua mãe está para perder os cabelos. Se não aparecer lá antes do almoço, é provável dela parir um novo Klint.

- Ela nem precisa me aguardar lá hoje, papai. - a menina finalmente se levantou do banco, e afastou do que quer que fosse aquilo que estivesse montando.

- Culpado! - Percy levantou as duas mãos em rendimento – Kirah e Richie combinaram de ir caçar comigo.

- Você, caçando? - John perguntou retoricamente, assim como os dois filhos ele os chamou – Tudo bem. Mas passem por lá para avisar. Não quero ter que me resolver com Lyanna.

Com uma despedida, os dois saíram do pequeno cômodo, e foram encontrar com Richard, que aguardava na saída leste. Não era apenas por afastar de Tritão que Perseu havia aceitado a caça. Ouvira rumores durante a noite anterior. Uma mulher fora atacada e encontrada com o corpo todo seco. Tudo indicava que eram pagões e seus rituais selvagens, mas ainda sim, não era algo comum para a região.

Se tivessem disposição, poderiam encontrar pistas, já que o acontecimento fora a pouco. Além do mais, sempre ouvira boatos sussurrados pelo castelo, sobre quem era sua mãe, vez ou outra pegara alguém falando sobre ter sangue pagão. Questionara diversas vezes os mais velhos de casa sobre sua história, e como ninguém quis falar, decidiu que teria que procurar ele mesmo.