História A Luz da Espada - Uma Fogueira e Quatro Lugares.

Isaac avistou uma luz bruxuleante laranja a vários metros de distância em meio à floresta. O garoto achou muito parecido com a luz de uma fogueira vista de longe. Julie havia colocado o elmo e andava cada vez mais rápido, ainda mais depois de avistar a luz laranja. Os pensamentos e questionamentos de Isaac quase quebravam o silêncio. Como poderia ela ter alguma relação com a mão que vira no portal? Ela acreditara na sua história ou tinha achado que ele era louco, levando-o para um lugar indefinido? Como ele poderia saber? Decidiu questionar.
      ------- Você realmente acreditou na minha história? 
     ------- Você acha que é o primeiro a vir pra cá desse jeito? Sim, eu acredito na história... Eu mesmo vejo esse fenômeno pela primeira vez, apesar de sempre ter ouvido falar sobre os viajantes que se tornaram os maiores cavaleiros que essas terras já viram.
     ------- Então... por que toda essa pressa ?----- Isaac estava perplexo...Outros viajantes?
     -------  Isso só acontece quando algo muito importante está para acontecer no seu mundo.----- A cavaleira falava com pressa, pois estavam se aproximando da luz, que definitivamente era uma fogueira----- Em troca, ganhamos excelentes cavaleiros. 
     ------ Vocês por acaso sabem quem está por trás disso ?----- Perguntou o garoto, que quase corria pra acompanhar Julie. 
     ------ Ninguém sabe... 
   Eram muitas as coisas que giravam na mente de Isaac. Cavaleiros viajantes. Uma suposta mudança. Era muita coisa. E ainda tinha a questão sobre ele voltar para o seu tempo ou ''mundo''. Tinha de reencontrar seu avô, sua vida! Se bem que, pensando bem, a única coisa que o prendia em sua ''época'' era Henry... Nada mais despertava seus sentimentos e imaginações no lugar de onde viera. Apesar de ser popular na escola, de ser inteligente, cada vez mais aquela situação toda ia perdendo a graça. O que seria o futuro? Somente aquilo que lhe disseram para fazer? Somente estudar e trabalhar visando ganhar dinheiro? E onde estava o sentimento daquilo? Onde estava a chave para aquelas correntes que o prenderiam por anos? Os poucos que acharam-na eram chamados de loucos... Era assim que Isaac pensava. Todos os dias, aquela mesma rotina e imposição de deveres supostamente morais e corretos perante à sociedade. Agora finalmente achara algo diferente... Algo para provocar-lhe as mais diversas emoções. Sentia que finalmente fora dada a chance para que ele executasse fielmente os valores nos quais acreditava sem que saísse prejudicado de alguma forma.
    A medida que chegavam, era possível discernir quatro figuras sentadas ao redor da fogueira. Julie pediu para que ele ficasse quieto enquanto ela falava. Todos estavam sem seus capacetes metálicos que reluziam ao lado ou no colo de cada um. Apenas um deles falava e parecia ser o mais destacado pela luz das chamas. Tinha um cabelo bem curto, uma expressão séria e um olhar que parecia desconfiar de tudo e de todos. Sua armadura era ainda mais robusta que a de Julie, de um metal que refletia a imagem do fogo. O homem carregava duas espadas, soltas ao lado dele na neve. Os outros três comiam o que pareciam ser pães e prestavam atenção às palavras do homem de cabelo curto. Suas armaduras eram semelhantes à de Julie, com panos e cintos de couro, ombreiras robustas e metal refletindo o fogo. Estes não carregavam arcos e tinham o mesmo tipo de capa, com a pele de animal cobrindo os ombros e o dorso. Estavam sentados em tocos de madeira ou grandes pedras e um deles, que parecia mais velho que os outros, tacava pedrinhas ao fogo enquanto ouvia o homem falar. De repente, a cavaleira parou antes que a luz do fogo os revelasse e estendeu o braço para que Isaac fizesse o mesmo.
      ------- Não é possível que não me perceberam. ------ Disse ela, sussurrando------ Será que estão tão enferrujados assim?
      ------- Vamos garota ! Estamos te esperando!----- Disse o homem de cabelo curto, que antes dirigia a palavra aos companheiros. O coração de Isaac falhou. 
      -------Como eu pensei. Esses caras nunca baixam a guarda.------ Replicou Julie, indo em direção aos homens, que se levantaram e colocaram seus capacetes brilhantes, com exceção do de cabelo curto. 
     Julie adentrou a área da fogueira acompanhada de Isaac, encapuzado. Todos olharam para ele enquanto cumprimentavam a cavaleira. O homem de cabelo curto se levantou, deu alguns passos e ficou de frente para Isaac. O homem devia ter pelo menos 1,90 de altura. Seu rosto era coberto por sombras -por estar de costas para a fogueira- e seus olhos quase emitiam um brilho místico. Era como se ele pudesse enxergar a índole e todos os erros do garoto. Manteve-se um silêncio tenso durante alguns segundos, até que o homem virou o rosto para Julie. Não era necessário que ele dissesse coisa alguma, pois sua expressão transparecia a palavra ''explique''. E assim Julie fez: 
        ------- Ele é um viajante, senhor.----- Nesse momento, todos pareceram levar um susto, e viraram-se para olhar o garoto.----- Eu o resgatei na floresta, quase sendo morto por um lobo-gigante. 
         ------- Mesmo?----- Disse o homem de cabelo curto, tornando a olhar para Isaac.------ Um viajante normalmente seria mais forte.
         ------- Dê um desconto ao garoto, Odranoel ----- Disse um dos homens, se referindo ao alto rapaz.------Era um lobo-gigante. 
   Odranoel ficou em silêncio, baixou a cabeça, colocou as mãos fechadas na cintura e suspirou. Isaac não sabia como reagir. Apenas se manteve em silêncio, tentando imaginar o que fariam com ele em seguida. 
         -------- Julie --- Continuou Odranoel --- Trouxe as flores da senhorita Helena?
  Julie confirmou com a cabeça, em seguida Odranoel pegou seu grande elmo no lugar onde estava sentado, o colocou e disse as seguintes palavras: 
        -------- Vamos garoto. Você não imagina pelo que vai passar a partir de agora. Por isso, precisa treinar. E nós, do reino de Lunares, somos responsáveis por isso.