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História A Maldição do Escritor - Lágrimas


Escrita por: BellaAlts

Notas do Autor


Seguidinho.

Capítulo 9 - Lágrimas


Fanfic / Fanfiction A Maldição do Escritor - Lágrimas

Chegamos a Áustria.

O lugar conseguia ser ainda mais bonito que a Itália. A temperatura era mais baixa e me lembrava minha terra natal.

As casas eram lindas, feitas em branco e madeira não pintada, construídas para aguentarem o inverno. As pessoas eram mais fechadas, eu acho. Os mercadores eram mais educados e, apesar de não serem tão persistentes, eram tão bons quanto os italianos nas técnicas de venda. Mas confesso que sentia falta da energia eletrizante da Itália.

Mesmo assim, algo me parecia muito familiar e reconfortante. Ou alguém. Claro que era legal ter Hiroshi no grupo. Era bom ter alguém que eu conhecesse, mas a verdade era que ele não me conhecia. Eu podia saber tudo sobre aquele gordinho travesso, mas tudo que ele via em mim era a menina bonita, na visão dele, e sem profundidade com que ele passou a infância.

A verdade é que Sebastian encontrara meu livro recentemente. Foi a primeira vez que me senti confortável para dizer a alguém o que eu era. No começo, ele pareceu assustado, mas agiu com compreensão. Ele me apoiou e prometeu não contar aos outros.

Era estranho o jeito que havíamos nos aproximado desde que saímos do território italiano. Ele parecia curioso sobre as histórias que eu já escrevera.

Acabou que o meu apelido pegou e eu acabei dando um para ele também. Bash. Eu, francamente, gostava muito mais.

Enfim, a questão era que eu esperava uma reação diferente ao contar a verdade. Bem diferente.

 

Quanto mais nos aproximávamos dos alpes, mais frio ficava. Não paramos para comprar roupas novas e agora eu enfrentava as consequências.

A roupa dos meninos era quente, mas eu só tinha as finas e flexíveis roupas pretas.

Meu queixo batia descontrolavelmente, mas eu não queria deixar os rapazes verem isso.

De repente, senti algo quente nas costas. Bash colocou sua capa em mim.

- Coloque isso de volta. Não estou com frio.

- Está sim.

Ele saiu de perto para acompanhar Francis, que estava um pouco atrás, antes que eu pudesse contestar ou agradecer. Confesso que agradeci em silêncio por isso.

- Então, Akame, meu saco de dormir tá meio vazio...

- Hiroshi...

- Por que não vem dividir comigo?

- Hiroshi...

- Akame, escuta. Eu te amo desde o primeiro momento que te vi! Você é linda e inteligente e...

- Para. – Eu o interrompi antes que pudesse terminar a declaração. – Hiroshi... eu te amo, de verdade. Mas...

- Mas?

- Não... desse jeito. – Seguro suas mãos. Camadas de luvas separam nossos toques e agradeci por isso. – Você é especial de verdade para mim, mas como um irmão. Beijar você seria tipo incesto.

- Tecnicamente, incesto não é tão errado assim...

- Hiroshi, você entendeu o que eu quis dizer. Você vai achar alguém que te ame tanto quanto você a ama, mas esse alguém não sou eu. Eu nem sei se um dia vou me permitir amar alguém assim.

- Vou considerar isso um talvez, Key.

Ele correu para trás para ficar com os outros meninos. Ele ficou amigo de Francis com uma rapidez absurda, mas senti que Bash as vezes olhava torto para o menino.

 

Achamos uma caverna e decidimos passar a noite. Francis parecia muito concentrado em algo e foi dormir mais cedo, sem falar com ninguém. Estranhei sua atitude, mas acreditei que o motivo fosse o cansaço de estarmos subindo os enormes e gelados alpes austríacos.

Com a noite, uma nevasca violenta começou a cair do lado de fora. O vento cantava quando passava com força, assoviando pelas passagens intrincadas das montanhas. Nem a fogueira conseguia afastar o frio aterrador.

Hiroshi grudou em mim, com medo dos uivos do vento e Bash ficou nos encarando do outro lado do fogo fraco. Decidi ir dormir também. O clima estava pesado e eu realmente não entendia o porquê.

Os sonhos vieram como uma lembrança do dia que se passou. Já nem valia mais a pena dormir. Não eram histórias novas e, sem a curiosidade, eu só tinha a dor. Vinha sendo assim desde a primeira vez que o foco do sonho era eu mesma.

 

Fui a segunda a acordar. Francis estava mexendo com um graveto nos restos da fogueira.

A nevasca havia parado, apesar de ainda estar congelante.

Sentei ao lado de Francis para refazer a fogueira.

- Você está meio esquisito... Geralmente é a única pessoa animada do grupo, mas desde ontem, anda meio cabisbaixo. O que houve?

- Eu sei porque Seb sempre muda de assunto quando tento falar sobre o fim da viagem.

- Então ele te contou sobre o exílio?

- Não, mas você acabou de contar.

Custei tempo para perceber que revelei o segredo de Bash. Fiquei sem palavras. Francis daria o rei mais astuto que a França jamais teria.

- O engraçado é que ele contou para você, uma completa estranha, no lugar de contar para mim, seu irmão que o acompanhou durante sua vida inteira.

Demorei um pouco para achar as palavras certas, mas quando o fiz, notei que não poderia ter escolhido melhor.

- Contar a você significaria aceitar o que aconteceu e encarar essa realidade cruel. Ele só não está pronto para isso. Contou para mim porque não farei parte da vida dele quando essa loucura acabar. Sou só um ouvido para ele desabafar.

Francis ficou pensativo. Acho que ele entendeu e começou a aceitar a situação.

 

Todos já haviam acordado. Hiroshi reclamava de ter os pés doendo, mas precisávamos seguir viagem, aproveitando que o vento e a nevasca pararam. Bash estava arrumando as coisas e Francis ainda parecia um pouco distante, apesar de menos chateado.

De repente, ouvimos um estrondo do lado de fora da caverna. O barulho mais parecia um rugido. Peguei minha Katana, na defensiva e Bash desembainhou sua fiel espada, ajudando Francis e Hiroshi a se esconder atrás de uma pedra escura.

O som ecoou novamente, mais perto, causando um arrepio na minha esinha. Eu só conseguia olhar para a entrada da caverna.

Vagarosamente, uma enorme besta com os pelos brancos entrou na câmara. Sua barriga e suas patas, que não eram cobertas pela grossa pelagem, pareciam um couro negro. Seus olhos vermelhos focaram em mim e depois em Bash. A saliva escorria pelos dentes afiados e mortais.

Notei que estava com fome. Pelo jeito, o café da manhã seríamos nós. Nosso cheiro provavelmente a atraiu, já que o frio congelante não dava condições de vida às presas.

O animal parou seu foco em mim e começou a correrem minha direção. As garras negras teriam me rasgado ao meio se Bash não tivesse pulado em minha frente e cortado a mão que o monstro ia usar para me fazer de espetinho.

O monstro berrou em agonia, vendo o líquido negro escorrendo pelo pulso sem mão. Com as outras garras, jogou Sebastian para o outro lado da caverna, batendo na parede de pedra. Me desesperei ao ver que não se mexia. Francis saiu de seu esconderijo para ajudar o irmão, mas não pude focar neles por muito tempo, já que a fera estava atacando novamente.

O animal pulou e eu me joguei por baixo de seu enorme corpo, abrindo um buraco enorme sua barriga com minha lâmina. As garras traseiras abriram uma cratera em um dos meus braços, mas a fera estava morta. As vestes negras estavam ensopadas do meu sangue azul, que começou a corroer a roupa, mas, por não ter sido uma pessoa que causou o ferimento, ele se fechou rapidamente. Além disso, eu estava toda suja do sangue da criatura, negro como piche. Eu precisava de um banho.

Eu praticamente me joguei no chão ao lado de Francis, que segurava a cabeça ensanguentada do irmão. Apesar de ele estar desacordado por causa da batida na cabeça, em seu tórax havia um rasgo por onde o sangue passava livremente e os órgãos só não saltavam para fora do corpo porque sua barriga estava virada para cima. Ele morreria de qualquer jeito.

Ele nem ao menos poderia se despedir do irmão...

As lágrimas foram praticamente arrancadas de meus olhos, escorrendo por meu rosto e se acumulando no meu queixo antes de cair no ferimento ensanguentado. Bash ia morrer e eu nem pude agradecê-lo por salvar minha vida. Será que era essa minha sina? Sempre destruir tudo por onde passo até que não haja mais nada pelo que lutar?

Porém, o ferimento absorveu o líquido elétrico e começou a se fechar. Meus olhos se arregalaram e eu, assim como os outros presentes, não consegui tirar os olhos do ferimento magicamente curado.

Bash abriu os olhos verdes e eu senti a consciência se esvaindo de minha mente.

 

Os sonhos do tempo que passei acordada vieram e, no momento que Sebastian abriu os olhos novamente, tudo ficou preto. Uma voz que não escutava havia dois anos retumbou em minha mente. A mesma voz que me apresentou a vida de escritora.

- Agora suas vidas estão ligadas – Minha mente tinha um eco estranho.

- O que aconteceu...? Minhas lágrimas...

- Curaram o rapaz. Sim, elas podem fazer isso. Mas saiba que mantê-lo vivo será algo que irá sugar da sua energia pelo resto de seus dias.

- Por que eu não soube disso como resto das regras?

- Existem coisas sobre nós mesmos que devemos descobrir sozinhos.

- Mas, se ele depende da minha energia para viver, o que acontece se alguém me matar?

O silêncio foi o suficiente para responder minha pergunta. A compreensão me gelou. Naquele momento, desejei ser imortal.

 

A primeira coisa que vi foram os dois irmãos discutindo, mas estava fraca demais para entender as palavras ásperas que nunca os vi trocar.

Aos poucos, fui recuperando as forças e notei que a discussão era sobre Bash saber o que eu era e que eles tinham muitos segredos entre si. Me senti culpada por ser a causa da briga.

- Parem. – Era para sair imponente, mas a voz saiu fraca, rouca e debilitada.

Os dois pararam de brigar e se aproximaram para ver se eu estava recuperada.

- Ainda bem que acordou... – Disse Francis, que claramente ainda estava irritado, mas também estava preocupado comigo.

- Você está bem? – Bash prendeu uma mecha de meu longo cabelo negro atrás de minha orelha. Seus olhos só prestavam atenção em mim.

- Que eu saiba, o que foi quase cortado ao meio por um monstro das neves foi o senhor.

- Estou bem... – Ele deu uma pausa. – Contei seu segredo aos outros para explicar a situação... me perdoe...

- Não precisa se desculpar. Ele fez com que eu também contasse o seu. – Me dirigi a Francis com cautela, pois sabia que ainda estava chateado. – Você se incomoda se eu falar a sós com seu irmão? – Ele direcionou os olhos violeta para mim – Não é um segredo. – Tranquilizei-o – É só o tipo de notícia que você dá sozinho e depois conta para o resto, entende?

Ele fez que sim e Bash me ajudou a andar até o lado de fora da caverna.

- Francis disse que você salvou minha vida. Por que não me contou sobre o que suas lágrimas faziam?

- Eu meio que descobri isso com você...

- Acho que vou ser menos cuidadoso daqui para frente. – Ele ri, o que me fez relaxar um pouco. Era óbvio que ele estava só brincando.

- Eu preciso que você me escute. Sem brincadeiras.

O rosto dele ficou sério, de modo que eu sabia que ele estava ouvindo e prestando atenção.

- Curar seus ferimentos não é algo momentâneo. – Estava realmente me esforçando para achar as palavras certas. – A lágrima no seu ferimento é como um canal, que constantemente leva energia do meu corpo para o seu. Assim, o ferimento permanece fechado e você, saudável. Sem esse canal...

Ele pareceu entender o que eu queria dizer.

- Quer dizer que eu estou sempre sugando uma parte de sua energia para viver? Como um parasita?

- E eu faria mil vezes de novo se fosse para evitar que você morresse.

O beijo foi rápido e eu queria que tivesse durado mais. Foi tão bom... Eu me sentia totalmente desperta, como se fosse ele passando energia para mim e não o contrário.

Ele entrou rápido na caverna, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Como se eu tivesse a capacidade de dizer qualquer coisa.

Fiquei ali, olhando a neve, sem saber se pulava de alegria ou se chorava.


Notas Finais


<3


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