História A Missão - Epílogo

               Fernando pegou os dois copos de drink sobre o balcão da cozinha e os levou com cuidado até a varanda onde Lety estava sentada. Assim que se aproximou, ela tirou sua atenção no notebook sobre sua mesa e sorriu para Fernando, pegando um dos copos que ele a entregava.

- Obrigada.

- Será que seria demais eu pedir para você desligar esse notebook apenas por um momento? – Ele perguntou sentando-se à mesa. – Como você consegue ficar olhando para isso com uma vista dessas?

               Lety olhou para a vista da varanda. Já havia soltado longos suspiros enquanto observava o mar à sua frente, e mesmo que já estivessem ali há três dias, ela jamais se cansaria de olhar para aquela miragem na companhia de Fernando.

- Me desculpe. – Ela fechou o notebook e esticou sua taça na direção de Fernando. – Prometo não abri-lo mais até o restante da viagem?

- Promete?

- Sim!

               Fernando brindou sua taça à dela e os dois tomaram um gole do drink.

- Onde aprendeu a fazer drinks tão deliciosos? – Ela perguntou ajeitando-se à cadeira.

- Para dizer a verdade, não sei. É a primeira vez que faço isso. Acho que herdei o dom de Márcia.

- Isso não se compara aos drinks da Márcia. Até hoje acho que ela nos engana dizendo que mistura frutas com o vodka.

               Fernando riu.

- Não diga isso à ela.

- Não direi, mas acho que ela já sabe.

               Lety riu.

- Eu me sinto tão bem estando aqui com você... – Ela o olhou com ternura.

- Eu também. Mas, não parece já que você fica a maior parte do tempo com esse notebook ligado.

- Não seja exagerado. Só ligo quando voltamos para o apartamento. Não passamos o dia todo na praia?

- Mas você deveria dar total atenção ao seu marido. Fizemos essa viagem para isso, não foi?

Ela riu.

- Tem razão. Me desculpe.

- O que tanto vê nesse computador?

- Nada de mais.

               Fernando abriu o notebook e Lety tentou impedi-lo, mas rapidamente ele o puxou para seu colo e olhou a página aberta.

- É sério que está vendo notícias de roubo? – Ele a olhou indignado. – Você mesma me fez prometer que não pensaríamos em trabalho durante a viagem.

- Eu sei, me desculpe. É que eu fico curiosa para saber o que está acontecendo.

- Me sinto traído.

               Lety puxou o notebook de Fernando e o desligou.

- Pronto. Eu prometo que não irei ligá-lo até voltarmos para casa.

- Não sei se acredito mais em você.

               Ela sorriu divertida e arrastou sua cadeira para perto dele.

- O que tenho que fazer para você acreditar em mim?

               Fernando a olhou.

- Posso pensar em algumas coisas.

- Ótimo. – Ela riu e lhe beijou com ternura. – Vou aproveitar que esse é o nosso segundo drink, e vou me preparar. Vou te esperar no quarto.

- Tão rápido assim?

- Pense nisso como um pedido de desculpas. – Ela se levantou e Fernando suspirou, observando-a se afastar.

               Desde quando chegaram ao hotel, tudo o que ele mais queria era ficar ao lado de Lety. Depois de tudo o que passaram, eles mereciam aquelas férias, e principalmente, mereciam uma viagem romântica. Há todo o tempo ele tentava agradá-la com os mínimos detalhes, e ela sempre o agradecia devidamente. O assunto “filhos” já não era mais um tabu, e Fernando já sentia-se mais do que à vontade para conversarem sobre isso, inclusive concordaram começar a “tentar” durante a viagem. Lety estava empolgada, e sem Fernando saber, sempre que estava com seu notebook em mãos, pesquisava algo sobre bebês, mesmo que disfarçasse com notícias que ela nem ao menos sabia do que se tratava.

               Quando ouviu a porta do banheiro se abrir, Fernando levantou-se e seguiu para o quarto. Ao parar à porta, Lety estava sentada à cama olhando para um objeto em suas mãos.

- O que foi? – Perguntou curioso, aproximando-se dela.

- Nada. – Ela o olhou desapontada. – Literalmente.

               Fernando notou que o objeto que Lety segurava era um teste.

- Você fez outro?

- Sim. Acabei de fazer.

- Lety...

- Eu só estou... Ansiosa.

- Eu sei disso. – Fernando sentou-se ao seu lado. – Mas nós começamos agora. Não será de uma hora para outra.

- Eu sei. Mas é que já começamos faz algumas semanas. Eu pensei que...

               Fernando sorriu e tirou o objeto das mãos de Lety, jogando-o sobre a cômoda ao lado da cama.

- Sei que está ansiosa, e eu também estou. Mas temos que aproveitar a viagem de outras maneiras. Se você deixar que isso a desanime, de nada vai adiantar termos tirado essas férias.

  - Eu sei. – Lety suspirou triste. – Me desculpe por isso. Prometo que não irei mais ficar tão neurótica com esse tipo de coisa.

               Sorrindo, ele se aproximou de Lety e afastou os cabelos que lhe caíam ao ombro, depositando um beijo em seu pescoço logo depois.

- Eu adoro quando admite que está neurótica com alguma coisa.

- Por que? – A frase de Lety saiu quase como um sussurro.

- Porque assim não me sinto péssimo por dizer isso à você.

               Ela riu e fechou os olhos, sentindo os toques delicados dos seus lábios em seu pescoço.

- Além do mais, não precisa se preocupar com essas coisas... – Pausando os beijos, Fernando permaneceu com a mão entre os cabelos de Lety e a olhou nos olhos. – Assim podemos tentar mais vezes.

- Tem razão. – Ela sorriu e tocou em seu rosto. – E se quer saber, há muito tempo não temos momentos tão bons assim.

- Eu sei, e é apenas o começo. Não vamos deixar que isso termine com a viagem.

- De maneira alguma.

               Os dois deitaram-se à cama e trocaram beijos carinhosos. Aquela viagem era merecida depois de tudo o que passaram, e ambos estavam felizes. Mais do que felizes. Estavam dispostos a começar uma família juntos, e estavam ansiosos para que isso acontecesse.

 

 

 

 

 

Oito semanas depois...

 

 

 

 

- Mamãe... Não precisa de tudo isso! – Márcia disse vigiando Pietro para que ele não esbarrasse no vaso preferido de Terezinha enquanto brincava.

- É claro que precisa! Seu irmão não almoça conosco há muito tempo, e eles merecem algo especial. – Terezinha disse colocando os talheres sobre a mesa. – E também... Quem sabe eles não tem alguma novidade para nos contar?

- Novidade? – Márcia a olhou confusa.

- Sua mãe acha que eles marcaram o almoço para darem a notícia de que Lety está grávida. – Humberto comentou enquanto lia o jornal.

- Eu não acredito! – Márcia suspirou. – Mamãe, eles não querem apressar as coisas! Já está bem estressante para eles toda essa história, e...

- Não estou fazendo nada de mais, Márcia. Se eu estiver errada, o almoço irá acontecer do mesmo jeito. Eu só acho que não teria outro motivo para marcarem um almoço de ultima hora com a família.

- Talvez eles apenas estivessem com saudades de almoçarmos todos juntos.

               Terezinha bufou.

- Mamãe, prometa que não vai tocar no assunto se eles não fizerem isso. Os dois tiveram uma discussão semana passada por isso, imagino que não queiram...

- Não se preocupe. – Terezinha sorriu, sem esperar que ela terminasse de falar. – Não direi nada.

               Márcia a olhou desconfiada, mas achou melhor não discutir. Sabia que sua mãe não conseguiria cumprir com a promessa, e isso a preocupava. Otávio desceu as escadas ajeitando o seu suéter e se aproximou de Márcia.

- Ainda bem que eu sempre esqueço meus suéteres aqui. – Ele comentou divertido.

- Eu disse para não vir de camisa branca. Sabe como Pietro é. – Ela o ajudou a ajeitar a gola do suéter.

- Ah! Os guardanapos! Esqueci de pegá-los! – Terezinha andou apressada em direção à cozinha.

- Papai... Ela está mesmo pensando que Lety está grávida? – Márcia perguntou à Humberto.

- Falou sobre isso desde quando Fernando ligou dizendo que viriam para o almoço. – Humberto fechou o jornal e levantou-se. – Eu vou tentar conversar com ela. De novo.

- Por favor. É realmente um assunto delicado para eles, e pode estragar o almoço.

- Não se preocupe.

               A porta de entrada se abriu, e Fernando entrou em casa acompanhado de Lety. Márcia encarou os dois, lembrando-se de que a ultima vez que ela e Otávio foram até o apartamento deles, estavam se recuperando de uma briga que envolvia as tentativas frustrantes de Lety engravidar. Mas, para o seu alívio, os dois pareciam bem naquele domingo.

- Uau! A rainha da Inglaterra virá para o jantar? – Fernando perguntou divertido, cumprimentando a irmã.

- Pelo visto sim. – Márcia riu e cumprimentou Lety. – Como estão?

- Bem. Muito bem. – Lety sorriu.

- Titia! – Pietro se aproximou de Lety.

- Oi, meu amor! – Ela o pegou em seu colo beijando seu rosto. – Como você está grande!

- Tio Nando, carrinho! – Pietro riu.

- Ah... Como é esperto! – Fernando sorriu e entregou uma sacola para Pietro. – Já está mal acostumado com os meus presentes.

               Lety o colocou no chão e o garotinho correu até o sofá para abrir o seu presente, mesmo sabendo que era mais um carrinho para sua coleção.

- Onde estão seus pais? – Lety perguntou, mas antes que Márcia pudesse responder, Terezinha apareceu na sala de jantar, discutindo com Humberto.

- Eu já disse que mães têm sexto sentido! Não discuta isso comigo, Humberto Mendiola!

               Todos se calaram, e só então Terezinha notou que Fernando e Lety já haviam chegado.

- Ah! Eles estão aqui! – Ela exclamou animada, caminhando até os dois. – Eu deveria estar muito brava com vocês! Parece até que não tem mais mãe, Fernando!

- Desculpe. Estávamos com muito trabalho. – Fernando sorriu cumprimentando-a.

- Lety, querida! Você está ótima! Fez algo no cabelo?

- Ahm... Não.

- Emagreceu!

- Na verdade, acho que engordei um pouco durante a viagem. – Ela riu.

- Não... Você está muito bem. Parece que tem algo... Diferente.

- Eu estou morrendo de fome! – Márcia disse rapidamente. – Mamãe, já podemos comer?

- Mas já? Pensei em tomarmos alguma coisa antes!

- Ótima idéia. – Humberto disse. – Rapazes, me acompanham com uma boa dose de uísque?

- É claro! – Otávio e Fernando disseram juntos.

               Fernando beijou o rosto de Lety carinhosamente e os acompanhou, deixando as mulheres sozinhas na sala com Pietro.

- Bom... O que acham de tomarmos um drink? – Márcia perguntou animada e Terezinha e Lety forçaram um sorriso.

 

 

 

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               A manhã seguiu animada. Pela primeira vez Márcia acertou nos seus drinks, e as três puderam ter uma conversa saudável na sala enquanto degustavam o drink. Para o alívio de Márcia, Terezinha não tocou no assunto da provável gravidez, e Lety realmente parecia muito bem naquele dia, assim como Fernando.

- Eu acho que já bebemos muito por hoje. – Terezinha disse levantando-se. – Eu vou servir o almoço e chamar os rapazes.

- E então... – Márcia olhou para Lety. – Você e Fernando parecem muito bem hoje.

- E estamos. – Ela sorriu. – Na verdade, estamos muito bem a semana inteira.

- A semana inteira?

- Sim!

- Quer dizer que ainda brigaram mais depois daquele dia?

- Na verdade nós não brigamos... Apenas temos algumas... Discussões. – Lety pareceu inquieta. – Tem sido semanas cansativas para nós dois.

- Eu entendo. Depois de duas semanas inteiras de férias no litoral era de se esperar que se sentissem cansados quando voltassem ao trabalho.

- É verdade.

- Mas me tira uma dúvida... Você tinha dito que depois do acidente de Fernando, ele iria conversar com o seu chefe sobre a carga horária dele. Ele não fez isso?

- Na verdade decidirmos não tomar nenhuma decisão enquanto não... Tivermos certeza.

- Como assim?

               Lety escorou-se à mesa.

- Eu não quero falar sobre isso agora, Márcia.

- É sobre a gravidez?

               Ela não respondeu.

- Olha Lety, eu sei que...

- Voltamos! – Humberto exclamou animado. – Onde está sua mãe?

- Ela irá servir o almoço. – Márcia continuou a encarar Lety.

- Atrapalhamos alguma coisa?

- Não. – Lety forçou um sorriso. – Estávamos apenas conversando.

               Fernando se aproximou e sentou-se ao lado dela à mesa.

- Está tudo bem? – Perguntou para que apenas ela ouvisse.

- Sim. – Ela sorriu segurando sua mão.

- Eu fiz um almoço especial hoje! – Terezinha disse carregando uma bandeja com um frango.

- Parece delicioso! – Otávio sorriu.

               Mesmo com o assunto tenso que surgiu na conversa de Lety e Márcia, o almoço seguiu animado. Fernando sentia saudades de participar dos almoços de domingo com sua família, e estava feliz por estar ali. Lety parecia um pouco inquieta e avulsa algumas vezes, mas ele preferiu esperar que chegassem em casa para que ela contasse sobre o motivo para que ficasse daquela maneira. Após o almoço carinhosamente preparado por Terezinha, todos se deliciaram com o bolo de chocolate de sobremesa. Estava tudo em perfeita harmonia. Ao menos parecia estar.

- Acho que comi demais! – Fernando suspirou. – Mamãe, estava tudo delicioso.

- Que bom que gostou, meu amor. – Terezinha sorriu. – Fiz com muito carinho.

- Você só pode estar passando fome na sua casa. – Márcia brincou. – Lety, está castigando-o por alguma coisa?

               Lety riu.

- Pior que não.

- Até parece. Você comeu dois pratos cheios! – Fernando zombou.

- Estava contando quantas vezes eu comi?

- Você contou quantas vezes eu comi!

- Mas que calúnia!

- Como é bom ter a família reunida. – Humberto sorriu satisfeito.

- Eu concordo! – Terezinha disse. – E por falar nisso... Gostaria de saber o motivo para esse almoço repentino. Já não vinham aqui há tanto tempo.

               Fez-se silencio à mesa e Márcia colocou as mãos no rosto, envergonhada.

- Só estávamos com saudades, mamãe. – Fernando respondeu sem notar o clima tenso. – A Senhora mesmo reclama que quase não almoçamos aqui mais.

- É, eu sei. Mas é que foi tão de repente, não é?

- Conseguimos folga hoje, e concordamos que seria uma boa.

- Entendo. – Ela escorou-se à mesa. – E... Vocês não têm nada para dizer?

- Como assim?

               Márcia pigarreou.

- Alguém quer mais bolo? – Humberto perguntou.

- Eu não sei... Talvez queiram nos contar algo.

               Lety e Fernando se olharam confusos.

- Não... Acho que não. Ao menos que esteja falando sobre a nossa ultima missão. Eu disse que não podemos entrar em detalhes e...

- Não estou falando de trabalho, filho.

- Mamãe... – Márcia a olhou.

- Nós perdemos alguma coisa? – Lety perguntou.

- Não. É que eu apenas pensei que poderia ter uma novidade envolvida nesse almoço.

- Como por exemplo...

               Ninguém disse absolutamente nada. Márcia implorou para que sua mãe não dissesse, mas já deveria saber que ela era teimosa demais para concordar com os outros.

- Como por exemplo... Um novo neto para nós.

               Otávio engasgou com a água que estava bebendo e Humberto suspirou desapontado. Márcia olhou para Terezinha, surpresa por ela realmente ter tido coragem de tocar naquele assunto mesmo depois do que ela havia dito.

- Ah... – Lety sorriu envergonhada. – Não, Terezinha. Não viemos falar sobre isso.

- Oh... – Seu sorriso diminuiu. – É que eu pensei que...

- Sinto muito que tenha parecido isso... – Lety disse. – Só pensamos que havia muito tempo que não almoçávamos juntos, e achamos que você gostaria que viéssemos.

- E é claro que ela gostou! – Humberto disse. – Todos nós gostamos. O motivo realmente não faz diferença. Agora... Alguém quer mais bolo?

- Desculpem, eu não quis ser indelicada. – Terezinha olhou para os dois. – É que quando Márcia disse que vocês dois estavam tentando, eu não pensei que demoraria tanto...

- Mamãe! – Márcia exclamou perplexa.

- Mamãe, nós realmente não queremos falar sobre isso. – Fernando disse.

- Tudo bem! Como quiserem! Mas somos todos da sua família. Se houver algum problema... Gostaria que nos informassem.

- Não há problema algum. – Fernando disse impaciente.

- Eu me lembro de quando engravidei de Márcia. Fernando tinha apenas dois anos e...

- Terezinha, não vamos falar sobre isso. – Humberto disse.

               Lety permaneceu em silencio, encarando a mesa à sua frente.

- Agora chega, mamãe. – Márcia disse notando que Lety estava desconfortável.

- Por que estão brigando comigo? Eu só pensei que eles anunciariam algo durante o almoço! Não sou errada por pensar assim!

- Não é errada por pensar assim, mas está sendo indelicada!

- Podemos, por favor, mudar de assunto? – Fernando perguntou impaciente.

- Se mamãe não tivesse começado com isso e estragado o almoço... – Márcia disse irritada.

- Eu estraguei o almoço? Eu fiz esse almoço para todos vocês! Não seja mal agradecida!

- Eu disse para a Senhora não tocar nesse assunto, mamãe!

- E que culpa eu tenho de pensar que ela estava grávida?

- A Lety não está grávida! – Fernando disse em voz alta, fazendo com que todos olhassem para ele, inclusive Lety.

               No mesmo instante, um barulho de algo se quebrando chamou a atenção de todos. Pietro estava próximo à estante, e o vaso preferido de Terezinha estava em pedaços no chão. Todos levantaram-se preocupados, mas estavam assustados demais para ter qualquer tipo de reação. O garotinho pareceu achar graça da situação, mas Terezinha sentou-se pesadamente à mesa, prestes a desmaiar.

- Acho que é uma boa hora para comermos mais bolo. – Disse Humberto.

 

 

 

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               Depois do alvoroço após o almoço, e depois de todos tentarem acalmar Terezinha que ainda estava em choque que o seu vaso preferido estava em mil pedaços, as coisas começaram a voltar ao normal. Lety ajudou Márcia a limpar os cacos da sala, e depois foram para o jardim com Pietro. Fernando ficou em casa, e observava Lety pela janela da sala. Sabia que o comentário de sua mãe durante o almoço mexeu com ela, mas ela estava conseguindo disfarçar bem.

- Oi.

               Fernando virou-se para sua mãe que acabara de entrar na sala.

- Oi. – Respondeu voltando a olhar para o jardim.

- Eu já pedi desculpas à Lety, mas ainda preciso me desculpar com você.

               Ele não respondeu.

- Eu sei que fui indelicada quando disse aquilo, mas é que eu estava tão certa de que... – Ela não terminou sua frase. – Fernando, se está acontecendo alguma coisa, se tem algum problema entre vocês, eu gostaria muito de saber. Nós podemos ajudá-los.

               Sem respondê-la, ele continuou olhando para a janela. Lety estava sentada na grama enquanto brincava com Pietro. Era evidente o quanto ele gostava dela, e o quanto eles se davam bem. Lety tinha muito jeito com crianças, e Fernando já havia notado isso à tempos. Só não sabia que isso o deixaria tão sensível naquele ponto.

- Não tem nada de errado. – Ele disse sem tirar os olhos de Lety. – Só não conseguimos ainda. Já fomos ao médico e ele já disse que não há nada de errado, e que só estamos ansiosos. O problema é que isso está deixando a Lety fora de si. A cada teste que ela faz, ela fica desapontada e passa o dia inteiro na cama sem animo para nada. Eu já fiz o possível para ela não se preocupar tanto com isso, mas não adianta! Temos discussões freqüentes porque ela fica de mal humor, e da ultima vez que brigamos, ficamos um dia inteiro nos ignorando em nossa própria casa. – Ele olhou para sua mãe. – Não há nada de errado em falarmos sobre isso. O problema é que sempre que tocamos nesse assunto, a Lety fica cabisbaixa.

- Eu não sabia disso. – Terezinha disse com pesar. – Me desculpe.

- Não foi sua culpa. Só... Podemos não falar desse assunto por enquanto? Ao menos até ela entender que isso leva tempo.

- Tudo bem. – Terezinha sorriu e olhou para o jardim, assim como Fernando. – Ela leva muito jeito com crianças. Será uma ótima mãe.

               Fernando sorriu.

- É. Ela será.

 

 

 

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               Mesmo depois de toda a tensão, a tarde havia sido agradável. Quando Fernando e Lety voltaram para casa, ela não parecia tão desanimada quanto Fernando pensou que estaria. Talvez passar a tarde na companhia de Pietro tenha deixado-a animada, ajudando-a a se esquecer da conversa após o almoço.

- Seria um absurdo dizer que eu estou com fome? – Fernando jogou as chaves sobre a mesa e caminhou até a cozinha.

- Acho que Márcia tem razão. Você está passando fome. – Lety riu, olhando a correspondência que estava sobre a estante. – Ah! Recebemos mais um convite de casamento.

- Outro? – Fernando saiu da cozinha comendo um pedaço de bolo.

- É o Charlie. Vai se casar daqui há duas semanas.

- O Charlie? Eu nem sabia que ele estava noivo.

- Eu nem sabia que ele tinha uma namorada.

- Essas pessoas são loucas.

- Devem ter pensado o mesmo quando receberam nosso convite. – Ela riu. – Talvez tenham algum motivo para se casarem tão rápido.

- É. Talvez ela seja muito religiosa e só aceita ir pra cama depois de casada.

               Lety gargalhou e bateu no seu ombro quando ele se aproximou.

- Ou então ele está realmente louco.

- Ou ela pode estar grávida.

               Fernando se calou, olhando para ela.

- O que? Acontece! Algumas mulheres se casam quando descobrem que estão grávidas.

               Ele sorriu.

- Por que está sorrindo?

- Nada. Só... Estou feliz por você estar voltando ao normal.

- Voltando ao normal? Como assim?

- Você estava um pouco... Desanimada durante essas semanas. Você sabe...

- Ah... – Ela sorriu. – Sim. Pensei nisso depois do que sua mãe disse no almoço, e percebi que estava sendo boba.

- É?

- Conversei com Márcia no jardim e ela disse que eu não precisava me preocupar com isso, e que só engravidou de Pietro depois de vários meses tentando.

- Ei, eu disse isso à você várias vezes? Minha opinião não conta? – Perguntou divertido.

- É claro que conta. – Ela riu e o envolveu em um abraço. – Me desculpe por estar sendo uma chata.

- Tudo bem. Você pode se desculpar mais tarde...

- Engraçadinho. – Ela riu e o celular de Fernando tocou.

- É o Rodriguez. – Suspirou desanimado. – Espero que não seja para irmos cobrir alguém.

- Atende.

- Alô?

- Mendiola! Desculpe ligar na sua folga, mas preciso pedir para que cheguem mais cedo amanhã. Receberemos novos integrantes e quero que todos estejam presentes para serem apresentados.

- Certo.

- Até logo.

- Até.

               Fernando desligou o celular e voltou a abraçar Lety.

- O que ele queria?

- Pediu para chegarmos mais cedo amanhã. Novos integrantes.

- Ah... Provavelmente vamos ter que nos separar para ficarmos com eles. – Ela disse desanimada. – Não gosto de trabalhar com outra pessoa.

- Eu também não, mas ao menos é por pouco tempo. Além do mais... – Ele a olhou carinhoso. – Sempre teremos um tempo quando chegarmos em casa.

- E eu adoro essa parte. – Ela riu e Fernando lhe deu um beijo.

               Percebendo que ele começava a se empolgar com o momento, ela pausou o beijo e o olhou.

- Não estava com fome?

- Eu posso esperar.

               Fernando tirou Lety do chão, carregando-a em seus braços. Ela gargalhou e ele voltou a beijá-la enquanto seguia para o quarto. O lado bom de Lety ainda não ter conseguido engravidar, é que podiam sempre tentar. Quantas vezes conseguissem.