História A Nova Ordem (Após Boo) - Obrigado, meu pai.

NICO-

Nico se remexeu na cama que parecia mais um caixão. Ele não conseguiria mais dormir. Não depois daquele sonho. Ele sabia muito bem que não fora apenas “um sonho” e sim uma mensagem do seu pai, Hades. O que lembrava era meio confuso. Dormia tranquilamente, até que uma imagem totalmente formada do seu pai apareceu. Nico tomou um susto, mas não conseguiu acordar.

“Meu filho...” ressoou Hades em sua mente “Não seja o que você não é. Você não deve ter vergonha de QUEM é”

Nico quis acordar com todas suas forças, mas não era pálio para o pai.

“Nico você é importante para mim. Você precisa me ouvir. Como pai, eu só quero seu bem”

Ele parou de tentar acordar e escutou o que o pai diria.

“Seja você mesmo. Não importará o caminho que tomar. Eu sempre vou estar ao seu lado. Lembre de minhas palavras e leve-as com você”

A imagem dele foi desvanecendo devagar, até sumir completamente de sua mente e ele acordar com um sobressalto, suando frio.  Depois disto, ficou rolando na cama, sem sentir sono.  Pensando no que o pai dissera. Hades não tinha muito tempo para ficar com seus filhos, como todos os deuses, menores ou maiores. Mas ele tentara, mesmo que não tivesse tempo, se comunicar com Nico. Ele se importava. De madrugada, ouviu uma batida suave em sua porta. Ele tomou o segundo susto. Quem poderia ser? As batidas eram rápidas e insistentes.  Nico levantou da cama e correu até a porta. Quando abriu, viu um rapaz alto, forte, bronzeado e muito bonito, com cabelos louros que brilhavam mesmo não estando muito claro ainda.

- Will – Nico sussurrou , para não acordar os outros campistas.

Ainda dava para ver algumas estrelas que se apagavam a medida que o céu clareava. Tudo estava em completo silêncio a não ser pelo murmúrio dos dois.

- Eu mesmo – sussurrou ele de volta – Posso entrar?

Nico fez um gesto apressado para que ele entrasse.  Logo depois, fechou a porta sem fazer barulho algum, ainda meio surpreso que o amigo fosse o visitar.

- O que está fazendo aqui essa hora da madrugada? – Nico perguntou, mas não conseguiu não sorrir.

- Puxa, você está sorrindo! – ele sorriu também , mesmo aquilo já sendo algo natural dele – Eu não estava ouvindo roucos nem nada... E também não estava conseguindo dormir, então vim para cá. Porque somos amigos, então tudo bem... ou não?

Ele demorou um pouco para absorver as palavras de Will. Amigos.

- Sem problemas – Nico deu um sorriso de canto de boca – E o que você tem na mão?

- Ah, isso – Will ergueu a mão que segurava um saco. Ele deu uma risadinha - ,os irmãos Stoll me deram isto aqui. Não me pergunte de onde eles roubaram isso!

Ele deu o saco para Nico, que abriu e viu que continha um salgadinho e bolachas. Ninguém quase nunca comia algo que não fosse saudável no acampamento.

- Pijama bonito – notou Will, enquanto olhava para Nico, que ficou imediatamente vermelho.

- Ah! Obrigado...

- Não seja tão tímido – reclamou

- Ou talvez você que é muito espontâneo, Solace.

- Ou realmente você é fechado – rebateu ele rápido.

Nico pareceu pensar no que dizer, porém deu de ombros e falou:

- Talvez.

- Você já teve algum amigo? – perguntou Will cauteloso

- Não. Nunca tive amigos – confessou Nico, achando aquela pergunta desconfortável.

- Pois agora tem. Então seja legal com ele – sorriu, brincalhão.

Nico sorriu novamente.

- Vou tentar. Só que ele é muito irritante... – antes que Will pudesse responder a altura, Nico olhou para o saco novamente – Ei, será que podemos comer isso aqui?

- Claro, eu trousse especialmente para você. Não sei se O Filho de Hades Todo Poderoso gosta de salgadinho. Parece uma comida não muito entediante para eles – arqueou as sobrancelhas

- Ei, óbvio que gosto.

- Não acredito! - desafiou – Se comer esse saco sozinho, aí posso conseguir mais um para você.

Depois de Nico engolir todos os salgadinhos, olhou para Will com uma cara de vitória.

- Está me devendo um desses, Solace.

- Pode crer – disse ele olhando para Nico (que comera o salgadinho impressionantemente rápido) com uma cara de desolado.

- Afinal – interrogou Nico se sentindo mais aberto para com ele - , por quê não estava conseguindo dormir?

- Meu pai – Will falou enquanto Nico sentia que suas entranhas se contorciam - , queria falar comigo. Nada demais. E você?

Ele engoliu em seco, fingindo analisar o pacote de salgadinhos antes de responder:

- Só insônia, eu acho.

- Ah. Caramba, o ano está prestes a acabar, não é? Aposto que vai ter festa de ano novo – comentou como quem não quer nada – , se tiver, você vai de novo, não vai?

- Vou – confirmou Nico. Ele não negaria mais. Não depois da festa de Natal, que fora fantástica - , vai ser legal.

Will sorriu:

- Que bom. Eu gosto de você Nico. De verdade.

- Eu também gosto de você, Solace.

Aquilo ficou pairando no ar, antes dele levantar e dizer que precisava ir. Ele deu um beijo na bochecha de Nico antes de fechar a porta, o que o deixou totalmente pregado no chão enquanto ouvia seus passos indo cautelosos em direção ao Chalé de Apolo.

Se sentou ali mesmo onde estava, lembrando as palavras do pai, que recomeçaram a ressoar em sua cabeça: "Sempre ao seu lado..."  “ Não ter vergonha de QUEM você é...” Levou a mão a bochecha, no local onde Will havia beijado. Ainda poderia sentir seus lábios suaves ali, como se ainda não tivesse indo embora.

- Eu também te amo, pai

Murmurou Nico, enquanto sorria e sentia a atmosfera do quarto ficar quente, como se fosse um local acolhedor, e que havia luz. Como se seu pai estivesse ali, o abraçando o acalmando e dizendo que ficaria tudo bem. Não importa que escolha tomasse, que caminho. Seu pai sempre estaria ali com ele. Lhe dando forças.