História A Nova Ordem (Após Boo) - Eu não quero ofender e ... o quê?

- ANNABETH

Annabeth estava muito assustada. Depois que Percy lhe dera o seu almoço (trazido em uma bandeja pelo próprio) ele havia ficado ao seu lado, conversando. Ainda parecia triste. Percy saiu somente uma hora, depois, por pedido de alguém chamado pretor, que queria falar com ele.

Nesses poucos segundos que Annabeth se encontrou sozinha viu-se diante de tantas afirmações e tantas ideias que ainda considerava loucura. Como por exemplo, a de deuses existirem. Ou que sua mãe fosse Atena, a deusa da sabedoria. Ainda olhava para os rostos daqueles que se diziam seus amigos e não conseguia lembrar de nada que não fosse desde que havia acordado naquela cama.

Enquanto estava deitada refletindo, ela sentiu uma movimentação logo adiante. Assim que ergueu o olhar, percebeu que era aquela que havia se apresentado como Calipso quando a cumprimentou. Ela entrou com uma cara tão séria quanto Percy. Devagar, se encaminhou até uma cadeira ao lado da cama de Annabeth.

- Você tem melhorado?

- Eu estou bem – Annabeth já estava farta daquela pergunta. Não havia nada de errado, então o que poderia ter melhorado?

- Hm – foi só o que Calipso respondeu – Você... sente alguma antipatia por mim?

- Quê?! – ela se surpreendeu com a pergunta – Eu nem lhe conheço direito ainda! Como poderia sentir antipatia.

- Annabeth – continuou Calipso, calma - , pode até não acreditar mas perdeu sim a memória. Você pertence a esse lugar. Somos todos seus... hm... amigos. E sobre a pergunta da antipatia, talvez lembrasse, mas está claro que não.

- Lembrasse de que? – interrogou duvidosa

- Como posso dizer... – a garota mordeu o lábio inferior, parecendo nervosa – Eu já... já cheguei a gostar de Percy Jackson, seu namorado.

Annabeth ergueu o olhar. Por um momento, sentiu uma pequena onda de raiva em seu peito. Sem conseguir explicar, sentiu um pouco de ódio de Calipso. Mas não deixou isso transparecer, pensando ser algo sem importância.

- Mas... mas isso foi no passado – apressou-se Calipso em corrigir – Eu amo Leo – Annabeth lembrou-se do menino que estava com ela – Eu não gostaria que continuássemos desse jeito... mesmo que você tenha perdido a memória e não lembre de nada disso agora.

Annabeth sentiu que a garota estava sendo totalmente sincera. Não estava com a mínima vontade de brigar com ela. Não entendeu porquê em algum momento estaria. Ficaram conversando por algum tempo e percebeu que na verdade Calipso era muito divertida.  Quando Percy voltou, ela se retirou, dando um abraço breve em Annabeth. Porém quando Calipso olhou para Percy ao passar, ela não notou nenhum indício de que a garota gostava dele ainda ou que ainda havia um clima estranho entre os dois.

Não poderia dizer que não continuava confusa. Ficava nervosa cada vez que tocavam no assunto sobre deuses, mas ao mesmo tempo não rejeitava a ideia. Isto era... curioso. Será que poderia mesmo ter batido a cabeça numa pedra e a versão da história contada por eles  não era mentira? Por que motivo estariam mentindo? Não havia razões visíveis para estarem a tratando tão bem a não ser... a não ser que eles fossem mesmo seus amigos.

- O almoço estava bom?- perguntou Percy com um olhar cuidadoso

- Ah! Estava sim.

Notou que do outro lado do lugar, o rapaz bonito e bronzeado dormia na cama, enquanto um rapaz pálido, de cabelos pretos com uma camisa quase da mesma cor estava sentado olhando-o atentamente. Porém Percy parecia não prestar atenção nele. Talvez Annabeth estivesse imaginando, mas sentia um clima gelado entre os dois, embora o garoto de momentos em momentos lançava a Annabeth um olhar triste e preocupado.

A vida de Annabeth não estava tão mal na verdade. Só confusa. Muito confusa. Se aquilo poderia ser verdade, se pertencesse aquele lugar... talvez antigamente fora feliz. Afinal, por que outro motivo ela não estaria lembrando do que fez... bom nos últimos anos de sua existência? Não sabia ao certo quantos anos tinha, mas sabia que deveria ter por volta dos dezessete ou dezoito. Daí ela lembrava da citação de deuses. Ah meus deuses! – pensou Annabeth – Isso é tão confuso!

Sobressaltou-se dois segundos depois quando percebeu que havia usado a expressão “Ah meus deuses! ” Olhou para Percy, que estava sentado olhando para as próprias mãos. O sol descia lentamente e estava quase para dar cinco horas.

- Você parece cansado – comentou Annabeth solidariamente – Não me importo se for dormir bem... no seu quarto ou onde é que você normalmente dorme.

- Ah, não se preocupe comigo – Percy sorriu levemente, apesar do sorriso não expressar aquela real felicidade – Estou bem. Além do mais, não vou deixá-la sozinha aqui.

 Por algum motivo Annabeth se sentiu feliz com sua resposta. O fato dele se importar tanto com ela era... reconfortador. Pegou uma das revistas que estava numa cabeceira ao lado da sua cama e começou a ler.

Quando ergueu o olhar da revista, já estava de noite definitivamente. O garoto que estava ao lado de Will parecia ter ido embora, pois não havia cadeira nenhuma para se sentar. Virou o olhar para Percy, que parecia ter estado tão cansado que estava dormindo sentado, com sua cabeça pendendo levemente, encostando o queixo no peito. 

Por algum motivo, Annabeth sorriu enquanto o via babando na própria camisa.

Depois de alguns segundos se levantou decidida a explorar o local. Se iria ficar ali por algum tempo, pelo menos poderia conhecer um pouco o lugar. Saiu andando enquanto via a lua cheia, o orvalho na grama brilhando sobre o luar.

Sentiu uma mão em seu braço a puxar de repente e tomou um susto.  Virou-se repentinamente e se deparou com Percy, totalmente acordado.

- Você ia embora? – interrogou ele, com uma voz preocupada e triste

- Não! – ela exclamou surpresa – Só queria ver o lugar.

Percy pareceu mais aliviado, porém não tanto.

- Acho melhor não ficar saindo a noite sozinha – disse ele lentamente

- Qual é o problema?

Mas Percy não respondeu. Continuou sério, olhando para lua.

- Você ainda parece cansado – continuou Annabeth – Deveria descansar um pouco.

- Estou bem – confirmou Percy novamente

- Sabia que – comentou ela com cautela para não ofendê-lo – Você baba quando dorme?

Mas Percy virou-se para ela muito rápido e não parecia nada ofendido. Pelo contrário. Um sorriso enorme se espalhou pelo seu rosto, antes de ele responder animado:

- É, eu sei.

Foram suas últimas palavras antes de puxá-la para perto e lhe dar um beijo. Annabeth não entendeu o que havia dito, e nem o conhecia muito bem, mas por alguma razão, não rejeitou o beijo.