História A Nova Ordem (Após Boo) - Caindo em direção à morte

JACK –

Jack não conseguia se levantar. Seu corpo parecia ser feito de massinha de modelar, ou manteiga. Sentia-se totalmente mole. Não tinha disposição para ficar de pé. Também estava totalmente dolorido. Ficou estirado no chão, sentindo a água bater nas pernas e nos ombros. Sua respiração estava fraca, falhada, mal conseguindo puxar o ar úmido que se espalhava no local. Era como respirar chumbo.

- O que aconteceu...? – murmurou para si mesmo, tossindo e eliminando um pouco de água de seus pulmões.

Devagar, as memórias foram voltando. Estava caindo, caindo cada vez mais. Caindo em direção à morte, indo ao seu encontro. Fechou os olhos, pronto para quando o baque do fundo do abismo chegasse, ele não sentisse tanta dor. Talvez suas costelas se partissem tão rápido, e seu coração parasse de bater. Talvez nem sentisse. Rezava para isto acontecer. Era a última coisa que pedia. Uma morte rápida. Não queria sofrer, pois em seu coração, já havia ali alojada uma dor enorme. Mas, de repente, o que ele encontrou não foi o chão. Entrou em contato com algo molhado. Quando se deu conta, tinha caído em uma violenta correnteza, que puxava com força, o fazendo submergir e girar para sempre, batendo em várias rochas, tentando agarrar-se a elas. Sem sucesso. Suas unhas arranhavam inutilmente esta superfície, soltando-se pela força do impulso da correnteza. Engolia água, e não conseguia respirar.

Morrer afogado. Com certeza era pior do que morrer com uma gigante queda. Sentir a água entrar pelos pulmões e a falta de ar doer-lhe o peito. De sua boca saía bolhas, tentando fazer um esforço em direção à superfície. Por um breve momento, conseguiu, depois do que se pareceram minutos em luta, quando na verdade só era uma questão de segundos. Seu nariz conseguiu inspirar uma grande quantidade de ar, seus pulmões doendo. Quando seu corpo inteiro gelou. Viu o fim da linha. Uma grande cachoeira, com queda de sabe-se lá quantos metros. A correnteza o puxou novamente e sua cabeça foi engolida pelas águas escuras como as trevas, as águas da morte.  Como se o próprio Hades estivesse ali.

O rosto de Reyna apareceu-lhe na mente. Linda, demais para qualquer homem, uma mulher de confiança, lealdade, com muito amor guardado que ela nunca teve chance real de dar a alguém. Ele lembrava do último toque de suas mãos macias e suaves, e de sua expressão de terror, e de alguém que realmente se importava quando ele caiu, quase como se fosse se jogar junto. Agora já não estava mais tão feliz com sua decisão. Nunca mais poderia ver aquele belíssimo rosto. Sentiu seu corpo em queda livre, quando a cachoeira chegou a seu encontro, as mãos tentando prender-se no vazio. Enquanto caía, só pensava em como era agradecido aos deuses por lhe dar uma mulher tão linda, e como poderia ser tão idiota de desperdiçar a chance de estar com ela cada minuto do dia. Imagens se passaram em sua cabeça, dele e Reyna em uma vida normal, em que ele não precisava se sentir um idiota com uma espada, mal sabendo manuseá-la. E sim ser um ótimo homem, escritor, acordando todos os dias e quando se virasse na cama pudesse ver aqueles longos cílios piscando para ele, lhe dando bom dia, seu corpo admirável sobre os lençóis, e Jack se sentindo merecedor de tudo aquilo, não se perguntando por nenhum momento porque não outro homem.  Só ter a certeza de que ele era merecedor de toda aquela vida boa, e que era diferente dos outros. Que não poderia ser comparado a nenhum outro.

Viu o a água lá embaixo chegando mais perto. Faltava bem pouco para seu corpo colidir com ela, quando uma imagem de uma mulher caindo ao seu lado apareceu. Nos primeiros segundos, Jack chegou a pensar que era Reyna, e até ouviu seus lábios proferindo seu nome. Mas não era ela. Era uma mulher formosa e alta, com um vestido longo que parecia até estar se esvoaçando com o vento. Seu cabelo mudava de cor e seu rosto era lindo, mas indescritível. Perfeito, para falar a verdade. Afrodite, novamente. Ela piscou para ele, como havia feito da primeira vez.

- Eu prometi ajudar esse casais... Acho que não vão se separar assim tão fácil. Boa sorte, querido!

Falou animadamente, logo depois sumiu, e quanto Jack surpreso, lembrou-se de olhar para frente, e foi quando a água bateu com força em seu corpo, e tudo ficou preto. Depois, havia acordado ali. Deveria ter boiado até a margem, onde ficou deitado como um cadáver, tremendo, completamente arranhado e com marcas onde as rochas tinham batido com força. Sua bochecha sangrava. Não sabia se tudo o que tinha visto fora somente um sonho e ele ainda estaria ali, no Acampamento Júpiter, com seus amigos e Reyna. Infelizmente, não era um sonho. 

Para quem antes estava em um deserto, ele se encontrava num rio perto de uma floresta, repleta de cipós, e aparentava ser quente e úmido lá dentro. Jack finalmente conseguiu se levantar, com as pernas bambas. As suas mãos percorreram o corpo. Como não estava morto? Não sabia se havia sido alguma magia, ou se Afrodite o tivesse ajudado de alguma forma. Só estava muito feliz por estar vivo. Na hora que se soltara estava em um estado de melancolia, criado pelo irmão, se sentindo mal por tudo, por ser um peso para os semideuses. Tinha deixado Reyna preocupada. Provavelmente ela acharia que agora ele estava morto. Jack daria tudo para saber se ela ficara em um mau estado por causa disto. Fora um idiota, mais uma vez. Mas ele iria se fortalecer. Ele iria ser melhor.

Observou a mata que se encontrava em sua frente, e ainda estava vendo as coisas por dois, enquanto pontinho pretos apareciam e desapareciam. Jack tinha um desafio maior naquele momento. Isso não se tratava somente de vencer Dominic. Ia além disso. Se definia por ele provar que conseguia ser tão quanto os outros.

Ah, e ele conseguiria. Ele encontraria Reyna. Ele a faria se orgulhar. Faria todos se surpreenderem, com toda certeza.