História A Nova Ordem (Após Boo) - Talvez agora seja mais fácil

JASON –

Jason estava com uma sensação péssima. Desde que acordara pela manhã algo não estava certo. O garoto não deu muita atenção a isto pelo fato de que todos os dias nem tudo parecia estar como deveria. Afinal, seus amigos não estavam em casa, e sim em uma missão extremamente perigosa, o qual helicópteros poderiam cair enquanto voavam com todos eles dentro. Ainda estremecia com aquela mensagem de Íris. Não descansou até Afrodite vir e avisá-los que tudo estavam bem, pelo menos naquele momento.

Sentou em sua cama pensando em como era raro a deusa fazer alguma interferência em missões. Jason não saberia dizer o porquê. Porém, a mulher parecia estar tentando ajudar. Ele só tinha medo do que viria a ser ajuda no ponto de vista dela. Esfregou o rosto antes de por seus óculos para enxergar melhor. Alguns travesseiros e almofadas haviam caído da cama, pois Jason havia se remexido muito para conseguir dormir na noite anterior. Quando os pesadelos o assombravam, ficava difícil voltar a ter bons sonhos e dormir feliz. As coisas que o acalmavam era pensar em Piper, no seu sorriso, na sua risada e nos amigos. De como venceram tantos desafios e poderiam vencer novamente, era essa esperança que o acalmava e o confortava.

Observou o sol aparecendo pela janela enquanto percebia que todos os dias pareciam repetidos. Era como se estivessem presos em uma linha do tempo, ou um disco velho que só repetia a mesma música. O sol baixava e voltava novamente sempre e era como assim que levantasse, tentasse ficar feliz e rir um pouco, mas então aquela tristeza de nem tudo estar resolvido o invadia. Nunca estava resolvido, eles só precisavam de um descanso. Não importava se Jason não estava envolvido de forma direta na missão. Do mesmo jeito, entretanto, eram seus amigos quem estavam lá. Era o mundo que poderia ser afetado se houvesse qualquer falha. Muita pressão. Sentia falta do começo do ano, onde a única preocupação era em que quarto passar a noite e arranjar comida suficiente para tanta gente. Foram realmente dias ótimos, de pura paz, de muitas festas. Daria tudo para reviver aquilo, mesmo que só um pouco, para matar a saudade. Por isso que deveriam valorizar tanto épocas como aquelas. Eram tão raras. 

Mesmo com toda aquela tensão, os dias não deixavam de serem confortáveis. As camas do Acampamento Júpiter eram extremamente macias. A comida, nem se falava, todos os semideuses ficavam mais animados na hora das refeições, em que faziam brincadeiras e piadas, por alguns instantes como se fossem os velhos tempos.

Alguém bateu levemente na porta, entrando logo depois. Era Piper, e ela parecia apreensiva, colocando os cabelos para trás da orelha. Jason sabia que ela andava tão pensativa quanto ele.

- Bom dia – disse ela, se sentando ao seu lado na cama

Piper não precisava de maquiagem alguma para ficar excepcionalmente bonita. Mesmo pela manhã e parecendo exausta, mantinha sua aparência elegante. Suas roupas também estavam simples, porém eles nem prestavam mais atenção no que vestiam. Qualquer peça que os cobrisse estava bom para passar o dia. 

- Bom dia, Pipes – respondeu o menino, tentando dar um sorriso animado, se descobrindo do seu lençol para sentar direito

Nem trocava mais de roupa para dormir, ás vezes a exaustão o pegava de surpresa, e Jason só trocava por outras mais limpas pelas manhãs.Ela juntou as almofadas do chão, pondo de volta na cama. 

- No que você está pensando? – interrogou a namorada, como se pudesse sentir suas emoções

- Neles – falou com um tom mais cansado – Vou tentar me comunicar com eles hoje. Eu já decidi. Sei que posso estar atrapalhando ou atrasando, mas dias sem notícias já aguentei muitos. Sabe lá o que pode ter acontecido desde que nos falamos.

- Estão todos bem – Piper ergueu a mão para colocá-la no seu braço, apertando-o levemente.

Ele colocou a sua mão sobre a dela, fazendo carinho. Os dois ficaram assim por um tempo, até decidirem levantar. Frank já estava de pé, talvez a muito tempo. Ele tinha se estressado mais que o normal nos últimos dias. Acalmar todos os romanos e gregos do acampamento já tinha lhe tirado um peso dos ombros, porém ainda tinha muito com que se preocupar. As pessoas procuravam nele uma orientação. Hazel sempre estava com ele, para ajudá-lo no que fosse preciso. Todos respeitavam muito os dois, e Jason também. Encontrou o rapaz e informou-o que tentaria falar com os outros naquele dia.

- É uma boa ideia – concordou o outro, cruzando os braços – Também quero notícias deles, estou incomodado com isso fazem dias.

- Vamos agora, os outros estão comendo, estou certa de que Quíron guardará algo para nós – disse Hazel, que estava do lado dos dois

Todos os quatro caminhavam na direção contrária de uma onda de semideuses ansiosos por comida. Jason conseguia sentir o cheiro de ovos de longe, e sua barriga roncava, reclamando por ter que se distanciar da refeição. Chegaram até um local mais reservado, quando todos já estavam mais à frente, e conseguiram arranjar uma mangueira para poderem enfim ver seus amigos que deveriam estar bem distantes daquelas terras.

Quando a primeira visão de Nico tremeluziu em frente deles, Jason sentiu o seu coração começar a palpitar rápido, queria se certificar que estava tudo certo. O filho de Hades ergueu a cabeça surpreso, assim como fizera da outra vez, só que agora parecia muito mais cansado. Estava pálido como usualmente, e estranhamente, estava de noite no lugar que se encontrava. A luz do luar o deixava sombrio, e sua boca estava levemente aberta e Jason pôde perceber que ele estava sozinho. Se aproximou mais do arco-íris.

- Nico! Como estão as coisas por... – Piper parou na metade da frase – Você está bem?!

- É um péssimo dia aqui – sussurrou o garoto

- O que aconteceu? – Jason sentia as mãos geladas, o mau pressentimento havia voltado

- Não sei como dizer... Aconteceram tantas coisas desde que nos falamos... – respondeu o outro, com a voz ainda baixa e um pouco melancólica

- Diga, por favor, todos estão bem? – Hazel estava com a boca branca de medo

- Nem todos.

O estômago de Jason revirou. O rapaz começou a contar a história de como haviam caído em uma armadilha de Dominic, e de como tinham sido afetados por um gás que apagou todos, menos Reyna e Jack, que estavam longe dali.

- ...Então, quando acordei eu encontrei Reyna, ela se encolheu no chão e começou a chorar e quando eu perguntei o que tinha acontecido... Bom... Jack não está mais conosco. O próprio irmão jogou-o para morte. – finalizou Nico, fitando o chão

Hazel e Piper estavam chorando silenciosamente, Jason sentia as lágrimas ameaçarem cair, e Frank estava chocado, com um rosto estupefato, quase petrificado. Piper agarrou sua mão. 

- Se não fosse Jace, Reyna teria conseguido puxá-lo de volta. Mas o desgraçado a empurrou, portanto, se ela não soltasse, cairia junto com Jack.

- Vou matá-lo... – começou Frank, cerrando o punho, com seu lábio inferior tremendo, mas foi interrompido pelo outro

- Tarde demais. Reyna acaba de fazê-lo. Jace jaz morto à alguns metros daqui.

Os quatro ficaram mais surpresos ainda.

- Ela estava muito abalada, não pensou, e seu instinto foi atacá-lo. O filho de Hefesto iria tentar sequestrá-la para Dominic. Ele nunca desiste, não é mesmo?

- Onde ela está? – perguntou Jason, mordendo um de seus dedos pelo nervoso 

- Pedi a ela para ir em frente, eu precisava tomar um ar. Os outros ainda estão dormindo, não sabem de nada – Nico parecia muito infeliz – Não sabemos ao certo onde estamos. É como se tivéssemos entrado em um portal. Aqui está de noite.

Os semideuses se entreolharam. Nada estava certo.

- Sem Jace... Sem armaduras – murmurou Frank

- Exatamente – concordou Nico – Agora temos mais chances... Isso se conseguirmos sair daqui.

- Vocês vão! – Hazel gritou, pois a imagem começou a tremular e a voz do rapaz foi ficando mais fraca – Sei que vão conseguir! Nós confiamos em vocês!

Hazel estendeu a mão trêmula para o irmão, que do outro lado, também ergueu o braço. Seus dedos, claro, não chegaram a se tocar. A mensagem de Íris desapareceu e a mão de Hazel continuou parada, tocando o ar, tentando segurar o nada. Frank soluçou. Podia ser grande e forte, mas era tão sensível quanto qualquer outro. Sabia o quanto que Reyna havia passado, e perder mais uma pessoa deveria ter sido o cúmulo... Uma ótima pessoa, aliás.

- Ele não merecia... – sussurrou o filho de Zeus, colocando o rosto entre as mãos

Os quatro ficaram sentados juntos, recusando-se a dizerem alguma coisa. Depois do que foram minutos, mas pareceram horas, Frank se levantou, ainda um tanto trêmulo.

- Preciso voltar... Podem estranhar eu não estar lá. É melhor ir, antes que comecem a falar.

- Eu vou com você – Hazel limpou as lágrimas, tentando se recompor.

Zhang passou um dos seus braços no ombro da moça, aconchegando-a. Os outros dois ficaram sozinhos, sentados na grama. Piper foi para mais perto de Jason, enterrando seu rosto em sua camisa. O garoto acariciou seus cabelos, tentando não desabar também.

- Não estava tudo bem...

- Vai ficar Pipes, eu prometo... – franziu as sobrancelhas

Ela não questionou. Não precisavam de mais dúvidas naquele momento. Muito menos algo que os deixassem suas auto-estimas mais para baixo. Mal conheciam aquele garoto, mas uma vida inocente fora tirada, e pior, o namorado de uma de suas amigas.

- Vão vingá-lo – as palavras soaram estranhas saindo de sua boca, quase como se realmente tivesse uma certeza.

Piper pareceu se sentir bem melhor depois da daquilo. Ele lhe deu um beijo sem pressa e foram de mãos dadas em direção ao almoço, Jason andava bem devagar para que desse tempo de sua namorada secar as lágrimas que ainda restavam. Tentou assumir expressões normais, mas estava bem complicado, ele deveria admitir. 

...

PERCY –

Percy acordou de mãos dadas com Annabeth. Seus dedos não estavam entrelaçados como antes, mas um em cima do outro. Abriu os olhos, ainda estendido no chão, e olhou diretamente para o céu, onde as estrelas brilhavam, como pequenos diamantes. O luar se erguia sobre eles, tornando tudo um pouco assustador. Do mesmo jeito os barulhos de corujas e de insetos o deixavam mais calmo. Por um segundo até esqueceu que estavam em um momento de pura tristeza. Tinha tido sonhos bons... Sua mãe, lhe trazendo um saco de doces do lugar que trabalhava anos e anos atrás, lhe servindo um grande bolo azul. Logo depois, também sonhou com Annabeth, a época que se conheceram, e como ela tinha ficado mais bonita a cada ano que se passava.

A mesma abriu os olhos, que pareciam o céu após tempestade, e virou-se para o lado direito para o encarar.Ele apertou sua mão e trocaram sorrisos fracos. O menino se aconchegou para mais perto dela, de modo que a namorada pudesse deitar em seu ombro. Percy lhe deu um beijo na testa. Estavam prestes a adormecer novamente quando ele ouviu um barulho de passos e grama seca sendo pisada. Levantaram imediatamente, quase com um pulo, para olhar os arredores. De modo confuso, eram Nico e Reyna quem se aproximavam, e não pareciam estar nada bem.

Mesmo de longe, a luz da lua fez Percy perceber que Reyna  tinha em mãos uma espada com sangue. Pela movimentação, os outros foram acordando aos poucos também, e quando os outros dois chegaram, os semideuses já estavam ou de pé ou sentados, tentando entender o que estava acontecendo.

- O que vocês... – começou Leo, zonzo de sono, com o rosto meio amassado de um dos lados

- Isto é sangue? – Will ficou de pé, observando a arma nas mãos da pretora com cautela

- É exatamente o que parece – adiantou Nico - , Jace agora está morto. Ele veio pegar Reyna e digamos que ela quem o pegou. Sugiro que andemos logo, já perdermos muito tempo.

Os seus amigos não falaram mais nada. Podiam sentir a repreensão no olhar do filho de Hades, como quem quisesse dizer: “Agora não.” Reyna parecia agradecida de não terem que conversar sobre o assunto, mas não proferiu nenhuma palavra sequer. Percy notava como a garota estava frágil, e talvez tivesse descontado acidentalmente em um dos serviçais de Dominic. Não conseguia parar de se culpar.

- Dominic ficará impaciente se Jace não voltar logo – Annabeth deu um passo à frente, encarando Reyna com preocupação

- Não vai encontrá-lo, já escondi o corpo – murmurou Nico, com uma cara de quem não estava gostando nada da situação – Isso vai deixá-lo confuso por um certo tempo.

Leo ajudou Calipso a se levantar, e eles foram atrás dos outros dois que já tinham começado a andar:

- As coisas ficarão mais fáceis sem outro filho de Hefesto – comentou ele, tentando não parecer muito surpreso com a notícia repentina

- Aposto que sim – Nico acenou com a cabeça enquanto andava – Iremos para o Norte, como sempre. Estamos um tanto quanto perdidos, mas sei que acharemos o caminho.

Reyna trocava passos rápidos e estava à frente de todos os outros. Annabeth apertou a mão de Percy, e observou-o com um olhar significativo, enquanto apertava sua mão antes de se distanciar e ficar perto da outra menina, para tentar dar-lhe algum conforto.

- Eu também falei com nossos amigos.

- Como eles estão, Nico? – perguntou Will, chegando mais perto dele

Perseu percebia que o moreno se esquivava um pouco para o lado, para que suas peles não se tocassem, como se tivesse medo do contato do filho de Apolo.

- Ótimos, só estavam preocupados. Estão todos bem – afirmou o outro, acalmando os outros

- Frank dará conta de controlar todos aqueles romanos e gregos – Percy andava olhando para o céu.

Todos murmuraram em concordância, e conversavam em voz baixa. As vozes eram abafadas pelas inúmeras árvores que se encontravam no lugar, que também era extremamente úmido, e os insetos agora voavam envolta do filho de Poseidon, incomodando-o. Não adiantava o quando poderia mandá-los embora, sempre voltavam. Podiam estar em qualquer parte do mundo e a única dica que tinham, era que poderiam sempre seguir para Norte. Até quando? Os pés de Percy já começavam a reclamar depois de meia hora de caminhada. Queria parar e se jogar na grama verde com Annabeth, tomar banho em riachos para se refrescar, e ficar despreocupado. Mas nem tudo podia ser da maneira que queria, isso como sempre, ele já sabia bem. 

Se aproximou de Nico, bem lentamente, para que ninguém pudesse perceber. Tocou-lhe o ombro. O garoto virou um pouco o rosto para escutá-lo, percebendo que não queria chamar atenção. 

- Nico... - começou, sem parar de dar os passos rápidos e longos - Você sentiu a morte dele?

- Para ser sincero, não. Eu estava sobre efeitos daquele gás estranho, mas posso jurar que na hora que acordei, mas à frente, as coisas já estavam acontecendo, e foi na hora que ele caiu, mas não senti nada. - respondeu o menino, fitando Reyna ao mesmo tempo que proferia as palavras mais felizes daquele dia.  

- Então há uma chance de...? Quero dizer, aconteceu a mesma coisa com Leo... 

O filho de Hades pareceu pensar por um segundo, mas acabou assentindo, fazendo uma pequena fagulha de esperança se acender dentro de Perseu, como uma luz no meio de toda aquela escuridão.