História A Nova Ordem (Após Boo) - Um estranho

Jack –

Jack andava sem rumo pela floresta, pisando em folhas secas que estalavam e faziam o maior barulho naquele silêncio. Estava de noite, porém ele não conseguia ver a lua, pois as árvores cobriam toda e qualquer luz. Sua roupa ainda estava um pouco úmida, e suas botas faziam barulhos até engraçados quando pisava no chão. Jack ainda sentia frio, era como se seus ossos estivessem congelados também.

Estava tentando sair da floresta, achar um lugar diferente, mas só parecia estar andando em círculos. Ele parou, piscando os olhos com força, os quais já estavam um tanto acostumados com o escuro.

- Eu já passei por essa rocha no mínimo umas três vezes – murmurou, triste

Era como se aquele lugar estivesse possuído por algum encantamento. Seria mesmo? Como que andando para o norte, poderia voltar para o mesmo local que se encontrava minutos atrás? Decidiu então parar de tentar sair e dali e se preocupar em achar onde passar a noite. Abaixou-se para recolher alguns galhos e tentar fazer uma fogueira. Não teria como cortar madeira, sua espada se fora. Olhava para todos os lados enquanto andava, e foi quando esbarrou em algo.

Deixou os galhos caírem e sentiu as costas baterem com força no chão. Jack levantou-se rápido, tentando respirar. Uma figura se erguia diante dele. Ouviu um grunhido de insatisfação. Deu diversos passos para trás, enquanto a coisa se movia para perto dele. Era...

- URSO! – ele embolou as palavras, tentando se distanciar ao máximo da criatura

Procurou uma pedra e atirou-a nele. Só serviu para o deixar mais irritado. Ele investiu, as patas bateram nos ombros de Jack e o derrubaram, prendendo-o firmemente no chão. O medo se espalhava por todo corpo enquanto sentia o bafo do urso aproximando-se de seu rosto. Tentava se soltar mas era inútil. Se fingir de morto também não adiantaria muito agora. Ele arrancaria sua pele em uma mordida só. Fechou os olhos e foi quando ouviu um grito, grito humano.

O animal foi tirado de cima do rapaz com agressividade. O urso cambaleou irritado, procurando quem havia o interrompido. Jack se pôs de pé, abrindo a boca levemente assim que viu um homem alto e forte, com uma tocha acesa em uma das mãos, e um grande machado em outra. Suas roupas estavam meio esfarrapadas e continha algumas cicatrizes mas nada além disso. Seus cabelos iam até os ombros e não parecia ter medo algum da criatura. Ao invés disso, sorriu, de um modo assustador, deixando os dentes à mostra.

- Quer briga?! Então vamos, tente me atacar! – gritou, rodando a arma na mão

Agora o urso ignorava Jack completamente. Por algum motivo também não queria avançar no sujeito. Era até como se estivesse se sentindo intimidado. Deu um rosnado baixo enquanto o homem corria até ele. Fazendo um talho em sua pele. O animal grunhiu de dor, ao mesmo tempo que virava-se e corria, deixando os dois para trás.

- Parece que amarelou – riu o homem

- Quem... quem é você? – interrogou Jack, devagar, em um tom cauteloso

- Ora, não vai me agradecer por salvar sua vida? – respondeu com outra pergunta, com uma expressão impaciente

Como Jack continuou calado ele revirou os olhos e continuou:

- Eu sou só um homem perdido – deu um sorriso estranho quando pronunciou tais palavras -  Como se chama moleque?

Não sabia se dizia seu nome a um estranho, que nem ao mesmo quis se apresentar. Porém, dado ao fato que este segurava uma arma bem afiada, achou melhor cooperar.

- Meu nome é Jack. E como posso chamá-lo?

- Hm. Pode me chamar de Ajax – ele não parecia ter certeza de seu nome

- Certo, Ajax. O que faz aqui? Sabe onde estamos? – Jack se sentia repleto de perguntas e agora se sentia um tanto mais esperançoso.

- Calma. Eu estou morrendo de fome, vamos fazer uma fogueira, talvez comer um pouco e depois eu lhe falo sobre isso – resmungou, pegando os gravetos que estavam ainda no chão

Ajax seguiu habilidosamente as pegadas do urso, achando o lugar onde ele deveria estar abrigado. Era uma boa caverna.

- Não acha que ele pode voltar? – perguntou Jack nervoso

- Não se preocupe com isso. – foi só o que disse – Sabe fazer uma fogueira?

O menino fez um gesto meio incerto com a cabeça.

- Moleque, você tem muito o que aprender – ele pegou os gravetos e o fez prestar atenção

Em segundos já tinha feito fogo, e ensinou Jack a fazer também – com um tanto de dificuldade – Logo depois disto, colocou as mãos em uma pequena bolsinha que estava à direita de suas calças, pendurada no cinto. De lá, tirou frutinhas e nozes, que Jack devorou imediatamente.

- Podemos caçar algo realmente bom amanhã – comentou o homem

O garoto não se sentia confortável de saber que matariam algum animal. Não estava acostumado com este tipo de coisa.

- Por que está me ajudando? Que lugar é esse?

- Quanta curiosidade – murmurou Ajax, enquanto mastigava – Digamos que eu estou aqui faz tempo e blá blá blá. Dizem que tem um lugar que só chegamos através de portais. Uma vez nele, temos que fazer certas coisas para sair...

Jack ouvia com atenção. O rosto do outro tremeluzia diante as chamas.

- No caso, seria vencer suas fraquezas, seus medos. Se melhorar. Ser um verdadeiro herói – ele riu de um modo amargo

- E o que falta para você? Pelo que vi já deveria estar fora desse lugar há tempos – falou Jack

Ajax o encarou, levantando as sobrancelhas, mantendo o sorriso sarcástico:

- Heróis ajudam os outros e protegem. Eu não faço isso. Não até agora – ele engoliu o resto da comida – Mas você também precisa de mim

- Por que eu precisaria de você?

- Você é fraco. Precisa ser treinado. E antes que perceba vai sair daqui – respondeu secamente – Agora vá dormir. Amanhã temos um longo dia pela frente

Jack não protestou. Estava sem forças. As frutas tinham saciado sua fome por hora, então era melhor adormecer antes que a fome voltasse com fúria. Será que poderia mesmo confiar naquele rapaz? Aquela história lhe parecia muito suspeita, quase como se fosse forçada ou bolada. Do mesmo jeito, foi para um canto da caverna e se deitou o mais confortável que pôde. Se Ajax quisesse matá-lo, já teria feito. Estranhamente, perto dele, era como se emanasse uma fúria, raiva, vontade de matar. O que seria aquilo? Jack tinha medo que o afetasse. Nunca tinha machucado nenhum animal inocente.

Lembrou-se do que realmente importava: Reyna. Se tivesse que fazer tudo aquilo para sair dali... Então faria. Só a esperança de ver seu rosto novamente e tocá-la já lhe dava esperanças. Sentia saudades do seu cheiro, saudades de sua companhia e bravura. Pareciam ter se separado por tanto tempo, quando na verdade foram só vinte e quatro horas.

- Eu vou voltar para você – sussurrou Jack antes de fechar os olhos – Eu prometo.