CAPÍTULO QUATRO – O assassinato do padre.
Miras prontas. O turco com a mão sobre a cintura – onde escondia facas de arremesso – e dedos no arco de madeira. A flecha iria atravessar o vidro da pequena cabide onde guardavam Roberto e as faquinhas perfurariam a face do Escorregadio. No alvoroço, ambos iriam correr e pegar suas vítimas e seguir sua vida. Mais homens e mulheres da Irmandade estavam escondidos se preparando para pegar qualquer Kavers que tentasse fugir. Estava tudo nos conformes.
- Amém! – terminara a primeira oração aquele padre falso.
Mas a ruiva decide ser mais rápida que o turco. Sua flecha perfura o mármore e destrói a pequena imagem. A moça se esconde e ninguém tem real certeza de onde a arma mesma viera. Thomas decide por a mão sobre a espada e sair da mira. Mais guardas unem-se ao Escorregadio e o padre.
- Disseste-me sobre a segurança desse local, seu bastardo! Enganou-me! – sussurra Edward com ódio.
- Cala a boca!
Como se fosse uma tocha sendo coberta por fogo, a memória veio na mente do cavaleiro Gustavo. Ainda meio cambaleante, mas com coragem, levantou e foi – incrivelmente – certo ao local onde a garota que ele agora considerava herege.
Ambos começaram uma luta sem muitos golpes: o homem arriscava acertar-lhe com a espada. Mas Vittorie desvia da mesma a cada segundo tentando por sua flecha no arco.
- Estás me atrapalhando, maldito! – reclama desviando de um golpe horizontal.
- Estás na cova! – rebateu.
Salim observou a dificuldade de chegar nos dois, daí liberou a saída de seus amigos da Irmandade. Eram muitos. Haviam árabes e europeus na mesma e todos com o similar ódio no momento: Thomas Escorregadio.
- Merda! Estamos cercados, homens! – berra Thomas.
A faca de arremesso de Salim encontrou a cabeça de um guarda. Agora restavam apenas mais quatro. Os demais Salences avançaram nos inimigos que se protegeram com espadas. A batalha nem começara direito, mas muito sangue havia derramado. Os fiéis começaram a correr e praguejar contra os lutadores. O corpo de Roberto se encontrava no chão e era até mesmo pisoteado pelos homens e mulheres que tentavam escapar.
- Vamos, idiota! – bradou Edward fugindo com Thomas e mais dois guardas grandes.
Salim avista os mesmos e corre na direção deles. Não deixaria essa chance escorregar. Correu empurrando qualquer um que estivesse na frente. Addin até o chamara para ficar e combater na luta contra os guardas. Mas o turco ignora e vai embora visando alcançar os quatro à frente.
Bem mais à frente o jovem Twisted Fate caminhava olhando para trás e lados. Queria ter certeza que o doido homem o deixara ir embora. Já havia presenciado uma luta no passado – uma? Não, não foi só uma –. Todavia, decidira que era melhor não se envolver em nenhuma. Ao menos hoje.
- Há um merda nos seguindo! – exclama um dos guardas enquanto olhava para trás.
Fate também ouvira essas palavras, mas ao virar a face só viu a barriga de um grande guarda. O mesmo esbarrou no jovem e ambos caíram. Thomas e Edward ao verem a cena desviaram junto ao – estúpido – guarda da retaguarda. Estúpido por não perceber a presença do árabe quase nas suas costas. O caído levantou-se e xingou o garoto de 18 anos.
- Filho da puta! – bradou ameaçando a socá-lo.
Mas as mãos pesadas do branquelo não se encontraram no nariz já ferrado do mais novo. Mais uma faca de arremesso fora lançada e ela furou a cabeça do mesmo. O sangue dele escorreu e encontrou o chão igual seu corpo pesado.
- Maldito Salence! – exclama o “padre”.
- Me entregue o mapa, Thomas! – exige Salim. – E prometo que sua dor não será nada longa!
Thomas ria com a proposta oferecida. Encarou seu inimigo e recuso-a.
- Achas mesmo que abandonarei a maior arma do mundo para morrer? Não iriam fazer bom uso dela. Nem você nem seus irmãos. Tampouco o decrépito líder de vossa Irmandade! – brada sem tirar os olhos de Salim. – Diga-me, o que a Pirâmide é para você!
- Uma arma! – começa. – Mais perigosa que qualquer espada. E que não deve cair na mão de Kavers como vocês!
- Traremos a paz!
- Trarão a prisão dos homens, Thomas! – exclama convicto de sua ideia.
- Os homens são idiotas, Salim. Creio que sabe disso tanto quanto eu... – Escorregadio estava certo. Nenhum ser humano tinha uma mente completamente boa. Haviam sempre a imbecilidade do egoísmo. – Irão acabar com as terras e o ar. Privarão ainda mais a liberdade do povo e guerrilharão entre si pelo artefato. Até mesmo se o mesmo ficar com algum Salence!
- Nossa Irmandade é honrada, Thomas. Não iremos lutar por isso quando este nos for nosso. O líder cuidará bem disso! – rebate Ardam ainda com suas convicções.
Nesse momento mais guardas chegaram, eram cerca de cinco ou seis. O Escorregadio decide deixar o jovem turco na presença de seus inimigos. Edward ria de cinismo e apanha a espada do guarda caído. Fate ainda encontrava-se abaixo dele. Mas fingia ter perdido o ar. Que péssimo dia! Pensara. Estava mais que certo, afinal. De onde veio tanto azar?
- Não sairá vivo daqui, Salence. Minha espada irá cortar sua cabeça! – diz analisando a lâmina da arma.
- Cortarei seu bucho antes disso, amigo. – rebate.
Fate ficara com receio de ficar ali embaixo do grandalhão por mais tempo e decide sair, trazendo surpresa aos homens com armas. O jovem até ficou sem jeito e todos o encararam.
- Cortamos sua cabeça também, chefe? – indaga o primeiro guarda.
- Sim!
Mais que dia de merda é esse? – foi a única coisa que veio em sua mente. Salim normalmente não ligaria e deixaria o rapaz morrer. Mas como estavam em menor número, resolveu dar uma ajuda.
- Fica quieto e eu te dou uma espada! – diz visando um homem.
Foi esse mesmo que Ardam assassinara. Foi um golpe rápido e letal. A arma fora jogada e Fate apanhou-a. Mas pareceu meio inseguro em fazer aquilo.
- Sabes como manusear isso? – pergunta Salim encarando o mesmo.
- Sim... – foi o “sim” mais inseguro que o turco já escutou. Mas fazer o quê?
Ambos começaram a lutar, as mãos bravas de Salim defendiam os golpes cheios de desejos assassinos. Twisted também fazia como podia e até acertava guardas. Mas não havia matado nenhum. O tempo se passava e os homicídios iam ocorrendo. O turco havia derrotado três e o jovem apenas um. Edward já estava enfurecido com a luta e decide avançar no inimigo mais velho. Imaginou que o mesmo não daria conta de dois adversários.
Erro dele. Salim apanha o primeiro inimigo com a mão e deixa seu corpo na direção da espada. Stik. A lâmina perfura o coração do companheiro do gorducho. Restavam só dois vivos. Twisted desarma seu inimigo e perfura sua a cabeça. Apenas o “padre” estava vivo. Eram os momentos finais dele. Oh, como o mesmo sabia disso.
- Merda, merda, merda! – Edward correu na direção de onde viera com o Escorregadio. Mas teve o azar de ser seguido por dois homens armados. Fate seguiu seu “amigo” por impulso. Felizmente o cara não demonstrou uma ação negativa.
Gut e sua adversária ainda lutavam. A moça já gastara três flechas contra ele. Quase todas pegaram de raspão. Gustavo estava tão exausto quanto Vitorrie. Mas eles não cessariam até um deles parar de respirar. Mas talvez a garota nem quisesse tanto assim ver a morte do inimigo. Apesar de ter desejado isso segundos antes.
- Roubas um inocente e depois ameaça a vida de civis cometendo sua heresia. Acha mesmo que pode sair sem pagar por isso? – indaga errando mais um golpe vertical.
- Deixa de ser fanático, rapaz!
- Não é fanatismo. É justiça! – de raspão ele acerta um golpe no ombro dela. A mesma cerrara os olhos marrons de dor.
Talvez Gustavo tivesse certo fanatismo. Mas não era nesse caso. Era também umas das primeiras falas na batalha. Manteve-se estranhamente focado na batalha. Observando os gestos da adversária. Seu único problema era que a ruiva também era hábil em combate. E ela nem estava devidamente armada.
Salim cerra seus olhos no corredor. Iria alcançá-lo cedo ou tarde. Sabia disso. Armou-se com a faca roubada do homem de 40 anos e preparou um pulo. Ardam estava bem na frente de Twisted que se impressionara bastante com a habilidade do companheiro. Edward vira Vittorie batalhando com Gustavo e isso o fez parar e repensar sua ida. Mas esse foi seu fim.
O turco jogou-se contra o “padre” e furou seu corpo. O barrigudo ainda iria agonizar um pouco antes de finalmente deixar este mundo. Salim fizera tal ação propositalmente, justamente para ter a oportunidade de arrancar informações necessárias sobre onde o Escorregadio iria agora.
- Onde o Thomas está indo? – indagou Salim com a boca no ouvido do corpo.
- Nunca irá ter nosso artefato, Salence... – disse soltando sangue de sua boca.
- Responda!
- Ah... P... Portugal. Iremos arriscar levar um de nossos homens Kavers... para a ilha onde pode-se encontrar o artefato... – disse quase deixando este mundo.
- Grato! – agradecera, mas o mesmo ainda tinha coisas para dizer.
- Achas mesmo... Achas que irá vencer nossa Ordem... Salance? – indaga com dificuldade. – Crês que deixando homens livres eles poderão trazer a própria paz e suprir vosso ódio?
- Creio na liberdade individual! Não se pode deixar todos sob o controle total de alguma autoridade!
- Errado, garoto. Eles vão acabar matando-se e tragarão a própria desgraça. A sociedade necessita de um líder que os aprisione. Mas que ainda dê uma ilusão de liberdade... – foram essas suas últimas palavras.
Essas mesmas palavras grudaram na mente de Salim. Seria mesmo necessário termos um líder? Somos presos em algo que nós não vemos? Ardam só afastou tais coisas da mente e encara o cadáver na sua frente. Vá para onde deva ir foi o que o mesmo dissera ao “padre”.
Vittorie olhava aquilo com certo espanto. Gut fez o mesmo. Mas o católico parecia mais enraivado. Dois no mesmo dia? Como então iria aprisionar ambos?
- Tu! – chamou Gut. – Tu mataste o padre! Sabes como isso é...
- Ele não era um padre de verdade, cavaleiro. – responde ríspido. – Era um inimigo meu. De algo maior do que entenderiam. – o mesmo caminhou empurrando a moça na sua frente. Ao tentar fazer o mesmo com Gustavo, fora impedido pela espada do mesmo que ele apontou. – Quer perder as mãos ou vai deixar-me ir?
- Não acredito em você!
- E nem precisa. – começa. – Mas digo a verdade. Saia do meio antes que eu arranque sua cabeça.
- Se ele não era padre, então o que era? – indagou.
- Participante de uma facção. Facção essa que não está agindo no nome Daquele Homem que ele serve. Só o que posso te revelar. – disse ainda encarando.
- Deus não é homem*!
- Não me importo. Deixe-me passar. É meu último aviso. – bufou no fim da frase.
Gut pensara bem sobre isso. O padre mesmo tinha dito palavras estranhas antes. Mesmo relutante, resolveu acreditar nele. E deixou-o passar. Mas antes de continuar sua batalha com a ruiva, indagou-a sobre seu conhecimento do fato.
- Sim. Eu sabia. Por isso tentei chamar a atenção dele atirando no Roberto. – mentia Vittorie. – Um herege desses não pode manter-se vivo. Não achas?
Gustavo não concordara com os métodos, mas achava que deveria ser punido. Agora tudo havia sido feito. Não iria entrar em luto. Edward era falso. Mesmo que o jovem de 27 anos estivesse incerto de tal. Todavia deixou-o o local indo ao seu barco corsário. A ruiva roubara os pertences do velho e saia dali. Não antes de ver um homem de 18 anos correr atrás de Salim. Deve até ter ignorado o morto no chão
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