CAPÍTULO CINCO – Portugal.
Anel, joias, ouro pequeno. Que visão! Vittorie adorava tudo aquilo e já se imaginava usando tais objetos com algumas roupas chiques dos nobres bobos. Iria tentar sair de Yorth seduzindo algum capitão velho que não vê um par de tetas faz tanto tempo que cederia aos encantos da bela ruiva.
Mas não observara qualquer navio. Desejara ir num bem bonito e seguro. Avistou um. Não esperou e avançou devagar na direção do mesmo.
- O que conseguiu, Salim? – indagara Addin.
- Informações. Vamos para Portugal hoje mesmo. Há algum Kavers no país. Provavelmente em Lisboa. Vamos ter de encontrar o Escorregadio ali antes que ele ou seu subordinado viaje até a ilha do artefato. – diz Salim sem encarar o amigo.
Vittorie escutava tudo escondida. Atrás de caixas perto de Addin e Salim. Artefato? Kavers? O que seria isso? Tantas perguntas estavam na mente dela.
- Acho que posso te colocar num navio de um amigo, Salim. – informa Addin. – É um nobre português chamado Pedro. Sei que ele tem grandes navios e que pode te levar para a ilha. E um rico do país, decerto deve fazer alguma viagem. – concluiu.
- Pedro? Como ele é?
- Barbado. Deve ter 32 anos. Branco, padrão europeu. – diz cruzando os braços escorando-se no navio.
- Ao chegarmos lá tu me dizes mais sobre esse homem. Devemos ir o quanto antes! – Salim sobe as escadas e entra no navio.
- Pedro? Navegador? Nobre? Espera... nobre? Isso é interessante! – pensou Vittorie.
A ruivinha caminhou sensualmente para perto de Addin. Finalmente vira seu rosto: pele meio queimada, cabelos bagunçados e negros. Olhos fundos e marrons. Parecia ter cerca de 30 anos ou um pouco mais. Barba crescia no seu rosto. Do seu jeito de boa moça aproximou-se e inventou um cair. O jovem árabe segurou-a e a atuação começou:
- Oh, me desculpe, senhor! – “desculpou-se” com voz sexy. – Estou meio tonta, mas obrigada por me segurar.
Discretamente a garota coloca a mão no meio dos seios e abre um pouco sua blusa mostrando um pouco do decote. Addin percebera seus seios pulando no momento que os mesmos foram expostos.
- Ah... de nada... – o rapaz não tirou os olhos de lá.
A garota, como uma cobra, enroscou-se no jovem e pôs o meio de suas pernas no meio das dele. Estranhamente não pôde sentir o membro do árabe. Mas deve ter sido impressão. Ambos estavam com muita roupa.
- Que belo navio tem. É o capitão dele? – pergunta encarando os olhos marrons do árabe.
- S-sim... s-sou o dono... – como Addin resistiria aos encantos da moça?
- Adoraria viajar contigo onde for, capitão. – falou quase grudando os lábios nos dele.
- Addin! – uma voz familiar foi escutada por ambos. – És um ser místico regenerativo e eu não estou sabendo? – essa voz indaga.
Salim encarava tudo aquilo com sobrancelha arqueada e braços cruzados.
Regenerativo?
- S-Salim! – Addin afasta-se da moça. – Já disse que essas piadas não possuem nenhuma graça!
- Só avise a moça que não tens algo entre as pernas, entendeu? – Salim riu pelo nariz e saiu dali deixando o amigo envergonhado.
Não tens... o quê?
- Bem... É que... sabe... uma vez um grupo me apanhou e bem... – Addin ficou com bastante vergonha de contar o ocorrido.
- Ah, eu entendo... – a moça pôs a mão sobre a testa. – Mas ainda podes me levar no navio, certo?
- Não vai dar... – responde o capado. – Existem regras que devo seguir. Perdoe-me, moça...
Vittorie não pôde fazer mais nada em relação ao Addin e suas regras. Não iria entrar lá pela frente. Porém isso não era nenhum problema para a ruiva experiente e hábil. Quando o mesmo virou-se para resolver algum assunto com o turco, a garota jogou-se na água e nadou até a parte de trás do navio. Escalou e apareceu na parte traseira do grande barco. Teve até a oportunidade de ver o nome da embarcação "Gezi"*. A garota notara que Salim e seu amigo se dirigiram para suas cabines e deixaram o pátio livre. McGarden abre a porta do convés e desce as escadas. Por sorte nenhum homem estava prestando muita atenção, pois jogavam jogos de azar, todos estavam excitados com a jogatina e nem notaram a presença feminina da invasora.
- Agora só preciso me esconder no meio das cargas e tudo estará certo! - pensara e realizara o feito.
A sorte realmente estava do lado daquela garota de cabelos laranja. Pois até mesmo buracos atrás das cargas haviam, e isso dava para a moça o ar necessário para sua sobrevivência para esses últimos dias naquela ela e os outros estariam no oceano.
Mais ao longe, Addin, Salim e Twisted se encaravam na cabine mais chique do navio. Estava com uma boa iluminação e mantia-se bem arrumado. Era a cabine do turco mais novo que não tirava os olhos do novato e do homem mais velho.
- Achas mesmo, Addin? - indaga Salim ainda com braços sobre o peito.
- Perdemos homens hoje, Salim. Este rapaz pode ter a convicção necessária para se juntar na Irmandade. - comenta Addin.
- Por qualquer coisa, homem! - brada pondo suas mãos na face. - Sequer viu-o lutar!
- Mas eu percebi o jeito como ele se porta. - começa. - Percebestes suas respostas para nossas perguntas? Percebes a sua resposta para nossa principal pergunta? - termina encarando seu amigo.
- A paz pode até ser mesmo um dogma, amigo. Mas ainda sim não creio que deveríamos chamá-lo só por isso! - os dois iriam discutir lá mesmo. E daí se estariam quebrando mais uma das regras da Irmandade Salence?
As palavras doidas vindas das bocas começaram a confundir a mente do jovem fate que observava tudo aquilo. Mas nem parecia. Os dois morenos batiam boca, porém o olhar do jovem de 18 anos parecia bem distante, além de Yorth. Além até mesmo do oceano. Mas era só impressão. Algo que era dele. Twisted prestava bem a atenção nos amigos, se é que eles ainda se chamavam assim.
- Se quiseres fazê-lo integrante de nossa irmandade, tudo bem, Addin! - berra sendo derrotado. - Mas tu, e apenas tu, deverás dar o treino adequado e ensinamentos que o nosso mestre nos deu! - exclama saindo da presença dos dois. - Boa sorte em fazer isso durante apenas semanas, "irmão". - saiu da cabine e encarou o sol ardente na face.
- Hâlâ ayni aptal her zamaki gibi!* - brada, mesmo sabendo que o outro não ouviria. - Desculpe por isso... Twisted, não é?
- Sim.
- Olha... Salim pode ser um homem difícil ás vezes. - repensou bem sobre essa frase. - Talvez quase sempre. Mas tem um coração no fundo do peito, entende? Ele só teve uma infância conturbada e cheia de erros na adolescência e incio da vida adulta. Mas pode ser compreendido. Só necessita calma... - Addin coça a cabeça. - Porém, você faz parte de nossa Irmandade agora. E precisa ter sua iniciação! - o árabe caminha até uma prateleira e apanha uma tigela. Logo após segue até a cama e pega um pote com certo líquido gelatinoso e laranja.
- O que é isso? - indaga Twisted encarando tais coisas.
- Isso, meu amigo, é nada mais nada menos que a sabedoria. - o mesmo pôs o líquido na tigela. - Ou só uma forma representativa dela. - então colocou seu dedo indicador na gelatinosa água. - O único que pode realmente te aceitar na Irmandade é o nosso líder. Mas como ele não está aqui... e eu sempre quis fazer isso... terás uma iniciação simbólica. Todavia quando chegarmos em nosso país terás algo real e oficial.- o dedo elevou-se e tocou na testa do jovem. - Que isso abra sua sabedoria. Ao menos, que lhes faça sair em busca dela!
Portugal, semanas depois
Já estava de manhã quando Salim e sua turma chegaram em Lisboa. Que já era uma portuária cidade no país. Durante esses dias, Twisted fora treinado com espadas, facas e recebeu o conhecimento que seu mentor Addin tem. Algumas lutas básicas no pátio do navio e convés. Seus novos irmãos ficaram entusiasmados com a chegada desse novo membro. Mas Salim ainda parecia não estar convencido da capacidade do moçoilo. Ignorava-o com frequência e parecia estar mais preocupado com o navio. Sua preocupação não era tão real, pois Vittorie ainda encontrava-se no convés sobrevivendo de roubos para alimentar-se e beber. Era tão boa que ninguém especulava a presença de uma infiltrada na embarcação.
Os moços preparavam-se para descer do navio, Twisted parecia mais alegre do que da primeira vez em Yorth. Mais inteligente e hábil também. Não tanto quanto antes, mas ainda sim, havia mais beleza em seus pensamentos. Uma evolução que nem mesmo o próprio Fate imaginaria ter em tão pouco tempo.
Os moços preparavam-se para descer do navio, Twisted parecia mais alegre do que da primeira vez em Yorth. Mais inteligente e hábil também. Não tanto quanto antes, mas ainda sim, havia mais beleza em seus pensamentos. Uma evolução que nem mesmo o próprio Fate imaginaria ter em tão pouco tempo.
No outro lado de Lisboa, um navio corsário também chegava, navio este que levava cargas e também o jovem católico Gustavo, que repensara em tudo o que tinha visto na sua última parada em Yorth. Talvez se ele tivesse matado a ruiva, como ficou prestes a fazer em diversos momentos, estaria arrependido agora.
Num local bem mais distante, outro mercador caminhava pelo chão português. Este tinha olhos puxados e uma pele amarelada. Era certamente asiático. E olhem só, os julgamentos estavam corretíssimos. O chinês de 24 anos carregava caixas com comida. Levava tudo para uma loja no centro e voltava. Iria fazer isso até enjoar - não era de sua natureza manter-se na mesmice diária do mundo -. Porém, trabalharia, afinal, sem trabalho, sem dinheiro.
- Vê se não sai da rota dessa vez, Shun! - diz um senhor mais velho também carregando caixas.
Shun não responde e tenta ignorar. Mas fica evidente sua desaprovação pela fala do mais velho. Tanto que até torceu o rosto. Da última vez eu salvei todo mundo! pensava sem tirar as mãos da média caixa. Aquele senhor parecia não conhecer a verdadeira utilidade do jovem chinês.
- Iremos acabar com a raça dele! - Shun escutou um europeu comentar.
- Tens certeza que não seremos vistos? - indaga a segunda voz. - O padre falso irá fazer a missa?
- Se Deus quiser ele irá. Ha! Ha! Ha!
Padre falso? Acabar com a raça? - Shun tentara ignorar essas palavras e só seguir a rota.
- Se aquele metidinho Salence acha que pode nos derrotar... está redondamente enganado!
- Se o nosso líder souber de nossa trama contra aquele navegador de merda seremos promovidos! Finalmente saírei dessa merda de iniciante na Kavers!
- Sim, irmão! Cinco anos na porcaria de iniciante! Que injusto!
Talvez não fosse tão injusto. Afinal, Shun - e qualquer pessoa - poderia ouvir o que os dois malandros estavam falando. O chinês não resistiu. Abandonou as falas daquele senhor e seguiu os dois portugueses com passos calmos e silenciosos. Nem imaginaria que os dois também seriam seguidos por gente mais perigosa num futuro nem tão distante.
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