CAPÍTULO SEIS - Início da briga de espadas
Shun escutava a conversa dos dois sem entender direito o que elas significavam exatamente. Não que seu português fossem ruim. Mas todas aquelas Ordens e Irmandades pareciam-lhe coisas de outro mundo. Seriam isso afinal? Ou os dois só estavam tão bêbados que começaram a falar asneiras? O chinês cerraria mais ainda seus olhos puxados. Sua curiosidade estava demasiadamente alta e o jovem não iria perder a oportunidade de saber, pelo menos, quem era o alvo de assassinato.
Addin e Salim se encaravam no navio. O turco parecia dizer com seus olhos negros e cerrados coisas como "Não deveria ter aceito um estranho na nossa Irmandade!". O amigo, olhava-o alegre. Alto contraste com a face do amigo. Deveria dizer algo como "Ele será um bom membro, irmão.". E se duvidar, ambos até estavam conversando por meio de olhares, nem notaram o jovem de 18 anos encarando tudo como se dissesse "Mas o que vocês estão fazendo?".
- Bem, jovem. - começa Addin. - Me acompanhe, te mostrarei a cidade e o nosso navegador. - o mesmo encarou o amigo de olhos negros. - E você, Salim... vê se encontra alguma coisa relaxante para você fazer, tudo bem?
- Relaxar não me tornará um bom líder, Addin. - rebate cruzando os braços.
- Ser um idiota também não.
Os dois saem da embarcação e vão caminhando com tranquilidade pela grande metrópole portuguesa. Sempre fora linda aos olhos de Addin. Fate concordava com essa opinião. Talvez nunca tivesse algo tão grande e cheio de pessoas na vida. Os cidadãos falavam engraçado. Travavam o "R", pareciam até rosnar para as pessoas. O jovem soltara um sorriso bobo ao pensar nessa ocasião. Aquele homem de 30 anos ao seu lado sabia bem o idioma e entendia o que todos conversavam. Deu até para saber quando mencionaram o nome do navegador que eles estavam procurando. E escutara também a palavra "Ordem Kavers". Deixando-o bastante atento.
- Fica atrás de mim. - diz preparando para sacar sua espada. - Há pessoas más por aqui, creio eu...
Vittorie caminhava segura de si. Quantos bobos havia roubado? Cinco? Nem ela sabia ao certo. De qualquer forma, decidiu ao menos molhar-se um pouco. Mas não nadaria ali, tampouco tiraria a roupa para banhar-se na frente do povo. Fora numa estalagem e pagou por um banho. Mesmo que o dono estranhasse, aceitou as moedas e deixou que a moça se lavasse. E, enquanto passava água sobre o corpo, escutou um barulho estranho vindo daquele corredor. Tinha um homem português falando algumas coisas e parecia ter batido na parede. Aquilo parecia estranho, mas isso seria um maluco tentando espiá-la?
- Aquele desgraçado do Vasco vai tentar pegar o nosso artefato. Tenha certeza disso, Pedro. Como não sabias que ele era um deles? - indaga o primeiro homem de voz grave.
- Já disse, senhor. - repetira. - Apenas fui mandado para escrever as cartas ao Rei Emanuel. Nada mais, senhor!
- Se o merda do Vasco da Gama tentar ir numa missão para fora de Lisboa, eu mesmo tratarei de meter minhas mãos naquele patife! - brada apertando a mão no próprio braço.
- Tenho certeza de que isso irá ocorrer, Pedro. - disse o segundo Pedro. - Teremos de ter certeza de que pegaremos essa pirâmide na viagem antes de irmos para a Índia. Aquele seu amigo turco virá conosco, senhor?
- Sim! - responde começando a andar para fora dos corredores do banheiro. - Ele deve ter o mapa da ilha que buscamos. Espero que nossa missão seja bem sucedida, amigo,
- Será sim, meu amigo. Será bastante, você irá ver!
Vittorie deve ter entendido cerca de seis ou sete palavras. Mas ainda ficara especulando o que os dois estariam tramando. Foi até complicado explicar para o dono do local o que ela desejara. Imagina só tentar entender a tramoia dos dois portugueses que tinham o mesmo nome.
Gut saiu do navio corsário e caminhou pela cidade. Deveria ir para uma igreja? Arrepender-se de ter quase matado uma garota semanas antes? Talvez sim. Mas ele não importou-se com isso e caminhou pela cidade, observando crianças e os velhos. Todos alegres, com um grande sorriso na face. Até que viu uma moça bastante bonita caminhar. Levava consigo uma menininha do mesmo tom de pele dela. Gustavo já vira escravos, mas aquela mulher parecia diferente. Estava livre? Mesmo tendo pele escura? Alguns homens e mulheres da cidade olhavam-na torto. Afinal, onde estaria o dono daquela escrava?
Esta moça chama-se Cateline Garsea. E não era nenhuma escrava. Pelo contrário. Trabalhava para um senhor que pagava-lhe para tal. E mesmo que alguns brancos considerem-se superiores pelo tom de pele, ela não julgava desta forma. A menina que Cat leva consigo é a filha do homem que a mesma trabalha. Tão jovem e inocente. Jamais pensara que poderia sofrer coisas terríveis só por conta da pele negra.
- Quando chegarmos eu te ensino uma coisa bem legal sobre proteção, certo, Viky? - indaga a moça maior. A menina esbanja um sorriso concordando.
Cateline treinava menina. Não que fosse algo árduo, ou trabalho pesadamente difícil. Mas era coisas que seriam úteis quando a mocinha chegar na sua fase adulta. Garsea não usava esse sobrenome, pois revelaria sua origem: nobre. Para esconder estas e qualquer outra suspeita, a mulher utilizava o nome de seu antigo mestre: Dubravka. Um dos homens que ela mais respeitou no mundo.
Gustavo sorriu ao ver os dentes branquinhos na face da jovenzinha. Nem sabia o porquê dela ter sorrido, mas viu graça nos olhos da menina, como não sorrir de volta?
Mas longe de toda a felicidade e olhares tortos, os irmãos tagarelas agora estavam sentados no chão bebendo demasiadamente. Eram idiotas, paspalhos e qualquer sinônimo. Twisted até estranhara o fato de Addin ainda se preocupar com os mesmo. Iriam morrer sozinhos se duvidar. Ambos nem perceberam Shun que estava numa esquina encostado na parede.
- Pedro... Pedro de quê, Murilo? - indaga o primeiro homem.
- Álvares Cabral, Álvares Cabral! - repetiu enquanto tomava sua bebida.
- É exatamente ele quem nós procuramos, garoto! - comentou Addin.
Fate decora o nome, Shun fizera o mesmo. O membro mais velho da Irmandade naquele momento caminhou até os irmãos. Agora não com uma espada, mas sim com faca. Addin desferiu um golpe fatal no pescoço do homem denominado Murilo e matou-o em seguida. Seu irmão ficou assustado e saiu correndo com medo, berrando palavras do tipo "Ajudem-me um assassino!", mas antes mesmo de alcançar dois metros, esbarrou num chinês da esquina. Wenjin encarou-o também com medo. Ficou mais pálido ainda ao ver o membro Salence assassinar seu segundo fácil alvo.
- Não saiu como esperava, não é? - indagou ao corpo morto do segundo irmão.
Shun parecia ter perdido as falas. Nada saia de sua boca além de um som que poderia ser algum "socorro". Addin só o observou e pôs o dedo sobre os lábios, pedindo silêncio. Logo após virou a esquina e saiu de lá rapidamente junto ao seu novo amigo Twisted Fate. O chinês ficou com a imagem do árabe na cabeça e saiu dali rápido. Até mesmo para não levar a culpa sobre as mortes ali causadas. Já havia perdido sua mercadoria e amigos. Porém sabia onde os homens iriam e foi até lá.
- Shun! - brada um senhor. - Onde está aquele carregamento? Se perdeu ou saiu para mais uma de suas curiosidades? - indaga com cara brava.
- D-desculpe, senhor, mas eu...
- Tudo bem, meu bom senhor. - disse uma voz bonita masculina. - Temos tudo o que precisamos. Meus amigos adorarão, não se preocupe.
Este homem tinha barba curta e provavelmente teria 34 anos, cabelos baixos e marrons que iam até a parte superior da sobrancelha. Os lábios rosados e finos estavam sendo lubrificados com a língua do mesmo. Era relativamente alto, mais alto que Wenjin, ao menos. Tinha duas espadas na cintura e usava uma roupa de couro bem cara. Os olhos verdes do adulto encontraram o rosto de Shun e fitou-o por leves segundos antes de falar com aquele velho de novo.
- Tens um oriental contigo. Não é normal vermos esse tipo de pessoa por aqui. Onde o achaste? - indaga o "olho verde".
- É um jovem que contratei por ser rápido quando quer. O vi ajudando alguns bons homens. Me recomendaram contratá-lo e assim o fiz. - quase esqueceu-se de um detalhe: - Ah, ele é ótimo em combate! Nos defendeu de ladrões e malucos metidos muitas vezes, não é mesmo, Shun?
O jovem ficara meio envergonhado, mas era tudo verdade. Ele só concordou com a cabeça e sorriu.
- Sabe usar uma espada garoto?
- Com certeza. - responde Shun ao homem de olhos esmeralda.
- Adoraria que pudesse usar a minha algum dia. - este homem sorriu e tirou seus olhos do rapaz.
Shun ficou pensativo. Seria isso um flerte? Aquele homem deseja possuir o corpo dele?
- Ora, ora. Se não é o velho Carl e suas merdas idiotas. - brada um homem atrás dele. - Não achas que já dormiu com gente demais nessas últimas noites, amigo? Ainda tem uma garota apaixonada por você, não se lembra? - o "olhos verdes" chama-se Carl. O mesmo virou-se e puderam ver o rosto do cara que falava.
Ninguém dali sabia, mas era Thomas. Aquele escorregadio.
- A dispensei hoje mesmo. Não tenho culpa, Tom. - respondeu indo para o lado do amigo.
- Se realmente for um exímio lutador, poderíamos levá-lo para nosso... - Thomas procurou palavras. - Pequeno clã...
- Clã?
- Exato. - responde Carl. - Poderá ser bem treinado e ter tudo o que desejas. Ao menos, eu faço assim sempre. - aquelas esmeraldas nas órbitas acompanharam o corpo do oriental que parecia estar desconfortável.
Shun até tinha os mesmos gotos que o "amigo" - homens e mulheres -, mas tudo aquilo o incomodava bastante. Preferiu negar pedido e sair dali logo. Todavia nenhuma palavra saiu de sua boca. Pois um certo turco apareceu e bradou palavras de guerra. Fazendo com que Thomas e Carl se alertassem e preparassem suas armas. Ardam, graças ao chinês, havia achado o alvo. Contemplar um assassinato de um membro da Irmandade e ir embora não é sábio na visão do homem de 26 anos.
- É a porra do turco desgraçado, Carl! - brada Thomas.
- Tirarei todo o sangue dele antes que possa fazer o mesmo de ti, Tom. Chame os demais! - Carl diz com frieza e pegando no cabo da espada. - Shun, se lutares comigo, poderá integrar no nosso... "clã"... - ele fitou-o.
Shun foi empurrado e caiu. Salim já estava numa batalha árdua com o inimigo da Ordem rival.
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