Quando a porta se fechou e eu me senti segura para finalmente conversar a sós com Andrew, eu levantei meu olhar que estava grudado em meus pés, e foquei nele.
Eu não queria acreditar no que Daniel havia dito. Eu não queria acreditar e não podia que, aquele Andrew que eu conheci era uma fraude!
Eu estava apaixonada por ele, claro! Eu ainda amava Daniel, mas sabia que ficando com Andrew eu o esqueceria. Estava tudo indo muito bem, e só foi Daniel aparecer que tudo desmoronou.
Isso era a minha sina? Sofrer sempre grandes decepções?
Naquele dia, depois do encontro com Daniel, eu decidi aceitar as investidas de Andrew. E seria tudo perfeito e maravilhoso aquela nossa noite, se Daniel não tivesse aparecido. Mas ele apareceu, e como sempre veio cheio de confusões e decepções, parecia um furacão, sempre pronto para me destruir.
Andrew permanecia quieto a minha frente, pensativo e com as mãos fechadas em punhos, demonstrando sua ira.
- Você tem algo para falar sobre isso? - a minha voz saiu baixa e trêmula.
Ele levantou seu olhar para mim e, se aproximou. Eu estava tão confusa que, ao mesmo tempo em que queria seu abraço, eu queria correr para o quarto e me trancar até acordar no outro dia e ver que não passou de um pesadelo.
- Sim. Eu tenho. Muitas coisas aliás. - Seu olhar tinha uma demonstração de tristeza - Mas acredite em mim, eu não roubei esse projeto. - Ele tocou meu rosto e eu fechei meus olhos rapidamente. - Eu só vou tomar meu banho, e nós iremos jantar. Tudo bem? – Perguntou e eu assenti.
Andrew beijou minha testa e demorou mais que um segundo com seus lábios ali, acariciou meu rosto, respirou fundo e se foi, me deixando sozinha na enorme sala que estava sendo marcada pela presença de Daniel naquela noite.
Eu fechei os meus olhos e respirei fundo, suspirando logo em seguida.
Não importa aonde quer que eu esteja, ele sempre iria me encontrar. E sempre iria deixar sua presença marcada, para ser lembrada. Como se eu já não lembrasse o bastante dele.
Agradeci quando fui para a cozinha e não tinha nada no fogo. Pelo menos alguma coisa boa tinha que sair daquele jantar e daquela noite.
As palavras de Daniel não saiam da minha cabeça. As acusações. E o projeto.... eu me lembrei dele quando Daniel disse sobre ele.
E ele tinha razão por pensar isso, mas eu não conseguia acreditar que Andrew tinha feito algo tão baixo assim.
Céus, eu precisava descobrir a verdade, e algo me dizia que Andrew não seria quem me diria.
Eu precisava ver com meus próprios olhos, todas as plantas que Andrew fez para que assim, comprovasse que ele é inocente que não roubou projeto algum, e talvez a equipe dele de designer que tenha copiado, e as funções tenham sido incrivelmente pensada por ambos. Andrew e Daniel.
Aproveitei que Andrew estava no banho e corri para seu escritório afim de encontrar alguma coisa nele. Contudo, quando girei a maçaneta, ela não abriu. Estava trancada.
- Droga! - xinguei baixo e respirei fundo mais uma vez, tentando colocar meus pensamentos em ordem e encostei minha testa na madeira da porta.
Eu precisava pensar direito. Precisava de todos os detalhes. Precisava conversar com alguém. E eu já sabia quem, mas antes, eu precisava ouvir da boca de Andrew o que é que tinha acontecido.
Subi para o quarto de Andrew, e tirei minha sapatilha para não fazer barulho, e entrei silenciosamente.
A pasta dele estava em cima da cama, me atraindo para ela.
Aproximei-me e a toquei, quando ia abri-la, percebi que a porcaria tinha uma combinação. Claro que teria. Eles não saem por aí com essas maletas, dando sopa.
- Tudo bem, se acalma Hellen... - eu sussurrei para mim mesma ao olhar para o imenso quarto e vê-lo tão organizado, sem pista alguma das que eu queria.
Eu queria abrir todas aquelas gavetas, revirar todos os papéis que deveriam existir naquela casa, e encontrar algo que me mostrasse que ele não tinha culpa no cartório. Eu só queria isso. E aí, eu teria o prazer de mostrar para Daniel que não foi só ele quem teve a ideia, que Andrew também teve. Que ele tinha que aceitar que a Empire tinha encontrado uma concorrência a altura, e não podia fazer nada mais do que se esforçar mais do que nunca, para continuá-la deixando no topo.
Era isso! Esse era o meu pensamento! Isso era o que eu achava. E tinha certeza!
Decidi voltar para a cozinha e terminar aquele jantar e esperar Andrew na mesa.
Ele pediu para confiar nele, eu não iria perder nada por isso.
Longos minutos se passaram, quase uma hora e ele apareceu a minha frente. Suas roupas casuais sempre o deixava mais lindo do que já era. Era o efeito contrário pelo o que eu sentia com Daniel.
Eu notei a ferida em seu lábio que tinha um leve inchaço, e a sua bochecha estava com uma coloração vermelha forte, e instintivamente eu quis toca-lo e cuida-lo.
Ele abriu um sorriso sem muita emoção para mim e eu prensei meus lábios e indiquei com minha mão, a cadeira a minha frente e ele sentou.
Começamos o jantar silenciosamente. Eu não ousei a dizer nada. Eu queria que ele dissesse, queria que ele contasse para mim o que aconteceu e que aquela loucura toda de Daniel era mentira, e era só Daniel tendo problemas com a insanidade.
Não tenho certeza de quanto tempo se passou, mas foi o bastante para eu terminar o meu prato e beber duas taças de vinho. Mesmo eu não podendo, eu bebi. Porque eu precisava do álcool em minhas veias para aguentar até o fim daquela noite.
E por incrível que pareça, Andrew não disse nada sobre isso. Era como se ele também achasse que eu precisava daquelas duas taças.
- Certo. – Ele disse após bebericar sua taça e deixa-la repousando novamente na mesa – Eu não roubei aquele projeto, para início de conversa. Para ser sincero eu não faço ideia do que está acontecendo aqui. – Respirou fundo e passou as mãos em seu rosto – Não tem como alguém da minha empresa ter roubado esse projeto. Está tudo muito confuso. – Ele dizia rápido demais, como se estivesse falando apenas consigo e esquecendo da minha presença.
- Andrew. Me conte como nasceu esse projeto na sua empresa. – A minha voz saiu numa calmaria, que para ele eu parecia calma, mas só eu sabia como estava dentro de mim.
- Antes de eu abrir a empresa aqui, eu pedi para os meus empregados do setor da mecatrônica que, eu queria uma coisa incrível, algo que fizesse a GI ser lançada com sucesso aqui na América. Então, tive a ideia de fazer um concurso entre eles para ver quem tinha a melhor ideia. E Hebert, foi o engenheiro vencedor com essa ideia do drone. – Ele balançava a cabeça – Porque ele faria algo assim? Roubar um projeto? Não tem cabimento, não tem porquê! – Ele suspirou – Eu acompanhei passo a passo desse drone, vi ele sair dos papéis para e se tornar realidade. Vi com meus próprios olhos, o esforço e desempenho de Hebert. Então, eu não sei o que está acontecendo aqui, de verdade! – Ele lançou seu olhar verde para mim e eu senti meu corpo todo trêmulo.
Ele estava dizendo a verdade? Sim. Ele estava. Dava para ver em seus olhos como estava sendo doloroso para ele. Mas, era igual demais ao projeto de Daniel e os hackers invadindo seu sistema e apagando esses arquivos, indiciavam Andrew.
- Você acha que alguém está tramando contra você? – Eu acabei dizendo aquilo em voz alta, antes de pensar se deveria ou não dizer a ele aquilo.
Mas o olhar de Andrew transmitiu desespero e incredulidade. Tinha alguém sim tramando.
- Não... Não. Com certeza não! – Ele disse para si, e eu arqueei minha sobrancelha.
- Não o que, Andrew? Isso está muito estranho. Você precisa se abrir comigo, eu quero te ajudar! – Eu disse um pouco nervosa e desesperada e ele me olhou.
- Não se preocupe. Você não precisa se envolver nisso. É um problema meu, e eu irei resolver isso. – Disse sério – Alias, - se levantou – vou resolver isso agora!
- Eu já estou envolvida, Andrew! – Levantei também – É capaz de Daniel estar achando que eu roubei esse projeto! – Gritei exasperada.
- Está mesmo achando que eu tenho algo a ver com isso? – O tom da sua vez denunciava que ele havia se sentindo magoado.
- Não. Não estou achando que seja você. Mas alguém da sua empresa tem a ver sim com isso. – Falei a verdade e ele arregalou os olhos – Se é mesmo igual ao de Daniel, ele já deve ter uma amostra do drone, com certeza já está procurando advogados e pode acabar com a Gregory Interprise e acabar com a sua carreira! – Eu estava tremendo – Você não vai querer isso, não é mesmo?
- Droga! – Ele fechou sua mão em punho e bateu na mesa, me assustando – Mil vezes droga! – Grunhiu – Estava indo tudo tão bem, tudo uma maravilha. Essa noite por exemplo, era para ser uma noite especial, só nossa. – Ele levantou seu olhar para mim – Finalmente você aceitou a ser minha namorada, e o que aconteceu? – outro soco na mesa – Eu preciso resolver isso... – endireitou seu corpo.
- Hey! – Me aproximei dele – Eu continuo sendo sua namorada. – Sorri terna e beijei seus lábios – E vamos passar por isso, e vamos desmascarar o culpado de tudo isso. E teremos muitas noites pela frente para aproveitarmos. – Ele acariciou meu rosto e eu pude ver dor em seu olhar.
- Hellen... – Começou, mas logo fechou seus olhos e apertou seus lábios – Eu preciso tanto te dizer uma coisa... – Seus olhos estavam vermelhos quando ele abriu, e também, tinham lágrimas.
- O que? – Meu coração voltou a bater forte – Então diz...
Ele sorriu, e beijou minha testa logo em seguida beijando os meus lábios e me abraçando. Parecia um ato de desespero.
- Eu não quero te perder. – Ele sussurrou em meu ouvido e eu arregalei meus olhos. – Eu amo você... – ele disse afagando meus cabelos.
- O que está acontecendo, Andrew? – Perguntei aflita e ele sorriu se afastando.
- Antes, eu preciso resolver esse problema. Eu trabalhei duro para conseguir chegar até aqui... – sua voz demonstrava a dor nas palavras – Eu vou passar na empresa e convocar uma reunião nesse exato momento. – Beijou meus lábios novamente – Não me espere.... Porque acho que não voltarei tão cedo para casa hoje. – Segurou meu queixo com seu dedo indicador e o polegar, fez um carinho naquela região e se afastou, e eu o vi sumir pela porta da sala de jantar.
Fiquei parada ali, tentando absolver tudo aquilo e aquelas suas últimas palavras. Ouvi ele subir e descer as escadas, e segundos depois a porta da frente se fechando, dois minutos e ouvi o carro dele sendo ligado. Então eu cai na cadeira que ele estava sentado. E senti meu corpo tremer, e a bebê chutou como se quisesse dizer que estava ali comigo, que eu não ficaria sozinha aquela noite, e que ela me ajudaria a passar por aquilo, como ela sempre vinha me ajudando desde que eu engravidei.
Em dias como aqueles, eu pensava em como a minha filha seria quando crescesse. Eu vinha passando por tanta coisa na gravidez, que tinha medo que isso a afetasse. Mas com certeza ela seria uma garota geniosa e brava. Muito brava. Ou talvez, seria calma e chorona. Porque eu me lembro de só ter feito essas coisas desde que descobri que estava a carregando em meu ventre.
Me levantei depois de algum tempo onde eu me perdia em pensamentos. E aos poucos fui retirando a mesa.
Já estava lavando a louça quando um pensamento surgiu em minha mente:
Daniel sabia quem era o traidor da sua empresa?
Olhei para o meu celular que descansava na ilha da cozinha, e cogitei em ligar para ele e perguntar. Rodeei o celular por alguns minutos pensando nos prós e contras que teria ao ligar para ele. E acabei ignorando isso e discando seu número, mesmo que ele fosse descobrir o meu novo.
Esperei pacientemente ele atender, mas na primeira tentativa a ligação caiu na caixa postal. Não desisti. Tentei novamente. E mais uma vez, até que atendeu.
- Alô? – a voz da megera soou do outro lado da linha e eu senti meu estomago doer e querer jogar para fora todo o meu jantar – Alô? Tem alguém ai? – Disse meio impaciente e eu respirei fundo, pensando se pedia para falar com Daniel ou não – Tudo bem, acho que é um trote. Vá caçar o que fazer amorzinho. – E desligou.
Eu fiquei respirando fundo tentando controlar a náusea que estava sentindo só de ouvir a voz daquela megera filha de uma.... E corri para o banheiro despejando todo o meu jantar no sanitário.
Eu teria que arranjar outro meio de conversar com Daniel. Porém, naquela noite, eu aproveitaria que Andrew ficaria fora por um tempo indeterminado, e procuraria algo por toda aquela casa. Porque eu precisava e necessitava de provas!
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