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História A Price to Pay - Chapter 1


Escrita por: SweetBaldwin

Notas do Autor


editado espero que gostem.
BOA LEITURA

Capítulo 1 - Chapter 1


Charlotte alisou a capa do álbum de fotos. Não o abria havia anos. Quis sair da biblio­teca, mas não conseguiu. Então, mordiscando o lábio, cedeu à tentação, mesmo sabendo que lamentaria.
Sentou-se diante da escrivaninha junto à janela, afastou do rosto a mecha de cabelos castanhos de comprimento mé­dio e, enganchando-a na orelha, abriu o álbum. Lá estavam. As pessoas, as lembranças. Os sonhos desfeitos, as confian­ças traídas.
Passou a mão na superfície brilhante das fotos. Mantivera o álbum na estante superior, fora de vista, por muito tempo. Mas seu pai devia tê-lo folheado e deixado ali. Teria ele, em sua dor, buscado naquele verão perdido as lembranças de épocas mais felizes?
Lá estava ele. Jonh Sullivan, seu pai. Seis anos antes, ele contava cinqüenta e dois anos... um homem forte, então, com o braço ao redor da bela noiva loira... noiva havia três meses. Sua madrasta, Helena.
Vinte anos mais nova do que Jonh, recém-divorciada, a loira fogosa poderia ter se tornado uma madrasta terrível, mas não. Quando Helena se candidatara à vaga de recepcionista em Farthings Hall, ele já se sentira atraído. Estava viúvo havia oito anos. A esposa falecera de infecção viral quando a filha contava dez anos.
Três meses após se conhecerem, Jonh e Helena se casaram. Charlotte ficara feliz por ambos. Seu temor inicial de que a madrasta pudesse se ressentir dela, ou de que ela mesma pudesse se ressentir da mulher que tomara o lugar de sua mãe no afeto do pai, mostrou-se infundado. Helena não po­deria ter se empenhado mais em encantar a enteada.
E lá estava ela mesma... Charlotte, seis anos antes. Os ca­belos bem mais compridos, então... quase alcançando a cin­tura... as curvas do corpo mais arredondadas, o sorriso largo, aberto, alheio à traição que se seguiria.
Sentiu lágrimas nos olhos. Estava com dezoito anos e feliz por passar o verão em casa antes de ir para a faculdade. Gostava de trabalhar em Farthings Hall, o luxuoso hotel-fazenda que fora montado por seu avô e continuado por seu pai.

Ao fundo, profeticamente talvez, Phillip Carter fora flagrado pela câmera apoiado no parapeito de pedra do terraço oeste da maravilhosa e antiga mansão Tudor.
Contador da empresa, fora Phillip quem apresentara Helena como prima distante. Após um divórcio complicado, ela pa­recia ansiosa em refazer a vida. Ainda se lembrava das pa­lavras dele...
- Jonh, não disse que precisaríamos de uma recepcionista quando Sandy tirasse licença para ter o bebê?
Phillip Carter. Na época daquela foto, ele devia estar com uns trinta anos. Os cabelos loiros já começavam a ra­rear, a cintura, a engrossar. Charlotte engoliu em seco, os olhos azuis cheios de lágrimas. Phillip Carter, com quem se casara no fim daquele verão, seis anos antes.
Devagar, sem desejar, porém movida por uma força mis­teriosa, virou a página e encontrou o que sabia estar procu­rando. E que temia. Todas aquelas fotos de Justin!
No final daquele verão, jurara destruir cada foto, picá-los e queimá-los. Mas não conseguira. Amor e ódio... lados opostos da mesma moeda. Afirmara mil vezes que o odiava, mas ainda devia estar apaixonada. Por que outro motivo não teria conseguido destruir as fotos?
Guardara apenas uma foto de Justin consigo. Agora, analisando as demais, não podia negar a beleza máscula. Só que aqueles olhos cor de mel, os cabelos castanhos compridos, as fei­ções divinas e o corpo perfeito escondiam um coração cruel.A foto que mais perturbava era aquela em que ela e Justin apareciam juntos. Com o braço possessivamente ao redor de sua cintura, ele a apertava contra o corpo forte, enquanto ela o fitava apaixonada. Sorriam, registrados para a posteridade como se vivessem o verão mais maravilhoso de suas vidas...
Durante todos aqueles anos, Charlotte evitara folhear o ál­bum, ainda traumatizada, mas agora não conseguia contro­lar as lembranças. Revivia o instante em que, mais jovem, descera correndo a escada de serviço naquele dia ensolarado de verão, seis anos antes.
Passara boa parte da manhã ajudando a governanta, Amy, a aprontar as suítes. Dispunham de apenas quatro aparta­mentos. Comparado a outros hotéis-fazenda, Farthings Hall era pequeno, porém exclusivo. Havia uma lista de espera enorme tanto para as acomodações quanto para as mesas do restaurante.
Após tanta arrumação, estava pronta para uma dose da­quele sol glorioso que até então só vira pela janela. Tendo realizado sua cota de tarefas ajudando Amy, estava liberada para usufruir o início das férias de verão. Freou bruscamen­te antes de colidir com a madrasta ao pé da escada.
- Opa! Desculpe-me... não tinha visto você.
Pequena, de cabelos loiros sedosos, Helena sempre fazia Cláudia sentir-se grande, desajeitada e ultimamente... in­conveniente. Evidentemente, ela nunca dissera nada rude nem manifestara a menor antipatia antes de se casar com Jonh, mas, naqueles últimos dias, mostrava-se irritada, com um misto de aspereza e descontentamento.
Mas não naquele momento, felizmente.
- Quanta energia! - admirou a madrasta, os olhos ver­des cintilantes. - Oh, quem me dera voltar a ser adolescente e cheia de vida...
- Mas você não é velha. – Charlotte ficou de lado no cor­redor que levava à entrada da mansão. Comparados a seus dezoito anos, os trinta e poucos de Helena lhe pareciam quase meia-idade, mas havia algo de atemporal na figura mignon e sexy de Helena, nos cabelos loiros, no rosto perfeito.- Obrigada. - Helena chegou à porta e empurrou-a. O sol a banhou, refletindo-se no vestido amarelo e nas jóias de ouro. - Você vem?
Charlotte pensara em caminhar até a enseada rochosa, através do vale profundo que rasgava as terras da proprie­dade, mas, se Helena queria sua companhia, adiaria o pas­seio. Geralmente, cedia à vontade dos outros, para deixá-los contentes. Talvez, principalmente, por precisar de que as outras pessoas ficassem satisfeitas com ela.
Como uma cadelinha gigante, comparou, irônica. Ofegan­te e com a língua pendurada para fora!
- Claro. Aonde vai?
- Procurar o velho Ron. Ele não entregou as frutas e legumes na cozinha ainda. O chef está furioso. O restaurante abriu há uma hora. E Jonh contratou um rapaz para ajudar Ron durante o verão. - Os olhos de Helena brilharam, sua risada era contagiante. - Pode ser um errante, mas é uma graça! Vale a pena dar um pulo na horta, a qualquer hora do dia! - Fez pausa significativa. - Ou da noite...
Charlotte riu também, certa de que a madrasta não falava a sério, pois estava casada havia poucos meses e não teria olhos para outro homem.
- Não sabia que papai tinha contratado mais alguém - replicou, enquanto seguiam pela trilha de cascalho.
Não estava surpresa por saber somente naquele momento da novidade. Recentemente, ouvira o pai e a madrasta dis­cutirem, porque ela decidira deixar o cargo de recepcionista. Agora que estava casada com o proprietário, não continuaria como funcionária... embora não se importasse em realizar os arranjos florais. Cláudia não se intrometera, esperando que os dois chegassem a um acordo. Situação mais constran­gedora do que aquela, só se os flagrasse... fazendo amor.
- Mas quando foi que esse bonitão juntou-se à equipe? Trata-se de um sem-teto mesmo? - Charlotte considerava-se felizarda por dispor de um lar como Farthings Hall. Não conseguia imaginar como seria não ter onde morar.
Helena moveu os ombros delicados.
- Parece. Apareceu numa velha motocicleta, há alguns dias, procurando trabalho. Alegou estar de passagem e aju­daria o velho Ron de bom grado durante o verão em troca de comida e algum dinheiro. Tampouco se importava em ocupar o carroção atrás da estufa. Aliás, ele se chama Justin. Justin Bieber.
Charlotte já não ouvia a madrasta, percorrendo atrás dela o caminho estreito no meio da horta. Só pensava no velho Ron. Ele já não era mais capaz de cuidar de tudo aquilo. Por isso mesmo, seu pai decidira contratar ajuda. Como o velho Ron se sentiria ao ceder seu lugar permanentemente a um profissional mais jovem, com pernas para andar mais rápido?
O velho Ron sempre trabalhara ali. O avô de Charlotte o contratara, antes mesmo de transformar Farthings Hall no renomado hotel-fazenda com o melhor restaurante da região da Cornualha. Ron nunca se casara e morava num quartinho no sótão do velho estábulo. Claro, Jonh Sullivan jamais lhe cobrara aluguel e, bondoso como era, provavelmente desig­naria ao fiel colaborador algum serviço leve, para que ele não se sentisse inútil...
Então, pela segunda vez em trinta minutos, Charlotte qua­se trombou com a madrasta. Helena estacara sem avisar, sob a passagem em arco. De repente, o ar ficou tão carregado que Charlotte prendeu a respiração instintivamente.
Havia um brilho estranho nos olhos verdes de Helena, tal­vez até um toque de provocação.
O novo ajudante arrancaria um sorriso de puro prazer de qualquer mulher.
Justin Bieber era tão arrebatador quanto Helen dera a entender, talvez mais. Apoiado num forcado, vestia apenas calça jeans desbotada com as pernas cortadas e botas de borracha.
Os ombros musculosos pareciam ainda mais largos em contraste com o quadris estreitos e o bom comprimento das pernas bem torneadas. A pele bronzeada brilhava com a ca­mada de suor. A testa, adornada por cabelos pretos desgre­nhados, cobria-se de gotículas. Ele estreitou os olhos cor de mel sobre a figura delicada e dourada de Helena, insinuante.
Charlotte estremeceu. Fazia um dia quente, o mais quente daquele verão até então. Não obstante, sentiu um arrepio da cabeça à sola dos pés. Avançou, saindo das sombras, la­mentando não ter trocado a calça jeans e a camisa velha que usara na faxina.
O movimento quebrou o encanto. O que quer que houvera, desaparecera. Helena os apresentou:
- Justin, esta é a filha única do patrão, Charlotte. Minha querida, cumprimente logo Justin para que ele possa ajudar o velho Ron antes que o chef apareça aqui com o cutelo!
- Oi... – Justin Bieber afastou os cabelos dos olhos, estendeu a mão e sorriu.
E Charlotte, pela primeira vez na vida, e talvez pela última, apaixonou-se perdidamente...
- Ah, você está aí. – Jonh Sullivan quebrou o encanto do passado ao adentrar a biblioteca, apoiando-se na bengala com cabo de madeira. Um pouco da tensão desaparecia de seus olhos. - Amy acabou de chegar da escola com Jessie. Estão a sua procura. - Reparou no álbum e meneou a ca­beça. - Não sei por que quis ver isso. Não adianta recordar o passado... não se pode trazê-lo de volta.
Charlotte levantou-se e guardou o álbum no lugar inaces­sível, ciente do escrutínio do pai, da compaixão em sua voz. Seis semanas antes, Helena e Phillip Carter haviam morrido em um desastre de automóvel.
Sete dias após o acidente, descobriram que os dois eram amantes. Tratara-se de um relacionamento inconstante, mas, na maior parte do tempo, ativo, desde que Phillip apresentara a divorciada glamourosa a Jonh como candidata à vaga de recepcionista.
Jonh descobrira tudo ao vasculhar os pertences da mulher ao encontrar diários e cartas bastante explícitos. Arrasado, sofrera seu terceiro ataque cardíaco em seis anos.
O enfarto não fora tão grave quanto o que sofrera, sem mais nem menos, seis anos antes, mas mesmo assim o dei­xara debilitado. Charlotte tinha de pensar no pai agora.
Por isso, não sabia como contar a outra novidade. Tinha pavor da reação dele.
-Você comentou sobre a possibilidade de um empréstimo para redecorar as suítes? - Guy sentou-se na cadeira que Charlotte vagara e apoiou a bengala na mesa.
Ele estava abatido, e Charlotte faria qualquer coisa para poupá-lo de mais uma preocupação. O melhor seria protelar os dissabores por algum tempo. Retardar o inevitável ao máximo.
Pedir um empréstimo ao banco? Impossível!
Charlotte conversara com o gerente naquela tarde sobre outro assunto. O hotel-fazenda estava à beira da falência, com sérias dificuldades financeiras... tão sérias que vender era a única opção. E Jonh  precisaria saber disso. Mas não agora.
- Onde está Jessie? - indagou, sem responder à pergunta. Geralmente, pegava a filhinha na escola todos os dias, mas, devido ao compromisso no banco, pedira a Amy que fosse em seu lugar. Não imaginava como se arranjariam sem a ajuda da senhora gorducha, grisalha e rosada que estava em Farthings Hall desde que Charlotte se lembrava. Amy praticamente a criara depois que sua mãe falecera.
- Está na cozinha com Amy, tomando suco de frutas - informou Jonh. - Oh, quase me esqueci de avisar: Jenny não pode vir esta tarde... está com gripe ou algo assim. - Levantou-se com esforço. - Posso ajudar Amy na cozinha, cuidar da parte mais trabalhosa do menu, deixando-a livre para assumir a parte de Jenny, que é atender às mesas...
- Não, pai - vetou Charlotte, autoritária. O pai ainda estava física e emocionalmente abalado, e precisava descansar ao máximo. - Amy e eu damos conta.
Phillip desentendera-se com o chef seis meses antes, mas Charlotte nunca descobrira por quê. Desde então, ela e Amy, com a ajuda de Jenny, vinham tocando o restaurante com um cardápio reduzido e simplificado. Agora, entendia por que Phillip relutara em contratar outro chef... No dia seguinte, cancelaria os anúncios procurando profissionais experientes que completassem a equipe. Para quê? O negócio... o lar deles seria vendido.
- Por que não se senta lá fora, pai? O dia está lindo, vamos aproveitar bem. - Charlotte quase acrescentou "en­quanto podemos", mas conteve-se a tempo. - Vou chamar Jessie e tomaremos chá no terraço.
Dez dias depois, Amy indagou:
- Acho que não contou as más notícias a seu pai ainda, não é? - Serviu-lhe uma caneca de café. - Ele parecia feliz, quase como antes, quando o amigo veio pegá-lo hoje cedo, portanto, não deve estar sabendo que a propriedade será vendida em breve.
- Sou covarde - admitiu Charlotte, cansada, sorvendo a bebida revigorante. - Mas ele está se fortalecendo. Só assim será capaz de lidar com esse revés.
- E você? - indagou Amy. - Também está sob pressão. Seu marido morreu... depois de se engraçar com aquela ma­dame, Helena... a própria sogra! Sei que não se deve falar mal dos mortos... mas francamente! Você sofreu golpes tam­bém, então por que carregar esse fardo sozinha?
- Porque não tive três ataques cardíacos em seis anos e porque não amava Tony, enquanto que papai adorava He­len... - Charlotte devolveu a caneca. - Não tenho tempo para tomar tudo.
- Claro que tem - insistiu Amy. - Esse camarada, Hallam, não vai procurar penas debaixo das camas, nem passar o dedo nas molduras para ver se tem pó. Você anda por aí, feito gata escaldada, desde que voltou com Jessie da escola. Tome o seu café e tente relaxar. Tem tempo para isso antes de ir se trocar. E, não importa o que os outros acreditem, nunca me engano. Você é como a minha filha. Eu sabia que não estava se casando com Phillip Carter por amor. Ainda pen­sava em Justin, e não arregale os olhos assim! Sei como se sentiu quando ele simplesmente desapareceu. Mas, como dis­se, você e Phillip se entendiam. Você não o odiava, portanto, o que aconteceu foi um choque, sim.
Charlotte fitou a velha amiga por sobre a borda da caneca. De que mais Amy desconfiava? Ou sabia?
Não queria pensar nisso. Pousou a caneca na mesa e mu­dou de assunto.
- Quantas mesas estão reservadas para esta noite?
- Todas. - Amy recolheu as canecas usadas e ajeitou na lava-louça industrial. - Acho que devemos manter o lu­gar da melhor forma possível, para conseguirmos bom preço na hora da venda. Felizmente, estamos no fim da temporada, é só o que posso dizer.
Charlotte contemplou as paredes da cozinha impecável e assentiu, emocionada. Estavam no começo de outubro e as reservas do hotel cessavam no fim de setembro. Já não ser­viam o almoço, tampouco. Só recomeçariam após a Páscoa. Mas atendiam para o jantar o ano todo, algo que deviam agradecer.
E havia outros aspectos a considerar, ponderava Charlotte, ao entrar na banheira, dez minutos depois. A vida não era tão ruim. Sempre havia pequenos golpes de sorte.
O gerente do banco não era propriamente um carrasco. Mostrara-se até compadecido na reunião, dez dias antes. De­pois que ela expôs a situação desesperadora e explicou que teriam de vender Farthings Hall, preferivelmente como em­presa, para honrar as dívidas consideráveis, ele aconselhou:
- Antes que ponha a propriedade à venda, sugiro que entre em contato com o Grupo Hallam... já ouviu falar?
Charlotte fez que sim. Quem não ouvira? Todos ligados ao ramo do turismo e hotelaria conheciam o grupo poderoso.
De repente, sentiu náusea. Devido ao choque, imaginou. O gerente pediu à secretária que trouxesse chá. Então, re­costou-se na cadeira e discorreu:
- O Grupo. Hallam abrange complexos turísticos e hote­leiros de qualidade. Não aceitam nada de padrão mediano ou mesmo ligeiramente inferior ao deles. É essencialmente uma empresa familiar, como deve saber. Harold Hallam, o principal acionista, faleceu há cerca de um ano, e há rumores de que o herdeiro quer expandir o negócio, adquirir outras propriedades.
O gerente fez pausa quando o chá chegou e foi servido.
- Se puder atrair o interesse deles em Farthings Hall e efetuar uma venda rápida, seria o melhor... uma incorpora­ção rápida pelo grupo Hallam significaria menos tempo para o tipo de especulação que poderia perturbar o seu pai. Sugiro que peça a seu advogado que entre em contato com eles.
Conselho proveitoso pois no dia anterior, o advogado lhe telefonou para informá-la de que alguém do grupo Hallam viria a Farthings Hall para se reunir com ela naquela manhã para discutir a possibilidade de uma venda particular.
- Não se comprometa com nada. Esse novo presidente executivo pode estar querendo mostrar ao conselho de ad­ministração o quanto é esperto. Lembre-se, esta será uma reunião exploratória meramente. Os analistas e advogados entrarão após a conversa informal entre as partes. Essa é a idéia geral, creio.
Charlotte estava de acordo. Por sorte, David Ingram convidara seu pai para passar o dia com ele. Eram vizinhos e amigos desde a infância. David iria buscá-lo de manhã cedo e, após o almoço, jogariam xadrez.
Seria um alívio poder se reunir com o representante do Grupo Hallam na ausência de Jonh. Cada dia sem que ele soubesse a verdade miserável era um bônus.
E Jessie também estava fora do caminho, a salvo na escola. Em casa, a menina preferia estar com a mãe, embora ado­rasse Amy. Uma reunião de negócios com uma criança de cinco anos exigindo atenção era no mínimo problemática.
Desde a morte do pai e da "avó" Helena, Jessie parecia carente. Não que os finados
passassem muito tempo com ela. Ambos costumavam se afastar quando a menina ficava doente ou manhosa.
O súbito desaparecimento deles devia ter deixado um va­zio na vida da garotinha. Um dia, estavam ali, meio distan­tes, porém presentes. No dia seguinte, não existiam mais. Provavelmente, o mais traumático fora a enfermidade do vovô, agora necessitado de descanso e tranqüilidade. Rosie não entendia por que o avô não podia mais brincar nem ler histórias para ela.
Charlotte suspirou e saiu da banheira. O representante do Grupo Hallam deveria chegar em meia hora. Não sabia se era alguém da família Hallam, o herdeiro do falecido Harold Hallam. Se fosse, o advogado a teria prevenido, não?
O que vestiria? Ah, o conjunto de linho cinza com blusa creme. Elegante, profissional, totalmente adequado a uma jovem viúva.
Arrumou os cabelos castanho-claros num coque junto à nuca, com presilha de tartaruga. Aplicou um pouco de ma­quiagem, comparando-se com os retratos que vira ao chegar da reunião traumática com o gerente do banco.
Mudara bastante em seis anos. Ainda tinha um metro e setenta de altura, claro, mas perdera muito da sensualidade. Emagrecera após o nascimento de Rosie, mas agora estava mesmo esquelética, considerando os revezes das últimas se­manas. A Charlotte que se via nas velhas fotos era oti­mista, tinha brilho nos olhos e sorriso aberto.
O espelho refletia uma mulher mais velha, mais expe­riente, um pouco cínica sob a camada de compostura, atitude que intimidava qualquer provocação. Estava cansada de ser capacho de todo o mundo. Tinha vinte e quatro anos agora, a idade de Justin Bieber quando se conheceram. Mas pare­cia e se sentia muito mais velha.
Outra diferença... a mulher refletida no espelho estava quase falida. A garota no álbum de fotos era uma herdeira de bens consideráveis.
Havia a atração, claro.
Recordou com clareza e dor o momento, seis anos antes, em que descobrira uma dura verdade.
Helena se sentara na beirada da cama só de calcinha e sutiã vermelhos, furiosa, porém compadecida ao lhe afagar a mão.
- E sabe o que aquele cafajeste do Justin Drew Bieber teve a audácia de dizer? Ainda mal acredito! Ele me disse para não ficar zangada por ele estar... como colocou de forma galante... se envolvendo com você! Zangada... eu lhe digo' Como se eu estivesse interessada num perdedor como ele' Como se quisesse algum caso furtivo com um desempregado, sem-teto, vagabundo, sendo casada com um homem mara­vilhoso como seu pai! Mas esta é a questão, querida...
Helena soltou-lhe a mão com uma carícia final. Vestiu o robe vermelho e amarrou o cinto.
- Ele chegou a dizer que estava brincando, porque você era uma herdeira e tanto. Iriam se casar e, então, Jonh não se oporia a sustentar o genro... para não estressar a querida filhinha. Só espero que não tenha dado liberdade a esse ca­marada, que não tenha se apaixonado de verdade, nem feito nada estúpido como...
Charlotte fechara os olhos para ocultar a dor. Quisera gri­tar que era tudo mentira, que Justin a amava, que a amava por ela mesma, que não se importava com a fortuna de seu pai, com Farthings Hall, as terras, tudo aquilo. Mas nunca mentira a si mesma. E, se não queria ver com os próprios olhos, tinha a conversa que tiveram no primeiro encontro para recordar...
Não por acaso, encontrava-se perto do velho carroção atrás da estufa, cerca de sete horas após ser apresentada a Justin. Também não por acaso, vestira short curto e blusinha sem mangas. O traje branco destacava suas longas pernas bronzeadas...
Sentia o coração disparado ao aproximar-se da porta aber­ta do carroção, mas convenceu-se de que era bobagem. Ela, como filha do patrão, tinha a desculpa perfeita para estar ali.
Podia ouvi-lo se movendo lá dentro, assobiando uma me­lodia. Antes que pudesse bater ou chamar, ele surgiu à por­ta, usando só aquela bermuda jeans improvisada e uma toa­lha ao ombro. Nos pés, substituíra as botas por um par de tênis surrados.
- Olá de novo. - Ele sorriu.
Por vários segundos, Charlotte não conseguiu falar. Sentiu o rosto queimar e desejou desesperadamente que ele atri­buísse o fato ao calor, aos raios de sol refletidos nos vidros da estufa.
- Eu... - Agitada, respirou fundo. Um grave erro. Só de olhar para ele, só de ser o alvo daquele sorriso sexy, sentiu as pernas fracas e os seios quentes, intumescidos e sensíveis. Ao inflar o peito, o tecido da blusinha se esticara, chamando a atenção dele para os mamilos pontudos. Então, recomeçou: - Estava imaginando se tem tudo de que precisa. O carroção não é usado há anos, desde...
- Está ótimo. Aquela governanta gentil... Amy?... provi­denciou lençóis, toalhas, alimentos... e o local está bem limpo.
Ele desceu os degraus e fechou a porta. Charlotte engoliu em seco, desapontada. Esperava que ele a convidasse a en­trar e ver por si mesma. Mas o que ele disse em seguida foi ainda melhor do que ela esperava!
- Ouvi dizer que há uma trilha no vale que leva a um tipo de enseada. Gostaria de nadar. Quer vir?
Se queria! Voltou correndo para casa para vestir o maiô e se encontrou com Justin atrás do carroção. A caminhada foi maravilhosa. Conversaram muito... bem, ele falou mais. Sempre que ela perguntava de sua vida, ele desconversara e a incentivava a falar de si mesma. Mas ela não tinha muito a dizer. Assim, ele passou a fazer perguntas e comentar as respostas.
- Este lugar é fantástico! Mágico! Como se sente sabendo que um dia será só seu? Não ainda, claro, mas no futuro. Vai mantê-lo assim? Fica preocupada com a responsabilidade?
Sentaram-se na praia de areia dourada e assistiram à lenta descida do sol sobre o mar. Justin parecia não precisar _ das respostas... era quase como se falasse consigo mesmo. Até que ele se achegou e passou o dedo em sua boca macia.
- Você é muito, muito linda...
Depois daquilo, tudo pareceu simples. A seu modo, ele confirmara que as terras, a mansão, o negócio, tudo seria dela no futuro, e fora além. Seduzira-a habilmente, enquanto ela mergulhava em suas próprias noções de amor romântico infinito...

Charlotte piscou e meneou a cabeça, irritada consigo mes­ma. Afastou as lembranças indesejáveis. Não sabia por que remoía o passado. Justin. Traição. Perda.
Recompôs-se, deixou o quarto e desceu a escada. Instruíra Amy a conduzir o representante do Grupo Hallam à biblio­teca quando ele chegasse, às onze e meia, e lhe servir um café.
Olhou as horas e gemeu. Onze e trinta e cinco. Ele podia já ter chegado! Era imperdoável ter se perdido em pensa­mentos, desperdiçado tempo.
- Ele chegou! - Amy surgiu junto à escada, a voz grave e aflita. - Está no hall de entrada, e eu disse que você não demoraria. Estava indo avisar...
- Sim, eu me atrasei um pouco. - Cláudia sorriu con­fiante. Deveria ter recepcionado o homem, claro, mas a pe­quena falta não justificava Amy ficar tão ansiosa.
A governanta a segurou pelo braço.
- Charlotte, não é o sr. Hallam, como disseram. É...
- Lembra-se de mim? - destacou-se uma voz grave. A moldura da porta do hall destacava a figura impressionante de Justin Bieber. - Porque eu me lembro de você. - Deu um passo, olhando fixamente os lábios emudecidos de Cláu­dia. - Como poderia me esquecer?
Ele sorriu, mais sensual do que nunca. Mas não havia mais alegria em seus olhos.
Posso pedir um café, Amy? - indagou ele à governanta atônita. - A sra. Carter e eu temos muito o que conversar

 



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