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História A Price to Pay - Chapter 5


Escrita por: SweetBaldwin

Notas do Autor


Hello hello babe's of my heart
irei postar mais um capitulo e espero que gostem. All Love.
BOA LEITURA :)

Capítulo 5 - Chapter 5


Charlotte ficou abalada com as palavras e a pai­xão controlada de Justin. Após a atitude dele, seis anos antes, não imaginava que fosse capaz de sen­timentos tão profundos.

Incapaz de falar ou se mexer, permaneceu na areia e ob­servou-o juntar-se à filha. Segurando-lhe a mãozinha com firmeza, brincavam de espalhar água. Ele parecia relaxado, sorrindo espontaneamente. Parecia-se com o homem por quem ela se apaixonara havia muito tempo. Era doloroso.

Como seria descobrir a existência de uma filha de cinco anos, de repente?

Relutante, colocou-se no lugar dele... sabia que detestaria a situação, ficaria muito magoada por todos os anos perdi­dos, todas as conquistas do desenvolvimento da criança que jamais se repetiriam. Odiaria a pessoa que tivesse escondido a existência de sua filha.

Charlotte sentiu a culpa tomar conta de seu ser. Entendia por que Justin a fitava como se odiasse cada fibra sua. O remorso chegou como uma onda, obrigando-a a se encolher. Não queria se sentir daquela forma, não queria ser solidária. Queria desprezá-lo pelo homem que ele fora, ter em mente a traição, porque era a única forma de se sentir a salvo das reações físicas à presença dele.

Então, apesar da visão embaçada pelas lágrimas, viu Justin erguer Jessie nos braços e girá-la, arrancando gritos de alegria. De volta ao ponto de partida.

Emocionada, Charlotte observou-o vasculhar a bolsa que ela levara, retirar uma toalha e a muda de roupa, como se fosse pai havia muito tempo.

- É melhor se enxugar, para ficar mais confortável. - Destro, Justin removia as roupinhas molhadas e esfregava gentilmente a toalha no corpinho. Ajudou a pequena a vestir a jardineira de algodão e a blusinha xadrez. - Se a mamãe concordar, você gostaria de dar um passeio à tarde? Podía­mos ir a uma lanchonete.

- Sim! - Jessie estava encantada ao sentar-se na areia para calçar os tênis secos. - Podemos, mamãe? Diga sim!

Charlotte não podia imaginar algo que quisesse menos, mas assentiu. Não tinha outra opção, pois recusar-se a seguir os planos dele só tornaria sua vida mais difícil do que já era.

Ainda lhe restava um fio de esperança. Depois do que ela lhe diria, Justin pegaria o carro e sumiria bem rápido.

Jessie riu ao ver Justin arregaçar as barras da calça jeans ensopada. Com os tênis molhados, ele sorriu para a filha, e Charlotte fechou os olhos para evitar a imagem.

Justin e a filha recém-descoberta estavam se dando bem, e as semelhanças físicas... a cor dos olhos e o sorriso espe­tacular... chegavam a ser dolorosas. De repente, desejou es­tender a mão e tocá-lo, dizer que sentia muito, implorar para que perdoasse o imperdoável.

Horrorizada com a necessidade de pedir perdão, Charlotte levantou-se, lançou a bolsa ao ombro, agarrou o cesto de piquenique com a outra mão e partiu para a trilha no vale. Não precisava do perdão dele. Ele não tinha nada a perdoar.

Ainda não sabia que estava grávida quando ele a procu­rara, seis anos antes, para avisar que partiria de Farthings Hall. Só sabia, naquele momento, que seu coração estava despedaçado. Nem se importara em ouvir o resto das des­culpas que justificavam a partida apressada. Sabia por que ele partia. Helena o expulsara da propriedade.

Assim, apenas deu de ombros.

- Ótimo. Fica mais fácil assim. Estou saindo com outra pessoa. Alguém que tem um emprego adequado e dinheiro no banco.

Não havia ninguém, claro, e a falta de segurança finan­ceira e de emprego fixo de Justin não lhe importavam de fato.

Mas preservara o orgulho daquela forma, escondendo a mágoa que congelava seu coração e imprimia o tom frio na voz, sustentando sua expressão indiferente.

Conseguira se afastar dele antes de dar vazão às lágri­mas, antes que a dor a dominasse. Para se controlar, recor­dava sem parar a cena em que ele deixava o quarto de Helena, tão zangado que sequer a vira... zangado porque, apesar de todo o charme e sensualidade, não conseguira chegar aonde pretendera com a loira estonteante. Provavelmente, nunca sofrera rejeição antes. Lembrou-se também do que Helena lhe dissera.

- Deixe-me levar o cesto. - Era Justin, com Jessie no colo, os bracinhos ao redor de seu pescoço, a cabecinha junto ao ombro. Ela estava praticamente dormindo.

- Não está pesada - replicou Charlotte, o tom rude de ressentimento. Como ele ousava formar uma ligação tão for­te com sua filha? Fora ela quem carregara a criança por nove meses, que acordara duas vezes por noite para lhe dar de mamar no início da vida. Andara de um lado para o outro, embalando-a, quando os primeiros dentinhos despontaram. Sempre colocara as necessidades da filha acima de tudo. Agora, Justin simplesmente aparecia e Jessie se tornava sua fã incondicional!

Ofegante, seguia pela trilha. Remorso? Esqueça! Sendo o patife que era, Justin sozinho se privara da filha. Devia lem­brar-se disso sempre e parar de se torturar com uma culpa inexistente. Ao descobrir que estava grávida de Jessie, ele já partira havia duas semanas. Não tinha ideia de onde encon­trá-lo, nem se queria. E não quisera.

Pensando melhor, claro, nunca devia ter se casado com Phillip. Mas, seis anos antes, assustada com a doença do pai, com o efeito da notícia da gravidez sobre ele, pareceu-lhe a atitude sensata a tomar. Era jovem e inexperiente demais para lidar com os problemas sozinha.

- Quer mesmo quebrar uma perna? - O tom de Justin era divertido, e ela cerrou os dentes ao tropeçar numa raiz de arbusto exposta. As raízes tomavam a trilha naquele trecho.

O incidente deu-lhe oportunidade para recuperar o fôlego. Olhou para trás severa e notou, enciumada, que a filha dor­mia tranquilamente aninhada nos braços do homem que acabara de conhecer, como se, em algum nível subconsciente, ela soubesse e aceitasse o laço de sangue entre ambos.

Era o momento de dar-lhe o choque que tanto merecia. Até então, ele lançara todas as bombas. Queria que ele sou­besse que ela também tinha munição, que poderia atingi-lo onde lhe doía mais. No bolso. Dinheiro fora a motivação antes, e nada mudara.

Então, enquanto ele ainda estivesse atordoado, faria a contraproposta... e com sorte, conseguiria o que queria.

- Precisamos conversar, Justin. - Ela se recompusera e estava surpresa com a própria frieza, após tanto tormento.

- Precisamos? - Ele se mostrava entediado. – Pensei que já tivéssemos dito tudo...

Charlotte manteve a compostura.

- Então, pensou errado. E, embora minha lembrança seja falha, não me lembro dessa arrogância. Ele endureceu o olhar.

- Nunca estive nessa situação antes. E não force a sorte. Se só tem vagas lembranças do que aconteceu entre nós... da intensidade... isso sugere que um grau de promiscuidade causa o efeito. Acrescente-se a forma como me dispensou ao saciar-se, o motivo que deu, e eu tenho mais um detalhe para levar aos tribunais, caso seja idiota o bastante para fazer essa opção.

Justin passou por ela e continuou pela trilha. Charlotte foi atrás. Como lidar com alguém tão traiçoeiro? Um homem que podia distorcer cada detalhe em seu próprio proveito?

- Há um banco ali sob os pinheiros. - Ele a aguardava num mirante já fora do vale. - Se tem algo a dizer, pode dizer ali.

Charlotte assentiu. Ele não se esquecera de nada daquela propriedade. O banco de cedro fora colocado sob os pinheiros que o avô plantara, porque dava uma vista panorâmica, que os hóspedes podiam admirar em paz. Ele anotara mental­mente tudo sobre a propriedade imponente enquanto ajuda­ra o velho Ron a manter os jardins, sem dúvida inventarian­do o valor de cada item!

Ele sentou-se, ajeitou Jessie mais confortavelmente no co­lo e afastou os cabelos negros da testinha.

- Bem? - Falava baixo para não perturbar a filha, mas não escondia o tom de impaciência. Tinha de lidar com a mãe da criança porque ela fazia parte do pacote, mas não gostava daquilo.

Justin era formidável. Antes, quando ela o amava, nunca se sentira intimidada. Eram iguais, totalmente confortáveis um com o outro, quase capazes de ler os pensamentos um do outro.

O olhar penetrante, a boca comprimida, tudo recomenda­va-lhe cautela. Ocupou o banco, imaginando se seria mais fácil fazer o jogo dele, deixar que ele desse a última palavra.

Inconscientemente, meneou a cabeça com a hesitação. Fi­tou o chão, pois não queria ver o olhar de desgosto.

- Pensou melhor? - questionou Justin.

Charlotte respirou fundo, ergueu a cabeça e enganchou os cabelos na orelha. De repente, sentia-se tão fraca! Ao longo dos anos, assumira fardos e orgulhava-se de conseguir ad­ministrá-los. Não deixaria Justin Bieber, dentre todas as pessoas, transformá-la num verme!

- Absolutamente. - Ela o encarou. Também sabia lan­çar um olhar de frieza. Pelo menos, assim esperava. - Acho que devia saber, antes de assumir legalmente minhas dívi­das, o montante total. - Repetiu o valor que o gerente do banco lhe informara. -Horrorizava-se sempre que pensava nisso, suava frio. Com certeza, Justin Bieber pararia para pensar. Sabia o quanto ele era mercenário. - Acrescente-se o gasto com as reformas e decoração que prometeu, e está diante do resgate de um rei.

Ela observou-o atentamente, esperando o franzir de ce­nho. Não aconteceu. Nem um movimento de cílio para alte­rar a expressão.

- E acrescentemos a seus pecados má administração, extravagância e ausência total de tino comercial.

Charlotte ficou boquiaberta, não pelo julgamento injusto, mas porque ele não fugira correndo.

- E só isso? - replicou ele. - Ou tem algo mais a con­fessar antes que eu... como colocou... me torne legalmente responsável?

- Sim... - Ele voltaria para a casa, levando Jessie. Sem dúvida encontraria seu pai sorridente. = Você não precisa assumir a dívida. O que ganha com isso? - insistiu. - Jessie, claro, mas não temos de chegar ao extremo de nos ca­sarmos! Se o Grupo Hallam comprar a propriedade enquanto negócio, sobraria o bastante para... eu comprar uma moradia modesta. E se... - Umedeceu os lábios, nervosa. Faria con­cessões, engoliria o orgulho. - Se você pagar uma pensão alimentícia razoável, não precisarei trabalhar em tempo in­tegral. Só uma atividade de meio-período, para as minhas despesas e de meu pai. E você poderia ver Jessie sempre que quisesse... prometo que não criarei dificuldade.

Pretendia discutir a questão com o pai. Nada mudara... a tarefa de contar sobre as dívidas ainda seria dela, mas já estava se preparando para isso. Só teria de informar Jonh que ela e Justin haviam pensado melhor quanto ao ca­samento.

Mas teria de contar que Justin era o verdadeiro pai de Jessie. De que outra forma explicaria as visitas frequentes e a pensão alimentícia?

Estaria sendo egoísta ao tentar se livrar do casamento? Não poderia controlar a atração fatal que sentia por aqueles que mais amava?

Ela gemeu. Justin sorriu fraco, como se reconhecesse a rendição muda.

- Hora de ir. O casamento continua. Apesar do montante da sua dívida, é um preço pequeno a se pagar pelo bem-estar de minha filha. - Ele se levantou e abraçou a criança como se não quisesse soltá-la jamais. - E lembre-se. Espero que você, em todas as ocasiões, comporte-se como se fôssemos um casal feliz. Apaixonado é esperar demais, mas exijo uma expressão de contentamento. Nas aparições para o mundo externo, nosso casamento será perfeito. Não por minha cau­sa, ou pela sua, mas por minha filha. - Retomou a trilha, e completou falando por sobre o ombro: - Quero que seu pai saiba que Jessie é minha filha. Você conta ou conto eu?

 

Três semanas depois, Justin conduziu seu automóvel lu­xuoso pela estrada de cascalho saindo de Farthings Hall. Charlotte virou-se no banco para dar uma última olhada em Jonh e Jessie, que acenavam e lançavam beijos em meio ao pequeno grupo de convidados que comparecera à recepção do casamento.

Charlotte lembrou-se daquele primeiro dia de contato entre Justin e a filha...

- Justin é o pai, não é? - indagara Jonh, de chofre.

- Então... ele contou? - Charlotte tirava a mesa do jantar e engoliu em seco ao ver o pai menear a cabeça negati­vamente.

- Não. Ele não disse nada, não precisava. Acho que sem­pre soube. O que não imaginava era se Phillip sabia. Se ele descobriu e se isso foi a causa da erosão do seu casamento.

Ela puxou uma cadeira, sentou-se e procurou manter a expressão relaxada.

- Phillip sabia antes de me pedir em casamento. Ele disse que queria uma família, mas era estéril. Pareceu a melhor solução na época. Não sabia como entrar em contato com Justin, tivemos um desentendimento...

Deixou a frase incompleta. De forma alguma, permitiria que o pai desconfiasse que seu casamento com Justin não era o que parecia.

- Tenho confiança o bastante em vocês dois para saber que farão o casamento dar certo - declarou Jonh. - Talvez tenham dificuldades... não deve ser fácil para Justin se con­formar com o fato de Phillip ter estado presente nos primeiros cinco anos da vida de Jessie e ele, não. Mas vão superar tudo isso. Sempre achei que foram feitos um para o outro... foram praticamente inseparáveis naquele verão. Era uma alegria vê-los.

A reação do pai fora um alívio, após o trauma de perceber que não conseguiria desvencilhar-se dos planos de Justin para o futuro. Um problema a menos com que se preocupar. Tudo o que tinha a fazer, dali para a frente, era impedir o pai de descobrir que Justin, na verdade, a odiava...

Farthings Hall ficou para trás, e Charlotte voltou-se para a frente.

- Eles ficarão bem - declarou Justin. - Os dois. Amy vai cuidar deles.

Atônita com a primeira mostra de empatia e compreensão por parte do marido, Charlotte olhou-o detidamente pela pri­meira vez desde o casamento, ocorrido havia três horas. Ele trocara o terno cinza-escuro da cerimônia civil em Plymouth por um suéter mesclado bege de cashmere que lhe acentuava a tez bronzeada e os cabelos  loiros escuro e calça jeans preta que lhe salientava os quadris estreitos e as pernas longas.

Desviou o olhar, detestando os suspiros que o homem lhe provocava.

- Eu não queria nada disso. É uma farsa. - A voz dela saiu rouca. - Nunca fiquei longe de Jessie antes, nem mes­mo por uma noite. E estou preocupada com meu pai.

- Jonh foi aprovado no último check-up e, desde que vá com calma... e Amy vai cuidar disso... ficará bem. - Justin suavizou o tom em seguida. - E, quanto a Jessie... conver­samos longamente. Já compreende que um casal precisa da lua-de-mel após o casamento. Além disso, prometi trazer-lhe um presente. Ela pediu um trenzinho elétrico. Jessie não gosta de bonecas?

Ele parecia divertido, e Charlotte desejou golpeá-lo. Queria voltar para casa, queria estar com a família, não com ele, indo para uma lua-de-mel em Londres para marcar o início de um casamento que não era casamento de forma alguma e já mostrava sinais de purgatório.

- Sabemos que a lua de mel é uma farsa - declarou ele, lendo seus pensamentos, como sempre fizera no passado. - Mas é importante que mais ninguém saiba. Seria estranho se não tirássemos alguns dias só para nós. Portanto, sugiro que pare de agir feito criança mimada e aceite o fato... uma semana no meu apartamento em Londres. Aproveitarei o tempo para estudar o caos em que transformou suas finan­ças, e você poderá fazer compras. Abri uma conta corrente para você, e já estou com os cartões de crédito novos, prontos para a sua assinatura. Sugiro que os use.

Charlotte enrubesceu. Vira a expressão nos olhos dele quan­do ela chegou ao cartório usando o mesmo conjunto rosa que usara para se casar com Phillip.

Recusara-se a gastar dinheiro que não tinha num casa­mento que não queria. Tentara ajustar o modelo, e não ficara muito bom. Percebera o olhar de desgosto do noivo, imedia­tamente substituído por um sorriso radiante, para manter as aparências. Justin não queria a mulher que ele suposta­mente amava em roupas que pareciam saídas de um bazar de caridade!

Não que ele, pessoalmente, se importasse com sua apa­rência. A aparência importava aos outros. Mas ela odiava o fato de sentir-se magoada por ele não achá-la bonita!

Não ia mais pensar nisso. Procurou algum assunto em comum.

- Lembrou-se de dar a chave de Willow Cottage a meu pai?

- Claro que sim! - respondeu irritado. - Quer parar de se preocupar? A despensa está cheia, a conta de luz, paga, e Amy vai passar a roupa para eles, sem mencionar que os livros e brinquedos de Jessie já estão lá há dois dias! Satisfeita?

Sentindo-se idiota, Charlotte tentou sintonizar o rádio. Cla­ro que sabia que Willow Cottage, totalmente mobiliada e disponível para alugar, estava pronta para receber uma fa­mília pequena. Não cuidara pessoalmente da mudança, não comprara os mantimentos?

Willow Cottage era o chalé próximo ao grupo escolar onde permaneceriam durante a reforma de Farthings Hall. Ela e Justin também iriam para lá na volta da lua de mel.

Justin providenciara tudo. Nas três semanas que antece­deram ao casamento, ele se hospedara na pousada da vila e conduzira seus negócios valendo-se apenas de telefone, aparelho de fax e microcomputador portátil. Quando não es­tava com Jessie, organizou o casamento, a pequena recepção, as alterações na cozinha e restaurante e quem-sabia mais o quê.

Justin parecia um foguete, não demonstrando estresse ou cansaço, enquanto ela, recostada no confortável banco de couro, fingiu dormir.

Charlotte despertou ao sentir um toque no braço. Estavam num estacionamento subterrâneo bem iluminado.

- Chegamos? - Estava sonolenta, confusa.

- Vamos pedir o jantar e então poderá dormir. Está exausta.

Charlotte procurou despertar completamente enquanto ele retirava a bagagem do porta-malas. Devia ter dormido por horas, pensou, tentando se desgrudar do banco. Só esperava não ter ficado de boca aberta, nem roncado. Imediatamente, censurou-se por se importar com uma bobagem, e juntou-se a Justin para pegarem o elevador que levava à cobertura do edifício.

- Tem uma vista maravilhosa - elogiou Charlotte, diante de janelas amplas de frente para a cidade. O sol acabara de se pôr, milhares de luzes brilhavam no solo até o horizonte. O céu azul ficava cada vez mais escuro.

- Vou deixar suas malas no seu quarto.

Charlotte sentiu um aperto no estômago. "Seu quarto", não "nosso". Era um alívio imenso. Não era?

Franzindo o cenho, voltou-se para a sala espaçosa. Car­pete cinza-claro, mesas baixas de verniz preto, estantes ele­gantes, sistema de som moderníssimo, sofás de dois lugares de couro preto.

Muito masculino, um pouco assustador. Como o proprie­tário. Que se sentava à única peça antiga, uma escrivaninha impressionante.

- O que vai querer? Comida francesa, italiana ou chinesa?

Nada de conversa. Não gostaria de se recompor? Aceita uma bebida? Telefone a Jonh e diga-lhe que chegamos bem, fale com Jessie, se ela ainda não estiver dormindo. Nada disso.

Mas ela sabia que o casamento com aquele homem seria daquele jeito. Difícil. Estéril. Queria peixe, batata frita e ervilhas, mas facilitou:

- O mesmo que você.

Ele pegou o telefone e teclou os números. Charlotte afas­tou-se e encontrou seu quarto. Não esperaria hospitalidade dele.

Sua bagagem estava junto a uma cama geminada baixa. A colcha creme combinava com as cortinas. Um quarto im­pessoal, com banheiro adjunto, pequeno, porém imaculado. Exceto pela falta de um frigobar, poderia estar em um quarto de hotel, em qualquer lugar do mundo.

Sentiu as lágrimas brotando e tentou controlá-las. Já es­tava com saudade de casa, das pessoas que a amavam, presa ali, com um marido que a desprezava e que não se importava em disfarçar o sentimento. Mas isso não significava que ti­nha de chorar como um bebê, certo?

Pegou um lenço de papel da caixa no criado-mudo e assoou o nariz. Começou a desfazer as malas e voltou à sala ao ouvir vozes.

O entregador já estava de saída.

Justin transferiu a enorme pizza Marguerite para uma travessa de porcelana e ajeitou rapidamente a salada.

- Achei que ia preferir algo simples. Sente-se - convi­dou, e passou-lhe um prato.

Charlotte achou a fatia de pizza imensa, mas não comentou nada. Por que lhe daria a oportunidade de dizer que estava horrível de tão magra?

Justin a acharia atraente novamente, se engordasse na medida certa? Iria desejá-la na cama novamente? Afastou esses pensamentos. O corpo podia clamar a magia de Justin, mas seu coração e sua razão abominavam a ideia. Sexo sem amor não significava nada, e o amor entre ambos morrera havia muito.

- Vou telefonar para meu pai daqui a pouco, perguntar se se instalaram bem. Por um mês, você disse, até podermos voltar a Farthings Hall reformada? - Charlotte cortou uma porção da pizza e enrolou a mussarela no garfo. Não chegou a comer. - Imagino que vá vender este apartamento, agora que decidiu morar conosco.

- Pare de tentar conversar - censurou ele, impaciente. - Se está nervosa, não precisa. Não vou pular em cima de você. Está segura. Posso dizer que já estive lá, fiz e não gostei muito das consequências.

- Está falando de Jessie!

- Não, claro que não. - De repente, ele pareceu cansado. - Como poderia me arrepender da minha garotinha? Nosso caso teve outras consequências, Charlotte.

Ela não sabia do que ele falava, nem queria saber. Des­confiava de que não gostaria nada!

- Fala como se eu tivesse lhe passado uma doença venérea!

- Não precisa ser rude - rebateu ele.

- Parece que estou aprendendo com você!

- Pronto! Vamos recomeçar. - Ele serviu vinho tinto nas duas taças. - Um papo descontraído, então. Vamos ver... sim, telefone a Jonh, e, sim, ofereci um bônus para a empreiteira, se eles acabarem o serviço em um mês a partir de hoje, e não, não vou vender este apartamento. Posso cui­dar dos negócios remotamente, mas haverá ocasiões em que precisarei da privacidade de um lugar meu.

E ela imaginava que ocasiões seriam, não? Casara-se com um homem atraente e fogoso. O casamento deles era só no papel, mas Justin não se manteria celibatário.

Charlotte sentiu o ciúme aflorando. Deixou a mesa, telefo­nou para Willow Cottage e conversou com o pai tentando disfarçar a tristeza. Então, foi para o quarto e entregou-se às lágrimas.

Embora detestasse o homem que Justin se tornara, ainda o queria.

Ansiava por ele, de corpo e alma. Tentara evitar, mas não conseguia.

Sentia-se arrasada com a ideia de seu marido fazendo amor com outra mulher, tocando-a, partilhando intimidades, obtendo reações sensuais e selvagens.

Ofegante no escuro, rezou para que não se apaixonar no­vamente por ele.

De algum modo, aprenderia a reprimir todo aquele desejo. Mas nunca aprenderia a sufocar o ciúme.



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