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História A Price to Pay - Chapter 7


Escrita por: SweetBaldwin

Notas do Autor


oi eu decidi postar mais dois cap hoje, então como a fic acaba no cap 9 irei ficar devendo só mais um cap pra vocês ok?
*kisses*
BOA LEITURA

Capítulo 7 - Chapter 7


 

- Mamãe! Papai! - Jessie veio cor­rendo saudá-los e chegou ao por­tão do jardim antes de Justin desligar o motor.

Charlotte sentiu um aperto no coração. Oh, como sentira falta daquele pedacinho de gente... e era incrível como ela naturalmente passara a chamar Justin de "papai"! Sugeri­ram-lhe isso na recepção discreta após o casamento no civil, e só se quisesse.

Jessie estava de suéter cor-de-rosa e calça vermelha lis­trada. Brincara no jardim, e o ar frio do outono a deixara com o rosto vermelho e os olhos mais brilhantes. Enquanto ela se esforçava para escalar o portão, Charlotte saltou do carro para abraçá-la.

- O que aconteceu? - Espantado, Jonh saía do chalé para verificar o motivo de tanta gritaria. - Pensei que fossem ficar fora por uma semana...

- Está tudo bem. - Justin juntou-se a Charlotte na calçada e sorriu para a filha. - Olá, baixinha. - Mostrou o pacote que trazia e colocou o braço livre em torno dos ombros da mulher. - Trouxemos um presente! Não nos esquecemos da promessa! - Então, sorrindo para Jonh, justificou: - Infelizmente, ocorreu um imprevisto. Algo que meu assistente particular acredita que só eu poderei solucionar. - Olhou terno para a esposa. - Mas faremos outra lua de mel, Charlotte, assim que possível.

Ela perdeu o fôlego ante o tom íntimo da declaração. Mas aquilo, bem como o sorriso arrasador, eram em benefício de Jonh. Assim como a desculpa que Justin inventara tão facil­mente. Para continuar tranquilo, seu pai tinha de acreditar que aquele casamento era perfeito, que sua amada filha úni­ca finalmente encontrara a felicidade.

Jessie soltou-se de seus braços, alvoroçada para ver o presente.

- Em casa, baixinha. Poderá abrir o presente lá dentro. - Sorridente, Justin seguiu a menina rumo ao chalé, dei­xando Charlotte para trás.

Não conversaram durante a viagem de Londres, exceto quando pararam num posto-restaurante na beira da estrada para almoçar. Então, comentaram amenidades, mas Charlotte ainda se sentia constrangida com o próprio comporta­mento na noite anterior. Justin logo se perdeu nos próprios pensamentos.

Ela ainda não sabia por que ele mudara de ideia repen­tinamente sobre a volta prematura. Talvez se arrependesse de ter subestimado sua avaliação de que Jessie estava com saudade.

Quase acreditava nisso, considerando a gentileza, o em­penho com que tentara convencê-la de que ela não fora res­ponsável pelos problemas financeiros de Farthings Hall. O coração dele parecia no lugar certo, às vezes. Sorriu ao ob­servar Jessie agarrar a mão do pai e puxá-lo para dentro de Willow Cottage.

Jonh caminhava a seu lado.

- Amy foi à mercearia da vila, mas posso preparar algo rápido, se estiverem com fome.

- Paramos no caminho, pai. - Ela enganchou o braço no dele enquanto adentravam o pequeno vestíbulo juntos. Não havia sinal de Justin e Jessie, mas ouviam-se suas vozes na sala. A menina tagarelava animada e Justin falava com ela carinhoso. - Mas uma xícara de chá seria bom. Eu mes­ma faço. Como você está?

- Ótimo - assegurou Jonh, dando tapinhas tranquilizadores na mão da filha. - Não me sinto tão relaxado há anos. É um alívio não ter de me preocupar com os negócios. E nunca pensei que diria isso, mas, após tantos anos recebendo pessoas... estranhos na maioria... em nossa casa, pagando pelo privilégio, seria ótimo usufruir das instalações, apro­veitar Farthings Hall como um lar só nosso. O que, claro, devemos ao seu marido...

Charlotte sentiu o coração afundar. Jonh sabia que quase tinham perdido tudo? Como podia ter descoberto? Se estava a par, recebera o golpe muito melhor do que ela esperava.

- Ele cuidou para que o empreiteiro não fizesse hora - esclareceu Jonh. - Fui lá hoje cedo e estão se empenhando. Acho que os operários ganham bem com as horas extras. Disseram que vão trabalhar amanhã, inclusive. Seria en­graçado morarmos lá, com uma cozinha industrial e o res­taurante cheio de mesas vazias!

Então, era disso que ele falava. Charlotte suspirou de alívio. Detestaria se o pai tivesse de enfrentar a verdade completa da crueldade de Helena, se entendesse a total falta de carinho e cuidado da falecida, a intenção dela de abandoná-lo na falência, enxotado de casa, sem ter para onde ir.

- Foi uma pena terem de interromper a lua de mel - lamentou Jonh, aparentemente sem se importar em conver­sarem ali no vestíbulo.

Charlotte deduziu que o pai esperava uma reafirmação sua de que estava tudo bem, que a lua de mel não fora um de­sastre, a ponto de desistirem tão rápido.

A fim 'de satisfazê-lo, forçou um sorriso.

- Bem, acho que estar casada com o presidente executivo de uma empresa em expansão tem seu lado ruim! Provavel­mente, tiraremos uns dias na primavera, para compensar... ou nos feriados da Páscoa, talvez, e assim poderemos levar Jessie também. Justin e eu temos o resto de nossas vidas juntos... assim, não importa se nossa lua de mel durou ape­nas dois dias!

Mostrava-se alegre, 'mas sentia dor no coração. O resto da vida juntos... Na verdade, quilômetros os separavam, se analisasse bem. Não sabia como lidaria com o desejo que sentia pelo marido. Um desejo implacável. Devia ter em mente os acontecimentos do passado, como ele a traíra, usa­ra. Tinha de se convencer de que tomara a atitude correta, tirando-o de sua vida. Caso contrário, acabaria se humilhan­do, ao se apaixonar por ele novamente.

Felizmente, Jonh parecia convencido.

- Está ouvindo a criança?

A conversa entre pai e filha foi substituída por um som de trenzinho.

- Vou fazer o chá - declarou Charlotte.

Quando chegou com a bandeja à sala charmosa, encontrou os três no chão, brincando com o trenzinho. Justin endirei­tou-se relutante para pegar a xícara.

- Terei de partir daqui a pouco. Vou sentir saudade, Charlotte, mas voltarei o quanto antes.

Ela sabia que não era verdade, mas mesmo assim sentiu um aperto no coração, emoção que não preferia não dissecar. Mas teria de acompanhá-lo ao carro. Seria estranho se não o fizesse.

Jessie queria ir também, mas Jonh a conteve.

- Está chovendo, querida. Fique com o vovô e vamos brincar com o trem. Mostre-me como funciona.

De fato, caía uma garoa fria. Os dias de verão ficavam para trás, o inverno se aproximava. Era inverno no coração de Charlotte também. Justin estacou ao lado do automóvel, com as chaves na mão, o olhar frio e a voz no mesmo espírito.

- Não sei quanto tempo ficarei fora. Telefono. Vou con­tratar detetives para descobrir aonde foi parar o dinheiro desviado. Volte lá para dentro, vai se molhar.

Por isso, ele interrompera a lua de mel. Dinheiro. Não se tratava nem de uma concessão aos sentimentos de Jessie.

Só dinheiro. Justin estava disposto a investir uma grande soma para ter a filha em sua vida de forma permanente. Mas a perspectiva de recuperar o montante desfalcado do hotel o fazia até se esquecer da filha e da necessidade de manter a aparência de um casamento feliz.

Nos dias que se seguiram, Charlotte voltou a pensar no assunto sempre que se via desocupada.

- Está pensando nele, não é? - indagava Amy.

Charlotte não a contrariava. A governanta era como uma mãe para ela. Imaginava se Amy deduzira... assim como seu pai... que Justin era o verdadeiro pai de Jessie.

Felizmente, ela não comentara nada sobre o assunto. Charlotte achava que desabaria se tivesse de falar a respeito, colocando tudo a perder. Mas era certo que a curiosidade de Amy aumentaria.

- Sim - confirmou, com um suspiro. - Mas ele disse que não ficaria longe por muito tempo.

Justin partira havia duas semanas e telefonava todo fim de tarde.

- Diga-lhes que o problema era mais complexo do que eu pensava - instruía ele, e então pedia para falar com Jessie.

Charlotte deixou o pai lendo na sala, diante da lareira, e foi passar roupa na cozinha. Acabou o serviço e dobrou a tábua de passar. Amy guardara na geladeira a torta que fizera para o jantar.

- Que tal uma xícara de chá? Seu pai deve estar espe­rando, se eu o conheço!

Charlotte percebeu que devia se afastar dali. Cada dia lon­ge de Justin deixava-a mais inquieta, a perturbação interna crescia a cada hora.

- Pensei em ir a Farthings Hall verificar as obras. - Precisava de um tempo sozinha. Verificaria os trabalhos, claro, para poder contar na volta, mas deixaria os operários em paz e encontraria um lugar calmo para refletir e aceitar como seria sua vida dali para a frente, aceitando a indife­rença de Justin.

- Poderia pegar Jessie na escola? - pediu a Amy. Não haveria dificuldade, pois a escola da vila ficava bem perto. - E também dar o lanche da tarde? Não sei exatamente quanto tempo ficarei fora.

- Claro. E excitante, não é? Vai ser mesmo muito bom quando voltarmos para lá. E não se aborreça com seu ma­rido... ele não vai ficar nem um minuto a mais longe de você e de Jessie!

Charlotte tirou o casaco acolchoado do armário e saiu.

O hotel-fazenda não ficava longe, apenas alguns quilôme­tros. Após estacionar no pátio de cascalho, foi visitar o velho Ron. Ele insistiu para que ela tomasse uma xícara de chá em sua companhia. Charlotte teve de sorrir quando o jardi­neiro aposentado garantiu que estava de olho nos operários, para que não deixassem nada malfeito!

Charlotte avaliou o local do antigo restaurante. Abrir a pis­cina, reformar o interior, instalar o sistema de aquecimento e drenagem levaria algum tempo, mas as obras estavam adiantadas.

Os itens da cozinha industrial desapareceram. O chão ga­nhara piso rústico novo, um fogão profissional vermelho no­vinho que Amy insistira em ter, e armários e gavetas em madeira ecológica de pinho reciclado.

A cozinha country com que Amy sempre sonhara estava se materializando. Mas e quanto aos sonhos de Charlotte?

Afastou-se dos trabalhadores, que haviam parado para lhe fazer um breve relatório. Não queria que eles percebes­sem o brilho das lágrimas em seus olhos.

Não tinha sonhos. Não se dava esse luxo.

O homem que amara nunca existira. O homem que amara era a perfeição. Uma fantasia, alguém que ele criara para ela. A realidade mostrou-se bem diferente, e Helena a revelara.

Deteve-se na metade da escada de carvalho imponente e sentiu um aperto no coração. Podia realmente confiar na palavra da madrasta traidora?

Helena revelara-se vil, ladra reles que tramara um golpe com o amante para roubar tudo do marido traído. Anos an­tes, dissera à enteada a verdade sobre o que Justin fizera e dissera?

Por um instante, Charlotte sentiu esperança, mas logo a porta se fechou.

Subiu a escada agarrando-se com força ao corrimão, sen­tindo as pernas pesadas. Mesmo que decidisse descontar o que a madrasta dissera, havia a evidência, que vira com os próprios olhos: Justin saindo do quarto de Helena, batendo a porta, cego de ódio a ponto de não vê-la ali perto!

Chegara a ir atrás dele, enquanto ele se dirigia à escada principal, mas pensara melhor. Nunca vira Justin zangado antes, ou melhor, nunca vira ninguém tão zangado. Assim, fora ao quarto de Helena e ficara estarrecida com seu relato.

A madrasta não tinha por que mentir, não quanto a Justin. Não tinha nada a ganhar. Agora, entendia por que Justin saíra dali tão alterado. Fora rejeitado sexualmente e demi­tido num golpe só! Somente após a morte da madrasta, havia pouco tempo, portanto, descobrira do que a mulher era ca­paz... mentiras, trapaça. Seria fácil naquele momento, em retrospecto, acreditar que ela mentira sobre o que Justin dissera e fizera. Mas não podia se esquecer, tampouco, de que Helena não ganhara nada inventando aquela história.

Charlotte chegou ao quarto que era seu desde a infância e acendeu a luz. Por um minuto, recostou-se na porta e desejou que o vazio em seu peito desaparecesse. Um vazio que pa­recia maior após o instante de esperança.

Então, ela foi ao banco junto à janela e apreciou o en­tardecer.

 

Já escurecera completamente quando os operários foram embora. Charlotte avisara que trancaria a porta ela mesma. Portanto, estava na hora de se mexer. Levantou-se e espre­guiçou-se para aliviar a tensão do corpo. Não conseguira pensar direito e estava longe de aceitar sua posição nada invejável de esposa formal de Justin Bieber.

Talvez precisasse dar uma pausa nas emoções fortes. Ti­nha o resto da vida para aceitar sua situação, aceitar que Justin nunca a perdoaria por mantê-lo ignorante da existên­cia da filha. Que ele sempre a veria, a mãe de sua filha, como um mal necessário. Sabia que isso não devia importar, que a traição dele seis anos antes deveria ter tornado a opi­nião dele a seu respeito irrelevante. Mas importava e ma­goava muito. '

Chegou à porta, mas esta se abriu antes que tocasse na maçaneta.

Justin parecia abatido, como se não dormisse havia uma semana, como se algo em sua mente lhe drenasse toda a força.

Gotas de chuva brilhavam nos cabelos loiros sedosos e sobre a jaqueta de couro. Charlotte sentiu o coração falhar uma batida e então se acelerar. Desejou aninhar o marido junto ao peito, eliminar com beijos as marcas de cansaço de seu rosto. Não importava o que ele lhe fizera, a miséria que ele criara, pois ainda o amava. Aquela era a dura verdade que tentava sufocar. E chegara a hora de lidar com ela.

- Disseram-me que estava aqui. Que eu poderia alcan­çá-la antes que voltasse. - Ele fechou a porta, o olhar de­terminado, os lábios comprimidos. - Nada a dizer? Que tal: "Como vai? Fez boa viagem?".

Charlotte tentou falar, mas as palavras não vieram. Mes­mo assim, seu cérebro gritava. Não era mais uma adoles­cente tola, nas mãos de um bonitão encantador, apaixonada por um homem que tinha uma caixa registradora no lugar do coração. Não podia ainda estar apaixonada por ele. Não podia!

-Eu... não o esperava - improvisou. - Passou no chalé?

Que pergunta idiota! Mereceu a resposta seca.

- Claro, de que outra forma saberia onde encontrá-la? Cheguei a tempo de tomar chá e brincar um pouco com Jessie. - Surgiu um leve sorriso, como se, apesar da situação desagradável, se reconfortasse com a lembrança do momento feliz. - Eu disse que me encontraria com você e a levaria para jantar. Amy achou que você preferiria voltar para se trocar, mas eu garanti que não seria necessário. Vamos a um restaurante tranquilo e isolado. - Estreitou o olhar. - Esperam que passemos algum tempo juntos, sozinhos. Acho que isso dará a impressão correta.

Justin era ótimo em causar boas impressões. Charlotte vol­tou-se, não queria que ele visse a mágoa em seu olhar. Como ele conseguia facilmente fazer as pessoas verem o que ele queria que vissem! Só ela conhecia o verdadeiro homem por trás da fachada de charme e consideração.

- Não estou com fome - declarou, tensa.

- Nem eu. - Justin avançara e agora estava bem atrás dela.

Charlotte perturbou-se com a proximidade, como sempre, e voltou ao banco junto à janela. Justin observava cada de­talhe do quarto. O papel de parede em tons suaves de verde e azul, a colcha branca virginal na cama estreita. Ela desejou que ele fosse embora e a deixasse em paz.

- Quero lhe fazer um pedido. - Ele se sentou na beirada da cama. - Entenderei se não quiser atender, mas, nestas circunstâncias, tenho o direito. - Respirou fundo. - Con­te-me sobre Phillip.

Ela arregalou os olhos. Era a última coisa que esperava.

- Contar o quê? Já sabe que ele era mentiroso e ladrão. De que mais precisa saber?

Justin a fitou insensível.

- Do seu relacionamento. Como era? Ele era bom na cama? Ele a satisfazia? Embora tenha apenas uma vaga lembrança do homem, acho que não. Estava sempre dando um jeito de estar com Helena, e você, se me lembro bem, era exuberante...

Ele deixou a implicação pairar no ar, e Charlotte levantou-se indignada. Não tinha de ouvir aquilo!

- Gosta de ser cruel? - Quando passou a caminho da porta, Justin a segurou pelo braço e obrigou a se sentar a seu lado na cama. - Não tenho de dizer nada! Como você mesmo observou!

- Responda.

Ele não ia soltá-la. Charlotte não confiava em si mesma tão perto dele. Apesar de tudo, o instinto de entregar-se ao marido era forte. Era loucura!

- Eu tenho de saber - insistiu Justin. - Preciso saber. Se acha que eu estou sendo cruel, então não sabe nem me­tade. Sempre achei que o lado físico do nosso relacionamento era muito especial, algo que só acontece uma vez na vida... e quando se tem sorte. Odiava achar que Carter...

- Não me diga que está com ciúme! - As lembranças dela do passado eram de longas noites de verão perfumadas e repletas de amor. As dele deviam ser as mesmas noites... de sexo bom, condimentadas com a perspectiva de se tornar marido da herdeira de uma propriedade valiosa.

- Charlotte... como disse antes, não temos de transformar cada encontro particular em uma batalha. - Justin soltou-a. Parecia cansado.

Ela não se afastou. Ele tinha razão. A vida ficaria. insu­portável se se atracassem sempre que ficavam a sós.

Não tinha nada a perder contando a verdade.

- Antes de aceitar a proposta de Phillip, deixei claro que não o amava - explicou. - Ele entendeu. Eu gostava dele. Respeitava-o. Estava agradecida por ele se importar comigo. Era fraca, idiota - admitiu. - Estava assustada demais... com muitas coisas, mas principalmente com a ideia de preo­cupar meu pai... de ficar sozinha. Ele sugeriu quartos sepa­rados, porque tinha o sono leve, e eu, grávida, precisava de descanso. Nada mudou depois que Jessie nasceu. Ele até fez uma tentativa para consumar o casamento...

Justin ficou vermelho de raiva. Charlotte relatou o cons­trangimento do encontro.

- Foi um fracasso. Phillip já me dissera que era estéril, e eu presumi que fosse impotente também. Mostrei-me tão solícita quanto um bloco de madeira. - Podia confessar o vexame, mas não entendia por que, após Justin, nenhum outro homem conseguira excitá-la.

- Foi um alívio, na verdade, não ter de dormir com ele. Mas Phillip continuava gentil, atencioso. Não podia ser dife­rente, tendo em mente o grande golpe em andamento. Parece que não sei mesmo julgar as pessoas.

- Obrigado por sua honestidade. Não precisava me con­tar. Não tenho nenhum direito no que se refere a você. Meus direitos começam e terminam em minha filha.

Ela percebeu que ele ia se levantar. Esperava que o mo­mento de confidência fosse criar um elo entre eles, mas era estupidez.

Voltaram para Willow Cottage dirigindo cada qual seu automóvel, e chegaram a tempo de colocar Jessie na cama. A garotinha insistiu para que Justin lhe lesse uma história. Charlotte foi à cozinha preparar um chá e ponderou sobre o esquema na hora de dormir.

Jonh ocupara o quarto pequeno junto à escada. Amy e Jessie instalaram-se num cômodo com duas camas. Restava um aposento com camas geminadas, e Charlotte estava apreensiva com a perspectiva de dividir o mesmo espaço com Justin. Após o incidente no apartamento em Londres, tinha certeza de que ele não se insinuaria, já deixara clara sua falta de interesse, mas isso não diminuía o constrangimento.

Ainda estava apreensiva ao se recolher, um tanto cedo, deixando os demais assistindo a um programa de televisão.

Fez a toalete rapidamente, vestiu uma das camisetas ve­lhas e largas que usava como pijama, aninhou-se entre os lençóis e, quando ia apagar o abajur, Justin entrou.

- Vim ver se está bem. Estava pálida durante o jantar.

- Estou bem. - Ela se cobriu até o queixo. - Quanta

preocupação! Não precisa fingir, ninguém está vendo. Justin estreitou o olhar e então, deu de ombros. - Se é assim que deseja...

Ele já ia se retirar, e ela sentiu um nó na garganta de remorso.

- Justin... posso lhe fazer uma pergunta? Ele deu meia-volta.

- Acho que tem o direito.

- Sobre Jessie... - Charlotte sabia que se arriscava a en­furecê-lo. - É diferente para mim. Eu a dei à luz, amei-a durante toda a sua curta existência. Você não sabia dela até poucas semanas atrás. Mesmo assim, sua necessidade de tê-la permanentemente em sua vida foi forte o bastante para assumir minhas dívidas e se casar comigo, embora me despreze.

- Acha isso estranho? - Justin parecia mais relaxado. Voltou para o centro do quarto fracamente iluminado pelo abajur.

- Não imaginava, claro, que você daria as costas a Jessie - explicou ela. - Entenderia se você quisesse vê-la de vez em quando... mas comprometer-se...

- Com uma montanha de dívidas que não eram minhas e uma esposa que desprezo? - Justin sentou-se na beirada da cama. - Eu realmente a desprezava. Quando soube que tinha uma filha de cinco anos, achei-a desprezível. Isso foi antes de entender o que aconteceu, por que agiu como agiu. Não perdôo, mas não posso condená-la.

Isso significava que ele não a desprezava mais? Ela queria perguntar, mas não se atreveu. Sob a luz fraca, os olhos dele pareciam carvões, a boca macia. Desejava tanto beijá-lo...

- Talvez, se eu explicar por que me sinto assim com relação a Jessie, pare de me ver como um tirano arrogante - considerou Justin. - Isso seria possível? O que acha?

- Tente! - incentivou Charlotte. Amava-o, sempre amara e sempre amaria. Admitindo o fato, aprenderia a lidar com ele.

- Ambos viemos de famílias incompletas, contando só com um dos genitores, mas as semelhanças param aí. Você perdeu sua mãe aos dez anos e foi o pior que lhe aconteceu, Charlotte...

Ela sentiu um aperto no coração com o tom carinhoso dele ao pronunciar seu nome, embora sem testemunhas por per­to, mas ocultou o prazer.

Justin prosseguia:

- Você tinha lembranças de uma vida familiar feliz, um pai que a amava muito... e a querida Amy, claro. Sabia por que sua mãe não estava a seu lado. Meu pai nos deixou quando eu tinha cinco anos e eu nunca soube por quê. Depois que ele se foi, minha mãe não parava de chorar e me afastou dela. Concluí que era culpa minha o fato de meu pai nos ter abandonado. Sentia muito a falta dele e ficava perguntando quando ele voltaria, o que só piorava tudo. Ela continuou amargurada até a morte.

Charlotte tinha lágrimas nos olhos.

- Justin... eu não sabia. Que tristeza! Justin retomou a narrativa:

- Devia ter quase sete anos quando tio Harold assumiu o controle. Era irmão de minha mãe, solteiro, dono do bem-sucedido Grupo Hallam. Mais tarde, ele me contou que nun­ca se casou porque tinha juízo. Não se ligaria a uma mulher para ser desfalcado da fortuna quando essa mulher pedisse o divórcio. Pode imaginar o homem frio, rude e calculista que ele era.

- Tio Harold achava que minha mãe não estava me edu­cando direito. Decidiu me levar para a casa dele e tratar da minha formação, preparando-me para sucedê-lo quando che­gasse a hora. Passaria alguns anos estudando em internato, claro. Eu não queria nada disso. Só queria meu pai.

- Lembro-me de quando disse isso a ele... que detestava o internato e queria meu pai de volta. Ele disse que eu nunca mais o veria. E não vi. A última notícia foi de que ele estava na América do Sul, e já faz mais de vinte anos. Então, meu tio revelou que meu pai só tinha se casado com minha mãe por aquilo que poderia obter dela. Vinham de uma família rica, independente da situação do Grupo Hallam. Meu pai queria uma vida fácil... carrões, bons ternos, dinheiro para gastar. Quando ele percebeu que tio Harold... curador da parte de minha mãe na fortuna da família... não ia facilitar, simplesmente foi embora.

- Que coisa terrível para se dizer a uma criança! - la­mentou Charlotte.

Justin deu de ombros.

- Superei o golpe. Conformei-me com a escola, fiz amigos. Este é o ponto a que eu queria chegar. Meus amigos sempre me convidavam para passar as férias em suas casas, e por isso sei como uma família unida e amorosa deve ser: com pai e mãe, ambos com perspectivas diferentes e experiência de vida... homem e mulher... para dar aos filhos. E isso que quero para minha filha, para Jessie. Pais que a amem, que estejam presentes enquanto ela precisar. Estabilidade, se­gurança emocional.

- Oh, Justin! - Instintivamente, ela pousou a mão sobre a dele. Entendia seus motivos agora, sabendo de sua criação, a falta de amor, a amargura, a perda do pai que não o amava o bastante para ficar:

Ela o privara dos primeiros cinco anos da vida da filha, tornara-o... sem seu conhecimento e contra tudo o que acre­ditava... um pai ausente.

- Sinto tanto! - O remorso era grande, as lágrimas cor­riam soltas. Sentiu a pressão da mão dele.

- Não chore, Charlotte...

O apelo só a fez se sentir pior. Os soluços vieram fortes, e ela não conseguia mais se controlar. Justin suspirou, ache­gou-se e abraçou-a. Embalou-a até os soluços diminuírem.

Era tão maravilhoso estar ali, como se finalmente che­gasse em casa após muito tempo de solidão e saudade.

A sensação era maravilhosa, e Charlotte não se conteve, introduzindo as mãos por sob a jaqueta de couro. Deliciou-se com a maciez do suéter de cashmere.

- Acho. que não é uma boa ideia, Charlotte...

Ela espalmou as mãos nas costas largas e o apertou con­tra si.

Charlotte se emocionara com a história da infância dele, e o remorso pelo que lhe infligira inadvertidamente a esma­gava. A única emoção discernível era o amor que sentia por ele. O passado, o que ele lhe fizera, não importava mais.

Ofereceu o rosto banhado de lágrimas e percebeu quando Justin reteve o fôlego e inclinou a cabeça para beijá-la.



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