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História A Quinta Dimensão - Três


Escrita por: slay0x

Notas do Autor


Oes c:

Esse capítulo é mais pequenininho, infelizmente. Enfim, espero que gostem <3

Capítulo 3 - Três


 

NÃO SEI O QUE acontece, mas sinto como se meu corpo se afastasse dos demais. Como se eu saísse do estado físico, e flutuasse livremente alguns centímetros do chão. As vitrines ao meu redor, o saguão do shopping, os barulhos das pessoas andando e comprando... Tudo fica embaçado, distante. Por um segundo, penso que vou desmaiar. Espero que meus olhos se fechem e eu caia no chão, mas isso não acontece. As imagens ficam borradas, mas eu não desfaleço. Engulo em seco e arrisco dar um passo. O barulho dos sapatos contra o chão soa distante, assim como todo o resto. Viro-me, olhando ao redor. As pessoas parecem se mover normalmente, apesar de estarem borradas aos meus olhos. Não faço a mínima ideia do que está acontecendo comigo, e isso me deixa muito, muito nervosa. Pisco, uma, duas, três, vezes. Mas mesmo assim, as imagens ao meu redor não voltam ao normal. Estaria eu ficando louca?

E então, assim que eu volto meu olhar para minha frente, na direção em que eu estava seguindo antes de toda essa loucura começar, eu vejo um vulto. É como uma pessoa, mas borrado, todo de preto. Parece que usa um capuz, cobrindo seu rosto com sombras. A única coisa que posso distinguir de tudo o que vejo são seus olhos. Vermelhos. Ardentes.

Eu dou um passo para trás, assustada com a aparição repentina daquele vulto. No entanto, no mesmo segundo em que sinto um pavor que me faz paralisar, tenho uma estranha vontade de me aproximar, de me entregar ao calor que seus olhos representam. Sinto como se aquele vermelho me cercasse, me prendesse dentro de si, protegendo-me de tudo e todos. Eu arfo, ao mesmo tempo em que o volto oscila no ar, e torna-se fumaça de um segundo para outro. Logo, os sons, as imagens e o tempo parece correr normalmente. Como se tudo não tivesse acontecido. Sinto como se o tempo tivesse parado, e voltado ao seu normal assim que aquele vulto apareceu. Uma corrente de ar passa por mim e sinto os pelos de meus braços se arrepiarem. Xingo baixo e balanço a cabeça assim que uma senhora passa por mim. Eu preciso andar. Não aconteceu nada. Foi só... Minha imaginação.

Começo a andar com as mãos enterradas nos bolsos de minhas calças. Não as tiro dali até chegar na praça de alimentação e ter de tirar o dinheiro de minha carteira para pagar o lanche que pedi. Não teria ideia do que dizer caso alguém perguntasse o porquê de minhas mãos estarem tremendo.

xxx

— Você tem certeza de que viu tudo?

— Tenho, Nora. A Leah entendeu o meu lado, né?

— Mais ou menos. Ela ainda acha que você deveria ficar, mas a escolha é sua, no fim de contas. Eu entendo seu lado.

Eu suspiro, apanhando minha bolsa e enquanto eu e Nora saímos do apartamento delas. Leah está no estacionamento, nos esperando. Quando voltamos do shopping, dei a noticia de que queria me mudar, comprar um apartamento no subúrbio. Não que eu não gostasse de morar com as meninas, mas eu quero um lugar meu. Que eu possa chamar de lar, sinceramente, eu não me sentia muito à vontade naquele loft cem estrelas.

Quando chegamos no carro de Leah, ela sorriu em nossa direção e entramos no carro, ansiosas para o show. No caminho, perdi a noção do tempo, e num piscar de olhos, nós já estamos na fila de entrada do evento. Meu coração bate forte e meu lado fã fala mais alto. Assim que pegamos nossos lugares no anfiteatro de New Haven, ansiosas. O lugar está cheio, e o falatório da multidão ofusca minha audição. As luzes do palco se acendem, e revelam os integrantes do Lighthouse. Noralia quase voa do meu lado, pulando e gritando; Leah ri, e eu a acompanho, ficando em pé assim que a banda começa a tocar, abrindo a noite.

xxx

Dois dias depois, Alexander me encontra na frente do prédio que Nora e Leah moram. Ele e prometeu a ajudar na mudança, e até chamou um amigo que tem uma caminhonete para levar as coisas ao meu novo lar. É estranho quando nós terminamos de por as bagagens na traseira da picape. São poucas coisas para alguém que trouxera tudo o que tinha de Whitemore. Eu não me importo muito, mas mesmo assim... É estranho todas as suas coisas ocuparem um quarto da traseira do carro. Nós seguimos, apertados, na picape até a parte central da cidade. O apartamento que comprei fica a um quilômetro e meio de Yale, em um bairro de arquitetura mais conservadora. Lá, as construções são de tijolos velhos, vermelhos. Os prédios colados um nos outros, com pequenas escadas que ligam suas portas da frente com a calçada. Há muitas árvores sazonais, cujas folhas começam a se tingir de tons quentes anunciando a chegada do outono. A rua é bonita, e eu sorrio assim que estacionamos na frente de minha nova casa.

O meu loft é o de número 505, com tijolos vermelhos e a porta pintada de cinza escuro. Tem um estilo bem industrial e rústico, e eu gosto disso. Alex me ajuda a descarregar as coisas, empilhando-as no corredor de entrada de casa. Ele se oferece para me ajudar a arrumar, mas eu agradeço, dizendo que quero fazer tudo sozinha. Ele não contesta, e eu quase o abraço por isso. Quase.

Assim que ele sai, eu apanho meu celular e ponho meus fones, aumentando o volume no máximo e dando play em uma música de um rock alternativo. Começo a cantarolar enquanto retiro as coisas das cinco caixas que tenho, e tirando o pó dos móveis que vieram junto com a compra. São antigos, mas fora o pó estão em perfeito estado. O tempo passa, e aos poucos, minha nova casa vai tomando forma e personalidade. Eu me jogo no sofá da sala assim que termino. Minhas pernas, braços e costas doem. E a minha vontade é de dormir e não acordar até eu não me aguentar mais deitada. No entanto, assim que eu paro para observar as poucas — mas amadas — coisas, eu sorrio, orgulhosa de mim mesma. Finalmente eu sou dona do meu próprio nariz, não preciso mais aturar os superiores do orfanato, e nem me preocupar em deixar meias espalhadas pelo chão de casa. Não que eu não gostasse de morar com as meninas, como disse antes. É mais uma questão de independência. Eu não me sentia muito bem sabendo que ficaria morando com elas, que assim que eu quisesse, poderia ir à cozinha e pegar tudo que nunca iria faltar nada. Eu quero... Viver. Quero experimentar coisas novas, chegar em casa quando quiser. Quero andar só de calcinha pela casa inteira, e poder cantar o quanto quiser no banho sem me preocupar se alguém vai ouvir.

Eu quero tudo isso, e ainda mais.

Mais tarde, eu troco de roupa para uma mais pesada. A chegada do outono faz com que os fins de tarde sejam frios. Há poucos minutos uma pancada de chuva atingiu o bairro onde moro, então as ruas estão com reflexos nas calçadas e no asfalto. O cheiro de terra molhada invade minhas narinas e eu sorrio, enterrando minhas mãos nos bolsos. Há um pequeno restaurante chinês a duas quadras de minha casa, e eu ando naquela direção, decidida a comprar uma porção grande de yakisoba. Quando viro uma esquina, ao olhar para os dois lados da rua, vejo um vislumbre de cabelos ruivos, e um rosto me vem na mente. Eu semicerro os olhos e foco naquela direção, conseguindo enxergar, por um momento, Leah. Pergunto-me se é realmente ela, se eu não me confundi. Mas, mesmo assim, apanho meu celular e aponto para uma câmera do outro lado da rua, digitando alguns códigos e esperando três segundos até invadir o firewall do sistema de segurança. Pela tela do smartphone, consigo ver tudo o que a câmera capta com suas lentes. Por onde estou, consigo mover o campo de visão também, e faço isso para conseguir checar se realmente era Leah.

Consigo vê-la entrando em um carro preto, com os vidros escuros. Porém, agora, tenho certeza: era ela.

O que ela estava fazendo ali? O prédio em que ela e Nora moram fica do outro lado de New Haven, perto das docas. E o meu... No centro, perto de Yale. O que ela estaria fazendo?

Depois, quando eu finalmente chego em casa, mau fecho a porta e já me sento na frente do computador. Enquanto como o yakisoba, começo a fazer uma "básica" pesquisa sobre Leah Lewis. Não me importo de ter que entrar em seu e-mail com uma senha decodificada, nem de marcar uma foto com ela contendo um spyware. Há algo nisso tudo que me intriga, e minha intuição diz para continuar pesquisando, usar tudo e mais um pouco do que sei sobre códigos e hacking. Com um intervalo de uma hora e meia, consigo descobrir um pouco sobre o passado de Leah cujo ela não havia me contado: seus pais são irlandeses, um casal de agentes do governo que trabalham intercalando entre os Estados Unidos e o Reino Unido. Sua mãe é biomédica, e seu pai um detetive de grande renome. Ela tem um irmão gêmeo, que é como a "ovelha negra" da família. Seu nome é Andrew, e ele atualmente mora com alguns amigos em Portland. Perto, relativamente perto.

Eu estralo meus dedos enquanto apanho a caixa de yakisoba vazia. Ainda estou com fome. Balanço a cabeça e volto minha atenção para a tela do PC. Leah sempre teve notas altas na escola, sendo uma aluna exemplar. Estranho... Sempre achei que as modelos eram mais burrinhas. Estralo minha língua quando passo os olhos por uma foto dela ao lado de um homem alto vestido com um smoking preto. Ele tem olhos heterocrômicos e aparenta ter em torno dos vinte e seis anos. No mesmo segundo, um bip de notificação preenche o silêncio da sala indicando que recebi um novo e-mail. Eu pulo na cadeira, sorrindo. É uma resposta da instalação do spyware. Isso!

Mas, não. Assim que vejo o e-mail, meu coração pula uma batida. Não há remetente. Não. É só um e-mail sem remetente, anônimo. Quem seria tão experiente quanto eu para invadir meu computador? Não há possibilidades. Não há maneiras. Engolindo em seco, eu clico no e-mail, me deparando com uma mensagem.

Assim que a meia-noite chegar, acesse esse link. Ele levará você a verdade. Não é uma pegadinha, Audrey. Eu juro.

— Mas que porra é essa? – eu praticamente grito, mesmo sabendo que o computador não vai criar vida e responder minha pergunta. Sinto-me exposta, invadida. Sinto-me inútil. Como alguém invadiu meu computador? Não pode ser. Eu estou só delirando... É isso.

No entanto, apesar de minha negação, eu sinto que devo fazer o que o e-mail pediu. Eu sinto isso, de verdade. E então, eu espero. Espero até a meia noite, espero até que a hora da verdade chegue.

E, assim que ela chega, eu acesso o maldito link repleto de números e letras desconexas. Um site inteiro em branco se abre, sem título e nem cabeçalho. Há apenas um texto em letras pretas no centro da tela, e eu tenho vontade de chorar assim que começo a ler.

Se você está lendo isso, eu possivelmente estou morta.

É, eu tentei rebobinar, viajar entre os mundos. Mas, minha mutação parece funcionar apenas quando quer. Desculpe se você não está entendendo nada do que eu estou escrevendo; o nervosismo faz isso comigo, eu fico enrolando e enrolando...

Enfim, eu realmente não faço a mínima ideia de como começar a lhe contar isso, por esse motivo eu vou direto ao ponto. Eu sou você.

Sim, eu sou você, Audrey Wright. Eu sou você, aquela que ama pizza, aquela que mal esperava para sair de Whitemore. Aquela que se culpava interiormente por achar Alexander bonito.

Por favor, não feche a aba. Eu sei que você faria isso. Deve parecer uma pegadinha bem filha da puta, não? Mas, infelizmente não é.

Eu consegui decodificar alguns dados e lhe enviar o link através de um e-mail. Isso se deve ao fato de eu (você, tanto faz) poder manipular o tempo e o espaço. NÃO FECHE A ABA! Você não é um Time Lord, mas chega bem perto.

Ei, eu disse pra não fechar essa porra.

Voltando ao assunto, só queria dizer que... Bem, seja mais gentil com o Kenneth. Você não o conhece ainda, mas logo vai conhecer. Não quebre um prato na cabeça dele, por favor. Ele ficaria bravo e poderia incendiar algumas coisas com aquelas mãos que pegam fogo.

E sobre o Young... Bem, é um assunto que nem eu e nem minhas habilidades conseguiríamos mudar. Eu lamento, por tudo que vai acontecer.

Você poderá abrir esse link nas meias-noites de todos os dias, sempre haverá informações que você vai precisar para sobreviver.

E, ah! A Leah... Bem, seja cautelosa com ela. Se eu fosse você (e sou, olha que ironia), tomaria cuidado com ela.

Não diga nem para ela e nem para Nora que o que você pode fazer. Não que Nora vá contar, mas nunca se sabe.

De qualquer modo, tente não morrer. Okay?

Meia noite e um. O site ficou em tela preta, e eu não pude reler toda aquela loucura. Merda! O que foi aquilo? Tomar cuidado com Leah? É como se meu cérebro fritasse.

Sinto-me tonta, e saio da frente do computador, cambaleando pelo corredor central até meu quarto. Assim que caio na cama, eu berro, não me incomodando com os vizinhos. Foda-se eles! Eu quero saber que caralhos está acontecendo comigo, isso sim.

E, quando eu finalmente adormeço, um único nome ecoa em minha mente.

Kenneth.

 



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