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História A Quinta Dimensão - Cinco


Escrita por: slay0x

Capítulo 5 - Cinco


O vento gélido do outono sacode meus cabelos enquanto eu pedalo em direção a Yale. Ontem, quando desliguei meu computador e me arrastei até minha cama, jurava que não conseguiria dormir. No entanto, dormi tão bem que as olheiras dos últimos dias sumiram de meu rosto. Eu pedalo enquanto observo os carros andando pelas ruas e poucas pessoas com copos de café em mãos. Os nós de meus dedos estão brancos devido ao frio, e posso notar minha respiração condensando assim que exalo pela boca. Sinto-me extremamente confusa, por tudo o que venho passando nos últimos dias. É como se eu estivesse presa num sonho, com tudo de surreal que me vem acontecendo. Se alguém tivesse me falado há três meses, que eu começaria a receber mensagens supostamente escritas por mim mesma no futuro, eu teria rido e chamado àquela pessoa de louca. Agora, é como se eu fosse a louca da história.

Até agora, não consegui ligar as dicas com tudo que está acontecendo comigo. Tirando o fato, é claro, de Leah. Eu posso estar até ficando louca, com tudo que me vem acontecendo nos últimos tempos. De uma coisa eu sei: Leah Lewis não é quem diz ser. Eu bem que poderia estar soando paranóica, mas levando em conta o que eu tenho lido naquela página estranha, não duvido de mais nada que possa acontecer relacionado a mim. Talvez, se eu descobrir que sou uma espécie de robô, não iria surtar. Ou iria?

Balanço minha cabeça e continuo a pedalar. Estou divagando muito nos últimos dias e, confesso que isso esteja me fazendo enlouquecer aos poucos. Sinto minha sanidade se esvaindo, como se alguém tivesse aberto um pequeno ralo na minha mente e minha consciência estivesse escorrendo por lá, sumindo nos esgotos. Qualquer um se sentiria perturbado ao ter um par de olhos lhe observando toda a vez que está sozinha. Não apenas olhos normais, o que já seria demasiado estranho: mas olhos vermelhos como o fogo, incandescentes como lava. Por vezes eu penso que esses olhos que me observam são bons, estão ali para minha segurança. Mas por outras... Eu não sei o que pensar. Eu não sei o que sentir. Aqueles olhos me parecem instáveis, por vezes acolhedores, por vezes aterrorizantes. Eu chego a sentir calafrios às vezes, e outras, sinto uma enorme necessidade de me aproximar. O que é isso? Eu não sei. Na verdade, ultimamente eu me venho perguntando se o Olhos Vermelhos é de fato real.

Eu freio num farol vermelho, observando uma senhora passando na faixa de pedestres com um carrinho de compras. Hoje é sábado, e estou indo para a faculdade apenas para entregar um trabalho sobre distúrbios neurológicos causados por vírus transmitidos pelo ar para o senhor Falahe, nosso professor de biologia aplicada. O farol muda para verde, e eu recomeço a pedalar. Enquanto sinto o vento balançar meus cabelos, imagino mil rostos possíveis para Kenneth, o cara misterioso dos e-mails. Será um cara gordo? Ou magro? Moreno ou louro? Um completo babaca ou um nerd como eu? Não tenho a mínima ideia de quem e como ele seja, mas estranhamente, eu quero saber. E isso me assusta.

É como se eu sentisse que ele está perto, mas não consigo saber aonde.

Mordo meu lábio inferior com força e dobro à última esquina que preciso para chegar em Yale. Diminuo a velocidade e me dirijo a um dos pequenos "estacionamentos" para bicicletas, deixando a minha lá. Respiro fundo e ajeito minha mochila nas costas. Porque estou nervosa assim? Preciso correr. Urgente.

O caminho até o prédio de Ciências Biológicas não é longo, mas por algum motivo eu demoro mais do que o necessário pelo campus. Quando chego no prédio, me arrasto até a sala dos professores, e ergo minha mão para bater na porta com minhas falanges.

Mas no meio do caminho, eu paro.

De alguma forma, consigo ouvir vozes atrás da porta. Eu franzo as sobrancelhas e olho para os dois lados no corredor, mas não há ninguém. Com isso eu me aproximo, tomada por uma onda de curiosidade que não sei ao certo de onde vem.

—...fazer ao certo sobre isso, então? – consigo ouvir a frase pela metade, e juro que já conheço essa voz feminina que parece impaciente aos meus ouvidos.

— Você sabe o que fazer. – a voz de Falahe responde, serena. – Você é uma das nossas melhores, nunca falhou em nenhuma missão. É simples, por enquanto: observe seus passos, anote-os. Descubra sua rotina, descubra qualquer coisa que nos diga que ela é quem realmente pensamos que é.

— Isso é fácil. – um suspiro. Talvez dela? Talvez dele? – Ela meio que confia em mim. Chamá-la de ingênua seria um eufemismo. Ela não faz nem ideia de onde vem! – uma gargalhada, da garota. Eu reconheço mais aquele tom de voz. – Imagine: ela vem de outro mundo, e apesar de já ser uma adulta, não sabe do que pode fazer.

Outra risada, dessa vez do professor.

— Sorte sua, então. – há uma pausa, e eu reseto meu corpo pronta para sair dali. – Espero que essa ingenuidade dure mais, pois se ela descobrir... Se ela descobrir sobre suas habilidades. Bem, Lilith, você terá que suar sua camisa para conseguir capturá-la.

Há uma pausa, logo seguido de passos. Eu me afasto um pouco da porta, e me posiciono como se estivesse andando normalmente na direção da sala dos professores.

— Eu me garanto. – consigo ouvir, antes que a porta seja aberta. – Não irei decepcionar a Organização.

E então, a porta é aberta de vez, e eu finjo calma, como se não tivesse ouvido aquela conversa. Mas quando vejo quem sai da sala dos professores, eu quase mando meu disfarce e minha poker face para os ares.

— Oh, senhorita Wright! – Falahe, sorri, com calma. Eu retribuo o sorriso, apertando sua mão. – Veio entregar seu trabalho?

Eu me forço a falar, minha voz saindo um pouco tremida.

— Sim, sim. Eu... Terminei antes. – engulo em seco, evitando contato visual com a garota que está parada nos observando. Observando-me. –Achei que seria melhor trazer e entregar antes dos demais, questão de praticidade. – resolvo encolher meus ombros, parecendo despreocupada aos olhos dos outros.

Apanho minha mochila e retiro uma pasta cinza escura de lá, ajeitando-a nas minhas costas e estendendo a pasta para meu professor. Meu professor suspeito. Mas... Suspeito de que?

Eu não sei, contudo preciso saber do que se tratava àquela conversa. Algo me diz que tem haver comigo.

— Certo. – Falahe diz, pegando a pasta com o trabalho. Ele sorri, mas sei que esse seu sorriso que antes me parecia genuíno, agora é uma farsa. Consigo ver em seus olhos. – Obrigado pelo adiantamento, senhorita.

— Sem problemas. – digo, num tom casual. Chego a me surpreender com meu sangue frio, pois estou surtando por dentro. – Eu já vou indo, então. – aceno-lhes com a cabeça e dou as costas para meu professor e para a garota. Ando de modo leve pelo corredor, mas assim que dobro a primeira esquina e saio do prédio de Ciências Biológicas, minha máscara se vai. Sinto meu coração bater forte contra minhas costelas, e minha respiração fica rasa, descompassada.

Eu chego como um raio na minha bicicleta. Subo nela e começo a pedalar para longe dali.

Definitivamente, preciso correr.

E eu fico me perguntando sem parar: porquê Leah Lewis estava conversando daquele modo com o Falahe?

Há vários motivos para eu ficar nervosa assim:

a) Ela não estuda em Yale.

b) Não era uma conversa "normal". Estavam falando sobre capturar alguém.

c) Porque estou com a sensação de que isso tem a ver comigo?

d) E por último, mas não menos importante: Lilith. Que raio de nome é esse? Será o nome real de Leah?

Além do barulho das ondas quebrando no cais, eu só consigo ouvir meus pés batendo contra a madeira e minha respiração controlada. Quando cheguei em casa, horas antes, não consegui parar quieta. Pesquisei, hackeei, acessei tudo o que consegui achar sobre Leah/Lilith Lewis. Durante o tempo em que não fiquei pesquisando, fiquei jogada no tapete da sala pensando enquanto encarava o teto sobre o "Espero que essa ingenuidade dure mais, pois se ela descobrir... Se ela descobrir sobre suas habilidades. Bem, Lilith, você terá que suar sua camisa para conseguir capturá-la". Droga! Por quê sinto que isso realmente tem a ver comigo? Eu só queria estudar, ser independente e conquistar meu lugar no mundo. Mas que mundo?

Solto um suspiro ao diminuir a velocidade. Minhas roupas estão coladas no meu corpo de tanto correr, e o vento forte que bate no cais me faz tremer. Respiro fundo, resolvendo voltar para as ruas de New Haven, onde o vento é em menor quantidade. Giro meus calcanhares, pronta para recomeçar a corrida, porém ao fazer isso, não vejo alguém atrás de mim e me bato na pessoa, me desequilibrando e caindo no chão.

— Ouch!

Fecho meus orbes, tonta com o baque. Sinto mãos em minha cintura, me levantando, e então abro meus olhos novamente. Minha expressão se vai de irritada para surpresa.

— Alex? – quase rio, não porque é ele, mas sim porque sua expressão preocupada chega a ser cômica. Suas sobrancelhas estão caídas, seus lábios vermelhos abertos em uma mistura de surpresa e culpa por me ter derrubado. Observo suas roupas, notando algo que eu não havia tido conhecimento até o momento: Alexander também gosta de correr. Ele veste um calção de corrida verde escuro e uma camiseta de mangas compridas cinza que estão molhadas e coladas no seu corpo. Tenho de me esforçar para desviar o olhar em direção ao seu rosto, e também tenho de me esforçar para não o encarar por muito tempo. Seus olhos parecem mais claros hoje: verdes e intensos, contrastando com sua pele clara. Seus cabelos castanhos e lisos caindo molhados por seu rosto. Tenho de me esforçar também para não estender minha mão em direção a ele e ajeitar as mechas castanhas que caem sobre seus olhos.

— Adrey. – ele sorri, e eu quase caio no chão. O que é isso? Droga. Talvez seja toda essa loucura que está acontecendo comigo ultimamente que me vem deixando assim. Mais, intensa? Eu não sei explicar. Ele aperta minha cintura com mais força quando vê meus joelhos se dobrarem. – Tá tudo bem? Você tá bem?

Eu sorrio ao ouvir seu tom preocupado.

— Eu estou sim. – olho para o chão. Não posso me perder nos seus olhos de novo. Não posso. Ele vai perceber. – Não sabia que você corria.

— Também não sabia que você corria. – ele responde, e eu tomo coragem para encará-lo. Alex sorri. – Tem certeza de que você tá bem?

— Tenho, Alexander. – reviro meus olhos, sorrindo. Suas mãos em minha cintura mandam correntes elétricas por meu corpo. E eu não sei dizer se isso é bom ou ruim. – Você... Quer correr?

Sua expressão de surpresa só aumenta, e seus olhos verdes finalmente caem sobre minha cintura. É como se ele não havia notado que ainda me segurava. Alex cora, o que me deixa surpresa, e tira suas mãos de mim.

Eu desejo que ele as coloque de novo.

— Com você?

Balanço minha cabeça, dando um soco de leve em seu ombro.

— É claro, idiota. – ele sorri, e eu também.

— Então, me alcance, sabichona. – antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele sai correndo na direção das docas, eu rio e começo a correr para alcançá-lo. Meus pés batem no chão com tanta rapidez que é como se eu estivesse voando. Minha respiração se mantém controlada e funda, e meu coração bate rápido em meu peito. Não demoro muito para alcançar Alex já nas docas, e ele diminui um pouco o ritmo para me acompanhar. Com suas pernas compridas, ele não precisa se esforçar tanto quanto eu para correr. É injusto. – Você andou meio sumida esses dias. – ele corta o silêncio, depois de alguns minutos que estivemos correndo pelas docas vazias.

— Eu... – não sei o que responder. Não sei o que falar e se quero envolvê-lo no meio de toda essa loucura que minha vida se tornou nos últimos tempos. Antes que eu consiga formular algo para falar, Alexander para de correr, e eu também. Ele cruza seus braços, me encarando.

— Audrey, você sabe que pode contar comigo. – sua voz está séria, e eu sei que ele está falando a verdade. – O que aconteceu?

— Você quer mesmo saber?

Ele assente, e se aproxima. Alex pega na minha mão e me guia até um contêiner nas docas, nós nos sentamos e encostamos nossas costas nele, e em todo o trajeto os olhos verdes de Alexander não abandonam meu rosto.

— Quero.

Então eu conto. Conto tudo o que passei, desde que cheguei no orfanato, tudo o que me aconteceu lá. Conto sobre os olhos vermelhos que começaram a aparecer para mim desde que saí de Whitemore. Conto sobre o porteiro do prédio de Nora, sobre a festa e sobre a fuga que me fizera chegar até ele. Conto sobre os e-mails e... Sobre a conversa que ouvi entre Leah e nosso professor, Henry Falahe. Alex apenas assente e me incentiva a continuar, enquanto despejo as palavras que há dias estão enterradas dentro de mim, formando um bolo na minha garganta. Ele não diz nada, apenas me ouve e segura minha mão com mais força quando minha voz começa a embargar.

Quando eu termino de contar a ele, estamos abraçados.

— Eu... Não sei o que dizer. – ele sussurra, me apertando mais contra ele. Eu fecho meus olhos, forçando algumas lágrimas sem sentido a permanecerem dentro de mim.

— Você não acredita, né? – sussurro de volta, ainda com os olhos fechados.

— Eu acredito. – ele responde, e sinto sua mão fazendo carinho em minha bochecha. – E eu estou aqui, ouviu? Sempre vou estar.

Eu assinto, abrindo meus olhos e sorrindo para ele enquanto me sinto envolta com aquele verde de seus olhos.

— Eu vou ajudar você com isso, Adrey. – ele fala baixinho, e eu faço que sim com a cabeça de novo. Ele me abraça outra vez e eu correspondo, querendo ficar ali para sempre.

Já em casa, eu me encolho dentro de meus cobertores no sofá. Solto um gemido abafado pelas mantas quando Nora chega na sala e me alcança uma xícara de chá. Ela me encara, sua expressão dura.

— Que estúpida! – ela bufa quando eu pego a xícara e tomo um pequeno gole de chá de camomila com maracujá. Quente. – A pessoa é universitária, tira as melhores notas, mas quando se trata de autopreservação, é mais burra que uma porta!

— Assim você me ofende. – Alex aparece na porta da sala, com uma toalha pendurada no seu pescoço. – Fui eu quem convidou ela pra correr.

Mentira, mas não vou contestar. Nora parece que vai me matar com seus próprios olhos. O rapaz se joga na poltrona em minha frente, sorrindo fraco por uma fração de segundos na minha direção antes de Nora recomeçar seu sermão de "amiga mais velha".

— Correr no frio! – ela joga suas mãos para o alto, como se uma divindade fosse baixar ali para ajudá-la a dar seu sermão. – No frio, na chuva... Depois pega gripe e olha só! A escrava aqui tem que ajudar a cuidar do ser.

Eu reviro os olhos, terminando de tomar o chá e colocando a xícara na mesinha de centro da sala.

— Sabe, Nora – começo, balançando minha cabeça. – Não estava chovendo quando a gente começou a correr, e quem veio aqui pra casa porque eu estava resfriada foi você.

Touché!

Ela encolhe os ombros, se sentando na outra poltrona.

— Eu fico preocupada com você, poxa! – sorrio, fechando os olhos. – Só não entendo como você, Alexander, não pegou resfriado.

Abro os olhos e franzo as sobrancelhas, observando a expressão exasperada de Alex. Quero rir com a cena, mas se rir minha garganta vai doer.

— M-meu sistema imunológico é mais forte do que o dela, Noralia.

Uh-Oh. Antes que eu possa ficar em pé ou algo assim, Nora dá um pulo ficando em pé com uma almofada da poltrona em mãos. Sua expressão desafiadora.

— Noralia? N-O-R-A-L-I-A? – ela começa a correr na direção de Alex, que também está em pé e corre em círculos ao redor da sala. – Vem aqui Young! Você merece conhecer a dor!

Nora alcança Alex e começa a bater nele com a almofada.

Dessa vez eu não consigo segurar o riso.

Minutos depois, é Alex que está ao meu lado, encolhido contra as cobertas junto a mim. Está passando uma série de humor na TV e Nora está na cozinha preparando uma sopa "milagrosa" para o meu resfriado.

— Eu ainda vou me vingar dela. – resmunga o garoto ao meu lado, e eu rio baixo. Minha garganta não dói tanto, pois os analgésicos começaram a fazer efeito, e em contrapartida me sinto sonolenta.

— Vocês são impossíveis. – eu digo, me virando para ele e sorrindo meio débil. Alex balança a cabeça, virando-se para mim enquanto suspira.

— Olha quem fala. – mostro-lhe a língua e Alex ri, tombando sua cabeça para trás. – Não faz isso, Adrey. – sua voz não passa de um sussurro agora.

Olho para ele, sem entender. Minhas sobrancelhas estão arqueadas em dúvida. Ele não olha para mim, mas sim para os cobertores que nos cobrem. O cheiro da comida de Nora começa a chegar até a sala, mas isso não me faz pular de alegria como sempre. Estou confusa.

— O que? – eu pergunto, no mesmo tom que ele. Alexander ergue seus olhos verdes na direção dos meus, e sinto meu estômago se revirar com isso. De um jeito bom. Os olhos dele me passam uma mensagem silenciosa, mas infelizmente não consigo compreendê-los. É intenso, tão intenso que dói. Ele se aproxima de mim, e eu sinto sua respiração na minha pele. Quando a possibilidade de ele me beijar finalmente passa pela minha cabeça, ele se aproxima do meu ouvido, sussurrando.

— Tudo isso. Você... – ele para, e eu tento parecer normal. Sua voz me causa arrepios. E não é de um jeito ruim como estou acostumada. Meu estômago está rodando. – Você está me enlouquecendo.

Não sei o que responder. Não sei o que fazer. Minhas bochechas estão queimando. Meu corpo todo está queimando. Eu me obrigo a olhar para seu rosto, tão próximo... Suas bochechas avermelhadas que tenho vontade de apertar. Eu abro minha boca para falar algo, mas então Alex suspira e morde seus lábios, desviando seu olhar para o chão. Eu fecho meus olhos, realmente muito confusa. E então, quando acho que tudo irá voltar ao normal, sinto os dedos quentes dele contra minha bochecha fria. Seu toque é suave, como se ele tivesse medo que eu sumisse. Eu abro meus olhos e encontro os seus, que sorriem para mim.

— Quer saber? – ele diz, mais para si mesmo do que para mim. – Que se foda.

E então, ele se aproxima, e seus lábios vão de encontro aos meus.

Sinto-me envolta em nuvens, num êxtase que não quero mais sair. Envolvo sua nuca com meus braços, e nós quase caímos do sofá por causa dos cobertores. Ele ri durante o beijo e eu rio junto, percebendo que adoro o som da risada dele. Meus olhos estão fechados, mas ainda assim eu consigo ver os olhos dele, me medindo, sorrindo e falando comigo sem nenhuma palavra realmente. Sinto-o explorar minha boca e nossas línguas se tocarem com harmonia, como se ele já tivesse um manual de como se mover junto a mim. Eu sinto minha pele arrepiar quando suas mãos vão de encontro com minha cintura, e eu começo a brincar com seus cabelos, emaranhando-os em meus dedos, enrolando-os. Sinto o sofá sumir e sorrio com isso, pensando no quão inimaginável é a sensação de seus lábios contra os meus, macios, vermelhos. Sua pele em contato com a minha quase lança descargas elétricas por toda minha casa, e eu posso sentir que ele também está arrepiado.

E eu também posso sentir, por ambos, que não é apenas um beijo. É uma mensagem, é uma declaração. Eu me importo com ele. Ele se importa comigo. E isso vai crescendo dentro de nós.

Há um pigarro que nos faz pular, ambos corados. Eu me encolho nas cobertas, envergonhada.

— Eu vim cuidar da minha amiga. – a voz de Nora soa pela sala, brincalhona. – Mas no fim estou segurando a tocha olímpica.

Sinto minhas bochechas queimarem ainda mais. Nora ri, e eu olho pelo canto dos olhos na direção dela, com uma expressão mortal. Ela levanta as mãos, como que se rendendo.

— Okay, okay. – ela balança sua cabeça. – Parei por aqui. Só tinha vindo avisar, na verdade, que a sopa tá pronta.

Eu sorrio, faminta. Olho para Alexander, ainda um pouco (na verdade muito) mexida com o beijo e com a interrupção abrupta de Nora.

— Com fome? – eu pergunto, atraindo seus olhos verdes na minha direção. Ele sorri, parecendo aliviado por não ter um clima ruim pairando pelo ar. Na verdade, eu só queria repetir tudo... É. Repetir tudo até não conseguir mais beijá-lo. Estendo minha mão para ele, ficando em pé e me desvencilhando dos cobertores. Eu sorrio quando ele pega na minha mão, e se levanta para começarmos a andar na direção da cozinha.

— Muita.



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