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História A Quinta Porta - As Portas


Escrita por: Dexterfarias

Capítulo 4 - As Portas


Uma sineta tocou quando passaram pela porta. A loja por dentro não tinha nada de incomum, exceto a decoração das paredes, que eram literalmente lotadas de chaves, chaveiros e pequenas bugigangas. Do outro lado de um balcão tão desgastado quanto a placa lá fora, havia um homem, já provavelmente na casa dos setenta anos, polindo uma chave em uma máquina com lâmina giratória. Ele não viu quando entraram, talvez porque ruído do equipamento encobrisse a sineta, ou porque ele já não tinha uma audição muito boa. Talvez as duas coisas. O fato é que quando eles se aproximaram e chamaram-no é que ele se deu conta de que os dois estavam ali. Parou imediatamente o que estava fazendo e dirigiu-se a eles.

- Ora, clientes! – disse, largando a chave em uma caixa próxima. – em que posso ajudá-los?

Alan e Marjorie se entreolharam. O que diriam? Não haviam pensado em nada.

- Er.. nós... – começou Alan. – viemos aqui porque... bem, é difícil explicar...

O velho olhou-os com mais atenção, agora desconfiado.

- Não vieram consertar alguma chave? Ou tirar uma cópia? – ele falou, de olho nos dois. – olha, acho que já entendi. Se vieram aqui para que eu faça uma chave mestra para uma casa qualquer abandonada, para que vocês façam... – ele contraiu os lábios – Essas... coisas sem pudor que os jovens fazem hoje, podem esquecer pois eu...

- Não, não é isso – Marjorie e Alan disseram quase em coro. – nós só queremos saber uma coisa, é que recebemos uma carta. – Marjorie completou. – Mostre a ele, Alan.

Alan, um tanto receoso de que o velho achasse que os dois estavam tentando fazer uma pegadinha com ele, entregou o papel que havia recebido. O velho abriu e leu, vagarosamente. Quando enfim terminou, não disse uma palavra, apenas fitou-os com um olhar indecifrável. Começou a remexer em várias caixas, como que procurando alguma coisa. Enquanto isso resmungava.

- E vêm desaparecer justo agora! – ele disse. Droga, onde eu coloquei o maldito?

Alan e Marjorie ficaram um pouco tensos com a reação do velho. Mas eles eram dois, e o velho só um. Provavelmente poderiam dar conta dele. Mas e se ele estivesse procurando uma arma, ou coisa assim? Alan estava pronto para pegar o braço de Marjorie e obrigá-la a sair correndo dali com ele, quando o velho enfim achou o que procurava.

- Ah, finalmente! – ele exclamou, levantando-se com certa dificuldade. – achei meu maldito molho de chaves. Há quanto tempo não o vejo? Nem sei mais.

E de fato era um molho de chaves. O velho retirou a poeira acumulada e começou a analisar atentamente as chaves ali contidas. Depois de alguns minutos enfim encontrou a que procurava.

- Aqui está! – exclamou ele. – vamos, vamos. Venham comigo, vocês dois. – e entrou em uma porta atrás dele.

Alan e Marjorie ficaram ali parados, sem saber o que fazer. Deveriam mesmo seguir o velho? Era um disfarce perfeito para que seus comparsas os pegassem de surpresa. E ele os dissera para entrar, sem mais nem menos, sem fazer nenhuma pergunta, e pior – sem dar nenhuma resposta.

- Vamos crianças, não temos muito tempo – o velho tornou a chamá-los de dentro.

- Alan, vamos embora – disse Marjorie.

- Sim, deveríamos – respondeu ele.

Mas a curiosidade os venceu. Ao olharem um nos olhos do outro, perceberam que queriam ir até o fim, fosse qual fosse. Deram a volta no balcão e adentraram pela mesma porta onde o velho havia entrado há pouco. Foram parar em um corredor estreito, com portas gastas dos dois lados. Caminharam um pouco, e viram que a última porta deste corredor estava entreaberta, e para lá se dirigiram. Quando a abriram, viram o velho sentado em uma cadeira, numa sala onde não havia mobília, nem janelas. Apenas uma lâmpada e, na parede oposta, sete portas bem próximas. Aproximaram-se devagar, pois o ambiente parecia-lhes hostil. Pararam a poucos metros do velho.

- Ele era tão jovem – o velho falou, com olhar triste. – era um bom menino. Mas muito curioso, muito curioso. – dizendo isso, começou a chorar.

Alan e Marjorie ficaram perplexos com essa reação. Tiveram pena do velho.

- De quem o senhor está falando? – perguntou Alan.

- Não importa, não importa. – disse o velho, levantando-se e enxugando as lágrimas, repentinamente irritado. – vamos, filho. Está na hora. Escolha sua porta.

- Ahn.. escolher minha porta? – Alan ficou confuso.

- Sim, claro. Você deve escolher sua porta, e rápido. O tempo está passando.

- Mas para quê, eu posso perguntar?

- Ora, não se faça de bobo! – o velho falou, ríspido. – você sabe muito bem para quê. Foi para isso que veio!

Alan sentia o coração bater mais rápido. O que aquele velho doido queria dizer? Então se lembrou de porque viera até ali.

- A aventura prometida, é o que você quer dizer? – perguntou Alan.

- Chame do que você quiser – o velho estava visivelmente rude. – só escolha rápido, ou serei obrigado a expulsá-lo daqui.

- Escolha logo, Alan. – Marjorie falou, de olho no velho.

Alan sentia que não deveria escolher nada, era muito arriscado. Mesmo assim, foi até as portas. Notou que eram numeradas de um a sete, cor de vinho, e bem velhas. Algumas até descascando, caindo aos pedaços. Escolheu a que mais lhe parecia firme.

- Eu quero a número cinco – falou ele.

O velho pareceu surpreso. Alan não sabia se isso era bom ou ruim.

- A número cinco, não? – ele disse, procurando uma chave no molho. – que coincidência, poderíamos dizer assim?

Encontrou a chave que procurava. Colocou-a na porta, que se destrancou com um clique.

- Você deve abrir a porta – disse ele – e eu devo fechá-la. Tome – deu a Alan uma chave igual à que usara para abrir a porta. – é a sua cópia. Quando terminar, venha até esse ponto e gire a chave. A porta se abrirá para você, e eu estarei aqui para fechá-la. Mas lembre-se: esta porta está ruindo. Você tem vinte e quatro horas. Se não conseguir voltar antes disso, a porta desaparecerá e você ficará preso lá para sempre. Entendeu?

A cara de bobo que Alan fez demonstrava que ele com certeza não entendera nadica de nada. Olhou para Marjorie, que estava atrás do velho. Ela falou alguma coisa, e ele percebeu, pelos gestos, que ela achava o velho louco. Vinte e quatro horas? A porta vai desaparecer? Ficar preso? O que tudo isso queria dizer?

O chaveiro perdeu a paciência.

- O seu tempo acabou. Vá! – dizendo isso, o chaveiro empurrou Alan para a porta, que se abriu com o choque do corpo dele. E qual não foi sua surpresa quando ele se viu à beira de um precipício! Tentou equilibrar-se, mas ventava, e ele escorregou. Por um instante aterrorizante achou que ia cair, mas conseguiu agarrar-se ao chão da sala do chaveiro.

- Alan! – Marjorie gritou, correndo até ele. Abaixou-se para segurar sua mão, esquecendo-se do chaveiro, que a empurrou também. Ela caiu, mas conseguiu agarrar-se à cintura de Alan. O Chaveiro, antes de fechar a porta, disse-lhes:

- Se por um acaso vocês o encontrarem, tragam-no de volta! Por favor! Ele é tão jovem! – dizendo isso, e recomeçando a chorar, o velho fechou a porta. Esta magicamente desapareceu no ar, tremulando como se fosse uma miragem. Os dois ficaram agarrados a uma rocha.

Olhando em volta com muita dificuldade, tiveram náuseas. Era surreal o que viam; estavam agarrados à beira de um precipício, e lá embaixo, cerca de duzentos metros, corria um estreito riacho pontilhado de rochas. Para cima só viam mais rocha; estavam em um paredão. Como foram parar ali? Seria um sonho? Um pesadelo, melhor dizendo?

Alan fez tudo o que pôde para segurar-se, mas o peso extra de Marjorie o estava deixando sem forças. Ela, no entanto, mais forte e ágil, logo se soltou da cintura dele e escalou até uma rocha próxima, mais firme e plana. Ajudou-o a chegar lá também. Os dois sentaram-se no estreito espaço que havia, exaustos.

- O que acabou de acontecer aqui? – ela mexia nervosamente nos cabelos. – que lugar é esse? Onde estamos?

Alan tinha as mesmas perguntas. Pensou em beliscar-se para ver se sonhava, mas os cortes nos dedos provocados pelo desesperado agarro às rochas o convencera de que aquilo não era um sonho.

- Eu não sei. – sua cabeça doía. – temos que primeiro procurar um meio de sairmos daqui, e depois tentamos entender essa maluquice.

Marjorie concordou. Olharam para os lados: paredão de rocha a perder de vista. Olharam para baixo: Vertigem. Nem pensar. Olharam para cima: uma esperança surgiu. Pensaram poder ver o fim do paredão uns vinte metros acima deles. Era só escalar e pronto; estariam fora de perigo.

- Você faz escalada? – perguntou Alan.

- Agora faço, ao que parece – respondeu Marjorie. – Ainda bem que vim de calças jeans. Falando em escaladas, você já ouviu falar de um lugar assim perto de onde moramos?

- Nunca. Nossa cidade é plana, pelo que sei. Nada de precipícios com duzentos metros de profundidade.

- Então o que isso quer dizer? – perguntou ela. – que fomos transportados para outro lugar do mundo?

Se ainda estivermos em nosso mundo, ele pensou.

- Bem, vamos saber isso assim que chegarmos lá em cima, não? – respondeu ele.

Marjorie assentiu. Levantou-se e analisou o paredão, procurando os melhores locais onde apoiar os pés e as mãos. Quando definiu um trajeto aparentemente confiável, decidiram começar a subir.

- Eu vou à frente – disse ela. – você vem logo em seguida. Se eu cair, me agarro em você. Temos certa experiência nisso. – Ela riu, e depois corou. – bem, essa frase não saiu como eu esperava, mas você entendeu.

Alan deu uma boa risada, corando. Levantou-se. Foi então que tudo deu errado: a rocha onde eles estavam estalou e rachou-se, despencando ao abismo. Sem tempo de se segurar em coisa alguma, os dois caíram também para a morte certa.



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