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História A Quinta Porta - A Queda


Escrita por: Dexterfarias

Capítulo 5 - A Queda


Alan acordou aos berros. Sonhava que caía para um abismo sem fim, ao lado de Marjorie, que estava morta. Sentou-se abruptamente e olhou ao redor, mas tudo estava escuro. Será que havia morrido? Que lugar era aquele? A última coisa de que se lembrava era da queda real, mortal e sem fim. Depois, um branco. Nada mais. Onde estaria Marjorie? Teria sobrevivido?

- Jo! Marjorie! – gritou. – onde está você?

Nenhuma resposta. Tentou levantar-se, mas as pernas estavam bambas.

-Marjorie! – tornou a gritar, quase chorando. A angústia começava a enlouquecê-lo.

Subitamente ouviu um farfalhar de plantas. Parou, atento. Procurou o canivete de seu pai; ainda estava no bolso. Sacou-o.

- Marjorie? – perguntou, em guarda.

- Eu já não disse para me chamar de Jo? – ela apareceu, carregando vários gravetos e folhas secas nos braços.

Alan respirou aliviado. Foi como se retirassem uma pedra de suas costas. Jo estava bem!

- Graças a Deus – falou ele. – você está bem! Onde estamos?

- Ora, no fundo do vale, ué. – ela disse, com uma naturalidade irônica. – Caímos, não foi? Então... estamos no fundo.

Alan olhou para cima. Os olhos já se acostumavam com a escuridão noturna, e agora ele via melhor. De fato, à frente deles erguia-se o paredão do qual caíram.

- Mas como? – perguntou ele. – como sobrevivemos a uma queda dessas?

Marjorie tentava fazer fogo esfregando freneticamente um graveto nas folhas secas.

- Você não se lembra? – perguntou ela. – de nada?

- Não... – Alan tentou puxar algo da memória, mas nada veio. – não me lembro de nada mesmo.

Marjorie conseguiu uma fagulha. Assoprou levemente para que o fogo queimasse melhor. Em seguida, começou a colocar gravetos secos sobre as folhas. Logo tinham um fogo razoavelmente bom.

- Foi você, Alan.  – ela falou, os olhos ainda no fogo. – Você nos salvou da queda.

- Eu? – ele quase riu. – como poderia ter salvo nós dois de uma queda dessas? Não sei voar nem nada...

Mas ele calou-se. O olhar que ela lançou disse-lhe tudo.

- Você... não... eu... impossível! – ele levantou-se, já melhor das pernas. – Está dizendo que voei? E que salvei nós dois assim? Como o super homem? E não lembro disso?

- Sei que parece loucura – ela voltou a mirar o fogo. – mas é a verdade. Quando estávamos caindo, eu sabia que era o fim. Sabia que morreria. Tentei segurar sua mão – ela enrubesceu – mas você estava muito longe. Fechei os olhos.. quando abri novamente, você estava junto de mim, me abraçando, e... desacelerando nossa queda. Você nos fez planar em segurança até o chão. Quando aterrissamos, você não disse uma palavra... apenas apagou. Isso foi há umas duas horas atrás. No começo fiquei chocada, boquiaberta.. você deve imaginar. Então te arrastei para cá, que é junto ao paredão, porque parecia mais seguro. Te dei água desse riacho e saí para procurar lenha para fazer fogo. Por aqui não há muitas plantas, por isso demorei. E foi só.

Alan ficou em silêncio, mirando-a como se fosse a coisa mais fantástica no mundo. Por sua mente dançavam mil e uma possibilidades. Ela estaria mentindo? E por qual motivo mentiria? Ok, ela não tinha motivos para mentir. Então poderia ter enlouquecido, quem sabe? Mas isso não explica como sobreviveram. Ok, não estavam loucos... Então estariam mortos? Bem, aquele não era o paraíso, com certeza. Mas era a mais improvável das possibilidades. A dor nas pernas era bem real. Então só restava acreditar mesmo que ele...

- Eu voei – ele falou, extasiado. – quer dizer que voei mesmo?! – nem sabia dizer há quanto tempo sonhava em voar, de verdade, como seus heróis. Era um sonho antigo, e aparentemente irrealizável. Mas agora Jo dissera que ele fizera! Voar... incrível! Como?

- Você sabe como fiz isso? – ele perguntou a Marjorie.

- Sinceramente não – ela respondeu, esfregando as mãos. – Não entrei ainda na academia de poderes especiais. Você parece feliz, Alan! – e riu.

- E estou! – ele riu também. – não seja chata! Sempre sonhei em voar! Isso quer dizer que é possível!

- Sim, parece que é. – ela não estava muito animada. Alan notou isso.

- Jo? O que foi? - Ela permaneceu em silêncio. - Tem algo mais que queira me contar?

Ela mirou o fogo por um momento. Alan sentou-se ao lado dela.

- Sabe Alan, tenho que contar a você. – ela começou a falar. – quando você me segurou, e começamos a... planar em pleno ar... eu senti que você não estava ali. Não era você. Era... outra coisa, outra pessoa.

- Como assim não era eu? Fui possuído ou coisa assim?

- Não, assim não. Você... seu olhar... estava diferente. Parecia, sei lá.. que você tinha mil anos de idade.

- Não estou entendendo, Jo. Sinceramente. – Alan estava confuso.

- É, eu também não. – ela voltou a esfregar as mãos. – Bem, precisamos pegar mais lenha. Conheço um lugar onde há madeira seca, mas não consegui trazer tudo sozinha. Você consegue andar?

- Sim, claro. – Consigo até voar, pensou ele.

Os dois se encaminharam ao local onde Marjorie encontrara madeira seca. Pegaram uma boa quantidade e alimentaram a fogueira. Como estava muito tarde para encontrar comida ou ajuda, resolveram ficar ali e esperar o dia amanhecer. Comeram algumas frutas silvestres que encontraram, pois o riacho não fornecia peixes grandes o suficiente. Resignaram-se a dormir com fome.

- Melhor montarmos turnos de vigia – disse Marjorie.

- Eu ia sugerir exatamente isso. – disse Alan. – na verdade, ia me candidatar para o primeiro turno. Já dormi o suficiente.

- Ok então, senhor insônia. Se acontecer qualquer coisa, me acorde imediatamente.

- Pode deixar, comandante Jo. – Alan riu.

Marjorie deitou-se ao lado do fogo, adormecendo lentamente. Alan teve uma súbita vontade enorme de confortá-la, encobri-la com um lençol. Mas não tinha lençóis. Decidiu ficar atento e protegê-la a todo custo.

As horas passaram vagarosamente aquela noite. Alan pensou longamente em tudo o que acontecera, passo a passo. Primeiro o bilhete; em seguida o chaveiro; depois, a quinta porta; por último a queda, e o voo. Tudo era fantástico demais, surreal demais. Só não enlouquecera, com certeza, porque já lera coisas parecidas. A maioria de seus livros era assim. As aventuras eram assim.

Foi então que percebeu que aquela era de fato uma aventura. Havia mistério, emoção, e um poder especial. O de voar. Olhou para as próprias mãos. Mirou o corpo: as pernas, os braços, tocou a cabeça. Nada parecia fora do lugar; Nada parecia mudado. Mas como então ele se sentia mudado? Sentia-se.. diferente.

Levantou-se. Olhou para Marjorie: dormia profundamente. Olhou para cima, para o céu sem nuvens, e imaginou-se voando para o infinito, o vento nos cabelos, a mão estendida à frente para cortar o ar. Liberdade, esse era o significado de voar. Ser a pessoa mais livre no mundo.

Tentou levitar. Concentrou-se; colocou todas as forças na esperança de subir, e subir mais ainda. De nada adiantou; continuava preso ao chão como sempre. Tentou dar uns pulinhos, mas sentiu-se ridículo. Ainda bem que Jo não estava vendo aquilo. Sussurrou todos os bordões que sabia: “para o alto e avante!” “ao infinito e além!” e até “em chamas!”, mas foi inútil. Não pegou fogo, não levitou. Nada aconteceu.

Sentou-se novamente. O fogo crepitava, dispersando um pouco o frio da madrugada. Alan olhou as horas no celular. Estava quase na hora do seu turno de vigia acabar. Sentia-se cansado e desapontado. Era melhor acordar Jo.

Foi então que algo o atingiu na cabeça, e ele rodou e caiu no chão, sem sentidos.



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