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História A Quinta Porta - A História de Leo


Escrita por: Dexterfarias

Capítulo 9 - A História de Leo


Após alguns minutos de corrida não tão rápida – porque Marjorie ainda mancava – os três chegaram a um ponto diferente do mesmo rio onde estiveram minutos antes. Como naquele ponto as águas pareciam muito fortes para que atravessassem a nado, eles seguiram seu curso. A todo momento ouviam um farfalhar logo atrás, e viravam-se assustados; Leo, que tinha uma espada longa, posicionava-se para proteger os amigos, que estavam desarmados; a explosão na barraca fizera-os largar as armas que tinham pego, e na confusão e pressa não as procuraram mais. Contudo, nada surgia detrás das árvores. Eles imaginavam que era o vento, ou algo assim, e seguiam em frente.

Após uma meia hora em que esta situação aconteceu algumas vezes, eles finalmente chegaram a um ponto do rio um tanto mais raso. Dava para ver pedras no fundo da água cristalina, que corria veloz.

- Podemos atravessar aqui – disse Leo. – Alan, ajude Marjorie. Eu vou logo em seguida.

Leo se virou, e Alan por um segundo pensou que ele fosse fugir, mas notou que o amigo apenas se virara para apagar os últimos rastros deles na margem, o que era inteligente; se os inimigos não soubessem em que ponto do rio entraram, ficaria muito mais difícil rastreá-los.

Alan pegou o braço de Marjorie para apoiá-la durante a travessia do rio. A água estava fria e forte, apesar da baixa profundidade, que chegava aos joelhos; felizmente não o suficiente para derrubá-los. Estavam chegando ao meio da travessia quando Alan ouviu um estalar; ele e Marjorie se viraram imediatamente. O que viram lhes tirou o fôlego.

Dois homens negros, enormes, vestindo armaduras de chamas negras corriam velozmente em direção a Leo, que ainda estava abaixado apagando os rastros. Ele ouviu os passos e se virou puxando a espada, mas era tarde demais, não teria tempo de bloquear o golpe. O primeiro homem desceu a espada sobre ele...

E uma flecha brotou em seu pescoço. O homenzarrão caiu morto, de cara na água. Por um instante todos ficaram petrificados, sem reação. O coração de Alan batia acelerado. De onde veio a flecha?

Essa parecia também ser a pergunta do segundo soldado. Ele ficou com o corpo retesado, sem atacar Leo – que finalmente se levantara e empunhara a espada – preparado para outra flecha. Leo o circundou, balançando levemente a espada. Os dois se olhavam tensos, mas Alan percebeu que o homem também estava atento às redondezas. E estava certo quanto a isso, porque outra flecha surgiu como um raio em meio às arvores, mas ele já esperava por isso: abaixou-se no último segundo, fazendo com que a flecha passasse de raspão em seu capacete. Leo felizmente também parecia estar esperando esse ataque, porque quando o soldado se abaixou, pulou em cima dele com grande velocidade, enfiando a espada em um ponto desprotegido da armadura. Pego de surpresa, o homem caiu de joelhos e levou as mãos à barriga, de onde brotava sangue. Em seguida, olhou atônito para Leo, antes de desabar, morto.

Fora uma ação tão rápida que Alan não tivera tempo de pensar direito no que acontecera. Então ele percebeu que alguém os tinha salvo. E esse alguém estava justamente saindo do meio das árvores naquele momento.

- Laila! – disse Leo, correndo até ela. – Você nos salvou!

- É meu dever – ela conseguiu sorrir, colocando o arco nas costas, mas parecia abatida.

Alan e Marjorie fizeram menção de retornar para junto deles, mas Leo os fez seguir em frente.

- Vão logo, atravessem – ele disse – temos que ir rápido agora. Se esses dois estavam nos seguindo, provavelmente outros também estarão. E agora não adianta encobrir os rastros, não daria tempo. E ainda teríamos de nos livrar dos corpos. É melhor irmos em frente.

Ninguém contestou, então Leo e Laila entraram na água, logo atrás de Alan e Marjorie. Quando enfim chegaram À outra margem, pararam.

- Para onde iremos agora? – perguntou Laila.

- Precisamos de um lugar para passar a noite – disse Leo. Vamos procurar um lugar seguro. Então decidiremos o que fazer.

Os outros assentiram. Os quatro beberam um pouco da água fresca do rio e se puseram em marcha.

A floresta ia ficando mais espaçada à medida que avançavam, o que era providencial, porque logo ficaria escuro. As árvores altas e silenciosas pareciam solenes sentinelas enquanto os quatro avançavam. Depois de uma hora ou mais de caminhada acelerada, Marjorie caiu.

- Jo! – Alan gritou e correu até ela. – você está bem?

- Estou, quer dizer, vou ficar – ela respondeu, sem fôlego.

- Ela precisa descansar – disse Laila. – Não pode forçar tanto a perna. Nossos remédios fazem com que o corte cicatrize depressa, mas ela não pode se esforçar tanto.

- Eu estou bem – Marjorie tentou se levantar, mas cambaleou um pouco.

- Você não está nada bem – disse Leo. – Parece que vamos ter que procurar um abrigo aqui por perto. Alan, fique aqui com ela enquanto eu e Laila procuramos um lugar que sirva. Você vai por aí – disse ele a Laila, apontando para trás da garota – e eu vou por aqui – apontou para a própria esquerda. – ok? Vamos.

Laila assentiu, colocando uma flecha no arco, e saiu. Leo deu um sorriso trêmulo para Alan e Marjorie, e seguiu pela esquerda.

Alan apoiou Marjorie contra uma árvore e examinou a perna dela. As ataduras que envolviam o corte estavam frouxas e úmidas, pela travessia no rio, e um pouco de sangue tingia-as de vermelho.

- E pensar que ontem mesmo estávamos conversando e tomando o chá do seu avô – ela disse, com um sorriso trêmulo. – estamos sonhando, Alan?

- Talvez – ele disse – ou talvez estejamos mortos, presos em algum tipo de inferno sangrento. O que você fez de tão ruim para vir parar aqui e ainda me trazer junto? – ele conseguiu sorrir.

- Nem venha colocar a culpa em mim – ela sorriu – em primeiro lugar, foi você que me trouxe aqui.

Era verdade, ele pensou. Vasculhou os bolsos e encontrou o pequeno bilhete que deixaram para ele na soleira da porta do avô. Foi ontem, ele pensou, mas parecem séculos.

Marjorie notou a tristeza dele ao olhar o pergaminho.

- Essa é a prova de que não estamos loucos, nem mortos. – ela falou. - É a prova irrefutável de que tudo isso, de algum modo, é real. E nós vamos voltar para casa, Alan. Juntos.

Ele a olhou, agradecido.

- Obrigado, Jo. Sem você, não sei o que faria.

- Provavelmente sairia levitando que nem um balão de gás.

Os dois sorriram, mais relaxados.

Vinte longos minutos se passaram até que Laila voltasse com a notícia de que tinha encontrado um bom lugar para passarem a noite. Juntos esperaram Leo, que demorou um pouco mais para retornar. Não encontrara nada, mas ficou feliz quando soube que já não era necessário.

- Vamos então – ele disse. – não temos um minuto a perder.

E, de fato, estava escurecendo. Marjorie deixou-se apoiar em Alan para seguir o resto do caminho. Andaram lentamente, mas sem surpresas. Laila abateu uma ave para o jantar em pleno voo, com uma única flechada certeira no olho.

- Você é incrível – Marjorie teve que admitir.

- Faço o melhor que posso – Laila sorriu, agradecida.

Assim que os quatro chegaram ao local que Laila havia encontrado, ficaram abismados. Era uma pequena cachoeira que desaguava em um lago cristalino de pedras altas e lisas. Dava para ver peixes pequenos nadarem tranquilos logo abaixo da superfície. A aparência rochosa do entorno da cachoeira escondia-a pelas laterais. Árvores frutíferas balançavam preguiçosas às margens. Era lindo e aconchegante, nada mais.

- Uau – disse Alan. – incrível.

- Realmente – concordou Marjorie.

- Mas não nos serve – Leo balançou a cabeça. – tem que ser um local mais escondido. Essa cachoeira faz muito barulho; a necessidade de água pode atraí-los para cá, e não queremos visitas indesejáveis.

- Mas não vamos ficar aqui – disse Laila, com um sorriso matreiro.

- Não? Então onde vamos ficar? – perguntou Alan.

- Venham comigo – disse ela.

Os três a seguiram, sem entender. Ela deu a volta no lago e se aproximou da cachoeira pela esquerda. Chegou junto às rochas que erguiam-se em sua lateral e esgueirou-se por uma fenda apertada. Desapareceu no escuro.

- Laila! – gritou Leo. – Onde você está?

- Estou aqui! – Ouviram a voz da menina, deformada pelo eco das rochas. – Entrem! Vamos!

Os três se entreolharam, mas não tinham muitas opções. Estava definitivamente escuro agora. Leo entrou primeiro, depois Marjorie, e em seguida Alan. A fenda parecia apertada vista de fora, mas atravessá-la até que era relativamente fácil. Entretanto, Alan duvidava que aqueles soldados mega musculosos conseguissem entrar sem se entalar, o que era um alívio. Tentou não pensar na possibilidade do Arauto explodi-la com uma bola de fogo.

O interior da caverna era maravilhosamente surpreendente. Estavam atrás da queda d’agua, o que causava um efeito impressionante aos olhos. Era como olhar uma pintura que se movimentava com raiva pela tela. Laila acendia uma fogueira no chão de pedra com madeira seca que ela provavelmente levara na primeira visita de reconhecimento. Com a umidade elevada do lugar, o fogo veio bem a calhar. Mas logo a fumaça começou a incomodar, e assim que eles assaram a ave, apagaram-na. Junto ao calor aconchegante das brasas eles comeram. Mas o gosto da carne sem temperos nem sal era horrível; logo Marjorie e Alan perderam o apetite. Leo e Laila, provavelmente mais acostumados a tais situações, comeram o quanto puderam. Água era fácil de conseguir, mas caía com tanta força da cachoeira que era impossível recolhê-la sem se molhar.

Os quatro colocaram-se em volta da fogueira apagada, finalmente descansando.

- Então – disse Alan, após um tempo. – Acho que agora é hora de alguns esclarecimentos.

A atenção dos outros foi renovada.

- Imaginei que diria isso – respondeu Leo, sorrindo. – tudo bem, é seu direito saber o máximo que puder.

Alan empertigou-se.

- Primeiro, quero saber como você veio parar aqui.

Leo suspirou.

- Mais longas histórias – ele pareceu entediado. – mas vou contar. Sabe aquela viagem que ia fazer com minha família para o litoral?

Alan assentiu.

- Bem, eu não fui – disse Leo. – parece meio óbvio agora, mas para mim não era. Como vocês, eu nem imaginava toda essa história de mundos paralelos. Era um garoto comum.

“Então no dia em que iríamos finalmente pegar a estrada, eu e minha família, recebemos uma visita inesperada. Meu avô.”

“Ele disse que queria falar comigo em particular. Que precisava da minha ajuda com algo muito importante, que não poderia esperar. E me avisou que demoraríamos semanas para concluir a tarefa. Obviamente, fiquei irritado. Porque ele não podia chamar outra pessoa? Mas ele se recusou terminantemente a chamar qualquer outro. Disse que precisava de mim, especificamente.”

“Obviamente fiquei intrigado. Apesar da irritação de não poder viajar, achei que não seria tão ruim, pois poderíamos nos divertir juntos, eu e você, Alan.”

Alan enrubesceu. Arrependeu-se de ter duvidado que aquele fosse realmente seu amigo Leo.

“Meu avô me levou até a casa dele, exatamente a mesma que vocês viram ontem. Lá, ele me apresentou às portas, e ao meu novo trabalho: Ser o próximo Chaveiro.”

Alan e Marjorie ficaram embasbacados.

- Aquele era seu avô? – Alan quase gritou.

- Fale baixo – Leo repreendeu-o. – e sim, era mesmo o meu avô.

- Mas então era você que ele queria que encontrássemos! – Marjorie falou. – ele ficava resmungando que você era tão novo, e tudo o mais...

Leo abaixou a cabeça, aparentemente envergonhado.

- Sim, o fato é que eu estraguei tudo.

- Estragou como? – Perguntou Marjorie.

Leo olhou a queda d’agua por um momento.

- Eu... entrei em uma porta. Na quinta porta, sem permissão.

- E porque você precisaria de permissão? – Alan perguntou.

- Porque chaveiros não podem passar aos mundos paralelos. Somos os guardiões, não os guerreiros.

- Você me parece um autêntico guerreiro – Alan comentou – bem mais do que eu, aliás.

- Nada disso. Você simplesmente não conhece os próprios poderes, Alan. – Leo suspirou. – Enfim, fiquei muito curioso quanto aos mundos paralelos, e decidi dar uma espiada. A questão é que a porta se fechou, e eu não tinha a chave reserva. Fiquei preso aqui.

Alan lembrou-se da chave reserva que o chaveiro lhe dera. Tateou os bolsos, e por um indizível instante de terror não encontrou a chave neles. Mas Marjorie o salvou.

- Esta deve ser a chave reserva, então? – disse ela, mostrando uma pequena chave na palma da mão, a mesma que o chaveiro dera a Alan.

Os olhos de Leo faiscaram ao ver a chave.

- Essa mesma! – Ele exclamou. – Graças a vocês, poderei enfim voltar para casa.

- Há quanto tempo você está aqui? – Alan quis saber, curioso.

- Em nosso tempo, um mês, Alan.

- Um mês? – Alan quase gritou de novo. – Mas como? Se você tivesse ficado um mês desaparecido sua família com certeza notaria, não acha?

- Duvido muito – Leo retrucou. – eles ainda estão no litoral, Fortaleza ou algo assim. Devem demorar ainda uma semana mais ou menos para voltar. Provavelmente pensam que ainda estou ajudando meu avô a fazer alguma maluquice.

- Mas eles não telefonam para vocês? – Marjorie perguntou. – quer dizer, eles devem querer notícias de vez em quando, não?

- Sim, às vezes ligam. Mas meu avô é um ótimo mentiroso, conseguirá inventar uma ou outra história para eles e pronto. Que fui ao shopping ou coisa assim, e que meu celular quebrou... não importa. O fato é que eles vão chegar em breve, e preciso estar em casa na ocasião.

Uma pausa fez Alan pensar sobre aquilo tudo.

- Um mês, Leo? E como você se tornou um membro do conselho da Resistência neste mundo em um mês?

Leo sorriu, misterioso.

- Ah Alan, meu amigo. Essa parte é interessante. Não estou aqui há um mês, no tempo desse mundo.

Marjorie ficou pálida.

- Você quer dizer que o tempo passa de forma diferente nas realidades paralelas? – perguntou ela.

- Sim, é exatamente o que quero dizer. – Leo sorriu. – sei que parece clichê de filmes de ficção, mas é isso mesmo. No tempo desse mundo, estou aqui há um ano.

A surpresa fez Alan e Marjorie se entreolharem, pálidos. Aquela informação era um pouco demais para os dois.

- Então isso é uma boa coisa, não é? – Alan perguntou. – se passarmos um dia aqui, não será muito tempo desperdiçado no nosso mundo, correto?

- Sim – respondeu Leo. – um dia em nosso mundo equivale a doze dias aqui, mais ou menos.

Alan franziu a testa.

- O seu avô me disse que eu tinha vinte e quatro horas – contou a Leo – ou a porta iria desaparecer. Isso é possível?

Leo ficou pálido ao ouvir aquilo.

- Ele te deu um prazo? – perguntou, levantando-se. – vinte e quatro horas? Porque não me contou antes?

- Achei que não fosse importante... – Alan começou a se desculpar.

- Mas é claro que é importante! – dessa vez era Leo que quase gritava. – essa informação é essencial! – Ele começou a andar na caverna em círculos. – Alan, se não entrarmos pela porta em menos de vinte e quatro horas, ou doze dias aqui, ela realmente desaparecerá, e ficaremos presos neste mundo para sempre. – ele levou a mão aos olhos. - E essa nem é a pior parte!

Alan levantou-se também.

- Tem uma pior parte?

- Sempre há – disse Leo. – a questão é que não é só esse mundo que está em perigo, Alan. Quando Karmandu conquistar essa terra, acha que ele vai parar? Claro que não! Nosso mundo será o próximo, pode ter certeza.

Aquilo pegou Alan de surpresa. Não imaginara que pudesse chegar ao ponto de realmente comprometer seu mundo. Leo dissera que já houvera loucos que tentaram conquistar os mundos humanos, mas fora há muito tempo. Pensou em seus avós, amigos, em sua rua calma e tranquila... o que aconteceria se uma força como o Arauto passasse para lá?

- Temos que detê-lo – Alan finalmente entendia.

- Sim, temos – Marjorie concordou.

Os dois se olharam. Havia determinação neles.

- Bem, por onde começamos? Para onde vamos agora? – Alan perguntou.

- Temos que encontrar ajuda – Laila falou. – Precisamos encontrar os outros acampamentos da resistência.

- Existem outros? – Marjorie perguntou.

- Claro que existem – Leo respondeu – ou você achou que éramos só aqueles? Uma das regras da guerra é nunca deixar tudo o que tem em um único local. Fica facilmente destrutível. Temos subdivisões por todo esse reino.

- E que reino é esse? – Alan perguntou.

- Cantchara – disse Laila, olhando para ele. – Em homenagem ao Guerreiro Elemental que nos salvou.

Os quatro ficaram em silêncio por um momento, imaginando o que estava por vir.

- Bem – Leo falou – Acho que precisamos dormir. Marjorie precisa descansar e o restante também, suponho. – Ele olhou para Alan e Laila. – Vamos então montar turnos de vigia. Amanhã cedo partirmos. Temos onze dias para derrubar o maior e mais poderoso tirano em séculos neste mundo, salvar os mundos paralelos e voltar para casa antes que a porta feche e fiquemos presos aqui para sempre. Sem pressão. O primeiro turno é meu.



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