História A República - Boas molduras não salvam quadros ruins

A última quarta-feira de férias chegou, para a infelicidade geral dos alunos. Era o dia marcado para que Asmita, Ana e Isa fossem até o gabinete do Reitor para verem o que ele pretendia e qual era esse tal assunto. Ao conversarem entre si, levantaram uma possibilidade, que mesmo triste, era a mais provável.

Aguardavam ao lado de fora. Suas pernas tremiam e não conseguiam trocar mais palavras que o necessário. Asmita até este momento já havia bebido quatro copos de água e andava para lá e para cá, e parecia a qualquer momento abrir um buraco no chão.

Viram a porta de madeira escura se abrir e a secretária os anunciar. Entraram e notaram um Ilias completamente desconcertado, bem como o Dr. Lucas com um sorriso de canto invencível.

_Por favor, sentem-se – o loiro indicou as cadeiras aos três - Eu recebi um comunicado um tanto comprometedor do Dr. Lucas a respeito de uma atitude dos três na comunidade do Galo há algumas semanas – suspirou.

_Reitor... Nós não fizemos aquilo por mal! A moça ia morrer! - Asmita se prontificou. Estava indignado com a atitude de Lucas. Ele fora seu professor por tempo o suficiente para conhecê-lo e saber que ele jamais faria algo sem ter certeza. O que era isso agora?!

_Asmita – o médico se moveu pela primeira vez, levantando-se da cadeira com seu típico olhar altivo, sem sequer olhar para os três - Eu lamento informar, mas você tomou uma atitude que definitivamente NÃO lhe cabia! A moça poderia ter morrido por culpa de sua negligência!

_NEGLIGÊNCIA? Me perdoe, Dr. Lucas – Isa se colocou à frente do homem e disse seu nome com ironia – Mas Asmita foi genial! Ele salvou uma mulher inocente de MORRER! Coisa que talvez você não fosse capaz de fazer no lugar dele!

_Cale a sua boca, menina! Eu sou um médico formado! Tenho anos de exercício e vocês? O que são? Ninguém!

_Não interessa! Nós somos melhores que você! EM TUDO!

_Dr. Lucas, Isadora, eu acho que esta discussão está extrapolando os limites do sadio – Ilias interviu ao ver o clima pesado que habitava ali – Conversemos como adultos. Quero que todos falem, porém, cada um em sua oportunidade! Asmita, o que você tem a dizer sobre o ocorrido? - via o rapaz loiro completamente trêmulo. Seus lábios cintilavam e não sabia se ele seria capaz de dizer.

_Reitor... Foi... Foi tudo muito rápido... Estávamos na ONG e... Nós ouvimos um tiroteio... Um tiro atingiu a moça que eu salvei... Ela estava bem na nossa frente... Ela parecia ter... Ela enfrentou a bala para salvar o filho do senhor – viu-o suspirar – Atingiu bem no peito dela e... Me pediram ajuda, Sr. Ilias! Me pediram ajuda! Eu sabia o que tinha de fazer! Eu sabia...- apertou os punhos – Isa e Ana não fizeram nada que as comprometesse! Elas apenas me ajudaram com os instrumentos! Não as puna – algumas lágrimas rolaram por seus olhos azuis – Eu não...

_Acalme-se, Asmita... Não estamos aqui para punir nenhum dos três, apenas para esclarecer os fatos e tomar as medidas...

_Estamos aqui para puni-los, sim senhor! Isso se chama "exercício ilegal da profissão", caso vocês não saibam! Vocês são três criminosos! Criminosos dos quais eu não me orgulho nada em ter sido professor! Ilias, não está medindo a dimensão do que os três fizeram? Você, logo você, que conhece as leis de trás para frente?

_Sim, dr. Lucas – o loiro baixou a cabeça. Sabia que o médico estava certo, apesar de seu coração não estar mandando que punisse os três - Isadora, Ana, o que têm a dizer?

_Reitor, a melhor coisa que podia ter acontecido à Seika era que Asmita estivesse lá! Ele agiu com tanta calma...- Aninha se manifestou pela primeira vez – Foi brilhante! Até a ambulância chegar, sabe lá Deus o que podia ter acontecido! Ela podia ter morrido! E eu, particularmente, acho que o Sr, Doutor Lucas, devia se orgulhar de ter ensinado a Asmita o que ele sabe! Se orgulhar do futuro médico que o senhor criou – seu olhar para o outro, era de condenação. Por um minuto, que ele sabia que ela podia condená-lo. Podia acabar com toda a sua carreira.

_Ana, não estamos discutindo a minha habilitação como o profissional que sou... Estamos discutindo a negligência e a imprudência de vocês, que podiam ter contribuído para que uma pessoa morresse! O contrário do que a profissão de médico exige! Vocês agiram com emoção! Um médico jamais pode agir com emoção! Vocês não têm competência para a medicina!

_Ah, me desculpe, Dr. Lucas, mas quem não tem competência para coisa alguma é VOCÊ! - Isa apontou o dedo indicador na direção do médico - Nem como professor, como médico, como nada! Você só salvou a Seika por que O ASMITA A SALVOU ANTES! Entenda isso de uma vez por todas!

_Sua insolente!

_Lucas...- Ilias interrompeu a discussão - Que mal o pergunte, o que levou a minar a relação amigável que havia entre você e Isadora? - notou uma clara surpresa na face de Lucas.

_Bem... Nada... Não foi nada... Apenas não concordo com a atitude que ela tomou, bem como a de Asmita e Ana... Não é nada pessoal... Estou aqui como médico...

_Ah, é mesmo? - Isa retomou seu tom irônico - Não é disso que eu me lembro – arqueou a sobrancelha na direção dele, que engoliu seco.

_O que você está insinuando, Isadora? - sorriu de canto. Era a palavra dela contra a sua – Ademais, Ilias, espero de mais pronto possível a sua decisão. Por mim, os três poderiam ser expulsos do curso de Medicina. Uma atitude como essa é um crime imperdoável.

_Quem deveria ser expulso é você! Maldito! Sr. Ilias...

_Ilias, não escute o que esta criminosa tem a dizer – se fez indiferente – Pense neste assunto com bastante cautela, você pode estar colocando o pé na lama e o nome desta Universidade também... Tenho de ir agora. Até mais ver, crianças - sorriu irônico e se retirou da sala.

_Sr. Ilias, tem que nos ouvir! - disseram suplicantes. Aquele curso era suas vidas. Seus sonhos.

_Bem, eu...- coçou os cabelos. Tinha um belo abacaxi em suas mãos: se fosse do conhecimento do órgão responsável, a Universidade poderia sofrer uma punição; se expulsasse os três, o mundo teria três maravilhosos médicos a menos – Eu comunicarei minha decisão assim que o período letivo retornar... Pensarei e ponderarei seus argumentos... Caso queiram, vocês podem apresentar algum tipo de defesa por escrito até sexta-feira e analisarei seus argumentos... No mais, estão dispensados até a segunda ordem.

Os três se retiraram no mais absoluto silêncio. Ambos faziam ideia da injustiça que estava sendo cometida por Lucas. Não entendia as razões dele para agir de tal maneira, mas desconfiava. Desconfiava tão profundamente, que pediria esclarecimentos à Isadora em particular. Talvez este assunto fosse desconfortável para uma moça tratar perto de outros homens.

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Após a dolorosa conversa, os três seguiram para seus quartos. Não tinham ânimo para se juntarem à rodinha da macacada. Além da tristeza, a presença constante de Minos estava infernizando a cabeça de Isa. Sua proximidade com Saga, ainda mais. Ao menos enviou-lhe uma mensagem dizendo que queria ficar sozinha e mais tarde falaria com ele.

Já na pequena reuniãozinha, que estava formada para despedir-se de Hasgard, que daqui a alguns minutos partiria para Recife para tentar sua vaga de emprego, Minos estava cada vez mais colado em Saga. Queria se tornar o melhor amigo do geminiano.

_Gente, só me digam que alguém não vai deixar o Manigold, esse porco, falar de boca cheia – o grandão dizia com lágrimas nos olhos – E que Debas, você é quem vai ser o puxador oficial de malas em cima do armário por mim - abraçou o mais novo e viu uma confirmação - E vai continuar sendo o companheiro oficial de rango da abelhinha quando ela voltar... A propósito, alguém entrega essa cartinha pra ela, por favor? - entregou um envelope pequeno a Shion, quem se prontificou a entregar à "tia".

_É como dizem, muita caca pra pouco penico! Que reunião é essa que ninguém me chamou? - Dohko apareceu, acompanhado de seu irmão e prima, que despertou olhares imediatos dos rapazes – Ah É MESMO! HASGARD! AH NÃO! - agarrou o grandão como sempre fazia – Eu vou sentir sua falta, Hulk – fez beicinho – Quem é que vai fazer o Manigold parar de porquice?

_Para de falar do Mani! Ele nem está aqui pra se defender, ô pastel!

_Onde esse porco está? Queria ver ele antes de ir pra Recife... Enfim, quando eu voltar, vejo todo mundo e me despeço direito.

_Eu não vou conseguir viver sem você, Hasgard! - Sísifo se jogou em cima do amigo e o abraçou com força.

_Ei, eu não tô indo pra sempre! É só uma semana! Seu dramático! Para de viadagem – riu e afastou o loiro de si - Deixa eu ir que ainda preciso me despedir de uma pessoa – enrubesceu.

_IIIIHHH alá! Cheio de segredinho! Estamos de olho, hein! - Dohko advertiu e viu o outro caminhar, levando uma ou duas malas e uma mochila consigo.

Has encontrou Sel com um semblante aborrecido. Não sabia como seria sua vida dali em frente se firmasse em seu emprego. Era tudo por Selinsa, mas mesmo assim, ficar longe dela era duro.

_Ei, logo eu estou de volta pra te perturbar, ouviu? Não vai se livrar de mim assim tão fácil - beijou a ponta do nariz da morena – Vem cá, me dá um abraço - foi abraçado calorosamente e sentiu algumas lágrimas da menor lhe molharem o ombro – Calma, Sel – enxugou o rosto avermelhado - Você está bem?

_Como posso estar bem com você longe? Tudo vai ficar pior – baixou o olhar. Tinha um mau pressentimento. Há pouco, Agathia lhe disse que precisavam conversar. Esta frase já não lhe animava. Sabia do que estava por vir – Tudo bem, pode ir sossegado – tentou sorrir – Vou estar esperando você aqui – beijou-lhe de forma terna – O táxi já está esperando!

_Promete que vai ficar bem? - se fez penoso. Conhecia Selinsa. Ela não estava bem. Algo além de sua partida estava deixando-a inquieta. Mas não tinha tempo para questionar agora. Beijou a testa da menor e partiu em direção ao seu destino. Se Deus quisesse, tudo daria certo!

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Selinsa observou com pesar a partida de Hasgard e se juntou tristemente à macacada. Tentava se distrair com as besteiras que os meninos diziam, bem como a fofoca das meninas em torno da beleza do irmão de Dohko, que aliás, era realmente lindo.

Viu a ruiva se aproximar. Estava acompanhada de um belo moreno. O conhecia de algum lugar, mas não sabia ao certo de onde.

_E aí, macacada? Vim apresentar o mais novo integrante da trupe! Esse é o Cassius, meu namorado! - disse esta palavra com certo triunfo em sua voz, principalmente ao olhar para Albafica, que, ao contrário de suas expectativas, não parecia minimamente interessado ou incomodado.

_Prazer, Cassius... Espera! - Sísifo se levantou para cumprimentar o rapaz - Você é o Cassius? O dono da empresa de telecomunicações? - dizia boquiaberto, despertando de pronto a atenção de El Cid, sempre interessado em bons contatos e companhias.

_Sim, muito prazer, sou eu mesmo – sorriu simpático. Era de fato um belo homem. Um mulato simpático, com o sorriso mais aberto que muitos já viram.

_Prazer! - todos disseram em um uníssono coral. Alguns não entenderam o porquê de uma apresentação tão espalhafatosa de Agathia, que nem de longe parecia a mesma garota que levou uns tapas na semana passada. Alguns perceberam logo sua intenção de usar um cara legal como Cassius para – tentar – infernizar Albafica. De onde saíra tanta obstinação?

Após algum tempo de conversa, Cassius se entrosara com os demais. Aproveitando-se da deixa, Agathia levou Selinsa para um canto e a encarou com firmeza.

_Já tenho um novo programa para você - entregou um papel branco à amiga – Cassius vai dar uma festa no sábado e você vai encontrar esse garoto lá!

_Agathia... Eu não vou! Não vou mais fazer programas, eu já disse! Estou com Has!

_Não, Selinsa, você não está! Você está penalizada com um trouxa que finalmente não te tratou como uma puta e está encantada, mas eu te digo apenas uma coisa: amor não paga as tuas contas! Muito menos as MINHAS! Agora faz o favor de abrir essa merda de papel!

_O QUE SIGNIFICA ISSO? - leu o recado escrito e não conseguiu acreditar naquelas palavras – Eu? Eu e você? Quem é Bian?!

_É um cliente como qualquer outro – revirou os olhos – Selinsa, coloca na sua cabeça que você vai fazer exatamente o que estou mandando!

_Mas eu... Nós somos amigas... Eu não vou conseguir – baixou o olhar - Não com você... Na mesma cama... Agathia!

_Coração de puta bate no grelo, amor, só dropa um doce comigo e vai fundo – acendeu um cigarro após olhar para os lados, conferindo se ninguém via.

_Você acabou de dizer que está namorando! - olhava incrédula para a ruiva.

_Estou. E daí? Preciso ganhar dinheiro. Preciso fazer dinheiro e você vai me ajudar! Ou será que quer ver papai e irmãozinho jogados na sarjeta? Eu acho que não!

_Agathia... Eu não vou conseguir...

_Eu te arrumo um baseado então, ok? Daí você relaxa e faz o que tem que fazer – revirou os olhos novamente e tragou o cigarro.

_Não vou me drogar!

_Faz o que quiser, Selinsa, só esteja nessa porra dessa festa sábado e faz o favor de se depilar direitinho! Ele gosta que ela esteja lisinha - sorriu de canto - Já dei o meu recado, quer saber mais alguma coisa?

_Como você tem coragem? Você sabe que amo o Has!

_Amor, Selinsa? Onde o amor leva as pessoas?! - aumentou o tom de voz – A merda de lugar nenhum! Só faça o que eu mando! Você não vai deixar esse teu namorico besta acabar com a vida da tua família, vai?

_PARA DE USAR MINHA FAMÍLIA COMO DESCULPA PRA SUA GANÂNCIA! - puxou-a pelo braço.

_Não estou usando ninguém como desculpa, Selinsa... Você acha que eu preciso de você? - disse com repugnância - Eu só faço isso pra te ajudar! Ajudar o escroto do teu pai que fez o favor de deixar os filhos na miséria!

_Pois então eu não quero mais a sua ajuda! Chega! Chega, ok? Acabou! - entregou o papel branco de volta à ruiva, pressionando-o contra o peito dela.

_Não tão cedo, queridinha! - apontou o dedo para o rosto da outra – O cliente pagou uma parte adiantada e você não vai furar! - mirou-a com raiva - Depois deste programa, faz o que quiser da merda da tua vida, só não embaça os meus esquemas de agora! – virou-se de costas – Pensa neles quando quiser desistir – seguiu o caminho de volta à reuniãozinha e abraçou Cassius como se nada estivesse acontecendo.

_Eu sei que vocês nem me conhecem, mas eu queria dizer que sábado vai rolar uma social lá em casa pra comemorar o fim das férias! Quem estiver livre e quiser ir, está convidado! - o moreno fez um convite geral.

_Vamos, Saga? - Minos encarou o amigo sorrindo – Vai ser legal!

_Vou ver com a Isa... Se ela quiser ir, eu vou – retribuiu o sorriso.

_Ok, eu acho que eu vou de qualquer jeito – deu ombros – Preciso me socializar mais... Por que diabos a Isa ia recusar um convite de festa? Ela não me parece uma garota quieta – tocou o queixo com expressão curiosa.

_E ela não é - sorriu abobado – Apesar de nesses dias estar meio tensa... Acho que é a conversa que ela precisava ter com o Reitor – se frustrou – Ela estava com muito medo. Além de um problema com a Mel...- tentou não focar sua atenção na triste notícia que sua amiga havia lhe dado.

_Medo? De que? O que houve?

_Uma longa história - sorriu – Mas e esse negócio da praia no sábado de manhã? Rola ou não rola? - agitou o pessoal, que estava combinando um passeio à uma praia diferente.

_Por mim já rolou! Só falta fechar o busão! - Sísifo se agitou – Vamos, galera! Anima aí! - sorriu sob um olhar reprovador de Cid.

_Então eu e Isa vamos resolver isso até sexta! Depois me confirma quem vai certinho!

_O que vamos levar pra comer? - Debas insinuou.

_Tava demorando! Ô guloso! Saco sem fundo! - Def o repreendeu com humor - Acho que algo bem farofa mesmo! Arroz, vinagrete, frango assado, FAROFA!

_E quem vai fazer tudo isso? - todos olharam em peso para Shina, que desviou o papo.

_Nem vem! Praia eu quero é aproveitar! Vou esquentar minha barriga em fogão nenhum! Se virem, seus folgados!

_Poxa, Shinazinha, a sua comida é maravilhosa!

_Vocês são muito Nutella mesmo! - Debas revirou os olhos – Deixa que eu cozinho! Vou fazer um almoção da porra! Só estou sentindo falta da abelha – fez bico.

_A Mel deve ficar em casa por um tempo, Deba – Saga se fez cabisbaixo – Ela não contou pro pessoal para não apavorar ninguém, mas ela teve um sangramento mais intenso nessa semana... Vai ter que ficar no repouso, acho que até o fim da gravidez...

_Até o fim?! - Dohko conseguiu arregalar os olhos – Mas como assim? Ela está bem? O que rolou?

_Ela não podia ter se esforçado tanto na festinha... O médico já havia recomendado repouso, mas ela não obedeceu e a situação piorou... A bebê está pra nascer em Dezembro, vamos ver como vai ficar a faculdade até lá - deu ombros.

_Meu tio vai providenciar as questões da faculdade pra ela, acho que ela tem direito a fazer provas especiais... Gente, por falar em faculdade, eu tenho um comunicado a todos! - Shion chamou a atenção para si. Não sabia como seria a reação de Dohko ao saber de sua novidade.

_Ih, lá vem! Vai pedir o pastel em casamento ou o que? - Defteros brincou.

_Eh... Não... Na verdade, não... Eu vou... Eu vou para o Canadá em Janeiro! Eu passei para a pós-graduação em Toronto! Eu vou pra lá! - pensou que veria uma sessão de risos em cadeia, mas não foi o que aconteceu – Gente, o que é? Não estão felizes? - o sorriso de Dohko se esvaiu aos poucos. Via uma face decepcionada no rosto dele. O chinês se levantou com pressa e marchou em direção ao quarto – Gente... Eu vou lá! - correu atrás dele e o alcançou - Dohko! O que é isso?

_O que é isso? Você me pergunta? É sério? Caralho, Shion! Como você pôde me esconder isso?

_Eu não escondi! Eu só não tinha certeza antes! Fora que queria compartilhar essa notícia com todos os meus amigos!

_Talvez eu quisesse saber isso em particulare não como "todos os amigos"! - respirou fundo – Talvez você tivesse um pouco mais de consideração com nosso namoro! Mas não! Simplesmente me contou isso como quem conta que vai ali e já volta!

_Mas eu vou e já volto, Dohko! - suplicou - É só por um ano... Você sabe que é o meu sonho...

_Eu sei... Acontece que eu JAMAIS tomaria uma decisão dessa, daria um passo desse tamanho na minha vida sem que você fosse o primeiro a saber! - chorou – Caralho, Shion! - esfregou as mãos pelo rosto e se sentiu abraçado pelo ariano.

_Me perdoa... Eu não sabia que você ia... Que você ia ficar tão mal... Dohko, eu...

_Você vai abortar a nossa história outra vez? - levantou os olhos levemente avermelhados pelo choro.

_É óbvio que não! Eu vou voltar pra você, seu pastel imbecil!

_E quem me garante? Quem garante que não vai arrumar uma americana por lá e me esquecer? Que não vai se sentir bom demais pra estar com um universitário pobre de merda como eu?!

_PARA! PARA! De onde você tirou tanta besteira?! Eu amo você! Ouviu? Eu AMO! Ninguém vai entrar no nosso caminho! Não tem esse ou aquele que vai me tirar de você! Não tem ninguém melhor que você nesse mundo! Você é o meu melhor amigo, Dohko! - levantou o rosto menor – Presta atenção... Eu ainda tenho tempo aqui... Nós vamos estar juntos - abraçou-o, mas não sentiu retribuição alguma por parte dele.

_Ta – desviou o olhar e se desvencilhou do abraço - Eu vou entrar... Perdi a vontade de ficar lá.

_Não, Dohko... Não faz assim, por favor - abraçou-o pelas costas – Volta pra lá... Passa uns dias lá em casa comigo.

_Não vai rolar... Sua família não vai gostar e...

_Você acha mesmo que o meu pai não sabe sobre nós? Além do mais, todo mundo lá é bem maduro e você sabe muito bem disso! Vamos! No sábado depois da praia você volta, pode ser? Vai lá, arruma as suas coisas!

_Calma, insuportável! Deixa eu dizer que sim primeiro! - se emburrou.

_Você vai, Dohko, não tem escolha! Anda, vamos entrar e eu te ajudo com as roupas!

_Só com as roupas?

_Se quiser que eu tire – sorriu de canto e mordeu o lóbulo da orelha do menor, entrando junto dele para o quarto. Era apaixonado por Dohko e jamais se permitiria afastar dele. O que quer que fizesse, era por seus futuros. Queria poder ser o melhor para ele. Não menos do que ele merecia. Não menos do que podia ser.

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A tarde caiu. Uma pequena parcela da macacada permanecia no pátio, ainda discutindo a respeito do passeio de sábado.

_Cheguei no pistão, meu povo! O que eu tô perdendo? - Mani, sempre espalhafatoso, se aproximou da aglomeração dos amigos, procurando um deles em especial.

_Até que enfim, seu lixo! - Sísifo puxou o amigo pelo pescoço - Achei que não ia voltar mais hoje! Onde você tava enfiado?

_Ué, no meu trabalho né porra! Eu não sou coça-saco igual vocês! Enfim, o que tá pegando? Alguém viu o Shura por aí?

_Está pegando um possível passeio pra praia da Bacia no sábado, topa ir? Ou está muito atolado agradando o chefinho? - debochou.

_Cala a boca, capeta! Acho que vou, sim! Quem vai? - se sentou ao lado do loiro, que tinha uma lista de pessoas – Ué, El Cid, você não vai? - questionou o capricorniano, que não estava incluído na lista.

_Eu? - sorriu com ironia – Comer farofa na praia? Com garfo de plástico? Você só pode estar brincando comigo – fez expressão de nojo, causando desconforto nos demais.

_Ah, qual foi, cara! Vai ser legal! Deixa disso!

_Não tem como ser legal um programa de índio como esse! Prefiro ficar aqui colocando meus estudos em dia – revirou os olhos - Sísifo, estou subindo. Você vem?

_Não está vendo que eu estou arrumando a lista? - respondeu com rispidez, respirando fundo logo em seguida – Pode subir, a hora que eu quiser eu vou – outro apenas deu as costas e continuou caminhando.

_Caramba, qual é a dele?

_Sisi, na boa, qual é a razão pra você estar com um cara desse? Que nojento! Esnobe do cacete – Mani revirou os olhos. Definitivamente não sabia o que levou um cara liberal e despreocupado como Sísifo a se envolver com um arrogante estúpido como El Cid.

_Nem eu sei! Acho que gosto desse babaca – revirou os olhos novamente. Estava saturado deste romance. Cid o sufocava como uma corda no pescoço. Não o deixava viver. Sempre preocupado com etiquetas, regras e dinheiro. Essa vida não era sua.

_E eu que pensava que o Asmita era insuportável - Defteros complementou, fazendo, junto de Aldebaran, uma lista de ingredientes para o almoço - Perto desse El Cid, o Asmita é um anjo!

_Por falar em Asmita, vocês sabem o que foi que rolou na conversa dele com o Reitor? - Sísifo questionou, chamando a atenção de Regulus, que estava atracado com Aspros, porém, prestava atenção aos mínimos detalhes.

_O que o loiro aguado foi falar com o meu pai? - se desprendeu do gêmeo e mirou os demais – Tio, você não me disse isso por que?

_Por que você não se importa com o Asmita? Por que não gosta dele? Por que será? - foi irônico, apontando o lápis com uma faca.

_Afe, Sísifo! O que o meu pai queria com ele?

_Na verdade, com ele, Isa e Aninha...- Defteros respondeu o cunhado – Acho que tem algo a ver com o que eles fizeram no Morro do Galo no dia do tiroteio – deu ombros.

_Mas... Gente, será que ele vai expulsar os três? - se exasperou. Odiava Asmita, sem sombra de dúvidas, mas não podia admitir que uma injustiça recaísse sobre ele. Foi apenas por ele que Seika estava viva hoje, e se sentia profundamente agradecido por isso.

_Espero que não! Eles foram brilhantes naquele dia.

_Também espero que não...- mirou o chão. Se pudesse dar um jeito naquela situação, daria. Com toda a certeza.

_Gente, alguém viu o Shura? Ninguém me respondeu!

_Ele está no quarto dele, cacete! Mas bate na porta antes, por que Kardia e Degel moram naquele quarto, então já viu, né? Pegar uma cena de sexo explícito não vai ser nada difícil.

_Ok! Vou ser cauteloso, tá? - sorriu amarelo para o amigo e partiu em direção ao quarto do moreno. Bateu à porta como foi alertado e foi recebido por Shura, que parecia estar estudando – E aí? - sorriu sem jeito.

_E aí? - arqueou uma sobrancelha – O que foi, Mani?

_Posso falar com você? Só uns minutos?

_Ta... Claro... Entra – estava assustado. O que Manigold podia querer consigo a uma hora dessas?

_Eu... Tipo, eu queria te fazer uma proposta – notou uma clara confusão na face do outro – Meu chefe, o Sage, me disse que os dois estagiários da Administração dele estão se formando agora e vão sair... Ele me pediu pra achar alguém de confiança pra estagiar lá e só consegui pensar em você - sorriu – Antes que você pergunte, é remunerado!

_Ei! Está me chamando de interesseiro?

_Jamais! É só um estímulo a mais – sorriu largo – E aí? Você está interessado? Posso confiar em você pra me indicar alguém em que você confie pra preencher essa vaga junto de você?

_Claro que quero! Isso é ótimo! Alguém? - tocou o queixo – Eu... Na minha turma tem uma outra garota além de mim que tira excelentes notas... Ela é bem aplicada, eu diria.

_E quem é? Eu posso confiar? Você a conhece bem?

_Eu a conheço de turma, mas ela é a única garota da sala! E se dá muito bem, aliás... Milena, o nome dela... Quer conversar com ela?

_Se você puder me ajudar com isso, eu aceito! Quando você encontrar essa garota, faz o favor de dar meu número pra ela – sorriu - Então posso marcar a entrevista pra você na empresa?

_Pode! Pra ontem! - sorria abertamente. Antes do que imaginou, daria um passo a mais para sua independência.

_Então fechou! Se ela for gata, chama ela pra praia sábado - piscou o olho direito e deu língua para o amigo.

_Toma jeito, Manigold! - deu um tapa na cabeça do canceriano e o viu passar pela porta. Estava feliz. Bem feliz, aliás. Precisava falar com Afrodite neste momento! A praia no sábado teria um gosto a mais de vitória.

Continua