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História A Residente - Capítulo 20


Escrita por: fanyunnie7

Notas do Autor


Enfim, cheguei baby's.
Na verdade, era para eu ter atualizado nesse final de semana, mas fiquei na dúvida sobre o rumo deste capítulo, e acabei mudando algumas coisas. Aliás, uma coisa gigantesca, então espero que compreendam e nos veremos nas notas finais.
Boa leitura !

Capítulo 20 - Capítulo 20


P.O.V Tiffany

Iniciamos o turno da tarde, mantendo um ritmo tão concentrado, que acabei ficando até surpresa com a minha mudança repentina, em relação ao que havia presenciado no almoço – decidi manter o foco no trabalho, o que me deixava demasiadamente satisfeita. Assim que saí do restaurante com o Peter, sustentei a ideia de que precisava de uns dias para mim, de uns dias fora das garras da Taeyeon que me rondavam e me mantinham presa a ela, sempre que estava disposta. Principalmente, de uns dias para aceitar o que de fato, eu significava em sua vida - apenas uma diversão para dispersá-la dos seus problemas conjugais. Constatei que, manter uma relação com a Taeyeon, ou pelo menos tentar, significava que eu deveria pisar em ovos. Eu deveria duvidar de coisas que acabei me convencendo, nos momentos em que estive mais vulnerável – como hoje pela manhã.

Não me arrependo de ter dito que a amava. A veracidade das minhas palavras, tomaram proporções inimagináveis até para mim, mas negar o sentimento crescente que vinha tomando forma e volume, se alastrando em meu peito, seria negar a mim mesma, a própria existência de um amor que tanto almejei. Seria negar uma nova parte de mim. Uma nova nuance. Um lado que, até então, desconhecido.  De toda uma forma, não foi ruim afinal, venho me descobrindo e me conhecendo, a cada dia que passa - e me surpreendendo cada vez mais com as minhas atitudes, diante das situações impostas em meu caminho. Em contrapartida, vinha conhecendo mais da Taeyeon também, e isso parecia me puxar para dentro de uma enxurrada interna, me mantendo cada vez mais próxima a ela, o que me impedia de nadar com os meus próprios braços. Era um começar e recomeçar, infindo. Eu tentava nadar contra a correnteza, mas ela sempre me alcançava.

Assim que voltamos das visitas rotineiras, Peter e os estagiários seguiram para a nossa sala, enquanto eu avisei que precisava falar com a Taeyeon. Desde que ela voltou do almoço, mantinha-se em sua sala, concentrada no trabalho. Momento algum havia visto a sua feição, se estava feliz ou imparcial, como o de costume. Mas então repassei a cena em minha cabeça, e imaginei uma felicidade que sempre foi inexistente para mim, uma felicidade estampada em seu semblante. Se ela decidiu voltar para o seu casamento, eu deveria começar a me preparar para ouvir as próprias palavras de sua boca. Admito, uma derrota. E por ironia, a única quem sairia devastada dessa situação, era eu. Um casamento que, acabei fazendo parte, mas que nunca me pertenceu.

Dei duas leves batidas na porta, e assim que ela autorizou a minha entrada, segurei firme na maçaneta e respirei profundamente, fazendo um exercício de inspirar pelo nariz e expirar pela boca, tentando aplacar a ansiedade que estava tendo, por causa dessa conversa.  Adentrei silenciosamente em sua sala, e fechei a porta, seguindo para me sentar na cadeira, em frente à sua mesa. Desabei no assento acolchoado em couro preto, e encarei as minhas mãos que ficaram suadas, só de pensar em falar uma coisa que eu não queria. Definitivamente, o Brooklyn era o último lugar, para o qual eu desejaria correr nesse momento.

 – Taeyeon, preciso falar com você. – Permaneci por alguns segundos com a cabeça baixa, e como não obtive uma resposta imediata, decidi olhar para ela, que se mantinha em silêncio, e concentrada em seu laptop. – Taeyeon?

- Só um momento menina, deixa eu só ... – Seus dedos ágeis, digitavam rapidamente no teclado, e seus olhos mantinham-se cegamente fixos à tela. - .... Enviar esse e-mail, é urgente.

Esfreguei as palmas das minhas mãos em meu jeans, tentando me livras dessa ansiedade crescente, sempre procurando controlar a minha respiração ofega. Quando voltei a encará-la, estudei a sua expressão serena e o seu olhar atento. A observei meticulosamente, estudando cada linha e contorno do seu rosto. Seus lábios finos se entreabriam sutilmente, esvaindo todo o ar contido. Sua postura sempre ereta, chegava a cansar as minhas vistas, mas seu olhar dominante e intenso, me fez deseja-la com tanta intensidade, que chegava a doer.

- Desculpe. – Ela abaixou a tela do laptop e recostou seu corpo na poltrona, repousando seus cotovelos, nos braços da mesma – Você estava dizendo?

- Ahn. - Minha voz assumiu um tom de melancolia. - É que o meu irmão acabou de me ligar para dizer que minha mãe está internada. – Menti. – E queria saber se você pudesse me conceder alguns dias de folga, para poder visita-la.

- A sua mãe? – Ela levantou da sua poltrona com o cenho franzido, e deu a volta em sua mesa, abaixando em minha frente. – O que ela tem tiffany? - Suas mãos passearam lentamente por trás das minhas pernas, acalentando o meu desespero e me impedindo de sair correndo dali.

- Câncer ... – Desviei o olhar dos seus, tentando conter as lágrimas que apertavam o fundo dos meus olhos, com a sua carícia inoportuna em minhas pernas. – No pâncreas.

- Hey menina, vem cá. – Ela me segurou pelas mãos e foi se levantando, trazendo-me juntamente consigo, para próximo do seu corpo. Fechei os olhos e inalei todo o ar que havia conseguido, ao repousar minha cabeça em seu ombro. – Eu sinto muito por isso. – Senti um beijo afável no topo da minha cabeça, e as suas mãos deslizando lentamente pelas minhas costas. – De quanto tempo você precisa? - Sua voz assumiu um tom gentil.

- Não sei, acho que 3 dias já está bom. – Limpei uma lágrima muda que escorreu pelo meu olho e me afastei sutilmente dos seus braços. – Já está com metástase, então, não acho que precisarei de muito tempo para me despedir.

- Sinto mesmo por isso. – Ela me puxou novamente para deitar a cabeça em seu ombro. - De noite compramos a sua passagem e tem uma coisa que eu gostaria de contar para você.

Meu coração acelerou. Por essa eu não esperava, mas já podia imaginar como seria escutar da sua própria boca, que havia reatado com a sua ex mulher. Definitivamente não, não agora, não antes de viajar. Não antes de encarar o meu problema mais antigo, e de quase 2m de altura.

- Eu não vou jantar com você Taeyeon. – Fui direta, mas com o tom de voz abrandado. – Eu preciso de um tempo sozinha. Eu não tenho clima para isso, e espero que possa respeitar.

Me afastei subitamente, e sustentei o olhar no seu, que parecia estar confuso e tentando me analisar por completo.

- É compreensível. Que dia você pretende ir? - Ela sentou na ponta da sua mesa, e cruzou os braços, na altura dos seus seios. – Depois de amanhã é a inauguração, e todos que não estiver de plantão, precisam estar presentes. 

- Sim, eu sei, vou reservar o voo para o dia depois, bem cedo. Estarei na inauguração.

- Tudo bem, se concentra em ficar com a sua família. Sabe que se precisar de alguma coisa, é só me ligar, não sabe?

- Sei sim, eu agradeço por isso, mas está tudo bem quanto a isso. – Sorrio de forma casta, tentando demonstrar uma tranquilidade que não me pertencia. – Eu vou voltar com os meninos, e obrigada por isso.

- Se cuida menina. - Com o coração na mão, escutei as suas palavras sinceras, e deixei a sua sala.

A tarde passou um pouco mais lenta. Talvez fosse a minha letargia mental, que agora estava mais focada em qualquer outra coisa, do que no próprio trabalho. Conversei com o Peter, que iria ficar uns dias fora, por conta de um problema na família, mas a maneira como ele me abraçava, parecia até que quem estava partindo dessa vida era eu. Respirando fundo, tentei relaxar e voltar a me concentrar no restante das dietas, que haviam para calcular.

Quando chegou o final do expediente, me senti mais aliviada em poder recolher para mim, todo o turbilhão de sensações que eu consegui reunir, em menos de um dia. Precisava ficar sozinha. Precisa ficar quieta com os meus pensamentos inquietantes. Precisava de uma chance para me recompor sozinha.

Após me despedir do pessoal, segui para o vestiário. O ambiente vazio, me trouxe uma calmaria confortável. Abri o meu armário e pude sentir o meu celular começar a vibrar, no bolso da minha calça. Retirei o aparelho e vi que era a mãe da Yuri, a mãe que também era minha.  

- Mãe?! – Não pude deixar de sorrir, com a sua ligação inesperada. Segui para o banco de metal, e me sentei surpresa. – Está tudo bem?

- Tiffany meu amor, oi. – Senti meu coração aquecer, por uma voz que não imaginava sentir tanta saudade. – Está tudo bem, e as coisas por aí?

- Ah, estão tranquilas. Estamos indo bem sozinhas.

- A residência é tudo aquilo mesmo que você imaginava?

Foi inevitável não sentir umas borboletinhas passeando pelo estômago, só de pensar que foi bem melhor do que imaginei. – A minha é bem tranquila, mas acho que a da Yuri é mais agitada, e com certeza, ela deve ter muito mais coisa para contar do que eu. E o pai, como vai?

- Eu fico feliz por vocês estarem se saindo bem sem a gente, criamos ótimas meninas – Seu sorriso tímido, me preencheu. – Seu pai está bem, impossível não ficar não é? Todo dia me aparece com uma novidade, agora inventou de querer abrir uma loja, de materiais de pesca. Ele não consegue ficar parado, não adiantou nada se aposentar.

- Então é o Sr Kwon de sempre? - Revirei os olhos, fingindo descrença, sempre soube que ele não conseguiria ficar sem fazer nada. – Isso é ruim.

- Infelizmente ... o de sempre. – Gargalhamos juntas, e me senti nostálgica com a lembrança deles. - Mas meu amor ...

- Hmm mãe?!  

- Você não precisa fazer isso. – Escutei sua voz ficar abafada do outro lado da linha, como se estivesse sussurrando em um lamento. – Você não precisa voltar para o Brooklyn, sua vida não é mais lá. Você não tem mais nada a fazer lá meu amor, estamos aqui, com você.

Suas palavras me pegaram de surpresa, e me estapearam os dois lados da face. Logo pude sanar a minha curiosidade, acerca desta ligação inesperada. Ela nunca me liga diretamente, sempre liga para a Yuri, e como estamos sempre juntas, eu acabava falando com ela, pelo celular da Yuri. Mas hoje foi diferente. Aquela ligação havia sido diretamente para mim, e me deixou estranhamente, sem palavras.

- Mãe ... – Respirei fundo, e encarei o meu armário aberto à minha frente. – Eu só queria me despedir, mas prometo pensar melhor nisso. – Menti. – Não se preocupe, eu vou ficar bem.

- Ótimo meu amor, sabe que falo isso para o seu próprio bem, não sabe? Jamais me perdoaria, se algo te acontecesse novamente. Isso acabou, está enterrado. 

- Eu sei. – Respondi num fio de voz. – Olha, estou saindo agora do trabalho, e não quero pegar congestionamento, mas eu te ligo depois tudo bem? - Tentei desconversar, para fugir de suas palavras reflexivas. Aquilo não me ajudaria em nada.

- Tudo sim meu amor, se alimenta direitinho e descansa. – Me alertou. - Esse tempo que vocês passam no hospital, deve ser bastante estressante.

- Sim, é muito. Manda beijo no pai e se cuidem. Boa noite. – Retirei o telefone do ouvido, e assim que ela se despediu, encerrei a ligação.

Fiquei encarando o aparelho rosa em meu colo, tentando absorver toda essa conversa. Eles estavam com mais medo por mim, do que eu mesma. Levei um susto ao escutar a voz da Yuri, vinda da porta do vestiário.

- Hey, fiz macarronada. – Olhei imediatamente para ela, com uma certa impassibilidade. – Arrumei a bagunça da cozinha também. – Seu sorriso forçado, pareceu tentar amenizar a situação.

Não respondi, apenas levantei do banco, enfiando o celular no bolso da calça, e segui para o meu armário. Meu interior, era um turbilhão de sensações, boas e ruins, e todas se encontravam de uma vez só, explodindo a minha mente ensandecida.

- O que foi agora? Não vai falar comigo? - Escutei a sua voz mais dura, enquanto caminhava em minha direção.

- Por que a sua mãe me ligou Yuri? - Indaguei sem demonstrar curiosidade, e retirei a minha bolsa do armário, alheia à sua proximidade.

- Só queria que conversasse um pouco com ela.

- Para que? Para tentar me fazer mudar de ideia? Por favor, sabemos o que você está tentando fazer. – Falei ríspida, deixando a raiva e o desgosto, aflorarem.

- Cuidando de você, é o que estou tentando fazer. Não está muito claro para você? – Escutei seu tom de voz mais elevado, e bati a porta a porta do armário.

- Não é a sua vida Yuri, muito menos essa decisão, cabe a você ou aos seus pais. – Peguei a chave bruscamente da sua mão, e enfiei a bolsa tira colo, seguindo diretamente para a saída, sem me importar em trocar de roupa. Aquele tapa sem mão que recebi, não surtiu efeito. - Agradeço a sua compaixão, mas não se envolva mais nisso.

Saí do banheiro em disparada ao elevador, sem me importar se estava no meu ambiente de trabalho. Sei que não fui justa com a Yuri, e muito menos ela mereceu tamanha grosseria, algo que jamais havia feito com ela. Mas pela primeira na vida, queria fazer alguma coisa, precisava fazer alguma coisa por mim mesma. As minhas sessões de terapia, quando comecei a fazer na adolescência, me estimulavam a encarar a minha situação de frente. A falar mais sobre os ocorridos. A despejar todas as sensações que me envolviam, como uma manta envolvia um bebê. E por fim, o mais importante de tudo, a chegar na questão real do meu problema: vencer o meu trauma. Constatei que nunca deveria ter parado com a terapia.

***

Assim que pus a chave de casa, na mesinha de centro na sala, pude sentir toda a energia se esvaindo do meu corpo. A noite estava agradável, fresca, e tudo o que eu pensava era em um banho reconfortante, que pudesse revigorar todas as células tensas do meu corpo. O dia para mim, foi agitado, tenso, cheio de promessas mudas, e de não-promessas quebradas. Cheguei até cogitar a ideia de passear um pouco no píer Santa Monica, para aproveitar essa noite agradabilíssima, antes de ir para casa. Mas haviam coisas que eu precisava resolver. Comprar as passagens, e reservar um hotel no Brooklyn, que coubesse dentro do meu orçamento.

Segui para o meu quarto e joguei a bolsa em cima da cama, de uma forma qualquer. Liguei o notebook que estava na minha escrivaninha, e enquanto ele fazia o seu processo inicial, segui para o banheiro. Parecia que, quanto mais eu decidia não pensar nas lembranças que me assombravam, mas elas se faziam presentes. Me perseguiam. Suspiro derrotada. O dia todo me senti derrotada, por dois assuntos que me atormentavam, e estapeavam cada lado do meu rosto – Taeyeon e o Brooklyn.

Retirei toda a minha roupa e as deixei no chão do banheiro. Tentando me senti despreocupada, deixei que a água quente batesse em meu corpo, e levasse consigo para o ralo, todas as minhas preocupações, medos e frustrações. Todos os sentimentos ruins que me assolavam. Era o meu momento de paz agora, e não permitiria que nada tirasse o foco, dos meus pensamentos bons. Quando saí do box, me enxuguei e me enrolei na toalha, escutando o meu celular começar a tocar dentro da bolsa. Segui rapidamente para a cama, e quando peguei o celular de dentro da bolsa, franzi o cenho, confusa por estar recebendo a ligação da Taeyeon.

- Taeyeon?

- Avise na portaria que eu estou subindo. – Sua voz enfática, quase fez meu coração saltar pela boca.

- O que? - Me sentei na ponta da cama, confusa, tentando lembrar que parte da conversa havia perdido. – Subindo aonde?

- No seu apartamento menina. Acabei de estacionar. – Sem se despedir, ela desligou o telefone, me deixando um tanto desorientada.

Fiquei encarando o aparelho na minha mão, tentando assimilar o fato de que, em poucos minutos, estaria na sua presença novamente. Achei que tivesse deixado claro, que não estaria com vontade de conversar, e que precisava ficar um tempo sozinha. Já estava ficando nítido, quanto mais eu desejava me afastar, mas ela me alcançava, e me atraia como um imã. Um tanto perplexa, troquei a toalha pelo meu roupão rosa bebê, e segui para a cozinha avisar na portaria. Enquanto eu discava no interfone, escutei duas batidas vindas da porta.

Respirei fundo e apertei o laço do roupão em minha cintura, seguindo para atende-la.

- Taeyeon, aconteceu alguma coisa? - Dei espaço para que ela entrasse. Ela ainda usava a roupa do trabalho, e segurava uma sacola de restaurante.

- Não aconteceu nada, só fiquei preocupada com a maneira, a qual você saiu do hospital hoje. – Ela caminhou em minha direção, e parou em minha frente. – Precisava saber se você estava bem. – Encarei o seu olhar firme, e fechei os olhos ao sentir seus lábios sobre os meus. – E trouxe o nosso jantar, espero que ainda não tenha comido.

 Ela se afastou subitamente e caminhou diretamente para a cozinha. Mesmo sendo de noite, o rastro do seu perfume se evidenciou, aflorando todos os meus sentidos, trazendo lembranças não tão distantes, dessa manhã em seu carro. Acho que já estava começando a me arrepender desse dia, parecia nunca querer acabar, e eu só desejava fazer as minhas coisas com tranquilidade, e me entregar ao sono dos justos. Se é que, nessa vida, existia justiça para mim.

Tranquei a porta, e respirei profundamente, seguindo para a cozinha. Assim que adentrei o ambiente, me deparei com uma barca de sushi, em cima do balcão, e ela ajeitando os pratos.

- Nossa, você pensou em tudo. – Tentei parecer ser, a mais entusiasmada possível. – Não teve aula? - Puxei o banco e me sentei, encarando os mais variados tons de cores, a minha frente.

- Na verdade, tenho o último horário. – Ela retirou uma garrafa de vinho de dentro de uma das sacolas. – Onde tem taça?

- Ali, naquele armário. – Apontei para o local, e aproveitei para roubar um sushi, mesmo sem um resquício de fome. – Vai beber antes de ministrar a aula?

Taeyeon colocou as duas taças em cima do balcão, e depois se virou novamente, para jogar as sacolas no lixo. Vê-la tão à vontade, dentro da minha cozinha, renovou aquela sensação de conforto e de paz, quando estive em sua casa. Deixou uma saudade incômoda, a minha saudade, e saber que teria de me afastar dela, já me trazia uma abstinência precoce.

- Bebo uma taça todos os dias, independe de aula. Exceto quando o dia é tenso e exaustivo, como o de hoje por exemplo. – Ela voltou para o balcão, segurando o saca-rolhas. – Hoje eu merecia uma dose de Bourbon.

Derramando o líquido vinho, preenchendo ambas as taças em igual, Taeyeon me encarava com um certo brilho no olhar. Permito me perder naquela imensidão dos seus olhos avelãs. Aquela imensidão que não era mais minha, e que de fato, nunca foi. O seu dia fora tenso e exaustivo, e não consigo lembrar em que parte teria sido. Sexo no carro, logo pela manhã cedo? Ok. Beijar sua mulher na hora do almoço? Ok também. Ficou difícil precisar, em que parte do seu dia havia sido ruim, e isso me deixou exaustiva.

Respiro profundamente e pego uma das taças, sorvendo um grande gole da minha bebida, inventando uma distração para desviar o meu olhar do seu. Ela deu a volta e sentou-se no banco ao meu lado. Um silêncio ensurdecedor nos atingiu, e eu só conseguia pensar no que ela teria para me falar. Provavelmente o que eu já sabia, mas me negava a acreditar. Talvez o seu dia estivesse sido tenso, por saber que teria de me quebrar novamente. Por ter que me dizer que, o seu casamento ainda tinha conserto, e que ainda amava a sua mulher. Mas em respeito à minha mãe quase morta, talvez estivesse se contendo e respeitando o meu momento.

Começamos a comer tranquilamente, em uma conversa muda. A rigidez da sua postura, e as olhadas furtivas para mim, entregava uma inquietação crescente, e eu sabia que precisava me preparar, para o assunto que surgiria a qualquer momento. Peguei a quarta peça da barca, e degluti sem vontade, empurrando com a ajuda do vinho.

- Então ... – Ela quebrou o silêncio, e pegou a garrafa de vinho, preenchendo a minha taça novamente. – .... Não vai me contar o que aquilo no banheiro com a Yuri? - Seu rosto assumiu uma expressão séria.

- Não, não foi nada. – Engoli em seco. Por um momento, achei que uma bomba fosse lançada de qualquer jeito em meu colo, mas fiquei aliviada pelo foco da sua inquietação, ter sido a cena que ela presenciou no banheiro. – Foi só um desentendimento. É o nosso habitual, não se preocupe. – Peguei a minha taça, e encarei brevemente, o líquido intenso.

- Não me pareceu nada. –  Ela se virou no banco, e ficou de frente para mim. - Quando você foi embora, ela me disse que eu não deveria ter feito isso. Não deveria ter lhe dado os dias de folga para ficar com a sua mãe. – Ela suspirou pesadamente e retirou a taça da minha mão, repousando-a no balcão. – Vou te perguntar novamente, o que você não está me contando?

-  Eu já disse, não foi nada. – Levantei abruptamente do banco, tentando fugir de outro assunto que não estava afim. Parei de costas para ela, segurando na quina da pia, reunindo uma mágoa que me estava me corroendo. – Acha que estou escondendo alguma coisa de você, como você esconde de mim? - Aperto os olhos, arrependida das minhas palavras despejadas, esperando que ela não note o meu desconforto, por uma conversa que não queria ter.

- Do que se trata tudo isso Tiffany? - Sua voz foi firme e segura, num tom mais elevado do que o habitual.

- Não é nada Taeyeon. – Abaixei a cabeça momentaneamente, e abri a torneira, deixando a água fria escorrer entre os meus dedos.

- Agora quem está escondendo coisas de mim é você. – Senti suas mãos me envolverem pela cintura, me puxando para trás, fazendo-me colar em seu corpo. – Eu estou preocupada com você, porque eu sei quem tem alguma coisa acontecendo, e você não quer me contar.

Sinto meus músculos tensionarem, e o meu corpo todo responder, com a sua proximidade. O calor que emanava do seu corpo, juntamente com a necessidade que eu sentia de tê-la novamente, venceu o meu conflito interno. Me entreguei no primeiro toque dos seus lábios em meu pescoço. Fechei os olhos e exalei o ar lentamente pela boca, sentindo uma onda de calor aplacar o meu desejo contido. Tenho a impressão de que Taeyeon sempre conseguia me ganhar de alguma forma. De me ter do jeito que quisesse, e agora, eu estava totalmente rendida, cansada dessa batalha monótona em meu interior.

Suas mãos encontraram com as minhas em baixo da água, e ela fechou a torneira. Beijou carinhosamente o meu ombro, respeitando o limite do roupão que adornava a minha pele, e me virou para si.

- Você pode falar comigo, sobre o que você quiser menina. Eu estou aqui não estou? Você sempre não esperou mais de mim? - Sua mão acariciou o meu rosto e eu pude ver uma sinceridade crescente em seu olhar. - Sei que será impossível de conversarmos ainda hoje, mas espero poder fazer isso logo. Não é algo que eu possa falar em apenas um jantar, porque eu quero compartilhar com você, praticamente toda uma minha vida, e queria um pouco de compreensão da sua parte. Mas hoje, eu não quero te envolver com os meus problemas, já solucionados. Eu quero estar aqui para os seus, tudo bem?

         Tocada com tamanha sinceridade vinda de sua parte, apenas assenti calada. Pude sentir a textura dos seus lábios alcançar os meus, e invadir a minha alma, em um beijo que era tão meu, que era tão nosso. Um beijo carregado de cuidado e de sinceridade. Um beijo que me fez esquecer de um almoço trágico. Um beijo que pareceu me aliviar, de toda a tensão de um dia, de uma vida. Um beijo em rendição, ao meu caos interior.

Ela se afastou vagarosamente dos meus lábios, e a olho, a enxergo como se fosse a primeira vez. Ela sorri gentil, em resposta à todas as minhas dúvidas interiores. Ela me sorri com apreço, e nada mais precisava ser dito. 

 


Notas Finais


Será que a Fany se ligou que a Tae já está livre? UAHSUAHSU
Sei que todos estavam ansiosos para a Tae dizer diretamente para Fany que se divorciou, mas decidi atrasar um pouco isso, e dou a certeza de que, quando a Tae fizer isso, será em um momento bastante revelador para ambas. As cenas serão por partes, mas todas as cartas serão postas na mesa, e desvendadas.
Eu não quero terminar logo AAAA tá sendo tão gostoso escrever A Residente rs
É isso babys, muito obrigada pelo constante apoio de vocês, isso realmente me motiva a postar toda semana.
Até breve.


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