História A Segunda Vida de Nandinha - Separação

Nandinha estava até tarde da noite conversando com seu amigo pelo comunicador pessoal quando percebeu que seus pais discutiam no quarto deles.

Ela se despediu do amigo e se aproximou do quarto, conseguindo ouvir a conversa mesmo com as portas fechadas.

Sua mãe estava dizendo que não aguentava mais viver naquela casa vendo aquela imitação de sua filha morta andando por todo lugar.

Nandinha quis entrar no quarto e dizer que ela continuava sendo a mesma pessoa, mas quando ouviu sua mãe dizer que ela era apenas um brinquedo animado, como aquele cachorrinho que ela tinha ganhado, Nandinha não soube mais o que falar.

Ela nem sabia direito onde Nininho estava. Já faziam alguns meses que a bateria dele apresentou problemas de recarga e ele ficou desligado em algum lugar do guarda-roupa dela.

Nandinha lembrou que, no início, aquele robozinho era tratado como um cachorrinho de verdade, mas com o passar do tempo, ele passou a ser ignorado ou até desligado para não atrapalhar alguma outra brincadeira com seu irmãozinho.

Ela ficou confusa com relação à sua própria existência e desesperada por ter abandonado seu cachorrinho.

Com a expressão mais próxima do choro que seu rosto podia reproduzir, ela voltou para seu quarto e procurou Nininho no guarda-roupa.

Encontrou-o embaixo de alguns bichinhos de pelúcia, tentou ligá-lo mas não conseguiu.

Nandinha o abraçou e pediu desculpas, dormiu junto com ele prometendo que faria de tudo para fazê-lo viver novamente.

Ao amanhecer, ela foi abraçar sua mãe e explicar que ela não tinha morrido, que ela era a mesma Nandinha de antes.

Sem falar nada, a mãe se soltou do abraço e saiu da cozinha.

O pai de Nandinha chamou a mãe de volta, mas ela se fechou no quarto.

Mesmo triste, antes de ir para a escola, Nandinha se lembrou de avisar seu pai que o Nininho precisava ser consertado, que isso também era muito importante.

Nesse mesmo dia, quando voltou para casa, Nandinha encontrou Nininho passeando novamente pela sala, mas nem sua mãe e nem seu irmãozinho estavam em casa.

Seu pai contou que a mãe tinha levado o irmãozinho para o apartamento dos avós, que eles iriam morar lá agora, mas sempre que quisesse, Nandinha poderia vê-los.

No começo, ela pedia todos os dias para seu pai levá-la, juntamente com o Nininho, para ver o irmãozinho na casa dos avós.

O pai a levava sempre que ela pedia, seu irmãozinho estava triste de ter que morar longe dela, eles brincavam com as brincadeiras de criança do irmãozinho, mas Nandinha ficava incomodada com os olhares dos avós.

Ela nunca tinha percebido antes, mas esses avós ficavam muito tristes sempre que a viam, e olhavam bravos para o pai dela. A mãe quase nunca aparecia, ficava em algum outro cômodo do apartamento.

Nandinha percebeu que seu pai também não gostava daquela situação, e combinaram apenas de levar o irmãozinho para passear de vez em quando, sem que precisassem entrar no apartamento.