Um uivo se ergueu naquela noite fria e deprimente, solitário. Lya levantou as orelhas e procurou a origem do som. Ela deve estar perto. Suas patas começaram a correr ainda mais. Não entendia como ainda tinha energia após uma noite inteira correndo.
À frente, viu uma cena que pareceu reconhecer: o Gargalo. Tudo parecia afogado naquele local, e nada com vida racional parecia existir. Não preciso de ninguém, apenas de Nymeria. Preciso saber da atual situação.
Começou a andar com mais cuidado. Ali, pelo o que ouvira falar, não era um local para passeios. As árvores a sua volta pareciam adaptadas àquele ambiente pantanoso, e o ar parecia grudar em suas narinas. Essa umidade não faz bem algum para meu olfato. Quero dizer, para o olfato de Winter. Levantou a cabeça para ver se conseguia distinguir algum cheiro, mas não sentia nada mais do que o odor das árvores e da lama.
Por um momento, pensou ter visto algo se mover ao fundo, mas logo descartou a ideia. Deve ser minha mente perturbada. Mas, novamente, viu a sombra. Dessa vez, encarou fixamente o local de onde parecia que ela vinha. Estava paralisada. Pelos seus cálculos, tinha aproximadamente seu tamanho. Será?
Os lobos que vinham seguindo pareceram se inquietar. Eles notaram também. Começou, a se aproximar vagarosamente daquilo. A sombra, então, ficou alerta, como que tentando descobrir o que a garota/lobo queria fazer. Por fim, apenas saiu correndo. Eu não vou deixá-la escapar. Começou a correr atrás dela.
Tudo havia se tornado borrões, voltando ao normal quando pisavam em algum buraco, tropeçavam ou entalavam na lama. Em um desses tropeções, porém, a sombra havia desaparecido. Droga.... Gastei meu tempo para nada. Levantou-se do chão argiloso e começou a caminhar para frente. Ainda irei encontrá-la. Mesmo que isso demore.
Após uma longa caminhada chegou a um ponto seco onde pôde parar para procurar por pistas. Suas orelhas ergueram em busca de algum som além do restolhar das folhas daquelas árvores monstruosas. Nada. Não é possível que tenha ido tão longe que não posso escutá-la ou ao menos farejá-la.
Ouviu um barulho atrás de si. Com seu instinto, virou-se em reflexo de algum perigo iminente. Uma figura conhecida estendia-se diante dela. Nymeria...? Conhecia muito bem daquela pelagem cinzenta e aqueles profundos olhos amarelos. Ela se aproximou e examinou Winter, que também demonstrou reconhecimento. As duas se encararam num silêncio interminável. Por fim, Lya estendeu o focinho e tocou na testa da outra. Visões sangrentas passaram por sua cabeça. Então estava mais ao sul? Vasculhou mais suas memórias. Numa matilha? Entendo porque não teve medo. Sorriu por dentro. Nem se tentasse conseguiria uma. Afastou-se da loba. Não posso ir ao sul. Não posso me juntar a uma matilha. Não tenho muitas opções.... É perigoso nesse momento ir ao sul, principalmente com essas guerras.... Se bem que ainda tenho os Umber, mas não sei se seria realmente seguro me revelar ainda. Começou a andar de volta ao norte. Essa é minha opção, ou simplesmente posso vagar até morrer nesse corpo. Agora até parece que ir até os Umber não é uma má ideia.
Já anoitecia quando perdeu o ambiente pantanoso de vista. Ao longe, via o esqueleto colossal por qual já havia passado várias vezes. Todo olhar que lanço a essa coisa alimenta um pouco mais meu ódio. Passou reto sem se aproximar, talvez com medo de que sentisse mais desesperança do que já sentia.
Seu olhar vagou pelo céu escuro procurando por algum resquício de piedade dos Deuses, certamente falhando. Por qual razão os Deuses ainda teriam piedade de alguém como eu, a garota Stark que aceitou a proposta do Rei da Noite? Aumentou a velocidade dos passos, gradativamente começando a correr. Agora estou por eu mesma. Não preciso da ajuda de ninguém, nem dos Deuses. Provarei a eles o quanto ainda valho, e eles irão me perdoar. Algum dia.
Pelo resto da noite avançou sem descanso. Sua determinação estava apenas aumentando desde o que viu com Nymeria. Não vou morrer miseravelmente como todos eles. Eu vou ganhar, não importa como. Esse jogo está apenas começando, mas nem todos sabem disso. Preparem-se, Lannisters. Não irei perder tão facilmente. A neve começou a cair densa. Afinal, os boatos de que a Stark mais velha sobrevivente está morta certamente começaram a se espalhar, e isso torna tudo mais fácil por enquanto. Aumentou a velocidade da corrida, sentindo-se mais viva do que antes.
No final da tarde notou uma construção familiar. Minha nova casa. Última Lareira parecia um local aconchegante depois de tudo o que se passou. Correu o mais depressa que conseguia. Estou quase lá, de meu destino, de meu futuro, de minha única esperança. E então foi atingida por uma enorme dor. Seus sentidos começaram a diminuir. O-O que está acontecendo? Rolou na neve, enterrando-se. Seus pensamentos começaram a ficar confusos. Não é possível... Não pode ser... Meu colar... ele ainda me protege, não é mesmo? Ele... deveria estar cumprindo seu trabalho... Ele...
Sua consciência desligou.
Abriu os olhos. Não pensava direito. Percebeu de imediato que estava cercada, pulando e rosnando para quem quer que fosse. Eram soldados Umber.
-Tomem cuidado! Fomos ordenados a não matar o lobo. Por causa disso, não o ameacem.
Sentiu-se mais tranquila, relaxando e sentando na neve novamente. O que acontecer, aconteceu. Mas ouviu uma voz conhecida, uma voz que a fazia sentir mais protegida, mais alegre.
-Onde está o lobo que disseram? – Era Mors. Suas dúvidas se esvaíram quando ele apareceu entre os soldados. Ele parecia analisá-la com o olho que ainda lhe restava- Certamente é a loba da senhorita Stark. Não quero vocês fazendo nada com ela. Deixem-na ir.
Lya invadiu com suas forças faltantes um dos soldados. Cada vez que trocava de corpo, sentia-se mais cansada. Esse poder não tem a finalidade de invadir os humanos. Isso está me destruindo cada vez mais. Sinto que, se não parar, minha consciência simplesmente se perderá no vazio. Essa será minha penúltima vez. A última será para arranjar um corpo permanente.
-Papa-Corvos? Você não mudou nada- Falou com seu sorriso característico. Mors olhou confuso para o soldado.
-Jonnen? Está se sentindo bem?
-Ele está perfeitamente bem, mas não é dele que quero falar agora- Respondeu. Mors ainda estava confuso.
-Acho que deveria descansar- Falou preocupado.
-E isso são modos de tratar a herdeira do Norte? – Todos começaram a rir.
-Lyarra Stark? – Perguntou estranhando.
-Exatamente, Papa-Corvos, ou nunca soube de minha vantagem?
-Lyarra Stark está na Muralha. Ficou subentendido que ela não voltaria. Agora pare de brincadeiras e volte ao seu posto.
-Errado- Falou um pouco irritada- Lyarra Stark está morta. Morta pela Sacerdotisa Vermelha, mas parece que ela não desiste fácil.
-O que você est... – Um homem veio correndo.
-Senhor, temos uma carga vinda da Muralha. Ainda não a abrimos, e ela vem acompanhada de uma carta assinada pelo Comandante- Uma carga? E uma carta de Jon? Irei descobrir o real significado agora.
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