- Jhin.
- Oi.
- Você já comeu carne de cabra?
- Já.
- Tem gosto de quê?
- De carne de cabra.
A garota cruza os braços fazendo uma cara emburrada ao ouvir a resposta de seu companheiro nada animado. Jhin analisava o mapa com cautela, faziam dois dias que viajavam e seus mantimentos estavam acabando, teriam que passar em alguma aldeia para comprar mais.
- Jhin.
O samurai fecha os olhos e solta um longo suspiro. Ísis aparentava estar muito animada com a viagem, o que era estranho pois sua segurança nunca estivera em tamanho risco. Ele olha para ela e se depara com um rosto cheio de expectativa o encarando com seus grandes olhos azuis.
- O que foi dessa vez? – diz o rapaz pacientemente.
- Você já viu o mar?
- Já.
- E como ele é?
- Enorme e a água salgada arde nos olhos.
A tristeza invade a face da jovem como o frio de inverno em uma casa no campo. Jhin não consegue segurar o riso ao ver a reação da garota.
- Mas é muito bonito. – complementa o rapaz.
Ísis se enche de alegria novamente. Recosta os ombros na carruagem com um sorriso largo e se mantém quieta como uma recompensa pela gentileza do samurai. Ele certamente estava grato por isso.
O céu já apresentava seus tons de laranja anunciando o pôr do Sol. Jhin freia os cavalos e desce da carruagem.
- Esta tarde, vamos pegar madeira para a fogueira. – convida ele.
Desde a primeira noite de viagem o jovem guerreiro concluiu que era mais seguro levar Ísis consigo para qualquer lugar que fosse do que deixá-la sozinha, mesmo que isso implicasse em abandonar a carruagem sem ninguém no meio da trilha.
A jovem o acompanha na busca, ajudando-o a coletar os galhos secos. Tudo parecia tranquilo quando de repente uma criatura surge da floresta avançando em direção à garota. Jhin rapidamente os intercede fazendo com que os enormes dentes do animal fincassem em seu braço esquerdo. Ísis solta um grito agudo quando é empurrada pelo samurai para que os dois não caíssem sobre ela. A enorme onça apertava cada vez mais o braço de sua presa enquanto ele embainhava sua katana. No momento de emergência não teve tempo de se armar pois estava segurando as madeiras, tendo assim que oferecer o próprio membro.
A albina se mantinha calada e assustada enquanto seu salvador posicionava a lâmina no pescoço do felino e finalizando seu golpe mortal. Tirando o braço machucado da boca do animal morto, Jhin se depara com Ísis em prantos.
- O que foi? Você se machucou? – indaga o rapaz se aproximando dela, que faz um movimento negativo com a cabeça.
- Por que esta chorando?
Ele se manteve calmo durante todo o ataque, mas vê-la daquele modo estava o deixando desesperado.
- Eu pensei que fosse morrer... – diz ela soluçando.
O samurai solta um riso carinhoso tentando acalmar a jovem.
- Eu não morro tão fácil assim.
Ela continuou a chorar mesmo com o argumento do rapaz. Seguiu em direção e o abraçou como uma criança que se perdera da mãe.
- Você não pode morrer. É o meu único amigo.
“Único amigo?..”
Naquele momento o samurai parou para imaginar como deve ter sido a vida daquela pobre garota. Duzentos anos trancafiada em um templo, privada de tudo, carregando a responsabilidade de ser a única pessoa no mundo que possui a magia. Agora ele entendera o porquê de ela estar animada com a viagem, o porquê de fazer perguntas sobre qualquer coisa a todo instante. Aqueles certamente foram os dois dias mais interessantes de sua vida, ele foi a pessoa que lhe deu mais atenção, e ela imaginava que quase perdeu tudo para um animal da floresta.
- Eu não vou morrer. Ficarei com você, eu prometo.
Jhin retribuiu o abraço e esperou cada lágrima levar consigo a mágoa que a jovem sentia. Para ela, aqueles dois anos não seriam tão longos assim.
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