Abro os olhos lentamente, e quando me acostumo com a claridade consigo ver a enfermeira Lucy parada na minha frente. Ela cruza os braços e faz cara feia enquanto a olho. Eu já sei de tudo que vai sair da boca dela, exatamente como acontece a anos. "Eve, você não anda comendo?" "desmaiou mais uma vez, Eve? A próxima pode ser pior" Sempre me recebia com uma bronca.
Por ser muito magra, antes as pessoas achavam que eu era doente e obcecada por aparência. Talvez eu tenha desmaiado algumas vezes por não ter comido nada, mas dessa vez eu sei que não estava com fome, lembro-me de sentir minha cabeça doer e do sonho que minha mente criou.
- Bom senhorita - Começa a enfermeira. - Faz mais de um ano que não a vejo por desmaios. Eve, Comeu essa manhã?
- Sim, eu comi - Minto.
Ela cruza os braços.
- Eve eu não sei quando está mentindo, mas eu sei de alguém que sabe e que não saiu da porta da minha sala nem por um segundo.
Me levantei rápido demais e senti uma leve tontura, mas mesmo assim corri e abri a porta me dando de cara com Kyle sentado no corredor sozinho.
Ele me viu, se levantou com presa e me puxou pra perto até não sobrar mais espaço entre nós.
- Trouxe uma coisa pra você - Disse ele se afastando.
Kyle tinha em mãos uma maça grande e vermelha. Ele sorriu e me entregou, eu aceitei de bom grado o presente.
- Kyle não desmaiei por isso, foi outra coisa. - Começo. - Senti minha cabeça doer muito forte, e um sonho tão real que mal pude ter certeza se realmente não aconteceu.
Ele me olhava fixamente, seu cabelo enrolado estava grande demais e cobria a testa, os olhos verdes me encaravam atentos a cada palavra que eu dizia. As sardas do seu rosto estavam mais vividas naquela manhã.
Então eu conto sobre tudo o que aconteceu, sobre o sonho e toda a insanidade de que parte de mim pode estar quase acreditando.
- Olha, Eve. Eu sei que não tem as respostas, mas não vai ser em uma caixa que uma menina em um sonho te disse que vai encontra-las. Nem a policia sabe como o incêndio começou.
- Você ta certo. - Digo.
A enfermeira Lucy me liberou mas antes tive que comer a maça inteira. Kyle havia insistido em me levar em casa mas hoje preciso ir a um bairro um pouco distante e ele buscar a irmã na escola.
Pego o ônibus que me deixa na porta de um antiquário chines. A um mês minha avó esta de olho em um quadro mas o velho sr. Pitens não abaixou o preço por nada, até que ontem ele ligou e disse que o quadro era dela, o sr. Pitens ia se mudar e queria se livrar das coisas.
A rua estava deserta e fedia como sempre, era estreita e mal iluminada.
O antiquário estava quase vazio exceto por algumas caixas e o quadro pendurado em uma parede vazia.
Sr. Pitens era um senhor de idade, havia nascido na china disse ele um dia. Imigrou para America para estudar e não voltou mais.
- Oi, eu vim buscar o quadro. - Disse a ele.
- Como esta a sua avó? - perguntou ele.
- Ótima. - Respondo.
- Claro, claro, deve estar mesmo, ela sempre foi muito bonita. Olha pode leva-lo, diga a ela que um velho amigo mandou lembranças.
- Claro.
Sr. Pitens me entrega o quadro dentro de uma caixa de papelão, saio da loja esperando encontrar o ponto de ônibus mais próximo. Havia um a duas quadras daqui mas quando passei em frente na vinda não o vi.
Algum tempo depois e me vejo em uma rua sem fim, parece como as outras que passei. O sol se pôs e falta poucos minutos para escurecer de vez, e com isso sinto meu estomago começar a embrulhar e minhas mãos soarem.
Continuo andando até sentir o choro em minha garganta, sinto que se eu tentar falar vou começar a chorar. Até que as luzes dos postes começam a falhar, busco pelo meu celular no bolso e quando o encontro não ha bateria. O guardo novamente e quando volto a encarar a escuridão vejo uma figura. Um homem parado na minha frente de aparência estranha, e roupas sujas.
- Olá meu amor. - Diz o homem. Sua voz era rouca e soava risonha.
A primeira coisa que me vem em mente é correr, então corro, corro tanto que nem eu tinha certeza que era capaz de correr tão rápido. Sinto um vão atras de mim, e percebo que ele corre também, o choro que estava em minha garganta havia transbordado. O quadro que estava em minhas mãos havia ficado para trás.
Entro em uma rua com algumas poças mas o desespero toma conta de mim assim que percebo que não tem saída.
- Não achou que fosse conseguir fugir? achou, amor? - Diz o homem enquanto se aproxima.
Me afasto até não ter para onde ir, encostada na parede sinto sua mão áspera tocar meu rosto. E sinto que mesmo que eu sobreviva aquilo, não sobraria mais Eve Andara.
- Tão bela - Diz ele.
Então seguro com força o pingente de lua crescente enquanto ele rasgava minha blusa. Foi ai que parei para pensar quantas vezes e com quantas meninas ele já havia feito isso, e a unica coisa que eu desejei foi ver ele queimar, agonizar até morrer e nem mesmo sua família poderia enterra-lo, pois do corpo não sobraria nada além de cinzas..
Então uma faísca começou, e quando dei conta o homem estava se debatendo e pedia ajuda. Ele gritava de dor e eu o olhava queimar, tendo certeza de apenas uma coisa, isso não foi um acidente.
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