- O que aconteceu com Diego? -Victória quis saber.
Na tarde do dia seguinte à recepção de Bianca, o movimento na panificação estava calmo. Isabella atendera apenas a um ou dois clientes naquele começo de tarde.
- Nada. Absolutamente nada.
Fez-se um longo silêncio antes que sua melhor amiga dissesse:
- Mas vocês saíram juntos e não voltaram mais.
- Sim, bem... - Isabella conferia uma lista de produtos de supermercado. - Houve um pequeno imprevisto.
- Prossiga.
- Rafael surgiu não sei de onde e deu um soco em Diego.
- Rafael Vitti?
- O próprio.
- Oh! Agora está ficando interessante!
- Não é o que está pensando.
Embora a conversa com Rafael em sua cozinha na véspera, tivesse sido uma experiência agradável. Nos últimos anos, quase não se falaram, exceto pelas poucas palavras que trocavam no balcão. E talvez fosse o efeito das margaritas, mas ele parecera tão diferente... Mais acessível. Mais desejável...
- Ah, vamos, deixe uma senhora casada aproveitar suas fantasias, está bem? Quer dizer que o belo Rafael Vitti bancou o herói? E conseguiu salvá-la?
- Creio que sim. Acho que Diego não vai querer vê-lo tão cedo.
- Que bom! Afinal, não podemos dizer que Diego Herrera é o homem ideal, concorda?
- Eu sei, mas...
- Você merece coisa melhor, Bells.
Victória estava certa. Não que Diego fosse assim tão repugnante. Contudo, pelo amor de Deus, será que queria mesmo entregar sua virgindade a um homem que nem notaria esse detalhe?
Engraçado como mudara de idéia em apenas uma noite. No dia anterior, dispusera-se a fazer qualquer coisa para se livrar de sua castidade. Agora, porém, queria um pouco... mais.
O sino soou na porta da frente anunciando a chegada de mais um frêgues.
- Está chegando alguém, Vic. Tenho que desligar.
- Certo, mas quero saber das últimas novidades.
- Prometo – E desligou.
Erguendo-se, contornou o balcão e, antes do que esperava, deparou com seu freguês.
- Olá! Eu não tinha visto você.
- É porque ainda sou muito pequena.
- Acho que sim, meu amor. Então, em que posso ajudá-la, srta. Vitti?
A garotinha deu uma risada e estendeu a mãozinha fechada. Quando a abriu, revelou uma nota amassada de um dólar.
- Papai disse que posso comprar cem gramas de biscoitos com cobertura de chocolate.
- É mesmo?
Isabella desviou o olhar em direção à entrada. Rafael aguardava do lado de fora e, por um segundo, Isabella sentiu seu coração bater mais rápido. O que era estranho. Conhecia Rafael fazia anos, e até a véspera jamais pensara nele de outro modo que não o de ser o pai de Emily e um homem bem educado.
De repente, entretanto, aquelas pernas longas e fortes pareciam fantásticas na calça jeans. As botas desgastadas até o tornozelo, muito sensuais. A camisa azul de manga comprida aberta o suficiente para revelar um tórax largo e musculoso. E os olhos castanhos pareciam mais misteriosos do que quando os fitara pela última vez.
Com um frio no estômago, respirou fundo em uma tentativa inútil de controlar seus hormônios furiosos. “Isso é ridículo”, tentava se convencer. Rafael não estava interessado nela. E em nenhuma outra mulher. Não seria aquele que a ajudaria a resolver seu problema. Portanto, não existia motivo para se abandonar àquelas fantasias maravilhosas.
- Srta. Isabella?
Ela balançou a cabeça, mas não conseguiu afastar as imagens. Determinada, entretanto, olhou para a filha de Rafael. “Muito bem, concentre-se em outra coisa. Como este doce rostinho, com sardas pontilhando um nariz minúsculo, emoldurado por um lindo par de tranças, um sorriso encantador e olhos castanhos idênticos aos do pai... Pare com isso, Isabella!”
- Biscoitos com cobertura de chocolate, certo? - Voltou para trás do balcão.
Como todas as outras crianças que conhecia, Emily gostava de algumas coisas, e de outras, não. Biscoitos com cobertura de chocolate constavam da lista dos aprovados.
- Sim, senhorita.
Isabella achou uma graça o tom educado da criança. Foi até o centro do estabelecimento e entregou à menina uma bolsinha de plástico branco.
- Aqui está, querida.
- Obrigada.
- Devemos perguntar ao papai se quer biscoitos também?
- Ele não quer, não. Ouvi papai dizer para Rick que não vai mais comer doces.
- Sério? - Isabella o fitou de longe.
Então, Rafael dissera ao capataz que estava largando o açúcar. Estaria mesmo? Era provável que tivesse imaginado que, se não entrasse na padaria, conseguiria se manter a salvo das tentações e fora do alcance de suas garras. Será que Rafael pretendia se livrar da promessa que lhe fizera assim tão fácil?
- De qualquer maneira, vamos falar com seu pai e ver se conseguimos fazê-lo mudar de idéia. - Isabella segurou a mãozinha de Emily, e juntas alcançaram a porta, saindo para a calçada.
Rafael se desencostou do poste no mesmo instante. O sol da tarde derramava seus últimos raios, banhando a rua e tudo ao redor com uma suave luz de âmbar.
- Olá, srta Santoni.
- Como vai, Rafael?
Emily olhou de um para o outro e suas trancinhas balançavam.
- A srta. Isabella disse que você deveria comer uns biscoitos, papai.
- Então prometeu não comer mais doces, hein?
Rafael franziu o cenho.
- Não é bem assim, srta. Estou apenas evitando.
- Doces em geral ou apenas os de minha panificação?
- Isabella, suponho que depois de curar aquele pileque... - Ele parou, olhou para a filha e reformulou a frase: - Quero dizer, após uma boa noite de sono, você perceberia que isso tudo é uma idéia maluca e esqueceria essa tolice.
- Está muito enganado. - Acariciou a cabeça de Emily. - Sabe, estou pretendendo ir a sua fazenda esta noite, para dar andamento ao que planejamos.
- Você não vai desistir, não é mesmo? - Rafael coçou o queixo, pensativo.
- De jeito nenhum.
Rafael soltou um longo e profundo suspiro.
- Está bem. Hoje à noite.
- Vai trazer biscoitos, srta. Isabella?
Ela fitou a pequena, sorrindo.
- Que tal se eu chegasse mais cedo e juntas fizéssemos biscoitos?
- Não, não precisa... - Rafael tentou argumentar.
- Que bom! - gritou Emily arruinando o protesto do pai.
- Ótimo! -Isabella encarou Rafael. - Sendo assim, eu os verei dentro de uma ou duas horas.
Rafael a fitou durante um minuto, ponderando sobre tudo aquilo.
- Bem, vocês venceram.
- Não dá para esperar, Rafael, tenho um prazo a cumprir.
Ao ver Rafael caminhando com a filha em direção ao carro, Isabella sentiu o pulso acelerado.
Rafael tentava se convencer de que a presença de Isabella em sua casa não era um bom negócio. Mas as batidas fortes de seu coração despertavam-lhe desejos e sensações que a repeliam e atraíam, ao mesmo tempo. Os hormônios estavam atacando seu cérebro. Gostaria muito de saber quem venceria aquela batalha.
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