História A um metrô de distância - O estrangeiro

Seungkwan já estava pensando em mil maneiras de dispensar o convite de seus dois melhores amigos, mas todas as ideias pareciam incrivelmente absurdas ao seu ver. A questão era que Wonwoo e Seokmin insistiam em querer sair e se encontrar fora da escola, e o mais novo entre eles não esbanjava dinheiro – quase nunca o tinha para o lazer, já que o que a mãe enviava era para pagar suas despesas – e não queria perturbar seus avós com coisas fúteis.

Pensou em chamar os amigos para irem passar uma tarde em sua casa, comendo comidas gostosas que sua vó preparava – às vezes em exagero – e assistindo alguma série no computador, mas ao pensar bem, na mesma medida que Jeon Wonwoo era zen, Lee Seokmin era barulhento, e não era pouco. Talvez fosse melhor aceitar sair logo com os dois para qualquer lugar e pedir dinheiro emprestado para suas irmãs.

Continuou a andar nas sinuosas ruas que o levava do centro do bairro até a zona mais afastada, onde fica a casa de seus avós e onde ele mora desde que entrou no colegial.

Enquanto andava, o garoto de Jeju tentava entender o porquê de Hansol ir falar consigo. Pra ele, não era só o simples fato de que o mais novo não entendia simples fórmulas, mas também não conseguia pensar em outra resposta – e a abordagem do Chwe havia sido um pouco curiosa em sua visão, o menino podia ter simplesmente ido falar consigo na sala de aula. Hansol era estranho, disso tinha certeza.

Ninguém – ou quase ninguém – conversava consigo pela sua fama de ser mal-humorado e respondão, mas ele mesmo fazia isso de propósito. Não gostava que as pessoas se aproximassem porquê tinha medo que o decepcionassem e vice-versa; o garoto era inseguro com tudo que lhe dizia respeito, por isso era daquele jeito.

Mas poucas pessoas sabiam da sua real personalidade – a carinhosa e receptiva. Jeon Wonwoo e Lee Seokmin foram insistentes desde quando ele entrara pela primeira vez na sala de aula, lhe chamando toda hora, perguntando se queria fazer grupo com eles, lanchar juntos, e foi assim que se tornaram amigos. Tudo bem que eles não batiam muito no quesito personalidade: Enquanto Boo Seungkwan era chato e irrirante – segundo seus amigos –, Wonwoo era um amor de pessoa e o ser humano mais relaxado daquela escola, nunca ouvira o mais velho entre eles dar um resmungo mais exagerado que fosse, e Seokmin... bom, talvez ele fosse tudo aquilo que os outros não eram em suas condições normais. O menino podia ser muito bem chamado de hiperativo, era alegra nas 24 horas do dia, vivia esbanjando sorrisos e as vezes berrava em vez de falar. Se não tivesse sido por pura insistência, em hipótese alguma seriam amigos.

Os dois mais novos estavam sentados na mesa do refeitório enquanto comiam calmamente seus lanches. Wonwoo ainda estava na sala de aula tentando terminar um nível do seu joguinho no celular, ele precisava de concentração, e com o Lee com certeza não teria o que precisava.

– Seungkwan, posso te fazer uma pergunta? – perguntou para o menino que estava sentado a sua frente, mas olhando para um ponto um pouco além do mesmo.

O menino virou sua cabeça para direcionar seu olhar até onde seu hyung olhava e deu de cara com Hansol lhe encarando, enquanto estava sentado em uma mesa sozinho.

– Ah, ele? – inspirou fundo, como iria explicar aquilo sem o outro fazer um escândalo? 

– Sim, ele. Não é o garoto estrangeiro? – acenou a cabeça em concordância – Por que ele tá te olhando como se fosse te atacar a qualquer momento? Tá assustando já.

– Ele é da minha sala e quer minha ajuda em matemática. Quem em pleno começo de ano já está pedindo ajuda? – o amigo levantou a mão mostrando que ele precisava também – Qual é hyung, ele é muito esquisito, veio falar comigo do nada e no metrô ainda!

– Ele pode até ser esquisito, mas é bonitinho. Ai! – exclamou quando o outro jogava um pedaço de pão em cima de si – Vai que ele só está interessado em você?

– Quem em sã consciência ficaria interessado em mim?

Lee Seokmin olhara indignado para o amigo. O menino tinha uma baixa estima tão, mas tão grande, que automaticamente se rebaixava e não se achava bonito o suficiente, mas convenhamos, Boo Seungkwan era lindo e precioso como uma obra de arte, interna e externamente. Era prestativo, bondoso, carinhoso, atencioso e se preocupava até demais com quem está ao seu redor, e seu exterior também não era de se jogar fora. O cabelo macio combinava com sua pele amorenada – em consequência da sua vida em Jeju –, suas bochechas eram fofas, os lábios bem desenhados, era magro na medida certo e suas pintinhas pareciam ter sido pintadas uma a uma; não havia motivos para não se apaixonar pelo menino.

Graças ao bom Deus, Wonwoo apareceu praticamente em seguida e salvou Seungkwan de ser bombardeado por uma série de críticas que Seokmin estaria fazendo para si, que havia se menosprezado há poucos segundos atrás.

– E aí, do que falavam? – o mais velho se sentou ao lado do Lee enquanto tomava seu suco de maça.

– Do estrangeiro bonitinho que tá afim do Kwannie.

– É, ele é bonitinho mesmo, eu aprovo. – Jeon concordou e Seungkwan só queria se matar, se fosse possível e ninguém fosse o olhar como se fosse louco, estaria batendo a cabeça no mesmo momento.

– Eu vou subir, não sou obrigado a ouvir as coisas ridículas que vocês dizem.

Os mais velhos apenas riam enquanto o menino saia da mesa batendo o pé e seguia para fora do local, a pirraça dele não tinha limites, e sabiam ele não iria voltar com o seu humor tão rápido, então nem tentaram ir atrás do mesmo.

Os dois, com olhos de gavião, logo captaram que Hansol havia tirado os olhos rapidamente de onde estavam e havia voltado para seu próprio mundo, e não o de Seungkwan.

O menino estava tentando procurar formas de conseguir abordar o Boo novamente, já que esse parecia ser muito arisco a qualquer aproximação, mas ele não parecia ser gentil nem com seus colegas, o que só dificultaria para si.