História A um metrô de distância - Por que também tem "x" e "y" em Biologia?

A aula de Química já estava quase acabando, e Hansol não prestara atenção em nem um terço daquela aula - como acabava fazendo nas outras, por viajar de mais no seu mundinho, mas especialmente hoje estava ansioso.
Não sabia ao certo se era porquê Seungkwan iria em sua casa, e por consequência acabaria conhecendo parte de sua família, ou se era pelo trabalho de biologia, uma matéria que ele não é tão bom. A questão é que, mesmo que ele não quisesse admitir, estava ansioso há dias - mais precisamente desde quando combinaram que iriam fazer o trabalho em sua casa -, com medo de não conseguir receber o mais velho à altura do que ele merecia, e assim como fora recebido na casa do mesmo.
Ouviu o sino ressoar e a professora acabar de falar algo sobre aldeídos, para então dispensar os alunos. No meio da mesma correria de sempre, Seungkwan guardava calmamente seus materiais na mochila, pois sabia que, mesmo se arrumasse tudo rápido, não iria adiantar de muito, já que Hansol tinha mania em demorar demais a processar sobre o que estava acontecendo.
Quando a sala já havia esvaziado e só permanecera os dois, o mais novo levantou-se e foi em direção até a carteira onde o Boo estava sentado, um pouco impaciente pela demora.

- Por que enrola tanto? - perguntou enquanto já se colocava de pé e ia andando em direção à saída da sala, sendo seguido pelo outro.
- Eu só não gosto de sair no meio da confusão.
- E você demora pra sair do mundo da Lua, não é mesmo?
- Talvez um pouco. - sorriu.

Foram andando até a estação de metrô mais próxima, no caminho conversando um pouco sobre tudo; eram como se fossem amigos há anos, tiveram aquela sensação de conforto e de cumplicidade em míseros dias, apesar do início da comunicação entre os dois não ser o mais educado. Isso os assustava, e muito. Não era normal que as coisas acontecessem assim, tão rápido, mas aconteceu, e justo com pessoas que viviam com o comodismo, cada um à sua maneira.

Seungkwan estava acostumado a se isolar, nunca dar passagem para as pessoas que tinham interesse em sua vida; não queria nem colegas direito, era como se estivesse no mundo apenas para cumprir o que lhe foi dito e pronto. Já Hansol, por mais sociável que fosse, continuava vivendo num lugar onde as histórias e suposições que inventava valiam mais do que as da vida real. Quase não tinha amigos, assim como o Boo, mas diferentemente dele, não tentava afastar as pessoas de si, pois ele sabia escolher quais levariam felicidade para si, que não vinham somente por interesse.

E foi por isso que, por mais inconsciente que fosse, escolheu o menino isolado, dos cabelos castanhos e um pouco irônico demais para o que externava. Seungkwan era uma pedra rara e misteriosa, que valia a pena ser estudada com mais afinco, e não só superficialmente, como todos faziam.

O mais velho já estava amedrontado desde o momento em que desceram do metrô. A estação na qual desceram não ficava em um bairro pobre, mas também não era rico. Talvez mediano? Não sabia dizer, mas com certeza estava um pouco distante da realidade na qual se enquadrava, e isso com certeza o deixava assustado.

Pensou imediatamente que Hansol talvez pudesse o julgar por sua condição financeira e por onde vive; era por isso que não deixava que qualquer um se aproximasse, não sabia da realidade delas e não queria que soubessem da sua também.

Mas Hansol era diferente, era notório. Por mais que tivesse achado esquisito ele ter se aproximado do nada, o mais novo nunca mostrou algo que lhe desagradasse em relação ao outro, pelo contrário, ficou encantado por cada detalhe do mais velho sem que nem ao menos desse conta. Quando foi na sua casa havia sido respeitoso e também curioso, mas dentro dos limites. Sabia que Seungkwan era fechado e respeitava isso.

Assim que chegaram no pequeno haul do prédio onde vivia a família Chwe, o Boo esqueceu de todo o nervosismo desnecessário, pois sabia que Hansol nunca iria ter uma má intenção que fosse.

Passaram pelo lugar que havia alguns bancos e rumaram em direção aos elevadores, quando o mesmo chegou ao térreo entraram e Hansol apertou o botão que os fariam ir para seu andar.

Apesar de ainda estar um pouco aflito, Seungkwan seguiu o outro depois do mesmo pegar as chaves e abrir a porta de entrada do apartamento. Passaram pela sala de estar e seguiram pelo pequeno corredor que era interligado a mesma, indo até a última porta do corredor, que o mais velho deduziu ser o quarto do outro, e assim confirmou quando entrou e viu aquele lugar em dois tons de azul, a parede maior de um azul quase céu, onde havia recortes de revistas e mapas, alguns posters e fotos.

- Por que todos esses recortes? - perguntou o de madeixas levemente avermelhadas.

- Eu quero viajar pelo mundo, tenho curiosidade pelas culturas, sabe? - disse indo em direção à Seungkwan, que já estava praticamente colado na parede, observando cada detalhe e vez ou outra passando os dedos pelos papéis colados ali. - Pode colocar sua mochila ali. - apontou para o chão, perto da cabeceira da cama.

- O que seus pais fazem? - foi fazer o que o outro sugeriu, logo depois tomando liberdade de se sentar na cama.

- Minha mãe é empresária no ramo cosmético e meu pai é advogado.

- Ah sim. - quando foi se levantar, sentiu algo peludo sair debaixo da cama e passar entre suas pernas, assustando-o momentaneamente - Ai que susto! Um gato?

- Sim, é o Caramelo. Você não tem alergia né?

- Não, na verdade eu sempre quis um gatinho.

- Bom, se ele te der atenção, você pode aproveitar pra tentar brincar um pouco com ele depois.

Hansol ia aproveitar a oportunidade e continuar a conversa para fazer a mesma pergunta sobre os pais de Seungkwan, mas sua mãe apareceu na porta do quarto logo em seguida, se apoiando no batente da mesma.

- Meninos, chegaram? - Seungkwan levantou e fez uma breve reverência à senhora Chwe, enquanto o outro fora abraçar a mãe. - Prazer, *, e você deve ser o tão falado Seungkwan. Fique à vontade, já vou servir o almoço, se quiserem já podem ir até a cozinha.

- Obrigado. - responderam em uníssono.

- Vamos comer primeiro e depois resolvemos sobre o trabalho, tudo bem pra você? - Hansol perguntou, porém não deu nem tempo do Boo responder, já que estava praticamente fora do quarto.

- Kwannie, isso é muito chato, "x" e "y" já não fazem sentido na matemática, na biologia então nem se fale! - Hansol reclamava, pelo menos, pela décima quinta vez em três exercícios que haviam resolvido (ou que Seungkwan havia resolvido, melhor dizendo).

- E por que tá reclamando comigo? Não foi eu que inventei a Biologia! Agora para de reclamar e tenta fazer esse daqui. - disse circulando o exercício e passando a folha para o lado, onde o mais novo estava sentado, nem sequer fez questão de olhar na cara de Hansol, estava muito ocupado com a Lei de Mendel pra dar atenção para o outro.

Continuaram fazendo os exercícios, vez ou outra os dois brigando por conta de alguma regra mal aplicada e por um Chwe Hansol birrento demais para uma tarde de sexta-feira.

O tempo, como sempre muito traiçoeiro, estava mudando aos poucos, e logo o Sol começava a se esconder atrás das nuvens carregadas e cinzentas. Quando acabaram de arrumar a mesa e o visitante estava prestes a sair, um trovão forte foi ouvido e logo as janelas começaram a ficar embaçadas pela forte chuva que começara de repente.

- Eu preciso ir logo, meus avós vão ficar preocupados se eu demorar muito.

- Seungkwan, - a mãe de Hansol apareceu na sala, logo tentando impedi-lo de ir embora - você não pode sair nessa chuva! Espere um pouco que já vai passar. Ligue para os seus avós e diga que você vai demorar um pouco, e se for o caso pode até passar a noite aqui conosco.

- Não queria incomodar, mas irei aceitar por enquanto. Obrigado, senhora Chwe.

- Não é nada querido, fique o tempo que precisar. - e saiu da sala, voltando para a cozinha.

O menino foi buscar o celular que havia deixado dentro da sua mochila, no quarto do mais novo, e quando pegou o mesmo, viu que já tinha algumas ligações perdidas de sua casa - provavelmente sua vó já estava começando a surtar com um possível sequestro.

Esperou o aparelho retornar a ligação, e assim que a mulher atendeu do outro lado da linha e despejou em si diversas reclamações sobre o horário, o Boo explicou a situação para a avó e falou que talvez teria que passar a noite na casa dos Chwe, por conta da forte chuva.

Terminado a ligação, Hansol entrou no quarto e se sentou na cama, puxando seu gato - que estava completamente ok sem o garoto atormentando-o - para fazer carinho.

- Que tal assistirmos um filme, Kwannie? Não sabemos quando essa chuva vai parar, e não vamos ficar à toa aqui, não é mesmo?

- Por mim tudo bem, pode escolher o filme.

- Ok. - deitou-se na cama, apoiando as costas na cabeceira e falou para o mais velho fazer o mesmo, logo pegando o controle e ligando a televisão.