História Acaso - Para onde você vai?

"Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor."​

Christine naquele dia estava de folga. Assistia tranquilamente algumas séries em sua televisão, esparramada em seu enorme sofá, comendo as besteiras que de sempre, dando graças a Deus por ter conseguido um tempo para sair e comprá-las. Estava com seu melhor pijama, e planejava passar o dia todo naquele sofá, e só sair na hora de se arrumar para se encontrar com Shawn. Era esse seu plano, mas fortes batidas à porta fizeram todos seus planos mudarem.

Quando Chris abriu a porta, sentiu tudo a sua volta parar. Shawn caiu em seus pés, ensanguentado, cuspindo sangue enquanto tossia, e podia ver que sua perna estava quebrada. Senão quebrado, deslocada.

― Shawn! ― Chris gritou, se abaixando para ver o rapaz. Chris o virou rapidamente, e pôs dois dedos em seu pescoço para sentir sua pulsação, que estava fraca. ― O que aconteceu com você? ― ela perguntou com a voz falha, puxando-o para dentro de casa.

Depois de muito esforço, conseguiu colocá-lo deitado no sofá.  Christina passava suas mãos tremulas desesperadamente pelo rosto de Shawn, enquanto perguntava nervosa, o que havia acontecido com o mesmo.

Chris sabia que não podia leva-lo ao hospital sem o consentimento do mesmo. Não sabia o que havia acontecido, e nem quem havia feito isso. Sabia que se fossem as mesmas pessoas que bateram nele quando se conheceram, não podia levá-lo ao hospital, senão o perderia. Para sempre.

― Shawn, me diz quem fez isso com você! ― Christine implorou mais uma vez

Shawn estava com os olhos meios fechados e Chris não sabia o que podia fazer para ajudá-lo. Não sabia o que fazer com sua perna fora do lugar; nem como fazer o sangue que saía do nariz do rapaz parar de escorrer tão rápido. Christine correu até a cozinha e procurou com pressa alguma coisa para limpar os ferimentos do mesmo. Abriu com pressa cada uma das gavetas da cozinha, até achar um pano limpo, que a mesma molhou e correu de volta para sala. Sentou-se no chão, ao lado do sofá e começou a limpar os ferimentos do mesmo.

― Eles foram atrás de mim... ― Shawn disse com dificuldades e baixo. Muito baixo. Christine sentiu sua respiração voltar ao normal, ao ver que o rapaz ainda conseguia falar normalmente.

― Onde você estava? ― ela perguntou, tentando manter-se calma.

― Vindo para cá. ― Shawn segurou a mão de Chris, fazendo assim a moça parar de limpar seu rosto. Chris franziu o cenho e o encarou. ― Eles vão me matar.

Christine Adams’ Point Of View

Coloco as mãos na cabeça atônita, pedi inúmeras vezes que Shawn ficasse longe dessas pessoas que já o fizeram mal, mas é impossível colocar algo em sua cabeça repleta de teimosia. Olho outra vez para o seu corpo todo ensanguentado e o osso de sua perna exposto e penso a melhor maneira de ajudá-lo e me ajudar vendo que os homens provavelmente sabem onde ele se esconde, e que esse lugar é minha casa. Ando de um lado para o outro procurando por alternativas seguras, mas nada me vem em mente.

― Você é um idiota! ― grito desesperada, ainda andando de um lado para o outro ― Eu te odeio! Você só veio para a minha vida pra torná-la um inferno, que merda! ― olho com raiva para Shawn e o vejo me olhar com os olhos quase se fechando por inteiro ― Nem pense em desmaiar, você não pode fazer isso comigo! ― o ouço sussurrar 'me desculpa' e seus olhos se fecharem por completo aumentando ainda mais meu desespero ― SHAWN! ― exclamo caindo de joelhos ao seu corpo ensanguentado.

Olho para todos os lados a procura de algo que eu nem sei o que é e meu coração dispara ainda mais, como se fosse sair só meu corpo a qualquer momento. Pego meu celular e ligo para uma das minhas colegas de trabalho.

― Phoebe, você precisa me ajudar. ― pronuncio com as mãos trêmulas e as lágrimas caem sem que eu percebesse.

― O que aconteceu, Christ? ― questiona com sua voz preocupada.

― Pode vir até a minha casa? Eu preciso de você, mas tem que ser rápido, por favor. ― peço enquanto calafrios incessantes tomam conta do meu corpo gélido e trêmulo.

― Claro, já estou indo. ― desligo a ligação e espero que Phoebe chegue ao mesmo local onde estou agora.

O corpo desmaiado do rapaz a minha frente causa-me um transtorno imutável. Coloco dois dedos em seu pescoço verificando os batimentos cardíacos e felizmente ele ainda está vivo, respirando com dificuldade, mas vivo. Passo a mão em seu cabelo e pela primeira vez choro por um homem, homem no qual têm aterrorizado os meus dias e que acabou de me colocar em perigo.

Nesse ponto eu já não sei mais se devo confiar nele, não sei de seu passado, não sei o que virá caso ele se recupere, não sei o que esperar dele. Sempre reclamei que minha vida nunca foi aventureira ou agitada do jeito que eu queria, mas isso não contava com um garoto problemático que me colocasse a beira da morte, isso com certeza nunca esteve nos meus planos, todavia a quem estou querendo enganar?

Shawn foi o único a ficar, o único a voltar, não do jeito que eu esperava, mas ele está aqui porque confiou em mim, porque confia que eu seja seu porto seguro, alguém que ele possa ligar quando os problemas estiverem o submergindo. Mas as coisas não podem continuar assim.

Ouço a campainha tocar e corro até a porta, abrindo espaço para Phoebe passar e logo que ela faz isso, ouço seu grito estridente e no mesmo momento fecho a porta. 

― Christine, não me diga que existe um homem quase morto na sua sala. ― pronuncia amedrontada abraçando-se enquanto dá passos para trás, com medo visível de Shawn.

― Existe sim, e eu preciso da sua ajuda. Não posso levá-lo ao hospital porque é arriscado demais, mas também não posso deixá-lo aqui a beira da morte, tem que achar um jeito de me ajudar a salvá-lo. ― imploro entrelaçando minhas mãos sem parar.

― Como assim? Você precisa levá-lo ao hospital, ele irá morrer se continuar nesse estado! ― exclama afoita mostrando o estado deplorável do rapaz ao chão.

― Você não entende, ele é um criminoso. ― declaro a fazendo arregalar os olhos para mim ― Ou quase isso. ― dou de ombros.

― E como ele achou sua casa? ― questiona-me ainda assustada com minha confissão.

― Não temos tempo para uma longa história, Phoebe, me ajude! ― fico histérica de um segundo para o outro.

― Que droga, Christine! Vamos levá-lo para o meu carro. ― assinto rapidamente e antes que eu a ajude a levar Shawn, pego meu celular e todo dinheiro possível caso eu tenha que sumir daqui pelo menos por uns dias.

Apago as luzes da casa e tranco todas as entradas, logo abrindo a porta de entrada e colocando apenas minha cabeça para fora, a fim de ver se tem alguém nos observando e creio que não. Pego Shawn pelos pés e Phoebe pela parte de cima e de uma forma totalmente desajeitada o colocando no banco de trás, sento no banco do passageiro e passo o cinto pelo meu corpo. 

Phoebe acelera e seguimos para um local no qual não faço a mínima ideia. Olho para Shawn ainda desacordado nos bancos de trás e suo frio. Após alguns longos minutos Phoebe para em na garagem de sua casa e assim colocamos Shawn dentro de sua casa.

Por ter feito curso técnico de enfermagem Phoebe coisas o suficiente para ajudar Shawn e isso me deixa um pouco mais aliviada. Após ter feito o possível, Phoebe deixa eu a sós com Shawn - que já está abrindo os olhos - em seu quarto.

― Eu não morri? ― indaga brincalhão, porém eu permaneço com a expressão séria.

― Você precisa ir ao hospital, Shawn. A fratura da sua perna é exposta e requer cuidados médicos especiais. ― digo séria quebrando o contato visual.

 ― Você sabe... ― ele tosse um pouco e geme de dor – sabe que eu não posso ir ao hospital.

― Não quero saber se você pode ou não, Shawn! Se não quiser morrer, você terá sim que ir ao hospital! Pare de teimosia e me escute pelo menos uma vez. ― exclamo levantando-me da cama e me preparando para deixá-lo sozinho.

― Chris... ― me chama com sua voz baixa, e com os olhos cheios de lágrimas eu o olho.

― Eu não sou sua babá, Shawn, e não vou ficar cuidando de você sempre que você se meter em uma encrenca. Phoebe te deu até amanhã para ir ao hospital e sair da casa dela. Eu não quero saber o que você vai aprontar da sua vida Shawn, mas te quero fora da minha. ― digo engolindo o choro, ou pelo menos tentando.

― Para onde você vai? ― pergunta baixo. Sua expressão é claramente de decepcionado, e quase me faz desistir, mas permaneço.

― Para bem longe de você. Eu me cansei de tudo isso, e vejo que você não irá mudar, então... Adeus, Shawn.

“Eu tinha perdido muita coisa, mas encontrei você. Eu perdi tudo, mas tinha você. E agora eu não o que fazer, já que te perdi também.”