História Aceita um pouco de café? - Prólogo

Aquela doce menina, tarde da noite, no meio daquela chuva gelada, estava parada em cima de um prédio não muito alto. Eu havia dado aula para ela hoje mais cedo, ela parecia tão feliz com a nota que tirou.

— Ei, estudante Jung. – Eu tentei chamar atenção dela – Eu estava te procurando. A gente precisa comemorar sua boa nota. Desça rápido pelas escadas e venha até minha casa tomar um café, eu comprei biscoitos amanteigados.

Tentei fingir que não sabia o motivo do qual ela estava ali, que eu não sabia que ela estava ali tentando acabar com seus problemas de uma vez, com uma solução fatal.

— Prof... – A menina olhou para baixo assustada, não conseguiu terminar a palavra por causa do soluço em meio ao choro desesperado. Ela fez que sim com a cabeça e sumiu da minha vista, provavelmente, foi descer pelas escadas para me encontrar.

Depois de alguns minutos, eu a vi através da porta de vidro daquele prédio. Era pesada, então ela a abriu com dificuldade e correu em minha direção. Jung estava ensopada parecia que ficou horas e mais horas de baixo daquela chuva forte, eu como uma pessoa inteligente – ou não –, estiquei um pouco o braço para que meu guarda-chuva a cobrisse também.

Jung Joohyun é uma garota de cabelos longos, negros e bem pequena para sua idade. Reparando nisso, era tão triste ver uma garota em seus désseis aninhos que passa por tantos problemas ao ponto de tentar se suicidar para resolvê-los. E inacreditavelmente, isso era tão comum. 

— Depois de ter pego esse toró, você vai precisar de um banho quente. Não se preocupe! Posso te emprestar algumas roupas. – Eu falei sorrindo e fazendo menção, com uma das mãos, para irmos.

Não é estranho que um professor te diga para ir a casa dele tomar um café? Sim.
Não é estranho que uma professora te diga para ir a casa dela tomar um café? Sim, mas talvez, você confie mais que seja realmente para tomar um café e pronto. Eu tive que usar essa confiança ao meu favor para ajuda-la. Eu nunca sei o que fazer ou o que falar em situações assim, porém eu sempre ofereço um café. Para qualquer pessoa.

Sim! Qualquer pessoa.
Todos os dias ou dia sim dia não entram pessoas na minha casa com o pretexto de tomar um café e que na verdade, eu só quero que elas desabafem. Fiquei famosa no meu prédio por isso, inclusive.

Chegando a minha casa, eu fui colocar água para esquentar e fui mostrar onde ficava o banheiro da casa. Falei que já entregava a toalha e algumas roupas que talvez servissem nela.

E sim, mesmo Jung sendo uma garota pequena, eu tinha alguma roupa que servia. Sou voluntária em uma ONG onde, eu recebo as doações em minha casa e as repasso para os beneficiados dela... Eles sabiam que eu recebia pessoas em minha casa, então não ligavam se eu pegasse algumas roupas.

Já arrumada, a menina se sentou em uma cadeira na cozinha, eu rapidamente peguei os tais biscoitos e uma xícara de café para ela.
— Seu café é forte, professora Kwon... – Jung fez uma careta fofa ao tomar aquilo
— Às vezes erro na mão. – Eu ri da cara que ela fez – Desculpa. Faço outro se quiser.
— Não... É gostoso assim também.

O silêncio tomou conta dali, só ouvia a chuva que aumentava a cada minuto que se passava. Eu queria quebrar o silêncio, porém nada vinha à minha mente, ela viu o esforço que estava fazendo para falar algo, então, tentou:
— Isso não é bem uma comemoração, não é? – Ela falou olhando para o chão
— É sim! – Tentei anima-la com o tom que respondi, mas foi inútil – Eu sinceramente não sei fazer comemorações, se você diz que não é, então não é. Mas eu quero que isso seja.
— Comemorar uma nota 6,5 em uma prova valendo 10?
— É uma boa nota, na sua idade eu só tirava 5,0 para baixo. – A garota deu um riso sincero ao me ouvir falar aquilo. Ela não deve ter acreditado e pensou que fosse piada. – Estou falando sério!
— Como a senhora quis virar professora se não se empenhava nos estudos? – Disse ainda rindo
— Para ser professora, precisamos ser bons alunos. E eu sempre fui uma boa aluna, mesmo com notas ruins. Eu escutava tudo que me diziam e me esforçava para aprender, nunca me esforcei para decorar. Foi esse o meu erro. – Eu suspirei pensando em todas as minhas notas ruins e em todos os puxões de orelha que levei por causa delas – Então, eu virei professora para mudar o sistema. Sei que sou apenas um peixe lutando contra a correnteza, mas sei que um aluno ou outro eu estou ajudando sendo assim.

E o silêncio mais uma vez havia tomado aquela cozinha, a chuva não ajudou daquela vez, ela ficou mais fraca. Eu percebi que ela queria falar algo, aquele silêncio dizia “estou tentando arrumar coragem para falar”.

— Professora Kwon... Eu não estava feliz com minha nota, aquilo tudo foi atuação, menti também sobre meu resultado para meus colegas. – Jung respirou fundo e continuou – Eu estava cansada de toda essa atuação, cansada de toda essa pressão, cansada de tudo que tenho que fazer.
— E-eu... Eu acho que devemos comemorar outra coisa depois de ouvir essas palavras.
— O que?
— Você está viva.