Naruto terminou de se vestir com toda a calma que possuía, penteou o cabelo cuidadosamente, como não fazia há dias, e embainhou a espada deixando-a deslizar prazerosamente pela bainha.
Ficou alguns instantes apenas observando as pesadas gotas de chuva escorrerem pelo vidro de uma das janelas do quarto. O tempo havia mudado drasticamente desde os últimos acontecimentos e o vento forte uivava como mil matilhas de lobos atravessando as espessas paredes do palácio.
Os sinos finalmente tocaram e ele desceu as escadas até o primeiro andar do imenso castelo de Mun, suas botas produziam um som baixo e abafado conforme andava, as passadas eram confiantes e empunham respeito, mas ele sequer se esforçava para isso. Tendo crescido na corte, tornavam-se naturais certos comportamentos.
As criptas do palácio ficavam em uma parte isolada do magnífico jardim, quase sempre vazias de qualquer presença viva, mas não naquela tarde. Membros do Conselho e os maiores nobres do reino reuniam-se ao redor de Hinata enquanto o corpo de seu pai era finalmente depositado em um dos túmulos.
Naruto manteve-se afastado pelo que pareceram horas, até que todos foram embora e ele se viu sozinho com sua mulher. Hinata usava um vestido completamente negro que contrastava brilhantemente com sua pele alva. Seus cabelos mantinham-se fixos em um coque e estava livre de qualquer joia ou adorno.
Até mesmo no luto ela conseguia conservar sua beleza.
-Minha, senhora.
Sua reverência ao se aproximar fora rápida, mas perfeitamente executada.
-Sabe que não há a menor necessidade disso.
-Estou apenas tentando ser educado.
-Parece uma boa hora para se começar.
-Sei como deve estar se sentindo, pode ser grossa o quanto quiser.
-Sabe? -O tom cético de sua voz não passou despercebido pelo loiro.
-Perdi meus pais quando ainda era muito novo, sei exatamente qual é a sensação de impotência que dos domina quando algo tão indomável como a morte cai sobre os nossos.
-Poético.
-Se sua intenção é mostrar força ao mascarar sua dor, não está fazendo isso da maneira correta.
-E o que você sabe sobre isso?
-Sei que homens fortes não se escondem atrás de muralhas durante a guerra, porque manter-se escondido é um sinal de fraqueza.
-Não estamos falando de uma guerra, Majestade. Estamos tratando de meu luto, pelo que me parece.
-O princípio é o mesmo. Você está construindo uma muralha de ignorância e falsa indiferença ao seu redor e a está usando para fingir que não se importa, mas como eu já disse, esconder-se de seus problemas não é força, é fraqueza. Se você chorar eu não vou te julgar fraca, vou te julgar humana, mas se continuar com essa atuação horrenda, vou começar a pensar que você é mais estúpida do que eu poderia ter pensado desde o momento em que nos conhecemos.
A morena virou-se de costas, voltando a olhar para o túmulo de seu pai.
-Você não sabe o que está dizendo. Se eu for chorar na frente do meu conselho como posso impor respeito? Como vão me considerar forte?
-Entenda uma coisa, minha querida, você é mais do que uma rainha, você é filha. -Naruto notou os olhos marejados da morena quando ela voltou-se para ele novamente. -Não acha que seu pai merece suas lágrimas?
O loiro já esperava que ela finalmente fosse ceder, mas não daquela forma. Até mesmo ele ficou surpreso quando a Hyuuga se jogou em seus braços e começou a chorar. Com delicadeza ele a envolveu e começou a afagar seus cabelos.
-Está pronta?
Hinata encarou-se no espelho mais uma vez antes de se voltar para o loiro.
-Como estou?
Ela viu quando os lábios dele se retraíram em um sorriso admirado nada discreto; quando os olhos azuis percorreram todo o seu corpo, parecendo vê-la através do vestido; viu que ele a queria.
-Como uma verdadeira rainha.
-Decepcionante.
-O quê? -Mais uma vez ele sorria.
-Eu esperava algo menos… previsível. Ou menos recatado, vindo de você.
Dando de ombros ele apenas caminhou até ela e a tomou pelo braço.
-Vamos.
Ambos com passos confiantes começaram a atravessar o imenso corredor de pessoas que levava ao trono. No meio do caminho, o loiro curvou levemente a cabeça, abaixando-a apenas o suficiente para que pudesse confidenciar algo à Hyuuga.
-Quer saber como você está? Eu diria, sem nenhuma cortesia, de que é a mulher mais sexy do mundo e que, não fosse por nossa relação complicada, arrancaria esse vestido de você assim que essa cerimônia acabasse.
Instantaneamente a morena sentiu-se corar, mas depois acabou por sorrir ao finalmente entender o comportamento do Uzumaki.
-Você só estava esperando para chegarmos até aqui, não é? -Sussurrou de volta.
-Mas é claro.
Com um sorriso vitorioso nos lábios ele retomou a postura e a guiou até seu trono, contente por tê-la desconcertado secretamente no meio de tantas pessoas e de um evento tão importante.
A cerimônia de coroação de Hinata como rainha fora rápida, mas nem por isso deixou de ser exaustiva. Uma quantidade absurda de pessoas vinham lhe parabenizar e oferecer seus pêsames pela ainda recente morte de Hiashi.
-Foi assim com você também? -A morena perguntou enquanto caminhavam em direção ao quarto, algumas horas depois.
-Mais ou menos, eu ainda era uma criança então não se deram ao trabalho de produzir algo tão grandioso, afinal eu mal ia governar.
-Como assim?
-Longa história, conto depois. -Deu de ombros. -Estou cansado de ficar apertando as mãos de pessoas que sequer conheço.
-Para quem empunha uma espada por horas, sua mão se cansa com coisas muito idiotas.
-Só acho um desperdício de tempo tanta burocracia e falsidade.
-Mas é assim que a corte funciona, afinal.
-Nem por isso devo gostar de como ela atua.
-Certo. Com o mais você não se cansa, então?
O loiro sorriu malicioso ao abrir a porta do quarto para ela entrar.
-Existem dois prazeres maiores na vida, minha senhora. Foder e matar. Não me canso de nenhum dois. Mas é claro que ambos tem seus limites e momentos não tão prazerosos.
-Como o quê, por exemplo?
-Não é prazeroso matar alguém que você não quer matar, matar alguém que você gosta. Mas matar alguém que quer matar você… Eu diria que dá uma sensação de vitória ainda maior.
-Certo, faz sentido. Mas e quanto ao sexo? Não consigo pensar em uma situação em que ele não lhe pareça prazeroso.
-Eu não considero bom fazer sexo com quem não quer fazê-lo. É algo para se fazer a dois, os dois devem sentir prazer; portanto, se um não quer, o objetivo da relação é comprometido.
-Parece que seu apetite sexual tem limites, estou surpresa.
-Para tudo há um limite.
-Mas tenho uma dúvida.
-Diga.
-E suas prostitutas? Acredita mesmo que as mulheres que você paga para dormirem com você querem realmente fazer isso? Não entendo como uma pessoa que diz gostar do prazer sentido a dois pode ser favorável ao sexo por dinheiro.
-Eu nunca vou atrás de uma prostituta, elas vêm até mim. Não as forço a nada, não as ofereço nada, elas surgem e eu aproveito a oportunidade. Simples.
-Me parece ridículo.
-Trabalhar com o prazer? Não tenho essa mesma impressão.
-Porque não é você que se deita com várias pessoas desconhecidas.
-Na verdade eu me deito. -Sorri cheio de malícia. -Dez minutos de conversa não me fazem conhecer uma prostituta bem o suficiente, mas, mesmo assim, fodo com ela.
-Eu tenho nojo desse tipo de comportamento. Você é estúpido.
-E você deveria me respeitar mais.
-Eu respeito, tanto quanto você merece, nada mais.
-Sabe o que me disseram quando falaram desse casamento? Que você era uma bela, doce e virgem esposa. Me sinto enganado.
-Está dizendo que não sou bela e doce?
O sorriso do loiro se alargou ainda mais.
-Não. Estou dizendo que você não é virgem.
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