Estava atrasada. Matthew iria me matar. Espero que ele ainda esteja dando a aula a Anabelle, e tivesse perdido a noção do tempo, assim como eu. Por que eu tenho que ser tão desligada?
Enquanto praticamente voo pelos corredores em direção a biblioteca, lembro do primeiro dia de aula de Anabelle. Claro que ela insistiu em pagar as aulas com seu próprio salário, confesso teve uma ajudinha minha nisso, mas acho que ela não se importou. Me recordo de como ela ficou emburrada por eu ter dado todo o material para ela. Mandei embrulhá-lo em uma grande caixa vermelha com um laço rosa. Seu rosto ficou da cor da caixa.
Passei em frente de um dos milhares de salões no Palácio. Desacelerei o passo quando ouvi palmas do mesmo e risos. Não pude contar a curiosidade e abri um pouquinho a porta. Já estava atrasada mesmo, mais uns minutinhos não iriam me matar.
Quando consegui ver, Eadlyn estava sentada no chão com os selecionados a sua volta rindo. Sorri com a cena. Henri tentava falar alguma coisa. Ean, Hale e Kile conversavam um com o outro rindo também. Fox e Erik conversavam, parecia que Erik estava contando alguma história enquanto Fox questionava. Sempre os observei, e parecia que Fox o considerava um amigo, sempre estavam conversando.
Percebi que fiquei tempo demais olhando para eles, especificamente Fox. Observava como ele ia jogando para trás o cabelo que incistia em ficar no seu rosto, o modo que sua camisa ficava perfeita em seu corpo magro, ou o modo como estava a vontade conversando e rindo. Sai do transe e corri para a biblioteca.
- Desculpe Mathew, eu me atrasei - disse quase sem fôlego.
- Não, tudo bem - pera aí, ele não me deu uma bronca? Ela devia estar falando "você só vive se atrasando, da próxima vez que se atrasar eu vou sair e te deixar sozinha!"
- Então está tudo bem? - ele inacreditavelmente deu um sorrisinho.
- É claro que está, Não se preocupe, se atrasar é a coisa mais normal do mundo. Sei que você tem muito afazeres - era impressão minha ou ele estava corado?
- Você está estranho Matthew - disse me sentando e abrindo os livros.
- Por que estaria? - ele disse em dúvida ainda corado e com um olhar estranho.
- Porque quando me atraso você fica maluco - ele ri, simplesmente ri.
- Não tem motivo para isso Allyson, acho que estava perdendo tempo demais sendo carrancudo. Decidi abrir mais minha mente e meu coração - não consegui não rir. Seu olhar era o melhor, parecia distante e um pouco caloroso. Essa mudança só podia significar duas coisa: ou ele estava muito chapado ou...
- Matthew você está apaixonado? - perguntei e ele sorriu.
- Fico constrangido de ficar falando disso com você - ela começava a voltar ao estado carrancudo de novo.
- Não tem o que se envergonhar, não precisa ficar constrangido - ele suspirou.
- Você é muito teimosa, não é?
- Nunca disse que não era - ele ri um pouco e eu o acompanhei.
- Ok ok, sei que estou muito velho para essas coisas, mas sim, estou me aproximando de uma pessoa - ele olha para o outro lado para esconder o rubor.
- Você não está nada velho para amar Matthew, e fico feliz com isso - ele sorriu, mas de repente ficou sério.
Ele suspirava. Acho que tinha alguma coisa a mais que lhe causava alguma dúvida.
- Não é tão simples Allyson - disse me encarando.
- Por quê? Se você a ama e ela também gosta de você.. - acabei de perceber que ele não tinha comentado se também era correspondido - Ela gosta de você também?
- Sim, ela gosta de mim também.
- Então qual é o problema? Por que não é tão simples? - ele revirou os olhos.
- Sabia que você faz muitas perguntas? - corei por estar sendo muito incherida, mas nunca vi Matthew com ninguém. Sabia que ele nunca se casara e não tinha filhos, aquilo me intrigava.
- Desculpe, mas estou confusa, se estão se gostanto...
- Ela é mais nova Allyson.
O fitei por um instante. Ainda estava muito confusa com tudo isso, não estava conseguindo entender. Qual era o problema dela ser mais nova?
- Mas você não gosta dela Matthew? E ela não gosta de você? Então por que isso seria um problema? Não deixa que um problema tão pequeno influencie na sua felicidade!
Seu olhar estava triste.
- Vocês são muito jovens e não conseguem entender. Agem por impulso, não quero que eu a prejudique, quero que ela seja feliz e não o contrário disso. A família dela não apoia nosso relacionamento. - o observei Ele disse VOCÊS, então será que ela tem a minha idade...
- Qual é a idade dela?
- Vinte e um. Tenho a idade para ser o pai dela.
- Matthew, por favor me escuta - ele, por incrível que pareça, me encarou. - Vocês dois se amam, e tem que lutar...
- Allyson, não quero que sua família a olhe torto ou as pessoas ao redor. Todos acham que ela só está interessada no meu dinheiro, nem tenho tanto dinheiro assim. Isso me machuca porque sei que não é verdade. Não quero que sofra rejeição da sua família ou de ninguém. - revirei os olhos.
- Matthew agora você está parecendo o pai dela mesmo. Ela tem vinte e um anos, é uma mulher, uma adulta e tenho certeza que sabe exatamente o que quer. Ela pode fazer suas próprias escolhas sem que ninguém escolha por ela, e por favor, não faça isso, ela sabe o que é melhor para si mesma. E acho que te ama de verdade para querer enfrentar tudo isso para ficar ao seu lado.
- Não é tão fácil assim...
- O amor não é sempre fácil, mas tenho certeza que não precisa ser tão difícil como está pensando.
Ele inacreditavelmente sorriu para mim.
- Aonde você aprendeu sobre o amor? Nunca te vi com ninguém - se Matthew soubesse o que estava acontecendo na minha cabeça com certeza não iria acreditar.
- Tenho vários exemplos sobre isso, meus pais, Madame Marlee e Senhor Carter, Madame Lucy e General Leger...
- Ok ok, já entendi que tem vários exemplos de amores complicados. Definitivamente não quero falar sobre amor com você agora, não sei nem porque toquei no assusto. Vamos parar de falar nisso porque temos muitas coisas para fazer.
- Quero que você me prometa que vai pensar sobre isso, você merce ser feliz com alguém que ame, e acho que ela é a pessoa certa. Seus olhos estão brilhando - ele os revirou.
- Por que deveria prometer algo a você? Mas vou pensar - disse e eu ri sobre a antítese que acompanhava a sua resposta.
Não tinha percebido, mas meu humor estava melhor do que a maioria dos dias. Acho que o dia iria ser bom. Afastei o pensamento enquanto abri o livro e começamos a aula.
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Ahren não apareceu no jantar. Observei os selecionados entrarem em fila, seguido por mais algumas pessoas. Depois veio minha mãe, um pouco atrasada... mas nada de Ahren.
Meu pai se inclinou para Ealdyn e perguntou:
- Onde está seu irmão?
Ela deu de ombros e continuou cortando o frango.
- Não sei. Não o vi o dia inteiro.
Meu pai olhou para mim achando que eu pudesse ter visto Ahren.
- Também não o vi - disse e meu pai suspirou.
- Isso não é do fetio dele.
Corri os olhos pelo salão observando todos os selecionados. Eram tão diferentes uns dos outros, mas ao mesmo tempo tão parecidos. Lutavam pela mesma coisa, claro que menos Fox. Percebia que Eadlyn se apegara aos que estavam, ela os convidara para mais encontros e preenchia seu tempo livre para ficar com eles. Achava isso bom, mas não conseguia imaginar se Eadlyn começar se apaixonar por Fox, isso era algo que não conseguia entrar na minha cabeça. Sei que estou fazendo tudo errado e que não conseguia sequer falar com ela. Semana passada tentei abrir o jogo para ela, mas no momento que eu ia dizer simplesmente trevei e desconversei. Não conseguia pensar na ideia de chateá-la ou traí-la. Eu era muito covarde.
Ainda estava perdida em pensamentos quando Gavril entrou no salão. Gavril era um amigo muito íntimo de nossa família, apresentava o jornal oficial e a seleção. Depois da seleção de Eadlyn ele iria se aposentar, já tinha se pronunciado em relação a isso, e sinceramente eu ficara chateada. Atrás dele vinha um dos jornalistas da equipe do Jornal Oficial.
Ele fez uma reverência diante da mesa principal e encarou o meu pai.
- Lamento incomodar, Majestade.
- Não incomoda. O que houve?
Gavril percebeu todos os olhares curiosos ao redor e pediu:
- Posso me aproximar?
Meu pai fez que sim com a cabeça, e Gavril cochichou algo no seu ouvido.
Meu pai franziu a testa, incrédulo.
- Casou? - ele perguntou em voz alta o suficiente para que apena eu, Eadlyn e minha mãe escutássemos.
Meu pai afastou a cabeça e olhou fixo para Gavril.
- A mãe dela aprovou. Está feito, tudo dentro da legalidade. Ele foi embora.
Gelei. Eadlyn saiu correndo do salão.
- Não - sussurei baixinho.
Como ele pôde fazer isso? Como ele nos deixara dessa maneira? Uma raiva surgia em meu peito que eu não conseguia explicar. Ele nem se despediu! Ninguém nunca de oposionou ao seu casamento com Camille. Não conseguia processar nada. Ele tirou um momento de felicidade de minha mãe ao vê-lo casando, na verdade de toda a minha família. Ele nos abandonou, abandonou a mim e a Eadlyn. Não sabia o que seria dela sem ele.
Estava com tanta raiva dele que dei um soco na mesa fezendo todos pularem. Minha mãe está aos prantos e meu pai está confuso em relação a tudo isso. Sai do salão batendo a porta com força.
já sabia exatamente aonde iria. Cheguei ao escritório do meu pai pisando alto e peguei o telefone tão forte que quase o arranquei do gancho. Quando encontrei o número demorei dez minutos para conseguir digitar. Meus olhos estavam marejados, mas não de tristeza. E sim de raiva pelo que ele fez. Quando consegui, esperei um, dois, três...
- Comitê Francês - disse uma voz grossa.
- Sou Allyson Schreave, princesa de Illéa e gostaria de falar com meu irmão, o Príncipe Ahren - até dizer seu nome era difícil.
- Eu sinto muito, ele esteve no Palácio a duas horas atrás, infelizmente não se encontra mais, Alteza - disse o voz grossa.
- Então aonde ele está? - disse sendo dura, estava com raiva da sua calma e voz entediada.
- Ele saiu de lua de mel com sua esposa Alteza, me desculpe, mas não estou autorizado a falar o local - disse e eu fiquei com tanta raiva que deliguei o telefone.
Ele não queria que ninguém soubesse aonde iria. Não sabe o que está nos fazendo passar com isso. Eadlyn deve estar desesperada com a partida dele e sei que Osten o ama demais. Droga! Ele não pensou no irmão de OITO anos de idade?! Deve voltar da sua LUA DE MEL com cinco filhos e mais três cachorros!
Não conseguia respirar. Era como se eu estivesse me engasgando com o próprio ar. Parecia que eu estava me afogando sem estar na água. Um vazio e um peso preenchia o meu peito. O que eu ia fazer sem meu irmão? O que todos nós iríamos fazer? O que Eadlyn iria fazer?
Meu mundo ficou turvo, ligeiramente desalinhado e errado. Como ele pôde fazer isso?!
Acabei no meu quarto, sem nem saber como tinha caminhado até lá. Anabelle me mostrou um envelope.
- O mordomo de Ahren entregou isto há cerca de meia hora.
Pequei o papel de suas mãos e comecei a ler.
Allyson,
Caso as notícias não cheguem nos seus ouvidos antes desta carta, gostaria de explicar o que fiz. Fui para a França com Camille e, mediante a aprovação dos pais dela, nos casamos. Perdoe-me por fugir sem falar com ninguém e por ter excluído nossos pais daquele que sempre soube ser o dia mais feliz da minha vida, mas senti que não tinha opção.
Depois de falar com Ealdyn ontem à noite, os últimos anos fizeram perfeito sentido para mim. Sempre pensei que a antipatia de Eadlyn por Camille era causada pelo fato de as duas estarem na mesma situação. Ela são duas mulheres jovens e belas que herdarão tronos. E Eadlyn e ela lidam com essa posição de maneiras completamente distintas. Camille é aberta a tudo, enquanto Eadlyn mantém as pessoas afastadas. Ela usa seu poder com humildade, enquanto Eady o empunha como uma espada. Detesto ser tão franco, embora tenha certeza de que ela já saiba disso. Ainda sim, não me alegra nem um pouco dizê-lo.
Mas a situação delas duas não é o motivo da sua antipatia. Ealdyn não gosta de Camille porque ela é a única pessoa capaz de me separar dela.
As palavras de Eadlyn de ontem à noite me atingiram com força. Queria ouvi-la e levar em conta suas sugestões. Sabia que, se o fizesse, um dia ela me convenceria a abrir mão de tudo por ela. Talvez até passasse a sua coroa para a minha cabeça. E, céus, eu teria aceitado. Eu faria qualquer coisa por ela, por você e por minha família.
Então, antes que ela pudesse pedir a minha vida, eu a entreguei a Camille.
Desejo que ela encontre o amor. Um amor inconsequente, incansável, que a consuma. Se isso acontecer, talvez ela entenda. Espero que esse dia chegue.
Minha felicidade com Camille tem apenas uma mancha: a possibilidade de ficar afastado de você caso não me perdoe. Será uma grande tristeza, porém mais suportável do que me separar da minha alma gêmea.
Sinto saudades suas já enquanto escrevo essas linhas. Não consigo nos imaginar tão distantes. Por favor, encontre uma maneira de me perdoar e saiba que amo você.
Como prova do meu desejo de estar sempre ao seu lado, quero lhe dar um conselho. Algo que espero que entenda e que quero para o seu bem.
A vida não é tão longa quanto esperamos, Ally. Não se afaste das pessoas quando tentam se aproximar de você. Sei de tudo que já passou e do medo que ainda sente, mas não deixe que isso a limite. Não se freie tanto em relação aos seus sentimentos ou qualquer outra coisa. Você é uma garota incrível e linda, sei que é insegura, mas não deixe que essa insegurança não a faça aproveitar tudo o que pode. Não se importe com que as pessoas falam, tanto da Allyson e tanto da princesa Allyson.
Posso estar errado, mas caso esta seja a última vez que queira falar comigo, tenho que lhe dar o último conselho que posso. Espero que encontre alguém que ame incondicionalmente, assim como quero para Eadlyn também. Espero que você entenda o que fiz caso encontrar.
Espero que consiga me perdoar.
Do seu irmão, do seu amigo, da pessoa que mais ama você no mundo.
Ahren
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