Duas semanas se passaram desde o nosso aniversário de um mês. Você disse que queria dar um próximo passo no relacionamento e que aquela era uma boa oportunidade de me apresentar à sua família, alegando que ela não via problemas quanto à sexualidade e afins. Tá.
Beleza. Nessa noite, eu conheci os Park.
Assim que entramos na casa, dei de um cara com um homem na sala usando um avental branco sujo de sangue. Usava luvas de borracha também ensanguentadas, além de segurar uma faca do tamanho de um taco de baseball. Ao me ver, veio em minha direção com um enorme sorriso no rosto e uma expectativa quase palpável:
– Ah, então você é o Brian?
No momento em que a pergunta foi feita, olhei para você como se estivesse lhe fuzilando. É, Jaehyung, você fez o favor de falar de mim para sua família usando “Brian” mesmo sabendo que essa era a última coisa que eu queria; mesmo eu falando tantas vezes pra você não fazer isso.
Meu nome não é Brian.
Quem é Brian?
Eu não sou Brian.
Ainda assim, desviei o olhar em menos de um segundo. O homem à frente estendeu sua mão enluvada e suja de sangue para mim, e eu, sem saber o que fazer, sorri sem jeito; ainda que, por dentro, estivesse correndo até a porta.
– Papai, sua mão... – você quase sussurrou, gesticulando para a luva. Tá. Aquele cara era seu pai.
– Oh! – o homem olhou para si mesmo e se espantou – Mil perdões, Brian, acabei de matar nosso jantar.
Como se tivesse dito a coisa mais normal do mundo, ele deu as costas e correu para os fundos.
Tá.
No sofá da sala havia uma mulher que deduzi ser sua mãe – e acertei.
– Mamãe, esse é o Br-
– Younghyun – cortei sua fala antes que pudesse terminá-la.
– Oh, claro, esse é o Brian!
– Bem, senhora, na verdade o meu nome é Younghyun...
– ... Brian.
– Não, não, é Youngh-
– Brian.
O sorriso que ela mantinha no rosto era tão natural e por isso mesmo assustador que eu preferi deixar para lá.
– É, como quiser.
– Brian.
– Sim, Brian.
Seu pai apareceu na sala sem o avental e nos chamou para jantar. No trajeto, que, estranhamente, não foi em direção à mesa que pude ver ao longe, fiquei tentado a perguntar para onde estávamos indo, mas achei melhor ficar na minha.
Então a gente chegou no quintal.
Uma churrasqueira, uma caixa de isopor cheia de gelo e cerveja, uma caixa de som tocando pagode e um carneiro andando pelo jardim.
Havia uma mesa, onde sentamos assim que pisamos ali. O senhor Park começou a trazer o churrasco, empilhando bem no centro enquanto cantarolava alguma música em portunhol.
Eis que, de repente, brota do além uma criança do meu lado puxando o seu braço numa tentativa de lhe chamar atenção. Tratava-se de um menino que devia ter, no máximo, uns 8 anos.
– Jae, Jae! Olha o peixe que eu ganhei do tio Guevara! O nome dele é Tubarão! – Eufórico, o menino balançava um saco transparente com água e um pequeno peixe azul, mas ele estava parado demais e... Preferi não comentar sobre ele estar morto.
– O tio Guevara veio?! – você parecia mais eufórico ainda.
Antes que o menino pudesse responder, entrou no quintal um homem de barba e trazendo consigo mais uma caixa de cerveja, além de alguns charutos em meio às garrafas.
Eis que um estrondo é ouvido e, olhando para trás, vejo o mesmo carneiro de antes correndo em minha direção depois de derrubar a churrasqueira e dois sacos de carvão.
Sinceramente, Jaehyung... Ainda bem que a gente terminou.
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