1. Spirit Fanfics >
  2. Algo a Temer >
  3. Suprimentos

História Algo a Temer - Suprimentos


Escrita por: LFAL

Capítulo 4 - Suprimentos


- Capítulo Quatro

 

“Suprimentos”

 

 

 

       

"Mas que demora...” Pensou Isaac, sentando na calçada da frente da casa de Luiz Araújo.

Amanda caminhou lentamente até ele e encostou a mão direita em seu ombro.

 — Isaac? Você não acha que deveria ir atrás de Luiz? Essa demora me preocupa... — Falou a mulher, repousando as mãos na cintura fina.

— Sim, já faz mais de quarenta minutos... Vou ver o que houve! — Decidiu o militar, conferindo a Glock que estava na parte de trás de sua calça.

Isaac levantou, bateu a poeira de sua roupa e coçou o pescoço.

— Bem, filho... Com essa demora seu amigo já deve estar morto! — Ironizou Carlos, deitado no banco do terraço da casa em que estavam e repousando a cabeça no colo de sua esposa.

— Meu Deus... Perdoem meu marido! — Disse Maria, envergonhada com a atitude áspera do homem.

— Cala a boca, mulher! Eu só estava brincando! Ainda bem que esse policial bunda mole vai fazer alguma coisa, nunca vi alguém demorar tanto para tomar uma atitude...

Isaac sentiu uma pontada de raiva ao escutar aquilo, porém decidiu manter a calma e seguir adiante, pois Carlos Nogueira poderia enfartar ao ter algum estresse extra.

— Tudo bem, sei que o senhor está passando por uma situação complicada, mas TODOS NÓS estamos mal. Provavelmente perdemos entes queridos, emprego, rotina e entre outras coisas que amávamos, e nós estamos tentando te ajudar! Porém parece que você não quer ser ajudado e fica falando merda a cada instante! Lembre-se: foi o Luiz que te trouxe aqui, se continuasse sozinho naquela casa iria morrer na frente da sua esposa! Sorte sua que eu sou médica e tenho um estoque de Rivotril e Pressat! Então desde já agradeço se puder manter sua boca fechada! — Falou Amanda Nakamura, com um pouco de ignorância.

O velho abriu a boca para poder rebater o que ela tinha dito, mas pensou duas vezes e decidiu aquietar-se.

Isaac e Amanda trocaram olhares rápidos e ela percebeu a gratidão no sorriso tímido dele.

Carla saiu de dentro da casa devagar, pegou algumas mochilas plásticas com as coisas recém-trazidas por Amanda, e entrou novamente.

— Irei colocar tudo na sala, e aí quando Luiz chegar, ele decide onde você vai dormir, ok? – Disse a mulher, tentando ser bondosa com Amanda.

— Muito obrigada, Carla! Por mim está perfeito. E Maria... fique de olho em Carlos, depois do Rivotril ele não vai ter mais picos de pressão. Logo, logo irá cair no sono!

Maria acenou com a cabeça e voltou a acariciar os cabelos de seu marido.

Isaac esperou Amanda fechar o portão da casa e começou a caminhar.

Ele seguiu o trajeto do amigo e foi entrando de casa em casa para descobrir o paradeiro do rapaz.

A pistola estava firme em sua mão suada, a noite já havia chegado e nem todos os postes de iluminação das ruas do condomínio estavam funcionando.

“Relaxe Isaac, você está bem. A prioridade é encontrar Luiz... que ele esteja vivo...” pensou o militar, entrando em cada uma das residências que o amigo conferiu anteriormente.

...

 

A energia elétrica do condomínio começou a oscilar.

As luzes começaram a piscar e foram ficando mais fracas.

Em alguns momentos parecia que iria cair, mas de repente voltava ao normal.

“Puta que pariu... se a energia acabar tudo vai se tornar mais difícil. Por favor meu Deus... isso não!”.

Isaac continuou o seu trajeto quando reparou que uma das casas estava com o portão aberto.

O homem segurou firme a Glock e encostou-se ao muro da residência.

Ele até pensou em gritar pelo nome do amigo, mas imaginou que aquela não seria uma boa ideia, pois se tivessem monstros na área ele atrairia todos para si.

O suor escorria lentamente pela testa de Isaac. Sua camisa estava começando a ensopar. O medo que ele sentia fazia suas mãos tremer, mas não podia desistir ali.

Isaac começou a caminhar lentamente pelo corredor do local, até que chegou à sala de estar.

O rapaz sempre andava com seu celular, e mesmo com a bateria fraca e sem conexão, ele ligou a luz do flash para ver o que tinha ali.

Uma imensa bagunça.

Chão imundo, muita poeira, livros e DVDs jogados no chão, vários móveis quebrados e por último... Luiz deitado de bruços.

— Luiz... Puta que pariu, cara! Você está vivo?

Isaac colocou o celular no chão de modo que a luz ficasse apontada para o teto e chacoalhou o rapaz desmaiado.

Não obteve nenhuma resposta.

Ele encostou o ouvido no peito do amigo e conseguiu escutar sua respiração fraca e desregular.

Luiz estava vivo.

— O que aconteceu aqui? — Indagou ele ao além.

Isaac viu que o rosto de Luiz estava ensanguentado e que provavelmente alguém tinha quebrado seu nariz. Ele levantou a camisa do rapaz para conferir suas costelas e percebeu que em alguns pontos tinham marcas rochas e pequenos cortes.

Luiz estava muito machucado e precisava de ajuda médica imediatamente.

Não dava para saber a gravidade dos machucados naquele local mal iluminado.

— Eu vou te tirar daqui.

Isaac levantou Luiz e o colocou encostado na parede.

Foi até a cozinha e viu a cena da confusão.

Parecia que um furacão tinha entrado no local.

A mesa estava revirada, vidros quebrados, o chão muito ensanguentado, objetos soltos por toda a parte e um homem morto.

Ao colocar a luz do celular perto do cadáver, Isaac pôde perceber que não se tratava de um ser humano, e sim de um infectado.

— Meu senhor...

O militar deu dois chutes leves no corpo do doente morto e viu que aquela coisa não iria atacar ninguém mais.

De alguma forma Luiz lutou com o maníaco e conseguiu vencer.

— Vem, cara... Amanda precisa dar uma olhada nos seus ferimentos!

Isaac levantou Luiz do chão, apoiou o rapaz em volta dos seus ombros e o levou de volta para casa.

...

 

— Ele está mal. Irá repousar por algumas horas, mas não corre risco de morte. Creio que quebrou uma das costelas da direita, o nariz e abriu o supercílio esquerdo. Tem sorte de não ter morrido, porém não sabemos ainda se ele está infectado ou não... na verdade não sabemos como a infecção dessa doença se dá, então precisamos esperar ele acordar para ver o que acontece! — Disse Amanda Nakamura, dentro do quarto principal da casa, ao lado de Isaac, Milena, Carla e Maria.

— Acho melhor o deixar descansar em paz. Vamos nos organizar pelos quartos restantes e a sala. Eu posso dormir em qualquer lugar, mulheres e crianças tem preferência aqui, mas eu acho melhor deixar a porta do quarto de Luiz aberta para caso ele acordar ou até mesmo passar mal. O que me diz? — Perguntou Isaac, percebendo que todos ali estavam de acordo antes mesmo de terminar de falar.

— Por mim tudo bem. Irei analisar a situação dele de instante em instante, porém devo ser sincera... Não temos medicamentos suficientes aqui, precisamos de todos os tipos de remédios. Remédios para dores, inflamações, febre, antibióticos, soro fisiológico, gaze e entre outros itens que só tem em farmácias. Mas nós sabemos que as ruas são extremamente perigosas com esses monstros à solta por aí... E se um deles fez isso com um de nós, imagina o que um bando deles faria? — Amanda tinha total razão, a situação não estava boa para o lado dos sobreviventes.

— O melhor a se fazer nesse momento é dormir, amanhã Isaac poderia pensar em um jeito de procurar os medicamentos, sendo que a essa hora da noite... Seria cedo antes da epidemia, mas agora o escuro se tornou um inimigo fatal! — Comentou Carla, com as sobrancelhas arqueadas.

— Amanhã logo cedo eu vou ao centro da cidade. Se precisarmos dos medicamentos e eu sou o único com treinamento militar... Sinto que tenho essa responsabilidade nas minhas costas. Peço que você e Amanda vasculhem algumas das casas que já revistamos hoje, e tragam todo e qualquer suprimento necessário para nós. Isso não é roubo, não nessa situação. Estamos lidando com uma calamidade que talvez mude nossas vidas para sempre. O governo não deu as caras, os militares também não, as pessoas em sua maioria morreram e até o momento estamos por conta própria. Peguem tudo o que for necessário e vamos montar um acampamento provisório aqui. Se Luiz acordar enquanto eu estiver fora, o acalmem e não se preocupem comigo. Eu sei me virar bem e estarei de volta antes do anoitecer. E também se eu não voltar... Não vão atrás de mim. Provavelmente estarei morto!

Aquele discurso de Isaac assustou todos dali, fazendo com que Milena esbugalhasse os olhos.

— Eu... Tinha me esquecido que você estava aqui, Milena... Me perdoe!

A garotinha começou a encher os olhos de lágrima e abraçou Carla.

— Não fique assim, meu bem. Isaac irá voltar o quanto antes e com boas notícias, está bem? — Disse Carla, tentando acalmá-la.

— Eu não sou idiota... Sei que tem monstros lá fora e sei também que você pode morrer, Isaac. Só tente voltar vivo e com vários remédios, tá bom? — Pediu ela, enxugando as lágrimas que escorriam pelo rosto.

— Eu vou voltar. Cedo ou tarde. Não se preocupe comigo. Já passei por coisas piores...

Todos que estavam no quarto saíram e deixaram a porta entreaberta como combinado.

Depois de se alimentarem com um arroz feito com pedaços de carne, os sobreviventes se aconchegaram na sala de estar da casa. Eles colocaram colchonetes pelo chão, pegaram lençóis e almofadas, ligaram o PS4 e a TV (por sorte ainda tinha energia até sabe Deus quando), colocaram para rodar os filmes da franquia 007 com Daniel Craig enquanto não caíam no sono e tentaram esquecer todos os problemas.

Porém era inevitável não pensar naquela situação.

Isaac estava deitado no sofá, olhando para a televisão sem muita vontade de assistir (dentre os vários filmes da estante da casa, escolheram um de seus favoritos, mas mesmo assim o nervosismo não o deixava prestar atenção). Carla estava em um dos colchonetes no chão junto com Milena, Maria e Carlos ficaram com o quarto de hóspedes no térreo e, por fim, Amanda tentava cochilar em um dos colchonetes da pequena sala do primeiro andar (perto do quarto principal, onde Luiz se recuperava).

Milena já tinha pego no sono junto com Carla, e mesmo estando com vontade, Isaac não conseguia relaxar.

O clima estava agradável, o ventilador não fazia barulho e refrescava as pessoas que estavam ali. Além disso, o som da TV estava bem baixo, fazendo o militar lembrar-se de quando dormiu em alguns hotéis, deixando a televisão ligada só para poder cair no sono mais rápido.

Isaac sentia falta de seus amigos e de seus pais. A angústia corroía seu corpo por dentro, pois no fundo ele sentia que nunca mais iria ver o rosto de sua mãe novamente.

Mesmo assim ele precisava ser forte.

Várias vidas dependiam dele naquela situação.

Lembrou-se de Milena e de como era triste a situação da garotinha. Também se lembrou de Luiz e de como o rapaz acolheu todos ali sem reclamar. E finalmente também pensou em Amanda.

Aquela mulher tinha atraído ele um pouco.

O jeito meigo e convidativo dela tinha mexido com os pensamentos de Isaac, porém ali era o local e hora errada de se tentar alguma coisa, então resolveu esquecer.

A única coisa que realmente importava para ele agora era descansar para poder no dia seguinte tentar trazer os suprimentos de que precisavam.

A situação deveria estar feia também nos outros países, mas pensar naquilo poderia enlouquecer qualquer um.

Se o mundo sucumbiu ou não... Eles não podiam fazer nada para mudar aquilo. Somente sobreviver...

O próximo dia prometia ser muito longo.

Isaac não conseguia parar de lembrar-se dos infectados.

Ele sabia que talvez não sobrevivesse a essa busca de medicamentos na cidade, porém precisava manter a calma e dormir para recuperar suas energias.

Mesmo com as mãos tremendo, Isaac tentou fechar os olhos.

Ele decidiu desligar a TV e, aos poucos, sua consciência foi se esvaindo e o homem entrou em sono profundo.

Mal sabia ele os problemas que estavam por vir.

...

 

— Isaac, acorde! O café já está na mesa! — Chamou Milena, cutucando o braço do rapaz.

— Ah... Já estou indo...

Isaac levantou do sofá aos poucos e foi direto para o banheiro.

Amanda, Carla, Milena, Maria e Carlos estavam espalhados pelos aposentos da casa e provavelmente já estavam acordados há algum tempo.

— Você precisa de alguma coisa? — Perguntou Amanda, sentada em uma das cadeiras da cozinha, que era perto da sala principal e não tinha paredes dividindo os dois espaços.

— Bem... Vou tomar um banho e depois arrumar minhas coisas. Preciso me preparar para ir até o centro da cidade! — Respondeu ele, com uma voz levemente rouca.

— Apronte-se. Enquanto isso, farei um sanduíche pra você! O carro de Luiz está com mais da metade do tanque de gasolina, dá pra ir tranquilamente! — Disse Carla, lavando alguns pratos sujos.

— Muito obrigado!

Isaac dirigiu-se ao banheiro e tomou seu banho.

Em pouco tempo ele já estava pronto e bem alimentado.

Antes de sair deu uma conferida em Luiz e viu que a situação do amigo estava a mesma.

A qualquer momento ele poderia acordar.

Ou não.

Isaac entrou no Siena e deu a partida.

Ele sempre andava com sua bolsa, e dessa vez deixou ela bem vazia (somente com a pistola dentro e uma garrafa de água).

— Boa sorte, rapaz! Traga de tudo um pouco! — Disse Carlos, sentado no banco do terraço.

— Tentarei! Se a situação estiver muito feia eu volto. Não quero correr muitos riscos por causa de remédios! Além disso, temos uma grande mina de ouro dentro desse condomínio! Espero que vocês encontrem vários utensílios por aqui!

Carlos acenou com a cabeça e Isaac saiu com o carro da garagem.

“Acho melhor estacionar alguns quilômetros antes da entrada da cidade”

Isaac tinha certeza que o barulho do veículo atrairia a atenção de milhares de infectados, e decidiu deixar o carro em algum local seguro longe das áreas de pico populacional.

Ele abriu o portão principal do condomínio com o controle remoto e seguiu seu destino.

Cerca de meia hora depois, Isaac chegou à entrada da cidade.

“BEM-VINDOS A PALMARES! TERRA DOS POETAS!” Sinalizava a imensa placa erguida no meio de uma praça circular cor de cimento, com alguns canteiros de flores.

O local estava totalmente deserto. A estrada tanto de ida como de vinda para adentrar na cidade tinha diversos carros abandonados, e nenhum sinal de humanos ou infectados. Na divisória das vias tinha uma fina calçada com várias palmeiras ao longo do caminho, até chegar a uma ponte, ao qual levava na direção da Sulanca, um ponto tradicional da cidade, onde ocorriam festas, tinham camelôs e bares.

— Mas que estranho...

Isaac estava surpreso, pois antes de fugir junto com Luiz, Carla e Milena, vários infectados dominaram as ruas e começaram a assassinar as pessoas em plena luz do dia.

Porém tudo estava quieto.

Nenhum mínimo sinal de vida.

Alguns corpos estavam jogados pelo meio da pista e pelas calçadas.

Dezenas de pessoas mortas, mas... Onde estavam os assassinos? Onde estava todo mundo?

Várias perguntas e nenhuma resposta.

Mesmo assim o militar decidiu continuar entrando na cidade, porém com extrema cautela.

— Ok... Tem uma farmácia enorme bem no coração da cidade... Farmácia Boa Vida. Vou tentar alcança-la... — disse ele, deixando a pistola em cima do banco do passageiro, para fácil acesso.

Isaac desviava dos obstáculos da pista, e decidiu não olhar diretamente para os mortos e tentar não pensar naquilo.

Seu coração disparava e suas mãos tremiam.

O suor escorria como se estivesse do lado de fora do veículo naquela manhã quente, porém o ar condicionado estava ligado no máximo.

O homem entrou pelas ruas palmarenses e não viu nenhum infectado sequer.

Alguma coisa estava errada.

“Será que a infecção foi controlada? Ou o exército passou por aqui e eliminou todos? Meu Deus...”

Definitivamente ele não saberia responder o porquê de as ruas estarem desertas.

-— Foda-se... Vou aproveitar a brecha para estacionar na frente da farmácia... Seja o que Deus quiser!

Isaac seguiu seu caminho lentamente até chegar na frente da Farmácia Boa Vida, que era bem perto da praça Paulo Paranhos.

Ele olhou de relance para o supermercado onde estava antes de tudo acontecer e viu vários corpos dilacerados na frente do estabelecimento.

O rapaz estacionou o veículo com cautela, desceu, pegou sua arma e fechou a porta.

— Bem... Não se desespere...

Aquilo parecia um campo de batalha.

Muito sangrento.

Centenas de pessoas que antes tinham suas vidas pacatas estavam jogadas de qualquer forma no chão.

Uns sem cabeça, outros sem pernas e outros sem forma de tanto que foram machucados, reduzido a grotescos pedaços de carne humana.

Isaac tentou segurar o vômito, mas não conseguiu.

“RUARGH...”

Ele encostou à porta do veículo, agachou-se e colocou tudo o que tinha comido para fora.

— Ugh...

Aquela cena foi demais para ele.

Nunca antes tinha visto um massacre naquelas proporções.

Mas onde estavam os autores daquela barbárie?

Onde se encontravam os infectados?

Realmente algo de muito errado estava acontecendo.

...

 

Isaac aproximou-se da entrada da farmácia.

Todo o local havia sido saqueado e depredado.

As luzes estavam queimadas, vários objetos jogados pelo chão, cacos de vidro espalhados, os balcões quebrados, sujeira em tudo que é canto e, por fim, dois corpos esquartejados no meio da bagunça.

— Deus...

Um dos corpos provavelmente seria de um trabalhador da farmácia, pois tinha um crachá preso na camisa ensanguentada.

O homem deveria ter uns 50 anos. Ele era negro, alto, trajava o uniforme dali e não tinha as duas pernas e a cabeça.

Os membros arrancados estavam ali perto, espalhados.

Já o outro... Estava irreconhecível.

Era somente um poço de sangue e carne.

O militar começou a vasculhar o local.

Remédios, suplementos, água, chocolates e diversos outros suprimentos essenciais foram sendo pegos e colocados dentro da mala do veículo.

Medicamentos para hipertensão, para dores, febre, tosse, antibióticos, e de todos os tipos de doenças possíveis foram sendo “saqueados” por ele.

Ao terminar de encher o carro, Isaac percebeu que não precisava de nada mais, e que era hora de ir embora, mas antes que pudesse sair, viu algo que despertou sua curiosidade.

As manchas de sangue dos dois corpos esquartejados guiavam para os confins da farmácia, ao qual tinha uma porta branca e com uma placa dizendo: “SOMENTE FUNCIONÁRIOS”.

— Eu sei que vai dar merda... — cochichou para si mesmo, sentindo que não deveria conferir aquela sala.

Contudo, a curiosidade era maior que o medo.

E se estava tudo indo tão bem agora... O que poderia dar errado?

Isaac fechou o carro, colocou as chaves no bolso direito e tocou na pistola que estava na parte de trás da calça só para acalmar a mente e saber que ela estava ali em caso de emergências.

Ele caminhou lentamente pela escura e abafada farmácia até chegar perto da porta.

No chão, perto do corpo irreconhecível, tinham dois itens que passaram despercebidos por ele: um revólver calibre 22, preto e pequeno, e um facão do tamanho de seu antebraço, extremamente ensanguentado.

— Hoje é meu dia de sorte!

Isaac pegou a arma suja, limpou-a rapidamente, colocou na parte lateral da calça e segurou o facão firme em sua mão direita.

A porta ainda estava ali, quase que pedindo para ser aberta.

O militar foi até a entrada dos funcionários e girou a maçaneta.

“CLIC”.

A porta rangeu e a fraca luz entrou no local malcheiroso e mofado.

— Quem...

Isaac arregalou os olhos ao ver a merda que tinha acabado de fazer: três infectados estavam de frente para a parede dos fundos da pequena sala, imóveis, mas ao sentir o cheiro de carne viva...

“ROOARL”

Um deles deu um grito imenso, como se estivesse convocando os outros dois para atacar a presa indefesa.

Os olhos eram totalmente pretos, com as veias pulando da pele, com traços de ferimentos em todo o corpo e pedaços de cabelo faltando.

Isaac travou momentaneamente, mas logo decidiu tomar uma decisão: virou de costas e começou a correr de volta para o carro.

— PORRA!

Os três infectados partiram em disparada para cima de Isaac, tentando alcançar o homem.

"THUD!”

Um dos maníacos pulou em cima do balcão e chocou-se violentamente contra o corpo do militar, derrubando-o no chão.

O pequeno revólver escorregou de sua calça e rolou para longe.

-— UGH...

O facão caiu da mão de Isaac e ele o perdeu de vista durante o ataque.

Tudo foi muito rápido, questão de segundos.

O infectado mais perto tentou se jogar em cima dele, mas ao perceber a manobra, Isaac juntou as duas pernas e chutou com força o peitoral do doente.

O monstro caiu para trás, batendo no infectado que vinha logo após e derrubando-o também.

O sobrevivente começou a se arrastar à procura do facão e o encontrou há uns dois metros atrás de suas costas. Ele pegou o objeto, segurou firme e partiu para o contra-ataque.

Uma coisa era verdade: os infectados atacavam sem nenhuma coordenação, como se fosse somente por instinto, e isso poderia ser utilizado como uma vantagem para os vivos.

Isaac esperou o primeiro monstro chegar perto o bastante e desferiu três golpes certeiros nele: um no braço esquerdo, outro na clavícula e o último no meio da cabeça, fazendo o doente cair morto.

Dois dos maníacos eram homens, sendo que um já tinha sido eliminado, e a última era uma mulher magra, porém ágil.

— PODE VIR! — chamou-o, olhando alternadamente para os seus inimigos restantes.

Os infectados atacaram de uma vez só.

A mulher veio com tudo e levou dois golpes, um no punho direito, decepando-o, e outro no pescoço, fazendo jorrar sangue da ferida aberta.

Já o segundo aproveitou a brecha e veio por trás dela, surpreendendo Isaac.

“TUMP”

O doente acertou um soco desgovernado em cheio no rosto do homem, fazendo-o cair no chão, perdendo a consciência por milésimos de segundos. Por sorte o infectado caiu também ao dar o soco, dando tempo suficiente para Isaac se recuperar.

Depois disso o militar se levantou o mais rápido que pôde e golpeou sem nem ver onde estava o monstro, errando por duas vezes.

— Porra...

O infectado veio para cima de Isaac novamente, dando chance de o homem atacar com o facão.

“TLACK!”

O golpe atingiu a parte lateral do abdômen do maníaco, fazendo o facão ficar preso ali.

Com isso Isaac ainda levou mais dois socos no rosto e soltou a arma presa, caindo por causa das pancadas sofridas.

Ele não teve dúvidas: sacou a Glock e disparou na cabeça do infectado.

“BLAM”

O doente perdeu todas as reações no exato momento em que a bala atravessou sua têmpora, desabando com tudo.

— Merda... Ugh...

Isaac passou a mão no rosto e sentiu que seu supercílio direito estava sangrando, mas mesmo assim ele precisava sair dali o mais rápido possível.

Se três inimigos deram todo esse trabalho, o que aconteceria se outros aparecessem?

E o medo de Isaac se concretizou:

Ao voltar à calçada, ele percebeu que tinha sido uma péssima ideia disparar ali, no centro da pequena cidade.

“ROAAAAR”

Centenas de infectados começaram a sair de dentro de casas, lojas e becos.

O coração de Isaac estava batendo com tanta força que ameaçava explodir, o suor que saía de sua pele estava frio como a neve, as suas mãos tremiam ainda mais e sua cabeça só conseguia pensar em uma palavra: “CORRA”.

Antes de sair em disparada, ele voltou para dentro da farmácia para procurar o revólver.

— CADÊ ESSA MERDA?

Isaac finalmente encontrou o pequeno calibre 22, colocou-o de volta na cintura e depois disso correu até o carro.

O tempo desperdiçado procurando por um mero revólver foi significativo para atrapalhar sua fuga.

Ele não conseguia pensar direito, mas sabia que tinha feito merda.

Uma horda gigante de infectados estava correndo na direção dele, e não daria tempo de entrar no veículo.

Ao tentar colocar as chaves na porta do carro, ele falhou e sua única salvação caiu na calçada.

Definitivamente não daria mais tempo de nada.

Isaac deixou as chaves ali mesmo e começou a correr.

Ele disparou de volta pelas ruas que tinha vindo anteriormente de carro e olhou de relance para trás.

Uma imensidão de infectados corria loucamente para tentar alcança-lo.

Dezenas de monstros caíam no chão durante a corrida e eram atropelados violentamente pelos outros que estavam ali, atrapalhando a eles mesmos.

Aquilo parecia mais uma avalanche de doentes, atrás da pequena presa, que na ocasião era Isaac.

“BLAM! BLAM!”

Ele, durante a corrida, apontou a arma para trás e efetuou dois disparos, atingindo alguns dos monstros e fazendo-os cair.

Mas aquilo só fez os atiçar ainda mais.

Isaac estava perto da rua da calçada alta, uma rua antiga da cidade que tinha duas calçadas elevadas, tanto a da direita como a da esquerda, e decidiu subir pela mais alta (que era a da direita).

Ele subiu quase tropeçando nos degraus e ao chegar ao topo, recomeçou a correr.

A descida da calçada estava perto, mas ao olhar para o lado, Isaac foi surpreendido por outro infectado que estava dentro de uma das casas.

O doente chocou-se com violência contra Isaac, derrubando-o do parapeito.

— AAAH!

A queda deveria ter uns três a quatro metros, e machucaria bastante.

“THUD”

Isaac bateu com força no asfalto, caindo por cima do braço esquerdo e sentindo uma dor alucinante.

“ARGH”

Provavelmente ele teria deslocado ou quebrado o ombro esquerdo, mas não tinha tempo de consertá-lo ali, ele precisava fugir!

Isaac levantou-se, ainda sob efeito da adrenalina que corria no seu corpo, e voltou a correr desesperadamente, procurando por ajuda.

A única coisa que ele poderia fazer era se esconder.

Mas onde?

O militar continuou correndo até encontrar uma rua que descia à esquerda.

Ele conseguiu ver um prédio que era um colégio vermelho e grande no fim dessa rua, que estava com as portas de vidro abertas e alguns carros abandonados perto dele.

— ALI...

Isaac disparou até lá, sendo seguido de perto pela imensa horda de infectados.

Ao entrar no colégio era tudo ou nada: ele precisava encontrar algum lugar para se esconder.

Dentre vários corredores escuros tinham diversas salas de aula pequenas, porém todas elas estavam com janelas quebradas ou com portas destruídas.

— MERDA! MERDA!

O coração de Isaac estava prestes a explodir de tanto desespero.

Até que uma pontada de esperança surgiu: no final do corredor tinha uma pequena porta com uma placa que dizia “ZELADOR”.

Isaac entrou rapidamente no local apertado e sem luz, fechando a porta logo em seguida.

A pequena salinha era claustrofóbica.

Tinha diversos materiais de limpeza, como vassouras, alvejantes, limpa-vidros, esfregões, etc.

Além disso, a única coisa que não deixaria Isaac morrer sufocado sem ar era uma pequena janelinha no alto.

A respiração do homem estava descontrolada. Ele não conseguia diminuir seus batimentos cardíacos, sentindo o coração pulsar violentamente e os calafrios se alastrando por todo o seu corpo.

“ROAGH... ROAR”

Uma gritaria incessante começou a invadir o prédio.

Definitivamente a horda tinha alcançado o local.

— Deus... por favor... Deus... senhor... — cochichava desesperadamente Isaac, agachado no canto da apertada salinha.

— Não deixe... Não deixe que me vejam, Cristo... Eu preciso voltar... Meus amigos precisam de mim... Meu Jesus... Eu não quero morrer... — O rapaz desabou no choro.

Ele rezava incessantemente enquanto as lágrimas caíam de seus olhos.

O desespero tinha tomado conta do homem.

A imensa horda já tinha invadido o colégio, porém até o momento nenhum dos infectados descobriu onde ele estava.

O seu ombro latejava, mas mesmo assim ele não conseguia ter outra reação a não ser chorar baixinho e esperar.

Agora o destino de Isaac estava incerto.

Tudo poderia acontecer.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...