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História Algo a Temer - Mudanças


Escrita por: LFAL

Capítulo 5 - Mudanças


- Capítulo Cinco

 

“Mudança”

 

 

 

       

“Que sede...”

Os olhos de Luiz foram se abrindo lentamente.

Ele sentia dores por todos os cantos do corpo, e tentou se levantar, mas sem sucesso.

— Ah... Onde eu... O que houve? – indagou-se ele, começando a lembrar dos acontecimentos.

Não tinha ninguém por perto.

O local onde estava era no seu quarto, e isso o deixou apavorado.

— Mas que... ISAAC? AMANDA? ALGUÉM?

Nenhuma pessoa respondeu pelos seus chamados.

Luiz sentia muitas dores musculares, porém era normal, depois do ocorrido. Sorte era estar vivo.

E se o rapaz se encontrava na sua casa, significava que alguém encontrou e o trouxe são e salvo.

— Onde está todo mundo?

Luiz finalmente conseguiu se levantar, mesmo com dificuldades.

— Minhas costas... Hmpf... – resmungou o rapaz, esticando-a.

— LUIZ? – chamou uma voz feminina que de primeira ele não reconheceu, mas depois sua mente clareou.

— Carla? O que aconteceu? Estão todos bem?

A mulher entrou no quarto e deu um sorriso meigo para ele.

— Que bom que você está bem! Temos muitas notícias, boas e ruins...

— Quanto tempo eu fiquei desacordado? – Carla caminhou até a cama e sentou-se, com uma expressão abatida.

— Bem... Isaac te encontrou ontem desacordado e muito machucado no chão da sala de uma das casas. Você matou um dos infectados, não foi? Até aí tudo bem, mas quase morreu fazendo isso. E depois, Amanda pediu para logo de manhã Isaac procurar mais suprimentos e medicamentos no centro da cidade... Esse é o problema, ele ainda não voltou. E já são quase duas horas da tarde. Estamos preocupados, porém ele disse que não era pra ninguém ir atrás dele. Graças a Deus que você se acordou, agora todos estão precisando manter a calma, e eu acho que você deveria dar uma palavrinha com cada um dos que estão lá embaixo! — explicou ela, calmamente.

— Eu entendo... Mas que merda, Isaac! Era melhor ter vasculhado todas essas casas e depois pensar em procurar suprimentos... Se um dos infectados quase me matou, imagine centenas deles? Contudo não adianta chorar pelo leite derramado, vamos descer e lá começaremos a pensar em algumas medidas para resolver esses problemas!

Luiz desceu a escadaria junto com Carla e encontrou todos os sobreviventes na casa.

Amanda estava sentada no sofá, olhando para um ponto fixo como se estivesse perdida em pensamentos profundos.

Carlos e Maria estavam na rede do terraço, calados e provavelmente preocupados.

E por fim, Milena brincava de desenhar em um papel, deitada no chão da sala.

— Oi pessoal... Eu voltei! — falou Luiz Araújo, abrindo um sorriso tímido.

Amanda olhou para ele e retribuiu o sorriso, animada por ver o amigo melhorando.

Milena foi até Luiz e o abraçou.

— Que bom que você está melhor! — disse a menina, sorridente.

— Não tanto, mas... Me recuperando!

Carlos e Maria saíram do terraço e vieram até Luiz.

— É o seguinte... Eu sou um velho cardíaco, Amanda, Maria, Milena e Carla são somente mulheres indefesas e você um incapacitado. Como acha que vamos conseguir sobreviver a isso se nós não podemos nem nos defender? Eu sei que você acabou de acordar, mas não temos tempo para sorrisinhos e felicidade! Não estamos na porra de uma colônia de férias! Ainda bem que acordou, estamos atolados de problemas e agora nos livramos de um! Quero muito poder falar com você, de homem para homem! — exclamou Carlos, com uma mistura de medo e raiva exalando pelas palavras.

— Bem, eu não posso discordar contigo. Eu estou disposto a resolver esses problemas tanto quanto você, e tenho algumas ideias! — disse Luiz, se dirigindo até a cozinha.

— Mas antes eu vou comer alguma coisa e beber no mínimo dois litros de água, ou então cairei morto em um minuto!

— Ok. Não demore e vamos pensar em alguma coisa urgente! — disse o velho, impaciente.

...

 

Luiz já tinha se alimentado e sentiu sua energia revigorar.

Mesmo com várias dores, ele se sentia bem e disposto a conversar sobre os problemas que estavam enfrentando.

— Então... Por onde começamos? — perguntou o homem, tocando de leve no supercílio com pontos, percebendo nesse momento que doía mais do que pensava.

— Veja só, Isaac está na rua, provavelmente com problemas ou morto, e não podemos fazer nada para ajudá-lo. Mas aqui não é seguro! Eu acho melhor juntarmos nossas malas e partir para Recife ainda hoje! — resmungou Carlos, quase gritando.

— Se em Palmares está uma grande merda o que o faz pensar que Recife vai estar melhor? — falou Luiz, encostando-se à parede devagar.

— Tudo! Recife tem mais pessoas! Mais polícia e bem mais militares! Lá eles podem ter controlado a infecção e ter matado pelo menos a maioria desses monstros! Nós podemos muito bem juntar suprimentos, colocar em alguns desses veículos e partir!

— Você não bate bem da cabeça, não é? Recife também sucumbiu! O Brasil e nem o mundo estava preparado para uma doença dessas proporções! E se sairmos ainda hoje daqui o que garante que não vamos ser estraçalhados no meio do caminho? Como vamos saber se a rodovia está livre de veículos abandonados? Como vamos saber se encontraremos um lugar melhor pra se viver do que aqui? Como? E ah... Ainda tem Isaac! Eu não vou repetir duas vezes, então preste bem atenção: ISAAC NÃO SERÁ ABANDONADO. NEM ELE, NEM NINGUÉM! — rebateu Luiz, aumentando o tom de voz também.

— SEU MERDINHA! VOCÊ NÃO PASSA DE UM CAGÃO QUE NÃO TEM NEM TRINTA ANOS DE VIDA E QUER SABER MAIS DO QUE UMA PESSOA QUE NEM EU! ESTAMOS PARTINDO NESSE EXATO MOMENTO PARA RECIFE E VOCÊ NÃO PODERÁ FAZER NADA PARA NOS PROIBIR! — ao perceber as proporções que a discussão entre os dois estava tomando, Amanda levantou e, junto com Carla, ficou por perto para apartar se caso houvesse alguma briga.

— Você quer ir? VÁ. TEM ALGUÉM LHE SEGURANDO AQUI? TEM ALGUÉM LHE PRENDENDO? VÁ EMBORA! Você quer morrer? Quer matar sua esposa também? Ok! E quem quiser ir com ele pode partir! Mas EU FICAREI ESPERANDO POR ISAAC! E ENQUANTO ISSO, EU IREI GASTAR MEU TEMPO SENDO PRODUTIVO! E NÃO UM IDIOTA COMO O SENHOR!

Ao terminar a discussão, Carlos deu um soco no rosto de Luiz, que caiu no chão da cozinha, batendo a cabeça com força na cerâmica.

— EI! MAS QUE PORRA É ESSA? — gritou Amanda, tentando segurar Carlos, que a empurrou violentamente para o lado.

— CARLOS, PARE! — pediu Maria, sem sucesso.

— VOCÊ VAI APRENDER UMA LIÇÃO AGORA! SEU MERDINHA!

Carlos partiu para cima de Luiz, que levantou o mais rápido que pôde, tentando ignorar as dores que sentia pelo corpo.

“SOCK, SOCK”

Carlos distribuiu mais dois socos no rosto de Luiz, abrindo novamente seu supercílio.

— SEU VELHO IDIOTA!

Luiz precisava tomar alguma atitude ou então iria apanhar feio.

E, mesmo incapacitado, ele tentou revidar.

O rapaz deu um soco na mandíbula do velho, fazendo-o recuar um pouco.

— É SÓ ISSO QUE TEM? VOCÊ BATE COMO UMA MULHER! — ironizou Carlos, socando mais duas vezes o estômago de Luiz, que cuspiu sangue.

Ao perceber que não iria se safar daquela, o homem decidiu tomar uma atitude mais grotesca.

Luiz se apoiou na pia da cozinha e segurou firme a sanduicheira, com a mão direita.

“CLANG!”

A pancada atingiu com força a cabeça de Carlos, que desabou no chão, quase desmaiando.

— MEU DEUS! — exclamou Maria, afastando-se da confusão.

“CLANG! CLANG!”

Luiz não conseguia parar.

Ele estava afundado no ódio e determinado a dar uma lição em Carlos.

— VOCÊ ACHOU QUE EU IRIA ME CURVAR A VOCÊ? ACHOU MESMO QUE AGUENTARIA COMIGO? — gritava Luiz, acertando por diversas vezes a cabeça de Carlos com a sanduicheira de ferro.

— PARE OU VAI MATÁ-LO! — implorou Carla.

Luiz acertou mais duas vezes o corpo do homem e decidiu ser mais grosseiro ainda: ele pegou o fio do objeto, enrolou ao redor do pescoço de Carlos e começou a sufocá-lo.

“ACK... ACK...”

— LUIZ! PARE! MEU DEUS!

Mas era inútil implorar.

Luiz apertou com força o cabo ao redor do pescoço do homem e começou a arrastá-lo até o lado de fora da residência.

— DESSA VEZ VOCÊ VAI APRENDER A ME RESPEITAR! EU NÃO SOU SUBMISSO A NINGUÉM! EU QUERO O MELHOR PARA O NOSSO GRUPO! DESDE O COMEÇO ESTOU LUTANDO PARA PODER FAZER TODOS FICAREM VIVOS, E VOCÊ ME AGRIDE? VOCÊ ME BATE? AGORA VAI PAGAR, SEU VELHO ESCROTO!

Carlos começou a ficar com a face roxa e as veias pulando do pescoço, a qualquer momento o homem poderia morrer.

Luiz arrastou o velho gordo da cozinha até a calçada de sua casa, e ao perceber que realmente iria matá-lo, decidiu parar.

Preciso... socorro... — implorava Carlos Nogueira, logo após o rapaz mais novo desenrolar o fio preto do seu pescoço.

Depois de tudo isso, Luiz pisou no ombro do homem que estava deitado e apontou o dedo na frente de seu rosto.

— Eu quero o bem de todos aqui. Se depender de perder minha vida, eu perderei. Eu acredito que podemos sobreviver a isso, e realmente preciso da ajuda de todos, mas se você não quer ajudar... NÃO ATRAPALHE, SEU BOSTA! Essa é a última vez... Vou repetir... A ÚLTIMA VEZ que você encosta suas mãos imundas em mim. Na próxima eu irei lhe matar. Estamos entendidos? — ameaçou Luiz Araújo, com o sangue do supercílio aberto escorrendo pelo rosto.

Eu creio que...

“SLAPT”

Luiz deu um tapa no rosto do homem.

— Eu te fiz uma pergunta... responda!

Sim... Irei cooperar... — respondeu Carlos, com uma voz rouca irreconhecível.

No meio daquela confusão os sobreviventes não tinham visto, mas um grupo de três novas pessoas assistia àquela cena, horrorizados.

— Por favor, senhor... Não queremos confusão! Nós somos daqui do condomínio, moramos na última rua, e iremos voltar para nossas casas! Por favor, não nos machuque! — disse uma mulher, que aparentava ser a mais velha do grupo.

Os três pareciam ser pessoas pacatas.

O único homem que se encontrava entre as duas mulheres era alto, com cabelos grandes, castanhos e amarrados para trás em rabo de cavalo, pardo, usava uma camisa de time de futebol do Santa Cruz/PE, uma bermuda cinza escura e chinelas vermelhas. A mulher aparentemente mais velha expressava medo no rosto, e vestia uma camiseta sem mangas com estampa chamativa e de cor laranja, além disso, tinha pele morena clara, usava calça jeans azul claro e um salto baixo de cor laranja também. E, por último, a outra mulher não aparentava ter mais que uns 17 anos. Tinha cabelos longos marrons e bem lisos, pele morena clara também, usava uma camisa branca básica de mangas curtas, calça jeans preta e sapatos marrons.

— Nós... Nós não somos agressivos! Ele que me atacou primeiro e, merda... Eu realmente passei dos limites aqui! — admitiu Luiz, afastando-se de Carlos.

— Você é um MONSTRO! UM MONSTRO! Agrediu meu marido e quase o matou! O que passou na sua cabeça, rapaz? — acusou Maria, correndo até Carlos e abraçando ele.

— Eu não quis...

— Ele precisou fazer isso ou seu marido iria espancá-lo! Admito que passou dos limites, porém seu marido é um pé no saco mesmo e mereceu o que aconteceu! Um velho grosso e idiota! Ele é assim com todo mundo e teve o que mereceu! As coisas não precisavam sair do controle desse jeito, porém eu penso assim: se partiu para violência, deve aguentar as consequências! — disse Carla, caminhando até Luiz e segurando o antebraço dele.

— Você está bem? Você passou várias horas desacordado devido à surra que levou daquele infectado e quando levanta vem outro problema... Está tudo bem com você, Luiz? — perguntou ela, conferindo o supercílio aberto do rapaz.

— Sim, muito obrigado pela atenção, Carla... Sério, está tudo bem.

Carla não tinha percebido que estava segurando a mão de Luiz e sentiu-se constrangida com aquela cena, logo após soltou-a.

— Bem... Primeiramente eu quero pedir desculpas pelo o que vocês viram, nós não somos assim, nos unimos para poder sobreviver juntos ao que está acontecendo lá fora, creio que vocês já devam ter uma ideia, como se chamam? — indagou Luiz, aproximando-se amigavelmente dos novos sobreviventes.

— Me chamo Júlia. Esse aqui é o Daniel, meu sobrinho, e essa garota é a Luíza, minha única filha. Nós moramos em uma das últimas casas do condomínio e decidimos ficar na segurança da nossa residência até agora, mas a comida acabou, e estamos muito famintos. Realmente temos pouca ideia do que está acontecendo, porém já vimos um desses doentes que apareceu na mídia. A TV alertou que estava tudo bem e que deveríamos ficar em nossas casas, e foi o que fizemos até então! — disse Júlia, ainda demonstrando pavor de Luiz.

— Entrem por favor, vocês podem participar da pequena reunião que estávamos tendo... Mas prometo que dessa vez irá dar tudo certo, isso só foi... Um mal entendido!

Os três entreolharam-se e decidiram aceitar o convite, mesmo com todo aquele tumulto.

— Mãe... Melhor do que ficar sozinhos e morrer de fome... – disse a adolescente, que tinha um corpo bem desenvolvido para sua idade e era muito vigorosa, com um jeito rebelde e único.

Maria levou Carlos de volta até o quarto de hóspedes e se trancaram lá.

Luiz pediu para que todos se reunissem no terraço e começou a debater os planos com o grupo.

— Pessoal, nós temos vários problemas para resolver... Vamos começar pelos piores: aqui não é seguro. Eu reconheço que minha casa é pequena demais para sete pessoas, e agora com mais três novos membros, piorou. Precisamos nos mudar, e eu quero saber se vocês concordam com isso... — começou ele, sentando-se no banco do terraço para repousar, enquanto que todos os outros olhavam para o rapaz.

— Eu concordo contigo. O muro é relativamente alto, mas... A casa é apertada para dez pessoas. Precisamos nos mudar para uma casa maior, daqui do condomínio mesmo, e pensar em melhorias na nossa segurança, como ligar a cerca elétrica enquanto ainda temos energia, juntar o combustível dos carros em somente dois ou três veículos para uma futura emergência... E entre outros métodos! – comentou Amanda Nakamura, trazendo um kit de primeiros socorros de dentro da casa para costurar novamente o supercílio de Luiz.

— Não posso discordar de você, Amanda. A casa número 26 do condomínio é de primeiro andar e tem um muro bem alto. Creio eu que o dono dela tinha muito medo de assaltos e aumentou os muros... Se bem que os muros do próprio condomínio já são bons o bastante! Outra coisa que tenho a dizer... Armas. Precisamos urgentemente de armas e munição. Se vários daqueles infectados nos atacar, o que faremos? Se invadirem o que temos aqui? Iremos brigar no punho? Ou vamos ser estraçalhados? Bem... Eu acho que em algumas dessas casas devam ter no mínimo algumas pistolas ou rifles antigos... O que me dizem? — ao terminar de falar, Luiz olhou para cada um dos presentes ali, e Júlia decidiu entrar no debate.

— Então... Minha filha, Daniel e eu acabamos de chegar, porém já seremos úteis... Tinha um colecionador de armas que morava aqui, mais precisamente na casa 38, ao lado da minha, que é a 39. Eu nunca vi as armas dele, porém ouvi uma vez quando fui convidada para um churrasco lá e no meio da conversa ele falou que tinha algumas espingardas e umas pistolas também, além de bastante munição. Creio que isso possa ser de ajuda...

— Isso pode ser a diferença da vida ou morte de todos aqui! Obrigado por citar, Júlia. — agradeceu Luiz, sorrindo brevemente.

— De nada...

— Bem, então o que estamos esperando? Vamos nos mudar ou não? — perguntou Carla, ansiosa com todos aqueles planos.

...

 

Luiz caminhou sozinho e lentamente até a entrada da casa número 26.

Era uma bela casa.

Aparentemente moderna, com partes pintadas de bege claro e outras partes em branco gelo.

O muro era bem alto, provavelmente teria uns 3 metros de altura.

A casa tinha primeiro andar, com uma varanda bem arquitetada e com parapeito de vidro esverdeado.

Além de tudo isso, o muro continha cerca elétrica, e nenhum sinal de cachorro.

Na entrada tinha um portão branco pequeno e ao lado direito um imenso portão branco também, que era a garagem.

— Hm... nada mal!

Luiz estava segurando um pé de cabra na mão direita, para o caso de ter algum infectado dentro da nova residência do grupo.

Ele foi até o portão pequeno e tentou girar a maçaneta.

Trancado.

— Porra...

Se quebrasse a porta seria inútil, pois a segurança da casa estaria prejudicada. Também não podia pular o muro, pois além de ser alto, tinha cerca elétrica, e ninguém garantia que ela estava desligada.

— E agora?

Luiz tentou empurrar o portão grande e não obteve sucesso do mesmo jeito.

Mas ele percebeu uma coisa.

O portão da garagem estava bem amassado na ponta inferior esquerda, e aquilo, depois de forçado, poderia dar para uma pessoa agachada passar.

“Esse negócio tem que ser consertado urgentemente, mas enquanto isso servirá para entrar...”.

Ele colocou o pé de cabra na pequena brecha da ponta esquerda do grande portão e começou a forçá-lo.

“UGH...”

Luiz perdeu alguns minutos forçando o portão até conseguir uma abertura suficiente para passar.

—  Ah... Puta merda...

No terraço da casa, Luiz percebeu uma coisa:

A residência era mais linda do que parecia por fora.

Era realmente um local atrativo, e deveria valer muito dinheiro antes.

“Engraçado... dinheiro um dia desses era algo essencial... hoje não passa de um simples papel...” pensou o rapaz, um pouco abatido.

Luiz evitou pensar no seu dia a dia anterior e tirou um tempinho para admirar a beleza do lugar.

Um terraço imenso com jardins bem floridos, uma piscina maior que o habitual na parte esquerda da entrada com formato circular e azul claro, e à direita uma garagem com um veículo: uma SW4 preta, provavelmente do ano e seminova.

— Puta que pariu! — exclamou o homem, admirando a caminhonete.

Antes de entrar nos aposentos da casa, Luiz decidiu fazer um pouco de barulho para não ter mais surpresas indesejáveis."

PANC, PANC, PANC”

Ele bateu algumas vezes com o pé de cabra no portão grande para fazer um barulho metálico estridente.

Não teve nenhuma resposta, nem mesmo um ruído.

Somente o vento balançando seus cabelos.

— Bom... Lá vou eu.

Luiz andou até a entrada da casa, ainda maravilhado com o veículo e o tamanho daquela piscina, que ao lado do deck tinha um local gourmet, com uma bela churrasqueira de tijolos, uma mesa rústica de madeira e um pequeno bar, com vários tipos de bebidas na parede de trás.

Ele segurou na maçaneta da bela porta de vidro do local e percebeu que estava aberta.

O rapaz foi de canto a canto da casa, tanto do térreo, como do primeiro andar, e não encontrou nenhuma ameaça sequer.

No térreo tinha uma bela sala, com estantes de livros, televisão imensa e um Blu-ray, sofás luxuosos e uma mesa de jantar gigantesca. Na cozinha tinham duas pias em granito escuro, um armário metálico imenso, vários objetos culinários, uma geladeira de duas portas quase vazia e uma despensa entupida de comida. Já o outro cômodo que tinha no térreo além desses era o banheiro, que não era nada habitual, todo no porcelanato e com vários artigos de luxo.

Já no primeiro andar tinha uma pequena sala de cinema, com um retroprojetor e um sofá imenso, além de uma estante cheia dos mais variados filmes. Além disso, tinha também uma varanda enorme que dava para ver as ruas do condomínio e, por fim, três suítes bem arquitetadas com camas de casal box king size, televisões, banheiros luxuosos e várias revistas antigas dentro do móvel em que estava a TV.

Luiz voltou até a entrada da casa com uma felicidade tão imensa que não cabia dentro dele.

— O que todos vão pensar ao ver isso? Puta merda! — disse o rapaz para si mesmo, saindo do lugar e caminhando de volta até sua “antiga casa”.

...

Já eram quase 16h da tarde, e finalmente todos entraram em um consenso: decidiram se mudar.

Amanda, Carla e Milena ficaram maravilhadas com a beleza da casa, e a coisa que mais agradou a elas foi a imensa estante dos mais variados livros possíveis.

Júlia, Daniel e Luíza comeram até quase passar mal, e aos poucos foram sentindo-se confortáveis na presença dos outros sobreviventes.

Maria e Carlos não quiseram se retirar da casa anterior, mas com alguns minutos de conversa com Carla e Amanda, decidiram que era o melhor a se fazer (e logo ao chegar, ficaram na área gourmet perto da piscina, tentando se afastar o máximo dos outros).

E, por fim, sobrou Luiz.

Ele não estava se sentindo muito bem ainda, pois além de ter levado uma bela surra do infectado, mal se recuperou e levou outra.

Sabia que uma hora ou outra deveria fazer as pazes com Carlos Nogueira, mas seu orgulho de homem não o deixava tomar uma atitude.

Luiz estava começando a pensar diferente: ele não mais se sentia solitário, ele aprendeu a amar aquelas pessoas, pois elas eram parte de seu grupo, parte de algo maior, e manter viva a esperança de recuperar a vida como era antes, era o que movia ele.

O rapaz encontrava-se sozinho, sentado em uma das cadeiras perto da varanda do primeiro andar, e ficava olhando para o horizonte, pedindo a Deus para que Isaac voltasse.

No fundo ele sabia que as chances de seu amigo estar vivo eram quase nulas, mas a esperança sempre é a última a morrer.

— Boa tarde... Posso me juntar contigo? — pediu Carla, tentando ser gentil.

— Claro!

Aquela mulher tinha mexido um pouco com Luiz.

Ela era simpática na maioria das vezes, atraente, com um olhar profundo e castanho, cabelos escuros e longos, e uma pessoa de coração bom.

Carla era muito calma, e sempre preferiu tomar atitudes depois de pensar duas ou três vezes.

Cresceu na cidade de Caruaru/PE, sempre foi uma menina estudiosa e se formou em nutrição.

Ela tinha um corpo que fazia jus ao seu curso.

Com curvas estonteantes, pele bronzeada, rosto afilado e uma voz bonita de se ouvir, Carla sempre chamou atenção de primeira vista.

Ela foi noiva de um rapaz de Catende/PE que conheceu na sua faculdade, um relacionamento que durou oito anos, mas acabou por causa das repetidas traições do seu parceiro.

— Bem... Estou preocupada com Isaac... Ele já deveria ter voltado, e só o que nos resta fazer é esperar! – falou ela, deixando a vista se perder ao longo do horizonte.

— Eu não aguento mais esperar, sinto que devo tomar alguma atitude, qualquer que seja. Se as coisas continuarem assim, creio que vou explodir de ansiedade e preocupação...

Luiz pigarreou um pouco e trocou olhares rápidos com ela.

— Você não pode fazer nada... Mal se recuperou de uma confusão e já se meteu em outra, e pra piorar seu corpo precisa descansar. Eu tenho certeza de uma coisa: se eu passasse por um terço do que você passou, já teria morrido! E além disso, algo me diz que tudo vai dar certo até o fim do dia... Eu não sei porque sempre penso assim, mas acho que ajuda a me acalmar! — disse a mulher, olhando para baixo e depois focando em Luiz.

— Você precisa fazer essa barba! Ela está crescendo rápido e te deixando com cara de mau!

— Disso eu concordo... — comentou ele, sorrindo.

— Amanhã cedo vamos ter muito trabalho. Primeiro consertar a brecha que abri no portão da garagem, depois nos dividir em equipes de três ou dois para vasculhar todos os suprimentos necessários das casas do condomínio, e por fim, pensar em novas medidas de segurança, pois acho que seria melhor...

Durante o discurso dele, Carla o interrompeu.

— Você fica um pouco atraente quando está sério, tipo exatamente agora! — falou ela, deixando o rapaz totalmente sem jeito.

— E você acabou de me deixar sem graça...

Carla abriu um sorriso tímido e se aproximou de Luiz.

O homem fez o mesmo e os dois passaram alguns segundos se encarando.

Ela deixou sua mão perto da dele, esperando por uma atitude.

Luiz estava começando a se encantar por aquela mulher, e o sentimento era mútuo.

— Bem... Eu acho que... — começou a falar o rapaz.

— Acha o quê?

A mão direita dele sobrepôs a dela e, com isso, o rapaz sentiu um frio na barriga como nunca antes tinha sentido.

— Que eu realmente acho você uma boa pessoa e...

Ao falar isso, Luiz percebeu que ela se aproximou um pouco mais.

— Diga... — sussurrou ela, olhando para os lábios dele.

Depois disso Luiz não se aguentou.

Ele encostou seus lábios nos dela e os dois se beijaram.

Carla teve um misto de sentimentos, e decidiu deixar rolar.

O beijo entre os dois foi sem pressa, e algo que Luiz nunca antes tinha sentido na vida.

Ele já tinha tido algumas namoradas anteriormente, porém nunca tinha vivido uma situação de risco de vida tão intensa.

Aparentemente todas aquelas preocupações e medos não davam espaço para se criar laços amorosos entre as pessoas dali, entretanto naquele exato momento o homem pôde perceber que o que sentia ficava mais forte e o deixava com mais vontade ainda de viver.

E era o que os dois estavam fazendo: vivendo.

Luiz abraçou-a e trouxe o seu corpo para junto de si.

Eles não conseguiam parar de se beijar (e nem queriam).

Foram poucos segundos, porém aquilo ajudou a extravasar todas as preocupações e nervosismos que eles carregavam.

As coisas começaram a esquentar e Carla começou a dar pequenas mordidas no pescoço do rapaz, deixando-o cada vez mais com vontade de ficar ali.

Entre beijos e amassos, algo os interrompeu:

Um barulho de pneus rolando no asfalto do condomínio.

“O QUÊ?”

Luiz e Carla soltaram-se instantaneamente e perceberam que dois veículos estavam se aproximando.

— MAS QUE...

Luiz desceu as escadas o mais rápido que podia e foi até a brecha feita no portão grande, para descobrir quem tinha chegado.

Se fossem novos sobreviventes eles poderiam ter problemas, mas o rapaz não queria pensar assim, queria ser otimista.

Quem seriam aquelas pessoas?

Como descobriram que estavam ali?

Quantos eram ao todo?

A única coisa que Luiz podia fazer era esperar os carros se aproximarem o suficiente para tirar conclusões.

Mas quando chegaram perto o bastante, o rapaz sentiu uma profunda onda de emoções e não conseguiu segurar as lágrimas ao ver quem estava saindo dali.

           

 



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